Extratos do artigo ‘Lendo
e Comentando’ de
Hermínio
Miranda
publicado em Reformador (FEB) em Setembro 1963
"A essência da verdade
espiritual ... está em que ela é sempre aprovada no teste da razão." "Nada
do que se origina das mais altas fontes da vida, seja recebido através do
misticismo ou da mediunidade, é um insulto à inteligência. Essa tem sido, na
verdade, a marca da sua origem divina."
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"A teologia, tão amiúde confundida com a religião, leva a amargas
disputas e até a conflitos fratricidas, nos quais os participantes demonstram
tudo, menos o amor que proclamam ser a essência de sua religião." E o
pior é que "ambos os contendores
apontam para a mesma Bíblia, mas citam textos que se opõem, em apoio de suas
doutrinas individuais".
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... nada mais indicado para
enfraquecer uma organização religiosa que a dissensão interna, pois que, se não
se podem entender e conciliar-se intramuros, como é que terão serenidade e
segurança para responder aos argumentos contrários que vêm de fora?
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... o campo da teologia é árido e estéril. Tem uma superestrutura que
recobriu a inspiração originária e a sepultou de maneira irreconhecível."
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... onde estão os William Crookes de
hoje? Há realmente muita pesquisa de interesse a fazer e a Ciência, de modo
geral, parece ter assumido uma atitude de universal indiferença pelo problema
transcendental da existência do Espírito e sua sobrevivência. A atitude oficial
é a de que essas questões já se acham de muito resolvidas e nada mais existe
nelas que possa interessar a um cientista digno do seu nome. Vemos, entretanto,
da experiência do passado, que muitas vezes a Ciência tem retomado questões que
pareciam inteiramente resolvidas. Foi preciso, por exemplo, a tenacidade de
Galileu para sacudir o tranquilo conformismo dos "sábios" da época,
para os quais a Terra, além de fixa, era o centro incontestável do Universo.
Para aqueles "cientistas" o problema estava encerrado e nada mais
havia nele que pudesse ser reexaminado.
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"As dificuldades são parte integrante da experiência terrena; é banal,
mas verdadeiro, que a maneira pela qual você as enfrenta é o que importa, e não
as dificuldades em si mesmas. É o modo pelo qual a alma encara o problema que é
importante, não o problema. Este passará, mas a alma permanecerá para sempre."
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Num artigo destinado a discorrer sobre a
grandeza de Deus, que é, na sua feliz expressão, a essência de tudo quanto
existe, introduz o Major Ripley Webb um conceito que, pelo menos para mim,
pareceu inexato. Diz ele: "Sem Deus, somos incompletos - o que está certo
- e sem nós, Deus é incompleto" - o que, em minha opinião singela, é
inteiramente falso. A aceitar essa ideia, teríamos um Deus limitado em seus
poderes, irremediavelmente dependente da sua própria criatura. Basta isso para
retirar-Lhe atributos inalienáveis à ideia de Deus. Essa história de discutir Deus
e procurar defini-lo é muito arriscada e acaba fatalmente no que se chama em
inglês um "dead end", isto
é, um beco sem saída.
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Que adiantaria a Einstein - ainda
que estivesse para isso preparado - ensinar a teoria da relatividade ou a do
campo unificado, ao tempo de Demócrito? A Humanidade caminha por estágios
suaves e lógicos, assentando cada avanço sobre as bases das conquistas já
consolidadas. Esse processo de amadurecimento é lento mas seguro, e se somente
agora atingimos um estágio de maturidade que nos credencia a receber verdades
mais profundas é porque, no passado mais ou menos distante, estávamos numa
espécie de infância espiritual, em que apenas éramos solicitados a crer, mas
ainda não tínhamos alcance intelectual para raciocinar sobre os pontos
principais da nossa fé, nem mecanismo cultural e cientifico para investigar lhe
as origens e sua validade filosófica.
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O que interessa, para o foro íntimo
de cada um, não é seguir a opinião da maioria, nem dobrar-se ao desejo ou à
imposição dos grupos e sim aceitar livremente aquilo que lhe parece aceitável e
recusar sistematicamente aquilo que sua razão não pode admitir. Do contrário,
não seremos criaturas pensantes, dotadas de livre arbítrio, isto é, de
capacidade de escolha: apenas nos deixaremos levar pela correnteza que melhor
condiz com a nossa maneira de ser, por comodismo, por indiferença, por medo de
investigar a verdade e topar com uma resposta que não seria a que melhor
conviesse aos nossos próprios interesses.
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Afinal de contas, somos Espíritos e
não simples figuras animadas de matéria densa, com uma vaga sensação ou esperança
de sobrevivência. Sobrevivemos de verdade, como está abundantemente provado.
Não só isso; também preexistimos e renascemos. Essas noções não podem mais
ficar na obscuridade, porque a ignorância, acerca da sua própria natureza
espiritual, está levando o ser humano a um ponto morto na escala evolutiva: a
criatura que desconhece o mecanismo do seu próprio Espírito, como pode
situar-se nesse imenso plano divino que é a Criação? Como pode crescer
espiritualmente, entender os objetivos da vida, ajustar-se aos problemas que se
lhe atravessam no caminho, vencer as dificuldades que surgem?
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