Dúvidas
Irmão
X
por Chico Xavier
Reformador
(FEB) Fevereiro 1959
Afirma
você que passou a experimentar inqualificável flagelo íntimo, desde que iniciou
o desenvolvimento das faculdades medianímicas, à face das dúvidas que lhe
assaltam a vida.
E
acrescenta que, em seu grupo, a maioria dos companheiros descrê de suas
palavras, enquanto os amigos lhe metem a ridículo as informações que consegue
recolher da Espiritualidade.
Enunciando
desapontamentos e embaraços, você conclui: - “vale a pena continuar sofrendo
tamanhas desilusões? não será um serviço prematuro esse, em que somos
defrontados, a cada instante, pela negação sistemática, a partir daqueles que
mais amamos?”
Estimaria
alinhar opiniões e argumentos que lhe extirpassem de imediato as atribulações
da cabeça, mas estamos todos, encarnados e desencarnados, em luta evolutiva na
Terra, sob a carga dos problemas alusivos ao nosso resgate de consciências
endividadas perante a Lei.
Você
aí, tanto quanto nós, padece o desafio constante das dificuldades que lhe dizem
respeito ao aprimoramento da alma, e, sinceramente, não dispomos de receituário
para a sua doença, além daquele que nos é formulado pelos princípios cristãos,
no capítulo em que nos aconselham desculpa incondicional para toda ofensa.
Ouso,
contudo, lembrar-lhe a história de “alguém” que passou pelo mundo, suportando
aflições maiores que as nossas.
Ninguém
tolerou, até hoje, as afrontas que lhe foram atiradas em rosto, em matéria de
injúria e desconfiança.
Nascido
para o desempenho de celeste missão, foi anunciado aos parentes pela visita dos
anjos.
Dele,
tradições numerosas forneciam testemunho incessante ao ânimo popular. Mensagens e visões indicaram-lhe a vinda aos
familiares maravilhados e, mesmo assim, não apareceu quem se animasse a oferecer-lhe um
cubículo em casa para nascer, a ponto de, renegado por toda a gente, refugiar-se
entre os animais.
Desenvolvendo-se
ao lado de um primo, considerado profeta de grande merecimento, com quem se
iniciou no alto ministério de que estava incumbido, foi depois por ele
interpelado quanto à veracidade de sua investidura.
De
censuras e sarcasmos dos principais de seu tempo nem é preciso falar. Basta
dizer que foi corrido por todos eles qual se fosse idiota, circunstância que o
obrigou a asilar-se entre pescadores e homens rudes de singelo rincão.
Todavia,
mesmo entre estes, embora andasse, de contínuo, fazendo o bem, restaurando
enfermos e ensinando a verdade, recolheu azedume infamante. Um deles,
situando-lhe em dúvida o ser serviço divino, abocanhou dinheiro para denunciá-lo
à justiça como agitador perigoso, conduzindo-o à prisão.
Dos
agentes da autoridade, os quais procurou respeitar, teve o cárcere por
resposta, e do povo, de quem curara chagas e extinguira infortúnios, recebeu o
tratamento devido a uma fera solta.
Dos
amigos diletos, um dos mais nobres negou conhecê-lo por três vezes numa só
noite, e todos fugiram, envergonhados e atônitos, quando lhe viram a decisão de
se entregar à morte na cruz como supremo recurso de resistência perante o mal.
Nem
por isso, no entanto, abandonou os companheiros e os acusadores gratuitos no
charco da ignorância, regressando, depois da morte, para ajudá-los em
perpetuidade de entendimento.
Esse
“alguém”, meu amigo, como claramente já percebeu, foi Jesus-Cristo, o Divino
Governador da Terra.
Regozijar-nos-emos
se o que a ele aconteceu puder servir para seu esclarecimento e conforto; mas,
se você não conseguir edificar-se em tão sublime exemplo, a única solução será
desistir lamentavelmente da sua oportunidade de cooperar na sementeira da luz
eterna, assentando-se na cinza da frustração, até que o tempo lhe renove a
visão, no Universo de Deus.
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