Importante experiência
de desdobramento voluntário
Boanerges da Rocha / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Julho 1961
Um dos fatos extraordinários do
Espiritismo foi o oferecido pela médium Sra. Vlasek, num caso de voluntário
desdobramento ou bilocação, ocorrido na Califórnia, Estados Unidos, cujo amplo
relato encontramos em “Maisons et Lieux Hantés”, de Raoul Montandon.
A Sra. Vlasek desenvolvia, a esse
tempo, dinâmica atividade espirítica, desempenhando cargos de grande
responsabilidade em centros e associações espíritas norte-americanas. Mulher de
grande prestígio, por sua autoridade moral e sua cultura, conferencista muito
apreciada, conhecia a Doutrina e exercia com êxito as faculdades pessoais que
possuía.
O caso que vamos oferecer aos
leitores constitui um dos mais expressivos documentos comprobatórios do chamado
“desdobramento voluntário”, que ela conseguiu após longo e paciente
treinamento, que culminou com a famosa experiência mencionada por Montandon.
“Em 1926, a Sra. Vlasek, designada
para representar as Associações espíritas dos Estados Unidos em importante
conclave de Toledo, Ohio, foi insistentemente solicitada para repetir uma
experiência já tentada e parcialmente bem sucedida no ano anterior, por ocasião
do Congresso de Milwaukee.
Partindo, pela manhã, de Los
Angeles, no trem da “Union Pacific”, a Sra. Vlasek preparou-se para a
experiência da tarde, apenas reduzindo sua alimentação ao mínimo. Deveria seu
Espírito, de acordo com o convencionado, desprender-se no curso da viagem e
produzir uma manifestação em uma das reuniões do grupo a que pertenciam os
solicitantes da prova, realizada a muitos quilômetros de distância. Essas
reuniões contavam com um médium que promovia a fala direta de Espíritos através
de porta-vozes, e de um médium de materializações. A primeira manifestação da
Sra. Vlasek deveria ocorrer ao fim do dia de sua partida, a 27 de Setembro, na
sessão da Sra. Webb, médium de vozes diretas, e a segunda, no dia imediato, na
sessão da Sra. Allyn, médium de materializações.
No momento da sessão (tendo-se em
conta a diferença de horas já estabelecida pela marcha do trem), a Sra. Vlasek
retirou-se para a sua cabina, seguindo o seu método habitual de concentração,
tendo como objetivo a sessão da médium de vozes diretas. A primeira experiência
foi coroada de êxito. Na segunda, a Sra. Vlasek, concentrando toda a sua
vontade, compareceu à sessão combinada. Ao entrar no Centro Espírita, ela teve
a impressão de haver chegado atrasada. Efetivamente, a sessão já ia bem
adiantada. Passando para o gabinete mediúnico, ela viu, segundo declarou,
grande número de Espíritos, alguns em cima e outros fora das cortinas, à espera
do momento de se materializarem.
Entre os Espíritos ali reunidos, um,
feminino, que parecia ser o “Espírito-Guia”, desejou dar-lhe boas-vindas,
acrescentando: “Mas, você é uma mortal, não poderá senão assistir aos
trabalhos.”
A Sra. Vlasek, então, examinou a
médium, Sra. Allyn; viu-a profundamente caída em transe; o corpo inteiriçado,
meio-deitado na poltrona. Depois, seu interesse se fixou nas fases sucessivas
dos trabalhos em curso. Três Espíritos, que ela denomina de “Espíritos Químicos”,
trabalham ativamente: um, de porte elevado e pele escura; outro, pequeno e
idoso, mas de pele branca, e o terceiro, igualmente pequeno, mas de tez escura
como o primeiro.
O trabalho do primeiro Espírito
consiste, antes de tudo, em concentrar a própria atenção. Conservando-se à
entrada do gabinete, ele agita os braços constantemente, parecendo recolher uma
substância cinzento-azulada, vibrante, que se semelhava um pouco com as ondas
de vapor, e produzida pelos assistentes humanos presentes à reunião. Mas, posto
que essa substância contornasse todo o grupo de espectadores, como se fosse uma
cinta, a contribuição dada por cada um dos assistentes era desigual. Alguns até
não forneciam nada.
A cinta partia da Sra. Allyn,
sentada à direita do gabinete, e, seguindo o grupo, chegava à esquerda do mesmo
gabinete, aumentando progressivamente de volume “pro-rata” da contribuição de
cada um dos espectadores. Ao se formar, debaixo do joelho direito da Sra.
Allyn, a cinta não tinha mais que 5 centímetros de largura por 15 de espessura,
e, em sua supuração, alcançava, aproximadamente, 30 por 45 centímetros. Essa
cinta era de substância que, penetrando no gabinete mediúnico, a cerca de 60
centímetros do chão, ia sendo recolhida pelo primeiro “Espírito químico”.
A observadora assinala que, junto ao
grupo humano presente, vários Espíritos trabalhavam para regularizar a produção
recebida dos assistentes encarnados, de maneira a manter uma espécie de “constante”
na corrente vibratória.
Quando o primeiro “Químico”
acumulava a quantidade desejada de substância passava-a ao segundo, que a
espalhava sobre a base do crânio e sobre a nuca do médium, onde ela penetrava.
E, correspondendo a essa penetração, uma matéria branca emanava do queixo, da
garganta e do peito da médium. Essa emanação, que parecia uma substância mais
condensada, era, então, empregada pelo terceiro “Químico” para recobrir o
Espírito que ia materializar-se. À medida que o operador realizava esse
trabalho de “revestimento” sob a forma fluídica, recomendava imperativamente
que o paciente concentrasse seu pensamento sobre a parte a materializar: “Pense em seus traços. fisionômicos! Em seu
rosto! Pense em seus olhos! Pense na forma que você tinha na Terra! Pense com
clareza e precisão! Pense em seus braços, etc.”
