A Parapsicologia
e o cavalo morto
Newton
Boechat
Reformador (FEB) Março 1971
É conhecida aquela estória de um rei
que tinha extremada estima ao seu cavalo. Ela ia ao ponto de, constantemente, o
monarca advertir ao tratador do animal, nos seguintes termos: “se algum dia tu
me comunicares que o meu cavalo morreu, eu te matarei!”
Passados muitos anos, certa manhã, o
tratador chegou ao estábulo e deu, aflito, com o belo corcel estendido no chão,
hirto, pois que morrera durante a noite, de modo inexplicável...
Como o tratador era homem
inteligente, pensou num jeito de escapar da morte.
Plenamente confiante de que se
livraria do castigo, o homem chegou, reverente, junto ao trono, à hora do
informe habitual e expôs:
- Senhor! Tenho notícia talvez
chocante para vos dar... Hoje cedo, fui ao estábulo, a fim
de alimentar o vosso fogoso animal, com cuidadosa ração. Entretanto, em lá
chegando (e
aqui soluçou) surpreendi-me! O vosso cavalo estava caído, hirto, frio... não
respirava, não fazia
nenhum movimento, não tinha sensibilidade, as juntas estavam enrijecidas e
também, Senhor.
.. as moscas esvoaçavam em torno dele, como se esperassem, avidamente, o
momento de um banquete macabro...
O rei, que escutava atentamente, com
respiração opressa, levantou-se de um salto, crispou os punhos, franziu a testa
em sinal de contrariedade profunda e exclamou em alta voz:
- Então o meu cavalo morreu? ..
Ao que, resoluto e calmo, o
guardador do animal, respondeu:
- Eu não vos disse que morreu...
Vossos lábios, sim, parecem proferir a realidade!
E
assim escapou da morte certa.
A estória do cavalo do rei que aqui
resumimos, suscita-nos um comentário.
Certos estudiosos de fenômenos
psíquicos, não obstante terem após algumas dezenas de anos, observado inúmeros
fatos reais, tentaram e tentam, por meios inúmeros, criados por investigadores
irrequietos, interpretar a fenomenologia mediúnica “fisiologicamente”, embora
nem sempre suas “explicações fisiológicas” correspondam, por falta de lógica.
Batizaram diversos fenômenos com palavras
envernizadas, sem contudo, apresentarem novidade alguma.
As mesmas expressões fenomênicas,
expostas no “O Livro dos Espíritos” e no ‘O Livro dos Médiuns” com muita
antecedência, tem nos anais da Parapsicologia nomes exuberantes, tais como:
criptomnésia, telecinésia, psícocinésia, criptestesia pragmática,
prosopopese-metagnomie, etc. etc.
Vocabulário elegante e escorregadio,
ginástica de palavras e hipóteses que não coincidem com a própria linguagem do
fenômeno, não mais convencem. Imperioso é positivar, sem preconceitos
acadêmicos, a realidade espiritual, como fizeram sábios do passado e do
presente (de Richet a Bozzano e deste a J. B. Rhine).
Enquanto a maioria dos
parapsicólogos persistir no caminho confuso dos neologismos que nada explicam,
a Parapsicologia não poderá dar ao pensamento humano uma diretriz segura em que
ele se firme.
O rei da estória é o preconceito das
cátedras; a exposição do tratador simboliza a evasiva dos 'doutos' que torcem a
verdade, embora constatando-a, a fim de preservarem o título e a vida; o cavalo
é a imensa série de fenômenos mediúnicos que gritam ao mundo que os mortos
vivem.
Parapsicologia foi termo adotado por
Rhine, mas cunhado por Max Dessoir em 1889 e usado largamente por Boirac.
Os fenômenos que ela estuda, de
órbita inteligente ou “psigâmica” ou de órbita física ou
“psikápica”, são os mesmos que se deixaram investigar por experimentadores da
velha Metapsíquica,
criada por Richet.
Lançar mão de fenômenos
supranormais, como os de telepatia ou premonição e querer inocula-los como
oriundos da psique humana, produtos de reações mentais e emocionais do homem,
sem sobrevivência ou sem sua coordenação por Espíritos - numa dosagem sábia na
lei do mérito ou demérito individual -, como fazem certos parapsicólogos com ou
sem batina, gregos e troianos, é francamente falsear o culto à Verdade.
Não estamos no caos, não vivemos à
deriva das Leis Divinas! Se assim fosse, as faculdades e os fenômenos ficariam
ao “deus-dará” ... quem possuísse faculdade de premonição - telepatia direta ou
indireta -, se salvaria ante acidentes ou perigos iminentes, salvando,
outrossim, seus parentes e amigos...
E quem os não possuísse...
Sem fator moral na pesquisa, sem
observar os quadros psíquicos, coordenando-os em grandes e pequenos esquemas
para a necessária consequência ética, a vida não teria um telefinalismo e seria
um beco sem saída...
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