quinta-feira, 9 de outubro de 2014

01. O que nós estamos lendo?





Desaprender
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB)
 Maio 1962

            Em seu excelente livro "Evolução anímica", escrito em 1895 e publicado em 1897, Gabriel Delanne nos conduz pacientemente pelo longo caminho da formação dos seres vivos no Planeta, desde a mais primitiva medusa até o homem, guiando-se pela Ciência e pelo Espiritismo. Faz um curso completo do aparecimento da vida e sua evolução até seu tempo, deixando-nos perfeitamente convencidos de que somos produto de uma longa caminhada, vimos de muito longe, aprendendo sempre, adquirindo faculdades, mas nem tudo que aprendemos poderá ser conservado.

            Nossa formação é produto de muitos embates contra o meio, numa incessante luta pela vida, e deu-nos qualidades egoístas e belicosas que terão de ser vencidas, porque se tornam prejudiciais ao convívio com os outros viventes, impedem a colaboração necessária ao bem de todos. Temos muito que aprender e muito que desaprender para o futuro.

            No passado aprendemos a defender-nos contra tudo e contra todos; no, futuro temos que desaprender a ciência da guerra e aprender a confiar em todos e a colaborar com todos.

            O Cristianismo nos veio ensinar a desaprender muitas coisas do passado para aprender outras para o futuro, e nesse sentido insistem sempre nossos Guias Espirituais. Parece que estamos num momento da evolução em que desaprender, corrigir-nos, é a tarefa mais urgente.

            Delanne nos mostra como se formaram lentamente nossos cinco sentidos. O primeiro que se formou foi o tato; depois, através dos milênios, foram-se formando os outros, todos destinados apenas às necessidades materiais. Mas não vamos ficar detidos neste ponto da evolução; temos que adquirir outros sentidos, para coisas espirituais, e Richet já nos fala de um sexto sentido. E notamos que alguns dos nossos contemporâneos já possuem a vista e o ouvido mais aprimorados do que o comum dos homens, porque podem ver e ouvir os desencarnados e até nos darem excelentes informações do mundo espiritual, de outras formas da matéria.

            Delanne nos diz: “no homem o embrião reproduz, em uma evolução rápida, todos os seres pelos quais a raça já passou. Todos nós no seio materno fomos uma monera, depois um molusco, um peixe, um réptil, um quadrúpede e por fim um homem:" Mas esse "fim" é provisório, porque a evolução das formas continuará. O homem não é um ponto final, um nec plus ultra na obra de Deus, ele é apenas um outro começo, início de uma nova fase da evolução eterna dos seres vivos.

            "Hoje, ensina Gabriel Delanne, temos que nos desembaraçar das paixões e dos instintos que nos restam de nossa passagem pelos reinos inferiores. A luta é longa e difícil, porque temos que modificar os primeiros movimentos perispirituais que se encarnaram em nós e que constituíam por si mesmos nossa vida mental, durante essas épocas longínquas e milhares de vezes seculares em que realizávamos nossa evolução. Mas a vontade é onipotente sobre a matéria; o progresso abre diante de nós suas perspectivas sempre mais brilhantes, e essa força mesma, que fez de nós seres inteligentes, saberá abrir-nos o caminho para mundos melhores, nas quais reinem a concórdia, a fraternidade e o amor:"

            Delanne encerra seu excelente livro com uma bela esperança que em parte falhou: - esperava ele, em 1895, que o Espiritismo vencesse as lutas de classes tão agudas do século passado. Infelizmente a Humanidade preferiu até agora o caminho mais doloroso das lutas armadas, sem levar em conta os apelos dos Céus. As duas guerras mundiais e as cruentas revoluções de nosso século parecem uma fatalidade cármica, para obrigar os homens a desaprender muita coisa errada de seu longo passado.

            Mas o espírita brasileiro é sempre otimista: esperamos que no Brasil essas lutas sejam muito amenizadas pelo conhecimento sempre crescente do Espiritismo, guiando os homens a soluções pacíficas dos problemas que afligem a Humanidade.

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            Temos que aprender muitas coisas novas e que desaprender muitas velhas, que pertenciam a outras fases da evolução: em vez de hostilizar, temos que aprender a colaborar com todos os povos



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