E, a pouco e pouco, segundo a
concentração se fizesse sobre tal ou qual parte do corpo, este se ia formando,
construindo, e ficando material.”
Podem os leitores observar bem essa
particularidade narrada pelo Espírito da Sra. Vlasek, graças ao desdobramento
espiritual que voluntariamente ela provocara. Enquanto seu corpo permanecia no
trem que a levava a Ohio, seu Espírito comparecia à sessão que se realizava
nessa cidade, e via e era visto ali, comprovando o extraordinário fenômeno de
bilocação. Mas, continuemos o seu instrutivo relato:
“Enquanto a realização do fenômeno
prosseguia, os assistentes cantavam uma velha melodia dos negros americanos: “Old Black Joe”. Mas, subitamente, eles
a interromperam e um deles passou a entoar, então, a marcha da Guerra da
Secessão: “Marching through Georgia”.
Essa mudança brusca do ritmo das vibrações teve deplorável efeito na formação
que se fazia: a substância já organizada se desintegrou, tornando-se amorfa.
Era preciso, então, recomeçar o trabalho.
O “Químico” fez sinal a outro
Espírito candidato à materialização para se aproximar e retomou
sua tarefa. Mas outra mudança do canto ocasionou novo contratempo.
Entrementes, observando esses
insucessos, a Sra. Vlasek permanecia no gabinete mediúnico como que flutuando
acima do chão. Era impossível, disse ela, ficar em pé no gabinete mediúnico.
Depois de uma pausa da cantoria, alguém começou a cantar “Shall we gather at the river”. Ela verificou que se tornara mais
pesada. Aproximando-se do “Químico”, este quis afastar-se; dizendo: “Você é uma
mortal... Não tem nada que fazer aqui.” Em seguida, arrependendo-se,
perguntou-lhe porque ela deseja materializar-se Quando ele soube que a “mortal”
acreditava que uma manifestação dessa natureza seria muito instrutiva para os
espectadores, seus amigos, e prodigiosamente valiosa para a Causa, consentiu em
satisfaze-la. Dizendo-lhe para retornar de costas, ele apanhou a substância
emanada da médium e, recobrindo seu corpo fluídico, ordenou-lhe: “Pense nos seus traços fisionômicos, com
precisão... Pense no que você era, exatamente... Pense nos seus cabelos! Em
seus olhos! Pense em sua forma! Pense em seus braços! Em suas mãos, em seus
pés, etc...”
Apanhando ainda mais substância, o “Espírito
químico” passou a se ocupar com as roupas e, por uma espécie de fantasia
galante, imaginou para a Sra. Vlasek excelente vestido de rendas brancas.
Finalmente, quando a Sra. Vlasek
acreditou já estivesse bastante materializada para se mostrar aos espectadores,
dirigiu-se para a entrada das cortinas, no meio do grupo. Mas, para grande
surpresa sua, nada pode ver, absolutamente nada: era como se estivesse cega.
Tal situação durou apenas alguns instantes, mas, concentrando toda a sua
vontade, pode ela, a pouco e pouco, ir adquirindo a visão. De início,
distinguiu apenas a filhinha da médium; depois, os outros assistentes. E da
mesma forma, segundo suas palavras, nenhum nome foi proferido, apesar de seus
esforços, até o momento em que ela recebeu dum membro da assistência uma
vibração fortificante que lhe permitiu falar. Pode, então, dizer:
“Eis-me aqui... Eu sou a Sra. Vlasek.”
Os espectadores, entusiasmados,
cercaram--na, certificando-se de que se tratava, efetivamente, de sua estimada
presidente e todos a ouviram dizer: “Verifiquem a hora; olhem bem a hora ... eu
os saúdo a todos... Sou feliz por ter merecido o privilégio de me
materializar... Continuem a boa tarefa ...”
Bruscamente, um choque a atingiu: a
impressão de um golpe no peito corta a sua respiração e ela, com muita
dificuldade, conseguiu murmurar: “Estou sem ar... Adeus...” Tudo
fora desagradável consequência do gesto de um dos espectadores, o Dr. H.
Turner, que,
desejando obedecer à recomendação da Sra. Vlasek, de marcar a hora com muita
exatidão, aumentou inesperadamente a luz da sala para poder escrever melhor.
O choque tinha sido tão violento que
ela perdeu os sentidos e, infelizmente para nós, não pode seguir o mecanismo,
de sua desmaterialização.
Entretanto, voltando ao estado de “duplo
fluídico”, pode ainda observar algumas fases ulteriores da sessão. A substância
emanada do médium, depois de ter servido à materialização, retomou sua
primitiva densidade e retornou ao anel cinza-azulado fornecido pelos
assistentes.
As materializações começaram a
dissolver-se antes que ela voltasse ao gabinete mediúnico e, no curto instante
necessário para a sua passagem, a maior parte da substância já havia
desaparecido. O restante rastejava sobre o chão e foi reunir-se à cinta
cinzenta e vibrante.
Depois dessa extraordinária
experiência, a Sra. Vlasek retomou seu corpo físico, suportou toda uma série de
provas de reconhecimento e de reverente exaltação de parte da pessoa que a
acompanhou em sua viagem, escutando o seu relato.
Por outro lado, os testemunhos desse
prodigioso fenômeno foram tão entusiásticos por seu êxito, que lhe enviaram
numerosas cartas e telegramas exprimindo sentimentos de admiração. Os
testemunhos prestados pelos assistentes vieram, não apenas corroborar o relato
feito pela Sra. Vlasek, mas ajuntar ainda, em diversas frases pronunciadas,
várias palavras esquecidas por ela na ata publicada.”
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