terça-feira, 25 de março de 2014

Cairbar Schutel


Preito de Saudade
Lino Teles (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Janeiro 1946


            Este mês recordamos o oitavo aniversário da desencarnação do querido irmão de lutas Cairbar Schutel, um dos mais fervorosos pioneiros do Espiritismo no Brasil, um missionário que realizou obra muito acima do que podem fazer os homens comuns do planeta. Pobre, sem instrução superior, sem auxílio humano, numa pequena localidade do interior, Cairbar Schutel realizou a transformação de si mesmo e do seu meio. Sem instrução, transformou-se pelo estudo em mestre dos outros, em autor fecundo e inesquecível. Pobre, estabeleceu o jornal espirita mais difundido do país com oficinas próprias, fundou e perpetuou uma bela revista, publicou uma série de catorze volumes doutrinários, alguns dos quais já alcançaram várias edições ou foram traduzidos em outras línguas. Todos esses continuam produzindo o fruto bendito de esclarecer as consciências.

            Cairbar Schutel possuía aquela fé que transporta montanhas, filiada a uma humildade que pode transformar o mais simples dos homens em sábio e santo. Com ele correspondíamos quase diariamente durante os seus últimos vinte anos de vida terrena, e recebíamos de suas virtudes os mais edificantes exemplos.

            Nada mais houvesse realizado esse pioneiro, além de montar uma oficina e distribuir pelo Brasil semanalmente um jornal espírita com a lista completa dos livros doutrinários, e isso durante quarenta e um anos, e já lhe deveríamos muitíssimo do que hoje é o Espiritismo no Brasil. Dez mil exemplares de O Clarim recordam sem cessar a necessidade de estudarmos e termos uma biblioteca espirita.

            Achando, porém, que O Clarim só interessava à gente simples e que temos deveres também para com os outros irmãos, Cairbar teve a ideia de fundar uma revista luxuosa, em excelente papel, ilustrada e tratando principalmente do aspecto científico do Espiritismo. Achávamos uma temeridade tal iniciativa e a desaconselhamos, mas fomos vencidos pelo otimismo do apóstolo. Escrevia-nos ele por esse tempo: "Dará muito prejuízo, sim, mas isso não importa, os Caros Espíritos me aconselharam a fazer e disseram que V. também ajudará. Mãos à obra, pois, e havemos de vencer!" A Revista quase não tinha assinantes, era distribuída gratuitamente, mas de vez em quando um leitor apontava um erro nosso, e isso era motivo de grande júbilo para o editor. Remetia-me a crítica e uma carta, entusiasmado: "Como, vês, a Revista está sendo lida!"

            Quando chegou a ter quase um milheiro de assinantes, escreveu-me com grande alegria: "A Revista já tem quase mil assinantes. Aproxima-se o tempo em que ela terá vida própria!"

            Hoje a Revista tem vinte e um anos feitos, mas não sei nem quero saber se já tem vida própria. Sei é que Reformador aos 64 anos ainda depende muito da bolsa materna para poder viver. Se eu perguntasse aos continuadores da obra de Cairbar Schutel, talvez, por uma piedosa fraude, me dissessem que a Revista já não lhes dá prejuízo quase nenhum. A verdade muito consoladora é que ela continua aparecendo com toda a regularidade ao entrar em seu 22º ano, e isso prova que a obra de Cairbar Schutel encontrou continuadores dignos de seu nome.

            Vamos recordar aqui aos leitores de Reformador os títulos dos livros que continuam cumprindo a missão apostólica de Cairbar Schutel. Foram todos editados e vão sendo reimpressos na Editora de O Clarim. Eis os títulos:

Interpretação Sintética do Apocalipse, 6.ª edição.
Parábolas e Ensinos de Jesus, 5ª edição.
O Diabo e a Igreja,  4ª edição.
Médiuns e Mediunidades, 4ª edição.
Cartas a Esmo, 3ª edição.
Espiritismo e Protestantismo, 3ª edição.
O Espírito do Cristianismo, 3ª edição.
Vida e Atos dos Apóstolos, 3ª edição.
Gênesis da Alma, 3ª edição.
Conferências Neo Espiritualistas Radiofônicas.
Os Fatos Espíritas e as Forças X
Espiritismo e Materialismo.
A Vida no Outro Mundo.
Histeria e Fenômenos Psíquicos.

            De algumas obras não sabemos quantas edições já foram tiradas. Por um dos livros, vê-se que Cairbar Schutel foi pioneiro da propaganda espírita pelo rádio, pois que em 1936/37 irradiou pela "Rádio-Cultura de Araraquara PRD 4 uma série de palestras que mais tarde publicou num volume de 206 páginas que poderá servir de modelo aos novos propagandistas.

            Que saibamos, ninguém mais publicou em forma de livro suas palavras radiofônicas e mesmo o autor destas linhas poderia tê-lo feito, deveria ter reunido suas palavras radiofônicas em volume para ajudar o trabalho dos novos.

            Destas poucas linhas, vê-se que o saudoso Cairbar Schutel foi um dos mais, senão o mais dinâmico trabalhador da Seara e precursor da obra do livro espírita no Brasil.


            Com servidores tão dedicados no plano espiritual, a nos guiar, nada devemos temer nos empreendimentos a favor da doutrina. Tudo será vencido galhardamente por eles.

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