Desaprender
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB)
Maio 1962
Em seu excelente livro "Evolução anímica", escrito em 1895
e publicado em 1897, Gabriel Delanne
nos conduz pacientemente pelo longo caminho da formação dos seres vivos no
Planeta, desde a mais primitiva medusa até o homem, guiando-se pela Ciência e
pelo Espiritismo. Faz um curso completo do aparecimento da vida e sua evolução
até seu tempo, deixando-nos perfeitamente convencidos de que somos produto de
uma longa caminhada, vimos de muito longe, aprendendo sempre, adquirindo
faculdades, mas nem
tudo que aprendemos poderá ser conservado.
Nossa formação é produto de muitos
embates contra o meio, numa incessante luta pela vida, e deu-nos qualidades
egoístas e belicosas que terão de ser vencidas, porque se tornam prejudiciais
ao convívio com os outros viventes, impedem a colaboração necessária ao bem de
todos. Temos muito que aprender e muito que desaprender para o futuro.
No passado aprendemos a defender-nos
contra tudo e contra todos; no, futuro temos que desaprender a ciência da
guerra e aprender a confiar em todos e a colaborar com todos.
O Cristianismo nos veio ensinar a
desaprender muitas coisas do passado para aprender outras para o futuro, e
nesse sentido insistem sempre nossos Guias Espirituais. Parece que estamos num
momento da evolução em que desaprender, corrigir-nos, é a tarefa mais urgente.
Delanne nos mostra como se formaram
lentamente nossos cinco sentidos. O primeiro que se formou foi o tato; depois,
através dos milênios, foram-se formando os outros, todos destinados apenas às
necessidades materiais. Mas não vamos ficar detidos neste ponto da evolução;
temos que adquirir outros sentidos, para coisas espirituais, e Richet já nos
fala de um sexto sentido. E notamos que alguns dos nossos contemporâneos já
possuem a vista e o ouvido mais aprimorados do que o comum dos homens, porque
podem ver e ouvir os desencarnados e até nos darem excelentes informações do
mundo espiritual, de outras formas da matéria.
Delanne nos diz: “no homem o embrião reproduz, em uma evolução
rápida, todos os seres pelos quais a raça já passou. Todos nós no seio materno
fomos uma monera, depois um molusco, um peixe, um réptil, um quadrúpede e por
fim um homem:" Mas esse "fim" é provisório, porque a
evolução das formas continuará. O homem não é um ponto final, um nec plus ultra na obra de Deus, ele é
apenas um outro começo, início de uma nova fase da evolução eterna dos seres
vivos.
"Hoje, ensina Gabriel Delanne, temos
que nos desembaraçar das paixões e dos
instintos que nos restam de nossa passagem pelos reinos inferiores. A luta é
longa e difícil, porque temos que modificar os primeiros movimentos
perispirituais que se encarnaram em nós e que constituíam por si mesmos nossa
vida mental, durante essas épocas longínquas e milhares de vezes seculares em
que realizávamos nossa evolução. Mas a vontade é onipotente sobre a matéria; o
progresso abre diante de nós suas perspectivas sempre mais brilhantes, e essa
força mesma, que fez de nós seres inteligentes, saberá abrir-nos o caminho para
mundos melhores, nas quais reinem a concórdia, a fraternidade e o amor:"
Delanne encerra seu excelente livro
com uma bela esperança que em parte falhou: - esperava ele, em 1895, que o Espiritismo
vencesse as lutas de classes tão agudas do século passado. Infelizmente a
Humanidade preferiu até agora o caminho mais doloroso das lutas armadas, sem
levar em conta os apelos dos Céus. As duas guerras mundiais e as cruentas
revoluções de nosso século parecem uma fatalidade cármica, para obrigar os
homens a desaprender muita coisa errada de seu longo passado.
Mas o espírita brasileiro é sempre
otimista: esperamos que no Brasil essas lutas sejam muito amenizadas pelo
conhecimento sempre crescente do Espiritismo, guiando os homens a soluções
pacíficas dos problemas que afligem a Humanidade.
.
Temos que aprender muitas coisas
novas e que desaprender muitas velhas, que pertenciam a outras fases da
evolução: em vez de hostilizar, temos que aprender a colaborar com todos os
povos
..................
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