domingo, 26 de janeiro de 2014

Frederico apareceu a Goethe em espírito

Goethe

Frederico apareceu a Goethe em Espírito


Boanerges da Rocha / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Novembro 1961

            Muitos, muitíssimos fatos curiosos ocorrem no ambiente espírita, demonstrando a inutilidade dos esforços daqueles que, por motivos religiosos ou pseudocientíficos, se entregam ao mister de anunciar a improcedência de tais fenômenos.

            Quando lemos que qualquer indivíduo quer ter a "boa ventura" de provar a impossibilidade dos fatos espíritas ou tentar a "explicação" que mais convenha aos discutíveis interesses de sua grei, sorrimos piedosamente de tanto tempo perdido, de tanta insinceridade, de tanta hipocrisia e, porque não dizê-lo, de tanto caradurismo.

            Se semelhante procedimento é incompatível com a ética da Ciência, não o é menos quanto à da Religião, porquanto esta impõe sempre o respeito à verdade e, para contestarem os fenômenos espíritas, os que a isso se dedicam começam por recusar a verdade e, consequentemente, por fugirem ao princípio primário e fundamental de qualquer religião que se preze de o ser: a honestidade de opinião em qualquer circunstância.

            Acontece, porém, que o Espiritismo é eterno e não tem pressa. Paciente, espera que os seus detratores de hoje se tornem, um dia, seus devotados propagadores. A lei reencarnacionista lhe assegura plena confiança no futuro. Entrementes, passemos a relatar mais um episódio curiosíssimo, ocorrido com pessoa de cuja idoneidade não é lícito duvidar - Goethe, o grande e famoso poeta alemão.

            Wolfgang von Goethe passeava, numa noite chuvosa de verão, com o seu amigo K ... , voltando com ele do Belvedere para Weimar. De repente, o poeta estacou, como se enfrentasse um fantasma que lhe fosse falar.

            K ... não desconfiava de coisa alguma. Subitamente, Goethe exclamou: "Meu Deus! Se eu não tivesse certeza de que o meu amigo Frederico está nessa momento em Frankfurt, juraria que era ele! "Em seguida, deu uma gargalhada: "Mas sois efetivamente vós... meu amigo Frederico! Como é que vos achais aqui em Weimar? Mas, por Deus, meu caro, de que maneira estais vestido, com o meu robe-de-chambre, com o meu barrete de dormir, calçado de chinelos em plena rua?"

            K ... , como acabei de dizer, não via absolutamente nada de tudo isso e amedrontou-se, acreditando que o poeta enlouquecera subitamente. Mas Goethe, inteiramente preocupado com a sua visão, exclamou, abrindo os braços: "Frederico! Por onde passastes?"

             "- Por Deus! dizei-me amigo K.... não vistes por onde passou a pessoa que acabámos de encontrar?"

            K... , estupefato, nada respondia. O poeta, voltando, então, o rosto para todos os lados, proferiu, com ar de quem sai de um sonho, estas palavras: "Sim, compreendo... é uma visão...  entretanto, que significação pode ter tudo isso? Teria o meu amigo morrido repentinamente?

            Seria o seu Espírito que aqui esteve? Dado o fato, Goethe foi para casa e lá encontrou Frederico. Seus cabelos eriçaram-se:

            "- Para trás, fantasma!" - exclamou ele, recuando, pálido como um cadáver.

            "- Mas, meu caro, acolhes, então, desse modo o teu mais leal amigo?" - tornou Frederico.

            Rindo e chorando ao mesmo tempo, o poeta considerou:

            "- Ah! Desta vez não é um Espírito, mas um vivente de carne e osso."

            E os dois amigos abraçaram-se com efusão.

            Frederico chegara ao aposento de Goethe, inteiramente molhado pela chuva, e tinha trocado as suas roupas pelas do poeta, que estavam secas.

            Em seguida, adormecendo em sua poltrona, sonhou que tinha saído ao encontro do amigo, que o tinha interpelado com estas palavras: "Como é que vos achais aqui em Weimar? de que modo... com o meu robe-de-chambre, meu barrete de dormir e meus chinelos, em plena rua?.."

            Desde esse dia, o poeta acreditou numa outra vida depois da morte.

            O episódio foi narrado pelo "Psichische Studien", de Leipzig, de Março de 1897, e publicado em "A Alma é Imortal", de Gabriel Delanne, que faz, por sua vez, o seguinte comentário:

            "Este caso é interessante por mais de uma razão, pois estabelece que uma aparição, mesmo invisível para um terceiro, pode, entretanto, não ser uma alucinação telepática, pelo menos no sentido que se tem aplicado a esta palavra.

            "Assistimos efetivamente, nesse fenômeno, a uma espécie de alucinação telepática, por isso que só Goethe vê o fantasma, mas essa imagem é exterior, não se acha alojada em seu cérebro, como sê-lo-ia uma verdadeira alucinação, pois resulta do testemunho de Frederico, que ele fora, em sonho, ao encontro do seu amigo; e o que estabelece a objetividade da sua exteriorização é que as palavras que ouviu são exatamente as pronunciadas pelo ilustre poeta, Vemos que aquilo que Frederico toma por sonho é a recordação de um ato real passado durante o seu sono. Foi o seu Espírito que se desprendeu, enquanto seu corpo repousava, e ouviu, retendo-as, as palavras de Goethe.

            "Façamos, aproveitando-nos da oportunidade, uma observação muito importante. Se Frederico não se tivesse lembrado dos acontecimentos que se deram quando ele dormia, os membros da sociedade de investigações psíquicas teriam concluído por uma ação da consciência subliminal de Frederico, isto é, pela representação de uma "personalidade segunda" deste indivíduo;' Ora, parece evidente, neste caso, que é sempre a mesma personalidade que age, pois tem consciência do que se passou. Somente pode acontecer que nem sempre se lembre do que praticou durante o repouso do corpo. Essa perda de lembrança não é bastante para autorizar os psicólogos ingleses e franceses a dizerem que há em nós personalidades que coexistem e se ignoram mutuamente (ver W. H. Myers, Proceedings, La Conscience subliminal. Consultar também: P. Janet, L'Automatisme psychologique; Binet: Les Altérations de la personnalité.

            A única indução que logicamente parece-nos ser permitida é a que admite que a nossa personalidade comum - a do estado de vigília - está separada da personalidade durante o sono, por uma categoria de lembranças que não são mais conscientes ao despertar, Não há duas individualidades no mesmo ser, mas tão somente dois estados diferentes dessa individualidade.
 
            Gabriel Delanne, que se dedicou ao estudo científico dos fenômenos espíritas, é um dos nomes de maior prestígio, por sua cultura sólida e por sua integridade moral e científica. Suas se incluem entre as que a Federação Espírita Brasileira tem editado. Constituem preciosa contribuição para o conhecimento do Espiritismo científico. Devem ser lidas. Lidas e meditadas.



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