Espiritismo e Exigência
Certa vez conversávamos com um amigo,
católico por tradição, sobre assuntos religiosos, quando ele, em dado momento,
como que desejoso de encerrar o assunto, volta-se para nós e diz: “Estou muito satisfeito no Catolicismo, pois
ele pouco ou quase nada exige de mim. A confissão, no domingo, anula todos os
pecados cometidos durante a semana, E o que é mais importante: fico
inteiramente livre para cometer novos na semana seguinte.”
E, concluindo suas considerações,
asseverou: “O Espiritismo exige muito da gente.”
Nas
palavras do nosso amigo há apenas um ponto a retificar, uma afirmativa a
corrigir: O Espiritismo
nada exige de ninguém. Se existe no mundo uma doutrina liberal - íamos dizendo
liberalíssima! -, essa doutrina terá que render homenagens à nossa.
Liberal, não porque pactue com o
erro, nem com as atitudes inadequadas, nem porque apague procedimentos
criminosos.
A liberalidade espírita decorre, exclusivamente,
da compreensão que tem relativamente à diversidade de graus evolutivos.
Decorre, assim, da tolerância, que é apanágio doutrinário; do entendimento, que
lhe é princípio básico; da indulgência, que lhe constitui princípio
fundamental.
O Espiritismo não exige - esclarece.
O Espiritismo não impõe - expõe.
O Espiritismo não dogmatiza –
ilumina.
Opinava, pois, erradamente, aquele
nosso amigo, quando dizia: “O Espiritismo exige muito da gente.”
O que ocorre, dentro das fileiras
espiritistas, é um fenômeno de compreensão superior.
Quem se torna espírita, quem estuda
a Doutrina, com boa vontade e método, quem nela se integra com sinceridade e
respeito, vai-se transformando aos poucos, às vezes ou quase sempre sem o
perceber.
Via de regra, a observação vem de
fora, dos círculos de amizade ou dos próprios familiares: “Já notaram como
Fulano mudou, depois que se tornou espírita?! ...”
Como se vê, a Doutrina Espírita -
abençoado Tesouro que o Pai Celeste nos concedeu -
não dita leis a ninguém.
Não estabelece normas que o
profitente deva seguir sob a ameaça de castigos.
Não prescreve regulamentos
compulsórios.
O indivíduo abraça-a, espontaneamente;
vai assimilando o seu conteúdo moral; incorpora à sua individualidade noções mais
elevadas, no campo do trabalho e da moral, da cultura e da fraternidade,
realizando assim, ele próprio, pelo auto esclarecimento, a sua melhoria
espiritual.
Quando percebe, já é outro: está
inteiramente mudado.
Sabe distinguir o supérfluo do necessário.
Aprende a valorizar os bens da vida.
Sente, ele próprio, o imperativo do
aperfeiçoamento, do progresso, da iluminação. Se
não se adapta à Doutrina - cuja moral é a Cristã - por imaturidade, comodismo
ou má vontade, retira-se pela mesma porta pela qual ingressara.
Ninguém lhe vai dizer que volte,
porque os espíritas, de modo geral, sabem que a aceitação da Doutrina deve ser
espontânea para ser profícua; que a menor violentação, neste sentido, é
contraproducente.
Estar no Espiritismo sem o
Espiritismo estar na pessoa é muito inconveniente.
O nosso amigo, portanto, não tinha
razão para dizer que o Espiritismo exige muito da gente.
A Doutrina, para produzir em nós
frutos benéficos, deve ser como o oxigênio, isto é, atuar com naturalidade, com
espontaneidade, no centro de nossas vidas, onde se situa esse órgão maravilhoso
que se chama - coração.
Este é o nosso modo de pensar, mas
respeitamos, com sinceridade, quem pense de maneira diversa.
Martins Peralva
Reformador (FEB) Junho 1961
Nenhum comentário:
Postar um comentário