Assemelha-se
à criança
19,13
Foram-Lhe, então, apresentadas algumas crianças para que as abençoasse e orasse
por elas. Os discípulos, porém, as afastaram.
19,14 Disse-lhes Jesus: “ -Deixai vir a mim
essas crianças. Não as impeçais. Porque o reino dos céus é para aqueles que se
lhes assemelham.
19,15 E,
depois de impor-lhes as mãos, continuou Seu caminho.
Para Mt (18,13-15) -Assemelha-te a Criança, encontramos a orientação de
Kardec, no Cap. VIII de “O
Evangelho...”:
“... uma vez que o espírito da
criança já viveu, por que não se mostra ele, desde o nascimento, tal qual é?”
“...seria preciso que a atividade do
princípio inteligente fosse proporcional à fraqueza do corpo que não poderia
resistir a uma atividade muito grande do espírito, assim como se vê nas
crianças muito precoces. É por isso que, desde a proximidade da encarnação,
entrando o Espírito em perturbação, perde, pouco a pouco, a consciência de si
mesmo; ele, durante um certo período, permanece numa espécie de sono durante o
qual todas as suas faculdades se conservam em estado latente.”
“...a partir do nascimento, suas
idéias retomam gradualmente impulso, à medida que se desenvolvem os órgãos, de
onde se pode dizer que, durante os primeiros anos, o espírito é verdadeiramente
criança, porque as ideias que formam o fundo do caráter estão ainda
adormecidas.”
“...o
espírito reveste, pois, por um tempo, a túnica da inocência e Jesus está com a
verdade quando, malgrado a anterioridade da alma, toma a criança por emblema de
pureza e da simplicidade.”
Colocada a palavra de Kardec,
leiamos a Néio Lúcio por Chico
Xavier, em “Jesus no Lar”, que nos conta
uma historieta onde Jesus nos fala de criança, de caridade e de benemerência:
“...em zona montanhosa, através de
região deserta, caminhavam dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a
defender-se, quanto possível, contra os golpes do ar gelado, quando foram
surpreendidos por uma criança semimorta, na estrada, ao sabor da ventania de
inverno.
Um deles fixou o singular achado e
clamou, irritadiço: “Não perderei tempo. A hora exige cuidado comigo mesmo.
Sigamos em frente!”
O outro, porém, mais piedoso,
considerou:
- “Amigo, salvemos o pequenino. É
nosso irmão em humanidade.”
- “Não posso - disse o companheiro,
endurecido - sinto-me cansado e doente. Este desconhecido seria um peso
insuportável. Temos frio e tempestade. Precisamos ganhar a aldeia próxima sem
perda de minutos.”
E avançou para adiante em largas
passadas.
O viajor de bom sentimento, contudo,
inclinou-se para o menino estendido, demorou-se alguns minutos colocando-o
paternalmente ao próprio peito e, aconchegando-o ainda mais, marchou adiante,
embora menos rápido.
A chuva gelada caiu, metódica, pela noite
a dentro, mas ele, sobraçando o valioso fardo, depois de muito tempo atingiu a
hospedaria do povoado que buscava. Com enorme surpresa, porém, não encontrou aí
o colega que o precedera. Somente no dia imediato, depois de minuciosa procura,
foi o infeliz viajante encontrado sem vida, num desvão do caminho alagado.
Seguindo à pressa e a sós, com a ideia
egoística de preservar-se, não resistiu à onda de frio que se fizera violenta e
tombou encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao congelamento,
enquanto que o companheiro, recebendo, em troca, o suave calor da criança que
sustentava junto do próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida,
guardando-se indene de semelhante desastre. Descobrira a sublimidade do auxílio
mútuo... Ajudando ao menino abandonado, ajudara a si mesmo. Avançando com
sacrifício para ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços da senda,
alcançando as bênçãos da salvação recíproca...
Foi então que Jesus, depois de curto
silêncio, concluiu expressivamente:
-As
mais eloquentes e exatas testemunhas de um homem, perante o Pai Supremo, são as
suas próprias obras. Aqueles que amparamos constituem nosso sustentáculo. O
coração que socorremos converter-se-á agora ou mais tarde em recurso a nosso favor. Ninguém duvide.
Um homem sozinho é simplesmente um adorno vivo da solidão, mas aquele que
coopera em benefício do próximo é credor do auxílio comum. Ajudando, seremos
ajudados. Dando, receberemos: esta é a Lei Divina. ”
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