Goethe
Frederico apareceu a Goethe em Espírito
Boanerges da Rocha / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Novembro 1961
Muitos, muitíssimos fatos curiosos
ocorrem no ambiente espírita, demonstrando a inutilidade dos esforços daqueles
que, por motivos religiosos ou pseudocientíficos, se entregam ao mister de
anunciar a improcedência de tais fenômenos.
Quando lemos que qualquer indivíduo
quer ter a "boa ventura" de provar a impossibilidade dos fatos
espíritas ou tentar a "explicação" que mais convenha aos discutíveis
interesses de sua grei, sorrimos piedosamente de tanto tempo perdido, de tanta
insinceridade, de tanta hipocrisia e, porque não dizê-lo, de tanto caradurismo.
Se semelhante procedimento é
incompatível com a ética da Ciência, não o é menos quanto à da Religião,
porquanto esta impõe sempre o respeito à verdade e, para contestarem os
fenômenos espíritas, os que a isso se dedicam começam por recusar a verdade e,
consequentemente, por fugirem ao princípio primário e fundamental de qualquer
religião que se preze de o ser: a honestidade de opinião em qualquer
circunstância.
Acontece, porém, que o Espiritismo é
eterno e não tem pressa. Paciente, espera que os seus detratores de hoje se
tornem, um dia, seus devotados propagadores. A lei reencarnacionista lhe assegura
plena confiança no futuro. Entrementes, passemos a relatar mais um episódio curiosíssimo,
ocorrido com pessoa de cuja idoneidade não é lícito duvidar - Goethe, o grande
e famoso poeta alemão.
Wolfgang von Goethe passeava, numa
noite chuvosa de verão, com o seu amigo K ... , voltando com ele do Belvedere
para Weimar. De repente, o poeta estacou, como se enfrentasse um fantasma que
lhe fosse falar.
K ... não desconfiava de coisa
alguma. Subitamente, Goethe exclamou: "Meu Deus! Se eu não tivesse certeza
de que o meu amigo Frederico está nessa momento em Frankfurt, juraria que era
ele! "Em seguida, deu uma gargalhada: "Mas sois efetivamente vós...
meu amigo
Frederico! Como é que vos achais aqui em Weimar? Mas, por Deus, meu caro, de
que maneira estais vestido, com o meu robe-de-chambre, com o meu barrete de
dormir, calçado de chinelos em plena rua?"
K ... , como acabei de dizer, não
via absolutamente nada de tudo isso e amedrontou-se, acreditando que o poeta
enlouquecera subitamente. Mas Goethe, inteiramente preocupado com a sua visão,
exclamou, abrindo os braços: "Frederico! Por onde passastes?"
"- Por Deus! dizei-me amigo K.... não
vistes por onde passou a pessoa que acabámos de
encontrar?"
K... , estupefato, nada respondia. O
poeta, voltando, então, o rosto para todos os lados, proferiu, com ar de quem
sai de um sonho, estas palavras: "Sim, compreendo... é uma visão... entretanto, que significação pode ter tudo
isso? Teria o meu amigo morrido repentinamente?
Seria o seu Espírito que aqui
esteve? Dado o fato, Goethe foi para casa e lá encontrou Frederico. Seus
cabelos eriçaram-se:
"- Para trás, fantasma!" -
exclamou ele, recuando, pálido como um cadáver.
"- Mas, meu caro, acolhes, então,
desse modo o teu mais leal amigo?" - tornou Frederico.
Rindo e chorando ao mesmo tempo, o
poeta considerou:
"- Ah! Desta vez não é um
Espírito, mas um vivente de carne e osso."
E os dois amigos abraçaram-se com
efusão.
Frederico chegara ao aposento de
Goethe, inteiramente molhado pela chuva, e tinha trocado as suas roupas pelas
do poeta, que estavam secas.
Em seguida, adormecendo em sua
poltrona, sonhou que tinha saído ao encontro do amigo, que o tinha interpelado
com estas palavras: "Como é que vos achais aqui em Weimar? de que modo... com
o meu robe-de-chambre, meu barrete de dormir e meus chinelos, em plena
rua?.."
Desde esse dia, o poeta acreditou
numa outra vida depois da morte.
O episódio foi narrado pelo "Psichische Studien", de Leipzig, de
Março de 1897, e publicado em "A
Alma é Imortal", de Gabriel Delanne, que faz, por sua vez, o seguinte
comentário:
"Este caso é interessante por
mais de uma razão, pois estabelece que uma aparição, mesmo invisível para um
terceiro, pode, entretanto, não ser uma alucinação telepática, pelo menos no
sentido que se tem aplicado a esta palavra.
"Assistimos efetivamente, nesse
fenômeno, a uma espécie de alucinação telepática, por isso que só Goethe vê o
fantasma, mas essa imagem é exterior, não se acha alojada em seu cérebro, como
sê-lo-ia uma verdadeira alucinação, pois resulta do testemunho de Frederico,
que ele fora, em sonho, ao encontro do seu amigo; e o que estabelece a
objetividade da sua exteriorização é que as palavras que ouviu são exatamente
as pronunciadas
pelo ilustre poeta, Vemos que aquilo que Frederico toma por sonho é a
recordação de um ato real passado durante o seu sono. Foi o seu Espírito que se
desprendeu, enquanto seu corpo repousava, e ouviu, retendo-as, as palavras de
Goethe.
"Façamos, aproveitando-nos da
oportunidade, uma observação muito importante. Se Frederico não se tivesse
lembrado dos acontecimentos que se deram quando ele dormia, os membros da
sociedade de investigações psíquicas teriam concluído por uma ação da
consciência subliminal de Frederico, isto é, pela representação de uma
"personalidade segunda" deste indivíduo;' Ora, parece evidente, neste
caso, que é sempre a mesma personalidade que age, pois tem consciência do que
se passou. Somente pode acontecer que nem sempre se lembre do que praticou
durante o repouso do corpo. Essa perda de lembrança não é bastante para
autorizar os psicólogos ingleses e franceses a dizerem que há em nós
personalidades que coexistem e se ignoram mutuamente (ver W. H. Myers, Proceedings, La Conscience subliminal. Consultar também: P. Janet, L'Automatisme psychologique; Binet: Les Altérations
de la personnalité.
A única indução que logicamente
parece-nos ser permitida é a que admite que a nossa personalidade comum - a do
estado de vigília - está separada da personalidade durante o sono, por uma
categoria de lembranças que não são mais conscientes ao despertar, Não há duas
individualidades no mesmo ser, mas tão somente dois estados diferentes dessa
individualidade.
Gabriel Delanne, que se dedicou ao
estudo científico dos fenômenos espíritas, é um dos nomes de maior prestígio,
por sua cultura sólida e por sua integridade moral e científica. Suas se
incluem entre as que a Federação Espírita Brasileira tem editado. Constituem
preciosa contribuição para o conhecimento do Espiritismo científico. Devem ser
lidas. Lidas e meditadas.
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