Uma história que se repete
Antônio Túlio (Ismael
Gomes Braga)
Reformador
(FEB) Outubro 1958
Há
cento e cinquenta anos Frederico Antônio Mesmer (1733-1815) agitou a Humanidade
com a descoberta do Magnetismo animal e seu poder terapêutico. Discutido,
combatido, em luta contra o mundo médico, mesmo assim Mesmer demonstrou para
sempre a técnica das curas supostas miraculosas, existentes em todas as religiões
e mais particularmente no Cristianismo. Era a confirmação do que faziam Jesus Cristo
e seus primeiros discípulos, e teria sido uma força invencível nas mãos das
igrejas cristãs, se estas possuíssem
ainda a necessária humildade para aprender e aplicar a técnica, mas as igrejas
preferiram seguir seu caminho político-econômico e nada ganharam com a
descoberta.
Meio
século depois da descoberta de Mesmer surgiu o Espiritismo e tomou posse do
Magnetismo curador, não o deixando morrer até hoje, mau grado a oposição dos
médicos materialistas e das igrejas. A medicina desprezou aquele tesouro,
tratou-o como sobrenatural e supersticioso, e prosseguiu seus processos
grosseiramente materialistas, negando qualquer influência da alma em criar
enfermidades ou em curá-las.
Agora
surge entre médicos e dentistas uma poderosa, invencível onda, de uma das
modalidades do Magnetismo animal, o Hipnotismo, para produzir sono artificial,
insensibilidade e dominar o cliente pela sugestão. Por toda a parte abrem-se
cursos de Hipnotismo, nem sempre com a seriedade e o respeito que merece o
domínio dessa poderosa força da Natureza.
Alguns
frades católicos, mais notadamente o franciscano Frei Boaventura e o marista
Irmão Vitrício, ambos de origem alemã como Mesmer, supuseram que pelo
Hipnotismo poderão evitar o triunfo da Terceira Revelação, reproduzindo alguns
fenômenos estudados pelos espíritas, tais como o Sonambulismo, a Telepatia, e
imitando outros, como a Psicografia, a Incorporação mediúnica, etc. Vejamos
suas pretensões, como ficam expostas na revista "Manchete", de 6 de
Setembro de 1958, págs. 32 a 36.
Por
impropriedade verbal chamam ao Hipnotismo "Letargia", quando
"letargia" é um dos estados que se podem obter pelo Hipnotismo, e tem
definição consagrada que lhe impossibilita o emprego em outro sentido. Vejamos
a definição de LETARGIA, segundo Laudelino Freire:
"LETARGIA, ou LETHARGIA, s. f. Lat.
lethargia. Estado em que as funções orgânicas se acham atenuadas a ponto de parecerem abolidas. / 2. Sono profundo, em
que parece suspensa a circulação e a respiração. / 3. Prostração moral; apatia.
/4. Indolência extrema."
Trata-se,
pois, de Hipnotismo e não de Letargia.
Vejamos
agora as ousadas pretensões de Irmão Vitrício:
"Minha intenção - afirma o Irmão Vitrício
- é explicar o fenômeno mediúnico com a letargia e desmoralizar, cientificamente, as sessões espíritas, que
pretendem consultar almas do outro mundo. Os médiuns espíritas não fazem nada
de sobrenatural, mas apenas captam, pela letargia, os pensamentos de pessoas
próximas, bem vivas. Geralmente captam o pensamento do filho vivo que deseja
falar com a mãe falecida. O filho pensa muito na mãe e o médium capta
mensagens, não da mãe para o filho, mas ao contrário."
Vejamos
se essa conversa suporta um leve sopro de realidade.
Há
trinta e cinco anos morreu meu pai que me era excelente amigo. Eu já era
frequentador de sessões espíritas como sou até hoje. Penso sempre nele e desejo
imensamente receber dele uma comunicação, porém nunca me disse ele uma palavra,
nem me escreveu uma linha. No entanto, tenho recebido nessas sessões umas
centenas de mensagens de desconhecidos, de conhecidos já inteiramente
esquecidos, de amigos em quem eu não estava pensando e tudo sem estados
letárgicos. Algumas dessas mensagens são de pessoas que se declaram amigos meus
de outras encarnações, mortos há mais de um século. O mesmo caso ocorre com
minha irmã, viúva há mais de trinta anos, e que nunca recebeu noticias do
esposo falecido. O mesmo ocorre com dezenas de conhecidos e amigos meus,
espíritas há decênios.
