A Humildade
é Força Espiritual
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Janeiro 1955
A primeira condição do espírita
sincero é humildade. Sem ela não lhe será possível penetrar
os arcanos do pensamento verdadeiramente cristão, porque Jesus foi, mais do que
ninguém, um humilde. Para exemplo do mundo, veio à Terra numa pobre e singela
manjedoura e surgiu aos olhos dos homens como sendo apenas “o filho do
carpinteiro”.
Entretanto,
que de grandezas excelsas se iluminou a sua trajetória por este planeta! Sua
humildade era uma força poderosa e ele jamais a desprezou, mesmo quando sofreu
as injustiças da ignorância humana, que culminaram com o episódio do Gólgota!
Por isto, nenhum livro até hoje suplantou o Evangelho do Cristo, na difusão da
humildade. Sempre que a criatura consegue sufocar os impulsos instintivos da
sua personalidade, impondo-lhe a
disciplina que a humildade aconselha, torna-se forte, porque ninguém é mais
poderoso do que aquele que possui o domínio de si mesmo. Aqui é que está o
início do caminho da
redenção humana. Se cada um de nós souber realizar o milagre do autodomínio, a
fim de palmilhar sem vacilações o caminho evangélico, todos estaremos com a
jornada diminuída, porque a iluminação espiritual impedirá os desvios por
atalhos perigosos e nos abrirá perspectivas alentadoras acerca das futuras
reencarnações.
Precisamos, dentro da concepção
espírita da vida, compreender definitivamente que o que fomos, o que somos e o
que seremos, foi, é e será exclusivamente obra nossa. Sujeitos às sábias leis
divinas, entre as quais a justíssima lei de Causa e de Efeito, ou Lei do
Retorno, depende
apenas de nós mesmos a tranquilidade dos dias futuros, a felicidade no amanhã.
Os sofrimentos de hoje decorrem de atos e pensamentos do pretérito e da atual
encarnação.
Ninguém pode ser realmente espírita
sem humildade. A luta que travamos com as nossas tendências e os nossos hábitos
é bem mais árdua e difícil do que podemos supor. Nossa personalidade se forma
de preconceitos de toda sorte. Somos egoístas e vaidosos. Quando pensas estar no
caminho certo, a realidade nos desperta e vemos, então, que apenas possuímos o
verniz das aparências que o intelectualismo deixa cair sobre o nosso “eu”. Intimamente,
porém, somos um poço de imperfeições. Para realizar o milagre da autoeducação,
é mister persistência e inquebrantável força de vontade. Vencer-nos a nós
mesmos é tarefa ciclópica, pois temos maior facilidade em apontar erros no
nosso semelhante, aconselhando-o a corrigir-se, quando nós necessitamos mais do
que qualquer outro de retificar nosso itinerário.
Humildade... Qual de nós é
verdadeiramente humilde? Nós? Vocês? Possivelmente, há uns mais adiantados do
que outros no edificante trabalho de autoeducação. O essencial é conservar o
espírito voltado para o esforço cotidiano no afã de melhorar. O primeiro passo,
o mais difícil, porque o principal, é a humildade. Analise-se a obra de Jesus.
Qual de nós seria capaz de oferecer uma face, depois de a outra ter sido
esbofeteada? Não pretendamos chegar já a tanto. Mas façamos alguma coisa, um
pouco cada dia e estabeleçamos, ao fim de certo tempo, um cotejo entre o que
somos e o que éramos. Deste modo, mesmo se fizermos algum progresso, por mínimo
que seja, reiteremos perante Deus o compromisso de continuar a luta contra nós
mesmos.
Não há como “O Evangelho segundo o
Espiritismo” para nos servir de guia no afã cotidiano. Por ele ser-nos-á menos
difícil aferir o nosso adiantamento espiritual. Os males do mundo atual decorrem,
em grande parte, da importância exagerada que se dá aos bens materiais. Tudo é
equilíbrio no Universo e nós somos partes do Universo. Não podemos quebrar
impunemente a harmonia geral. Quando isto acontece, a Lei de Causa e de Efeito,
que é uma lei cósmica de influência moral imediata, se manifesta em toda a
plenitude. Harmonia é equilíbrio. Para alcançarmos essa situação, devemos
controlar nossos pensamentos e atos. O espírito possui grande poder e não
usamos dele impunemente. Se o orientarmos para o bem, estaremos contribuindo
para a harmonia universal; se o empregarmos mal, provocaremos choques de maior
ou menor intensidade, os quais nos envolverão fatalmente, ainda e sempre em
obediência à Lei de Causa e de Efeito.
Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”,
encontramos um guia infalível, desde que estejamos animados de boa-fé e
boa-vontade. A palavra de Jesus é o melhor itinerário que o ser humano poderia
escolher para a sua felicidade. O sofrimento do mundo atual denuncia o
afastamento da Humanidade da trilha indicada pelo Mestre. Completando esse guia
admirável, pelos esclarecimentos que ajudam a interpretá-lo melhor, há ainda “Os
Quatro Evangelhos”, obra monumental compilada e reunida com devotamento
inexcedível por Jean-Baptíste Roustaing, na qual os Evangelistas Mateus,
Marcos, Lucas e João, através da mediunidade de Mme. Collignon, transmitiram
amplos e profundos comentários, trazendo achegas de valor extraordinário à
interpretação correta da doutrina de Jesus. Dessa grande obra, disse Allan Kardec,
o Grande Missionário, tratar-se de trabalho digno da leitura dos espíritas
conscienciosos. Portanto, quer “O Evangelho segundo o Espiritismo”, que o labor
santificante de Allan Kardec permitiu trazer ao mundo para o conforto moral da
Humanidade, quer “Os Quatro Evangelhos”, de Roustaing, são obras indispensáveis
à cultura do sentimento, à iluminação espiritual dos homens. Podemos dizer
mesmo que constituem a base da educação espírita. Eles ensinam-nos a ser fortes
na humildade, a ver com os olhos da alma o que nem sempre enxergamos com os
olhos da carne. Amparado pelos ensinamentos contidos nas mesmas, o espírita
estará habilitado a romper sem embaraço as dificuldades que lhe assomam na rota
terrena.
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