sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Providência



Providência
Antonio Túlio / Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB)  Julho 1961

            Conquanto vivamos num mundo de expiações e de provas, nascemos e passamos nossa encarnação cercados de manifestações sublimes de uma Providência paternal que nos beneficia sempre e à qual não damos a merecida atenção e mal a percebemos por estar ela muito integrada em nossos “direitos” consuetudinários.

            Que atenção damos ao amor materno que nos protege desde o nascimento e por vezes se estende até à nossa velhice?

            Eu tive essa fortuna: minha mãe viveu setenta anos depois do meu nascimento e conservou sempre a mesma paciência, a mesma dedicação, o mesmo amor dos primeiros dias.

            Sempre me educou com brandura, corrigiu com bondade, compreendeu com inteligência, tratou com carinho, perdoou com indulgência. E que compreensão temos do amor materno que tanto se sacrifica por nós? e da dedicação duma esposa que por amor se torna escrava do lar?

            Dizem apenas que o amor dos esposos e dos pais é somente instinto, pois que se encontra igualmente nos animais e em certo grau até nas plantas; mas esse instinto é providencial, inteligente, salvador, sabiamente organizado, e demais tem grande diferença entre o homem e os animais. Nos animais termina ele com a satisfação ou com a infância: - o animal protege sua cria até vê-la adulta, depois a abandona e não lhe reconhece mais nenhum parentesco, mas no homem não se extingue nunca o parentesco.

            O amor de esposos e pais é a primeira clara manifestação providencial dessa Força Misteriosa da Vida a que damos o nome de Deus, mas não se limita nisso: estende-se à família toda, à sociedade no que esta tem de melhor organizado. Com o progresso da inteligência e da moral, o homem vai-se tornando colaborador da Natureza e criando processos de proteger e melhorar as condições de vida e, dentro de certos limites, consegue até substituir a dedicação paterna, onde esta venha a falhar ou seja deficiente.

            Se no início da evolução o amor se manifestava apenas como atração dos sexos e proteção à prole, com o crescimento evolutivo foi-se tornando gregário, alargando-se à proteção de todos os fracos, à educação e instrução coletiva, à organização social do bem-estar e da segurança geral em escala cada vez maior: família, tribo, clã, nação, império, organização de serviços mundiais sem limites geográficos como, por exemplo, o serviço postal universal que se executa em benefício dos cidadãos do mundo todo, mesmo quando os Governos não se reconhecem, como no caso do Brasil e do Vietnam. Os habitantes de Hanoi publicam bons livros em Esperanto e no-los remetem, correspondem-se conosco, recebem e leem nossa literatura em Esperanto, sempre pelos Correios, mas os dois Governos não mantêm relações diplomáticas, não se reconhecem.

            As instituições sociais vão tomando consciência de uma solidariedade universal de origem divina (em que pese aos ateus) e colaborando cada vez mais com a Providência em benefício de todos. A interdependência vai sendo compreendida pelos indivíduos e povos, e os mais fortes vão reconhecendo seu dever de ajudar aos mais fracos. Estamos referindo-nos somente às coisas materiais, porque são de mais fácil compreensão para todos nós, mas, fora e acima da parte visível da Humanidade, existe outra parte maior e melhor organizada que se manifesta como instrumento da Providência. Se nos alçarmos a considerar essa parte invisível, tudo se alarga na escala. Referi-me acima a setenta anos de dedicação incansável de minha mãe a meu favor, mas é possível que essa dedicação já venha de milênios passados e se estenda por uma eternidade futura; porém, nesse domínio temos poucos conhecimentos positivos e podemos tornar-nos fantasistas. Baste-nos examinar o que temos de mais concreto e indiscutível nos serviços providenciais em nosso benefício. No entanto, parece-nos que a descida de Missionários à Terra, para realizarem grandes descobertas, invenções e melhoramentos sociais que transformam a vida do Planeta, está perfeitamente clara para o leitor iniciado em Espiritismo e pode ser tratada como um dos aspectos concretos da obra providencial em nosso benefício; porque esses Missionários excedem de muito o porte comum do homem do Planeta e têm uma presciência do remoto futuro que os seus coevos não poderiam possuir.

            Desde o amor materno, comum ao homem e ao animal que se sacrifica pelo filho, até os grandes heróis que se deixam martirizar pelo bem da Humanidade, há uma escala imensa de formas de amor sacrificial em nosso benefício, amor quase sempre incompreendido e pago com ingratidão.


            Em tudo se manifesta a Providência: no mineral que nos fornece abrigo, na planta que dá mel à abelha, abrigo aos ninhos, alimento ao homem, no animal que colabora em nossos esforços, na dor que aprimora, no prazer que impulsiona, na dúvida que estuda, na fé que ilumina, na juventude que sonha, na velhice que receia, na Ciência que ensina, na técnica que trabalha, na esperança que confia, na abnegação que se sacrifica, mas, acima de tudo, no amor que compreende, guia, ajuda, eleva, vivifica e envolve a tudo e a todos em sua luz, sem limitações de tempo nem espaço.

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