Epitáfio Reencarnacionista
Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Janeiro 1963
Benjamim Franklin foi um homem
extraordinário. Teve papel preponderante em sua época, foi um dos fundadores da
independência dos Estados Unidos, embaixador a quem coube negociar com Luís XVI
a aliança de seu país com a França. Além disso, foi físico e publicista, tendo
sido o inventor do para-raios. Poder-se-ia discorrer mais demoradamente sobre a
personalidade desse homem admirável, otimista e crente no bom destino do homem
que sabe respeitar seu semelhante e cumprir os seus deveres com dedicação e
eficiência. Outras invenções deixou como atestado da sua inteligência e do seu
grande poder de imaginação.
Era dado também a estudos
filosóficos e acreditava piamente na reencarnação, num tempo em que se tornava
perigoso admitir ou defender ideias contrárias ao dogmatismo ultramontano.
Deixou para que pusessem na lápide
de seu túmulo as seguintes palavras, que constituem, não apenas uma definição,
mas, sobretudo, uma profissão de fé:
EPITÁFIO
Aqui jaz, entregue aos
vermes,
como um livro roído pelas traças
e
já sem as Iombadas lavradas
de sua
capa, o corpo de Benjamin
Franklin,
livreiro, que há de voltar
em
edição nova e melhorada.
Examinemos, ainda que perfunctoriamente,
esse epitáfio simples e profundo em sua significação, claro e extenso em seu
sentido espiritual.
Realmente, o corpo humano, gasto,
velho e ineficiente, depois de anos e anos de lutas e provações terrenas,
parece, realmente, um livro roído pelas traças. A fisionomia enrugada e sem o
brilho da juventude, a boca desfalcada de dentes, os olhos murchos e
embaciados, são como que a lombada ricamente lavrada da capa esfacelada pelo
uso.
Benjamim Franklin, genial em outras
manifestações do seu espírito, o foi também ao escrever
esse epitáfio reencarnacionista. Tão reencarnacionista que ele afirma que
"há de voltar", mas "em edição nova e melhorada", isto é,
com o seu espírito mais fortalecido e aprimorado pela experiência adquirida na
encarnação que se extinguia.
Não parou, todavia, aí, a notável
expressão de beleza moral desse homem magnífico e magnânimo. Em vez de lembrar
a sua condição de homem de Estado, de físico eminente, ele apenas mencionou
"Benjamim Franklin, o livreiro". Modestamente, o "livreiro"...
Isto demonstra mais uma faceta da sua personalidade forte e espiritualizada.
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