A Caridade e o Porvir
Leopoldo Cirne (espírito)
por W. Vieira
Reformador (FEB) Janeiro 1963
Afirmas que a caridade está a
caminho do desaparecimento, pois que, em se elevando gradualmente o padrão da
vida terrestre, dia virá no qual as populações não mais carecerão de
assistência, de vez que o futuro lhes conferirá automaticamente a bênção do
lar, a luz da escola, o alimento básico, o vestuário seguro, o transporte fácil
e o trabalho compensador.
Sim, realmente este é o supremo
anelo de todos nós quanto à vida material.
Contudo, a beneficência é simples
faceta da caridade que, em si mesma, é o Sol do Divino Amor, a sustentar o
Universo.
E o dia para a vitória do amor,
entre os homens, ainda está longe de alvorecer.
Até lá, torna-se mister remediar os
infortúnios e os males desvelados e ocultos que atormentam o espírito humano,
enleado na rede das provas necessárias e justas, seja por exigências da evolução
ou pelos impositivos de causa e efeito.
Importa observar que, na imensa luta
por nossa libertação coletiva, se encontramos as trevas enquistadas na
ignorância, surpreendemos também os perigosos desmandos da inteligência. Entre
a rebeldia dos que não sabem e o orgulho dos que sabem, proliferam delitos e
conflitos, junto dos quais é preciso ajudar e sofrer, se aspiramos a melhorar e
servir.
Dominar o plano físico é tão só
controlar a veste. Nós não somos daí.
Centralizemos a atenção na realidade
maior.
Os Espíritos não nascem na carne.
Dela se valem para a colheita de
evolução, à maneira do lavrador que se utiliza do arado.
Nenhum de nós tem a sua eternidade
ligada a panoramas terrestres.
Demandamos a profundez
do Infinito, no tempo e no espaço, obedecendo a programas de serviço e
aperfeiçoamento que nos transcendem o quadro de todas as previsões.
Recordemos, assim, que o ato
caritativo mais difícil de ser praticado gravita em órbita exclusivamente
moral.
Muito fácil dar do que temos; muito
difícil dar do que somos.
Com as dádivas para o corpo,
estendamos as dádivas para o espírito, na certeza de que, ainda quando não mais
houver na Terra desabrigados e analfabetos, subnutridos e desequilibrados,
desnudos e desempregados, todos temos e teremos de viver no lar da compreensão
verdadeira, cursar a escola da humildade, cultivar o perdão recíproco,
agasalhar-nos em bons exemplos, atender espontaneamente ao concurso fraterno e
transpirar na abnegação...
Com Jesus, aprendemos que a caridade
é semelhante ao ar que respiramos, agente da vida que atinge a tudo e a todos.
Saibamos, desse modo, afeiçoar-nos a
ela, santificando sonhos e enobrecendo ações, iluminando ideias e burilando
impulsos, servindo qual se estivéssemos sendo servidos e beneficiando a
figurar-nos na posição daqueles que recebem auxílio. Isso porque a caridade,
sendo amor puro, crescerá sempre em nós com o nosso próprio crescimento no amor
puro, à feição de Luz Imperecedoura, renascendo das épocas que se foram e ultrapassando
os evos que hão de vir.
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