sábado, 7 de dezembro de 2013

Espiritismo e Exigência


Espiritismo e Exigência

            Certa vez conversávamos com um amigo, católico por tradição, sobre assuntos religiosos, quando ele, em dado momento, como que desejoso de encerrar o assunto, volta-se para nós e diz: “Estou muito satisfeito no Catolicismo, pois ele pouco ou quase nada exige de mim. A confissão, no domingo, anula todos os pecados cometidos durante a semana, E o que é mais importante: fico inteiramente livre para cometer novos na semana seguinte.”

            E, concluindo suas considerações, asseverou: “O Espiritismo exige muito da gente.”

       Nas palavras do nosso amigo há apenas um ponto a retificar, uma afirmativa a corrigir: O Espiritismo nada exige de ninguém. Se existe no mundo uma doutrina liberal - íamos dizendo liberalíssima! -, essa doutrina terá que render homenagens à nossa.

            Liberal, não porque pactue com o erro, nem com as atitudes inadequadas, nem porque apague procedimentos criminosos.

            A liberalidade espírita decorre, exclusivamente, da compreensão que tem relativamente à diversidade de graus evolutivos. Decorre, assim, da tolerância, que é apanágio doutrinário; do entendimento, que lhe é princípio básico; da indulgência, que lhe constitui princípio fundamental.

            O Espiritismo não exige - esclarece.

            O Espiritismo não impõe - expõe.

            O Espiritismo não dogmatiza – ilumina.

            Opinava, pois, erradamente, aquele nosso amigo, quando dizia: “O Espiritismo exige muito da gente.”

            O que ocorre, dentro das fileiras espiritistas, é um fenômeno de compreensão superior.

            Quem se torna espírita, quem estuda a Doutrina, com boa vontade e método, quem nela se integra com sinceridade e respeito, vai-se transformando aos poucos, às vezes ou quase sempre sem o perceber.

            Via de regra, a observação vem de fora, dos círculos de amizade ou dos próprios familiares: “Já notaram como Fulano mudou, depois que se tornou espírita?! ...”

            Como se vê, a Doutrina Espírita - abençoado Tesouro que o Pai Celeste nos concedeu - não dita leis a ninguém.

            Não estabelece normas que o profitente deva seguir sob a ameaça de castigos.

            Não prescreve regulamentos compulsórios.

            O indivíduo abraça-a, espontaneamente; vai assimilando o seu conteúdo moral; incorpora à sua individualidade noções mais elevadas, no campo do trabalho e da moral, da cultura e da fraternidade, realizando assim, ele próprio, pelo auto esclarecimento, a sua melhoria espiritual.

            Quando percebe, já é outro: está inteiramente mudado.

            Sabe distinguir o supérfluo do necessário.

            Aprende a valorizar os bens da vida.

            Sente, ele próprio, o imperativo do aperfeiçoamento, do progresso, da iluminação. Se não se adapta à Doutrina - cuja moral é a Cristã - por imaturidade, comodismo ou má vontade, retira-se pela mesma porta pela qual ingressara.

            Ninguém lhe vai dizer que volte, porque os espíritas, de modo geral, sabem que a aceitação da Doutrina deve ser espontânea para ser profícua; que a menor violentação, neste sentido, é contraproducente.

            Estar no Espiritismo sem o Espiritismo estar na pessoa é muito inconveniente.

            O nosso amigo, portanto, não tinha razão para dizer que o Espiritismo exige muito da gente.

            A Doutrina, para produzir em nós frutos benéficos, deve ser como o oxigênio, isto é, atuar com naturalidade, com espontaneidade, no centro de nossas vidas, onde se situa esse órgão maravilhoso que se chama - coração.

            Este é o nosso modo de pensar, mas respeitamos, com sinceridade, quem pense de maneira diversa.


Martins Peralva
Reformador (FEB) Junho 1961

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