terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O Jovem Rico


            O Jovem Rico                

19,16 Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: - Mestre, que devo fazer de bom para alcançar a beatitude? Disse-lhe Jesus:
19,17 “ -Por que me perguntais a respeito do que se deve fazer de bom ? Só Deus é bom. Se queres alcançar a beatitude, observa os mandamentos.”
 19,18 “Quais?   perguntou   ele.   Jesus  respondeu: “ -Não matarás, não cometerás adultério, não  furtarás,  não  dirás  falso  testemunho,
19,19 Honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo.”
19,20 Disse-Lhe o jovem: -Tenho observado tudo isto desde a minha infância, que me falta ainda?
19,21 Respondeu Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!”
19,22 Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens.           
            Para Mt (19,19) -Honra  teu  pai  e tua  mãe,  amarás  teu  próximo  como a ti mesmo ”,  encontramos  a  orientação de Kardec, no Cap. XIV de  “O Evangelho...”:
           
            “O mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe” é uma consequência da lei geral da caridade e de amor ao próximo, porque não se pode amar o próximo sem amar pai e mãe; mas a palavra honrai encerra um dever a mais a seu respeito: o da piedade filial.

            Deus quis mostrar com isso que, ao amor, é preciso acrescentar o respeito, as atenções, a submissão e a  condescendência, o que implica a obrigação de cumprir para com eles, de um modo mais rigoroso ainda, tudo o que a caridade manda para com o próximo. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que estão no lugar de pai e mãe, e que têm tanto mais mérito quanto seu devotamento é menos obrigatório. Deus pune sempre, de maneira rigorosa, toda violação a esse mandamento.

            Honrar a seu pai e a sua mãe, não é somente respeitá-los: é assisti-los na necessidade, proporcionar-lhes o repouso na velhice, cercá-los de solicitude como fizeram por nós em nossa infância.”
           
            Complementa Kardec:
           
            “Certos pais, é verdade, menosprezam seus deveres, e não são para os filhos o que deveriam sê-lo; mas cabe a Deus puni-los e não aos seus filhos; não cabe a estes censurá-los, porque talvez eles próprios merecessem que fosse assim.”

            “Deus disse: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo sobre a terra, que o Senhor vosso Deus vos dará” ; por que, pois, promete como recompensa a vida sobre a terra e não a vida celeste? A explicação está nestas palavras: “Que Deus vos dará”, suprimidas na forma moderna do decálogo, o quer lhe desnatura o sentido. Para compreender-se estas palavras, é preciso se reportar à situação e às ideias dos Hebreus, à época em que foram ditas; eles não compreendiam ainda a vida futura; sua vida não se estendia além da vida corporal; deviam, pois, ser mais tocados pelo que viam do que pelo que não viam; por isso, Deus fala numa linguagem à sua altura e, como a crianças, lhes dá em perspectiva o que pode satisfazê-los. Estavam, então, no deserto; a terra que Deus lhes dará era a Terra Prometida, objetivo de suas aspirações; eles não desejavam nada além disso, e Deus lhes disse que viveriam nela longo tempo, quer dizer, que a possuiriam por muito tempo,  se observassem seus mandamentos.”

               Para Mt (19,16-22) -O Jovem Rico -,  encontramos a orientação de Kardec, no Cap. XVI de  “ O Evangelho... ”:
           
            “Se a riqueza devesse ser um obstáculo absoluto à salvação daqueles que a possuem, assim como se poderia inferir de certas palavras de Jesus interpretadas segundo a letra e não segundo o espírito, Deus, que a dispensa, teria colocado nas mãos de alguns um instrumento de perdição sem recursos, pensamento que repugna à razão. A riqueza, sem dúvida, é uma prova muito difícil, mais perigosa que a miséria pelos seus arrastamentos, as tentações que dá e a fascinação que exerce; é o excitante supremo do orgulho, do egoísmo e da vida sensual; é o laço mais poderoso que liga o homem à Terra e afasta seus pensamentos do céu; produz uma tal vertigem que se vê, frequentemente, aquele que passa da miséria à fortuna esquecer depressa sua primeira posição e tornar-se insensível, egoísta e vão. Mas do fato de tornar o caminho difícil, não se segue que o torne impossível, e não possa tornar-se um meio de salvação nas mãos daquele que dela sabe se servir, como certos venenos podem devolver a saúde, se são empregados a propósito e com discernimento.

            Quando Jesus disse ao jovem que o interrogou sobre os meios de ganhar a vida eterna: “Desfazei-vos de todos os vossos bens e segui-Me,” Ele não entendia estabelecer como princípio absoluto que cada um deva se despojar daquilo que possui, e que a salvação só tem esse preço, mas mostrar que o apego aos bens terrestres é um obstáculo à salvação. Esse jovem, com efeito, se acreditava quite porque tinha observado certos mandamentos e, todavia, recua ante a ideia de abandonar seus bens; seu desejo de obter a vida eterna não ia até esse sacrifício.

            A proposição de Jesus lhe fez era uma prova decisiva para pôr a descoberto o fundo de seu pensamento; ele podia, sem dúvida, ser um perfeito homem honesto, segundo o mundo, não fazer mal a ninguém, não maldizer seu próximo, não ser vão nem orgulhoso, honrar a seu pai e a sua mãe; mas não tinha a verdadeira caridade, porque sua virtude não ia até a abnegação. Eis o que Jesus quis demonstrar; era uma aplicação do princípio: Fora da caridade não há salvação.”


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