A Queda dos
Grandes Impérios
Cristiano Agarido / (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Maio 1962
Em todo o curso da História
observamos a queda de poderosos Impérios que pareciam destinados à eternidade
e, no entanto, corromperam-se e caíram.
Vamos examinar aqui a constituição
de tais organizações a fim de descobrirmos a causa de sua ruína.
Ali está um vastíssimo Império. Já
conquistou e submeteu à coroa todas as nações menores de sua vizinhança. Ocupa
hoje um território que se estende por dois continentes. Dispõe
de uma classe de fidalgos estreitamente ligados ao Imperador. Só dessa classe
recruta ele oficiais para suas forças armadas, porque os fidalgos são fiéis à
coroa pela sua própria conveniência vital.
O Imperador concede os privilégios e
títulos de fidalgo aos mais inteligentes, fiéis e abastados de seus súditos,
incorporando-os assim à classe dos governantes. A esta classe pertencem todos
os bens do Império, inclusive as escolas.
O povo é abandonado à sua própria
sorte, à ignorância, à enfermidade, à pobreza e não possui nenhum meio de
defender-se contra os fidalgos, porque depende deles como escravo.
Essa organização é fortíssima e
vence séculos, mas o excesso de riqueza e de gozos materiais enfraquece
moralmente os fidalgos que formam as classes armadas e a dos proprietários.
Simultaneamente as dificuldades e privações dão rigidez moral à plebe.
Vem uma longa guerra e o Império é
invadido pelos exércitos inimigos, apesar de possuir poderosos aliados. Suas
classes armadas revelam sua fraqueza e sua profunda divergência com o povo que
lhes fornece os soldados. O povo sofredor se levanta e toma o poder, liquidando
com seus inimigos de classe e com a própria família imperial.
Correm rios de sangue. Os fidalgos
verificam que suas forças armadas realmente não existem,
porque não têm soldados, só têm oficiais e estes são corruptos, incapazes de
manter a disciplina num exército de amotinados. Os soldados são os filhos do
povo revoltado e não disparam suas armas contra seus próprios pais e irmãos,
preferem atacar seus oficiais, sempre muito odiados e pertencentes à classe dos
opressores. Todo o Império está reduzido a pó. As classes dominantes são mortas
ou fogem para o exterior, onde vão recomeçar humildemente sua vida, como
simples trabalhadores.
Porque tudo isso ocorreu?
Somente porque foi violada a Lei
Divina de amor universal. O Império era baseado no bem-estar apenas de uma
parte dos cidadãos, com abandono da grande maioria do povo.
Hoje o mundo compreende que nenhuma
ordem social é estável, se não cogitar do bem de todos, sem exceção, sem
nenhuma espécie de privilégio de castas.
Compreendido que as leis morais não
podem ser violadas sem pavorosas consequências, tudo está mudando no mundo.
Ouvimos e lemos com imensa esperança
as declarações oficiais de nosso governo, no sentido de haver uma única meta a
alcançar na administração dos bens públicos - a Meta Homem, à qual já nos
referimos num artiguete publicado em "Reformador" de Outubro de 1961,
páginas 231/2. A proteção ilimitada ao homem que até agora viveu no abandono,
ao homem desajustado, ao homem inepto por falta de educação, de saúde, de meios
de trabalho, tem que ser a cogitação constante dos governos.
Essa mudança de mentalidade é
mundial e transformará o Planeta de "mundo de expiações e provas" em
"mundo regenerador".
Chegaremos ao ideal de Guerra
Junqueiro, de podermos dormir tranquilamente deixando a nossa casa aberta,
porque ninguém necessitará de nossos bens. Dentro de cada homem haverá um
policial sempre alerta - sua própria consciência.
Mencionamos acima como exemplo a
queda de um único Império, mas o Leitor inteligente se lembrará de muitos
outros que já caíram ou estão caindo.
A Doutrina Espírita reclama amparo
social para todos, e acusa a sociedade de responsável por grande parte dos
crimes que são consequência do abandono do homem, sem educação, sem proteção,
sem meios de vida honesta.
Em vez de lançar a primeira pedra no
criminoso, examinemos nossa própria consciência como membros da sociedade que o
deixou abandonado.
Se é verdade que muitos Estados
estão caindo como vítimas de seus próprios carmas coletivos,
temos o consolo de verificar também o contrário, povos que já se aproximaram do
ideal humanitário e atravessaram ilesos as grandes calamidades de nosso século
de guerras e revoluções cruentas. Parece-nos que a Suíça e a Suécia só tomaram
parte ativa nas guerras deste
século como Cruz Vermelha, para socorrer vítimas, abrigar desamparados dos
países beligerantes, amadas e respeitadas por todos eles.
Se não estivermos enganado, a Suíça
e a Suécia, que há mais de um século não entram em guerra e tomam parte ativa
em todos os movimentos humanitários do mundo, são povos modelares para as
organizações políticas do futuro. Pouco terão que melhorar em suas próprias instituições
para serem perfeitos e se enquadrarem nos ideais do Terceiro Milênio.
No Brasil e nos outros países da
América tem-se ainda muito que fazer para alcançar esse ideal, mas já estamos
dando os primeiros passos nessa direção.
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