Pura
fantasia do Irmão Vitrício! Mas não lhe neguemos o mérito de estar fazendo, sem
o pretender, uma bela propaganda do Espiritismo. Diz à revista, mais adiante:
"Dentro da própria Congregação dos Irmãos Maristas
seu prestígio cresceu grandemente, em função do serviço que ele está prestando
à Igreja Católica, no combate ao Espiritismo. Antes do religioso de Santa
Maria, a Igreja limitava-se a combater os adeptos de Allan Kardec com os seus
dogmas, mas não provava nada em contrário."
O
Irmão Vitrício está provando muito a favor do Espiritismo: prova a telepatia
entre vivos. Basta mais um passo, para provar a
telepatia entre um morto e um vivo, como nas mensagens medi únicas bem
verificadas. Nega pelas palavras, dizendo: "Não existe nenhuma comunicação com o Além", mas virá a provar
com fatos que existem e muitas comunicações, boas e más, com o Além.
Diz
dogmaticamente: "O Além estará muito
além de nossas possibilidades enquanto estivermos no limitadíssimo aquém."
.
Quem
lhe ensinou esta barbaridade? Não foi a sua Igreja, porque ela vive conversando
com o Além nas orações, nos exorcismos, e sabe muito bem que o Além e o Aquém
se interpenetram, com diferenças apenas vibratórias. Não foi o Espiritismo, que
demonstra justamente o contrário. Não foram as Escrituras Sagradas dos judeus
nem dos cristãos, que mostram a cada passo essa coexistência. Foi pura
fantasia, sem pé nem cabeça, do Irmão Vitrício.
Prossigamos
nas transcrições:
"Hoje, para prosseguir nos seus estudos o
religioso tem um punhado de médiuns, na sua maioria estudantes secundários e
superiores, entre os quais existe um, Joni Cavalheiro, que consegue psicografar
os menores detalhes do pensamento alheio e corrigir as imperfeições da emissão
(durante a experiência), colocando a vírgula no seu exato lugar, para não
distorcer o sentido da frase."
Essa
preciosa capacidade de receptor telepático poderá chegar até onde não previa o
Irmão Vitrício nem o Sr. Cavalheiro: a receber mensagens telepáticas igualmente
dos supostos mortos. Aguardemos o desenvolvimento dessa faculdade.
Um
dos colegas do Irmão Vitrício, Luís DaI' Agnol (Irmão Clarêncio, na
Congregação), ja deixou a batina e estabeleceu-se em Porto Alegre.
E outros irão seguindo o exemplo, ao verificarem que os fenômenos espíritas, que
serviram de base à sua Igreja, estão sendo "desmoralizados" pelos
hipnotizadores; mas ficarão muitos que irão mais longe e aderirão ao
Espiritismo.
O
Irmão Vitrício dá receitas mediúnicas e dizem que muito boas. Leiamos suas
próprias palavras: "O paciente nesse
estado faz clínica e terapêutica. Faz diagnósticos e receita. É a amplitude do
subconsciente."
Neste
caso os Espíritos caridosos, acima de qualquer espírito de seita, compadecidos
dos doentes, servem-se dele como de qualquer outro médium.
O
Irmão Vitrício crê na levitação e espera chegar a obtê-la, como a teve Daniel
Dunglas Home. Esperemos também nós.
A
onda de Magnetismo animal que precedeu o grande surto do Espiritismo no século
passado é uma história que se repete na febre hipnotista de nosso tempo.
Ainda
agora, uma revista muito simpática ao Catolicismo - "O Cruzeiro", em
sua edição de 20 de Setembro relata três experiências com o emprego do
hipnotismo, todas três comprovando a realidade da teoria da reencarnação, ou
seja, contrárias aos dogmas da Igreja e favoráveis à nossa tese.
A
propaganda realizada hoje inconscientemente pela Igreja Católica, que põe o
Espiritismo sempre no cartaz, é infinitamente maior do que nós poderíamos fazer
com a nossa pequena máquina publicitária. Um índice disso é o aumento sempre
crescente da procura de nossos livros doutrinários, cujas edições se esgotam rapidamente.
Nesses
livros o público vai encontrar um majestoso corpo de doutrinas filosóficas e
religiosas, como a Humanidade nunca havia possuído antes. No convívio com os
espíritas vai verificar que são caluniosas todas as acusações contra o
Espiritismo. Repete-se a História do Cristianismo primitivo: caluniado
torpemente- em Roma e na Palestina, perseguido pelos poderosos do mundo, mas
encantadoramente belo, sedutor pela sua sublime moral, invencível pela sua
humildade amorosa e santa.
Os
inimigos do Espiritismo são os nossos maiores benfeitores. Devemos amá-los de
todo o coração.
Muito boa a matéria. Gostaria de saber muito mais do assunto. Seria possível? Obrigado pela visão de mundo!
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