domingo, 17 de agosto de 2014

A Humildade é Força Espiritual


A Humildade
é Força Espiritual
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Janeiro 1955

            A primeira condição do espírita sincero é humildade. Sem ela não lhe será possível penetrar os arcanos do pensamento verdadeiramente cristão, porque Jesus foi, mais do que ninguém, um humilde. Para exemplo do mundo, veio à Terra numa pobre e singela manjedoura e surgiu aos olhos dos homens como sendo apenas “o filho do carpinteiro”. 

          Entretanto, que de grandezas excelsas se iluminou a sua trajetória por este planeta! Sua humildade era uma força poderosa e ele jamais a desprezou, mesmo quando sofreu as injustiças da ignorância humana, que culminaram com o episódio do Gólgota! Por isto, nenhum livro até hoje suplantou o Evangelho do Cristo, na difusão da humildade. Sempre que a criatura consegue sufocar os impulsos instintivos da sua personalidade,  impondo-lhe a disciplina que a humildade aconselha, torna-se forte, porque ninguém é mais poderoso do que aquele que possui o domínio de si mesmo. Aqui é que está o início do caminho da redenção humana. Se cada um de nós souber realizar o milagre do autodomínio, a fim de palmilhar sem vacilações o caminho evangélico, todos estaremos com a jornada diminuída, porque a iluminação espiritual impedirá os desvios por atalhos perigosos e nos abrirá perspectivas alentadoras acerca das futuras reencarnações.

            Precisamos, dentro da concepção espírita da vida, compreender definitivamente que o que fomos, o que somos e o que seremos, foi, é e será exclusivamente obra nossa. Sujeitos às sábias leis divinas, entre as quais a justíssima lei de Causa e de Efeito, ou Lei do Retorno, depende apenas de nós mesmos a tranquilidade dos dias futuros, a felicidade no amanhã. Os sofrimentos de hoje decorrem de atos e pensamentos do pretérito e da atual encarnação.

            Ninguém pode ser realmente espírita sem humildade. A luta que travamos com as nossas tendências e os nossos hábitos é bem mais árdua e difícil do que podemos supor. Nossa personalidade se forma de preconceitos de toda sorte. Somos egoístas e vaidosos. Quando pensas estar no caminho certo, a realidade nos desperta e vemos, então, que apenas possuímos o verniz das aparências que o intelectualismo deixa cair sobre o nosso “eu”. Intimamente, porém, somos um poço de imperfeições. Para realizar o milagre da autoeducação, é mister persistência e inquebrantável força de vontade. Vencer-nos a nós mesmos é tarefa ciclópica, pois temos maior facilidade em apontar erros no nosso semelhante, aconselhando-o a corrigir-se, quando nós necessitamos mais do que qualquer outro de retificar nosso itinerário.

            Humildade... Qual de nós é verdadeiramente humilde? Nós? Vocês? Possivelmente, há uns mais adiantados do que outros no edificante trabalho de autoeducação. O essencial é conservar o espírito voltado para o esforço cotidiano no afã de melhorar. O primeiro passo, o mais difícil, porque o principal, é a humildade. Analise-se a obra de Jesus. Qual de nós seria capaz de oferecer uma face, depois de a outra ter sido esbofeteada? Não pretendamos chegar já a tanto. Mas façamos alguma coisa, um pouco cada dia e estabeleçamos, ao fim de certo tempo, um cotejo entre o que somos e o que éramos. Deste modo, mesmo se fizermos algum progresso, por mínimo que seja, reiteremos perante Deus o compromisso de continuar a luta contra nós mesmos.

            Não há como “O Evangelho segundo o Espiritismo” para nos servir de guia no afã cotidiano. Por ele ser-nos-á menos difícil aferir o nosso adiantamento espiritual. Os males do mundo atual decorrem, em grande parte, da importância exagerada que se dá aos bens materiais. Tudo é equilíbrio no Universo e nós somos partes do Universo. Não podemos quebrar impunemente a harmonia geral. Quando isto acontece, a Lei de Causa e de Efeito, que é uma lei cósmica de influência moral imediata, se manifesta em toda a plenitude. Harmonia é equilíbrio. Para alcançarmos essa situação, devemos controlar nossos pensamentos e atos. O espírito possui grande poder e não usamos dele impunemente. Se o orientarmos para o bem, estaremos contribuindo para a harmonia universal; se o empregarmos mal, provocaremos choques de maior ou menor intensidade, os quais nos envolverão fatalmente, ainda e sempre em obediência à Lei de Causa e de Efeito.


            Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, encontramos um guia infalível, desde que estejamos animados de boa-fé e boa-vontade. A palavra de Jesus é o melhor itinerário que o ser humano poderia escolher para a sua felicidade. O sofrimento do mundo atual denuncia o afastamento da Humanidade da trilha indicada pelo Mestre. Completando esse guia admirável, pelos esclarecimentos que ajudam a interpretá-lo melhor, há ainda “Os Quatro Evangelhos”, obra monumental compilada e reunida com devotamento inexcedível por Jean-Baptíste Roustaing, na qual os Evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, através da mediunidade de Mme. Collignon, transmitiram amplos e profundos comentários, trazendo achegas de valor extraordinário à interpretação correta da doutrina de Jesus. Dessa grande obra, disse Allan Kardec, o Grande Missionário, tratar-se de trabalho digno da leitura dos espíritas conscienciosos. Portanto, quer “O Evangelho segundo o Espiritismo”, que o labor santificante de Allan Kardec permitiu trazer ao mundo para o conforto moral da Humanidade, quer “Os Quatro Evangelhos”, de Roustaing, são obras indispensáveis à cultura do sentimento, à iluminação espiritual dos homens. Podemos dizer mesmo que constituem a base da educação espírita. Eles ensinam-nos a ser fortes na humildade, a ver com os olhos da alma o que nem sempre enxergamos com os olhos da carne. Amparado pelos ensinamentos contidos nas mesmas, o espírita estará habilitado a romper sem embaraço as dificuldades que lhe assomam na rota terrena.

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