A
Negação de Pedro
Martins
Peralva
Reformador (FEB) Abril
1956
"Mas Pedro negava, dizendo:
Mulher, não o conheço."
Lucas, 22 :57.
A negação de Pedro, o venerando apóstolo
galileu, contém em si mesma um dos mais expressivos ensinamentos do Evangelho.
É acontecimento que não deve ser
considerado por acidental dentro das narrativas evangélicas, merecendo, por
isso, acurada meditação de quantos se interessam pelo estudo da Boa Nova do
Reino.
Todos sabem como se deu a
ocorrência, sendo desnecessários, portanto, os pequenos detalhes da
recapitulação.
Foi nas horas finais da presença
tangível do Divino Emissário na paisagem terrestre, quando, desprezado por
quase todos, buscava no martírio e na coroa de espinhos o combustível com que
acenderia para toda a Humanidade planetária a luz da redenção espiritual.
Apontado, três vezes, como um dos
acompanhantes do Senhor, o velho Cefas, receando represálias de romanos e
judeus, afirmou, referindo-se ao Divino Crucificado: “Não o conheço”.
A negação de Pedro, antes de tudo, “serve para significar a fragilidade das
almas humanas”, conforme acentua Emmanuel,
ao focalizar o episódio.
É, também, um convite a que estejamos
sempre em vigilância, guardando sincera humildade, não pretendendo ultrapassar
o âmbito de nossas possibilidades, não querendo ser o que na verdade não somos.
A negação de "Pedro induz-nos a
situarmo-nos na condição espiritual que nos é própria.
Lembra-nos, claramente, as nossas
fraquezas e o perigo a que, pelas imperfeições de nossas almas, estamos
frequentemente sujeitos.
Nenhum dos apóstolos foi maior, na
dedicação, do que Pedro.
Amava profundamente o Mestre e
nenhum dos companheiros o superou na fé e na humildade.
Nenhum era mais prudente e sensato
do que o rústico pescador de Cafarnaum.
Permanecia sempre ao lado do Senhor,
zeloso e devotado, ouvindo-lhe dos próprios lábios lições edificantes; todavia,
nos últimos instantes, exatamente quando Jesus sofria a incompreensão geral,
Pedro, amedrontado e bem humano, declara: “Não o conheço!”
Ora, se Pedro, o Príncipe dos
Apóstolos, sendo mesmo aquele a quem o Mestre diria, depois, reabilitando-o
amorosamente: “Se me amas, Pedro, apascenta as minhas ovelhas”, se o valoroso
pescador da Galileia negou o Cristo no extremo, que esperar-se de nós, que não
privamos do convívio pessoal e tangível do Mestre?
A lembrança da negação de Pedro,
registrada pelos evangelistas, evitar-nos-á uma série de atitudes incompatíveis
com a humildade cristã: seremos menos vaidosos, não teremos a pretensão de ser
os ‘maiores’, não sobreestimaremos as nossas possibilidades no campo das
edificações espirituais.
Sobretudo, não entronizaremos o
coração na ilusória torre que o nosso milenário orgulho costuma construir.
A negação de Pedro será, no curso
dos séculos, uma espécie de: “olha para
dentro de ti mesma, criatura humana e frágil; vê a tua indigência espiritual e
entrega ao Pai Celestial a autoria de todas as boas obras que consegues
materializar na Terra!”
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