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‘Apreciando a Paulo’
comentários em torno
das Epístolas de S. Paulo
por Ernani Cabral
Tipografia Kardec - 1958
“A ninguém deveis coisa alguma,
a não ser o amor com que vos ameis
uns aos outros;
porque quem ama os outros, cumpriu a
lei.
Com efeito: não adulterarás, não
matarás, não furtarás,
não darás falso testemunho, não cobiçarás,
e se há algum outro mandamento, tudo
nesta palavra se resume:
amarás o teu próximo como a ti
mesmo.
E isto digo conhecendo o tempo que
já despertamos do sono;
porque a nossa salvação está agora
mais perto de nós
do que quando aceitamos a fé.
A noite é passada e o dia é chegado.
Rejeitemos pois as obras das trevas,
e vistamo-nos das armas da luz.
Andemos honestamente, como de dia,
não em glutonarias,
nem em bebedeiras, nem em desonestidades,
nem em dissoluções, nem em contendas
e inveja;
Mas revesti-vos do Senhor
Jesus-Cristo,
e não tenhais cuidado da carne em
suas concupiscências.
(Paulo aos Romanos 13:8 a 14)
O amor é tudo, alfa e ômega,
princípio e fim. Tivemos origem no amor divino e, através do processo evolutivo
de nossas diversas existências, é justo procedamos com amor, pois nossa meta é
também o amor supremo - Deus!
E Jesus havia enunciado:
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e
de todo o teu pensamento.
Este é o primeiro e grande
mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos depende toda
a lei e os profetas.”
Quem ama os outros cumpriu a lei”, diz o apóstolo.
(Mateus, 22:37 a 40.)
Paulo, a este propósito, reconheceu
e proclamou: “Com efeito; não
adulterarás, não matarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e se há
algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: amarás o teu próximo como
a ti mesmo.””
Quem ama a Deus, ama o próximo; e
quem ama o próximo como a si mesmo, é cristão.
Assim, o verdadeiro espírita, antes
de tudo, é um arrependido e regenerado, não incidindo nos erros do passado, mas
procedendo com brandura e humildade, tendo também muito cuidado com “a carne e suas concupiscências”.
Como poderemos pregar a moral
evangélica se ainda nos deixamos arrastar, desonestamente, pelas coisas da
matéria? Como poderemos comungar com a espiritualidade superior, sem a “túnica nupcial”, indispensável a esse
intercâmbio? “Pois do que há em abundância no
coração, disso fala a boca”. (Mateus, 12:34.)
“Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás
condenado”. (Idem, 12:37.)
Daí a necessidade de termos cuidado
com as nossas palestras. A atmosfera de anedotas picantes, de escárnios, de
ironia ou de mordacidade, atrai Espíritos inferiores, que de nós se aproximam
e, às vezes, nos acompanham, como moscas em torno das chagas.
As palavras edificantes constroem;
mas as conversas e os gestos imorais deprimem e aviltam.
Assim, o espírita deve pregar
sobretudo pelo exemplo de sua conduta, que impressiona bem e dá autoridade
moral a quem fala ou escreve, praticando aquilo que diz.
Sejamos alegres, é verdade; mas
portadores de alegria sadia, moralizada, construtiva. A vida é sempre bela e,
por isto mesmo, digna de ser vivida em ambiente elevado, nobre, cristão.
Portanto, não esqueçamos que a alegria é remédio de Deus, e agrada ao Senhor,
como diz o salmista, mas a alegria legítima é aquela que decorre da moralidade
ou da manifestação de sentimentos nobres. Assim, por exemplo, há muita
superioridade moral em quem, sofrendo, mostra-se resignado e alegre, por
compreender que este mundo é de provas e expiações, sendo a dor necessária ao
burilamento de nosso espírito, de vez que é processo normal, indispensável à
evolução ou à ascese.
Nada de lamúrias, de queixumes ou de
revoltas contra a justiça divina. Deus é bom, como Jesus frisou. Tudo o que
padecemos, por mais estranho ou absurdo que pareça, é justo e apropriado à
iluminação de nosso espírito.
Conhecemos grande parcela da
verdade, porque somos espíritas-cristãos. Se já estamos mais esclarecidos,
nossa responsabilidade também é maior perante a Lei, pois nem ignorância mais
poderemos alegar. Logo, como diz Paulo, “a
noite é passada e o dia é chegado. Rejeitemos pois as obras das trevas e
vistamo-nos das armas da luz”.
Alexandre Herculano, através da
excelente mediunidade de Fernando de Lacerda, o saudoso confrade lusitano,
aconselha com acerto:
“Quando às vezes, as coisas se
afiguram más, constituem um aspecto escuro, que serve para realçar, em breve, a
claridade de uma situação melhor. Não desanimar nunca!
Fugir à luta é cair; e a queda não
aproveita a ninguém.
De que serve blasfemar contra a
sorte, desferir queixumes sobre a adversidade, se a sorte se não muda com
blasfêmias, nem a adversidade se vence com lástimas?
A queixa é desafogo dos fracos e dos
pusilânimes.
O forte não se queixa: - cala-se e
reage.
Luta. Vence ou é vencido, mas luta.
Se vence, não exagera o triunfo; se
é vencido, não se entrega a lamentos para exagerar a derrota.
Na luta, o vencido de hoje é o
vencedor de amanhã.
Compenetra-te desta verdade.
Não é vencido o que consideram
vencido; é o que assim se considera; de modo que o segredo da vitória não é
apanágio do que se supõe triunfador: é o do que se não dá por aniquilado.”
Quantos conselhos sábios os
Mensageiros do Senhor nos dão, e quantas maravilhas há nas epístolas de Paulo,
por vezes escondidas em seus refolhos, como flores perdidas nas campinas, mas
descobertas pelos que buscam o contato com a natureza, ou melhor, com as coisas
de Deus. Somente esses perfumes imperecíveis verdadeiramente inebriam, elevam e
purificam os corações, sequiosos de luz, de amor e de ascensão para os céus!
“Andemos honestamente, como de dia, não em glutonarias, nem em
bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e
inveja”, recomenda o apóstolo dos gentios.
E Paulo de tudo isso se distanciou,
como dos excessos da lei velha, por amor a Jesus, que traçou o legítimo roteiro
da salvação. Esta se obtém com lutas, sofrimentos e dificuldades, porque assim
é mister, para purificação do espírito.
Os abusos dos prazeres da mesa e as
delícias enganadoras do álcool só servem para a perdição. Pior ainda são outras
dissoluções, as concupiscências da carne, as desonestidades, contendas e
inveja, que conduzem à desgraça moral, à infelicidade do espírito, às zonas
infernais da mente, tornando o homem escravo de suas paixões. Mas Jesus é o
médico das almas e somente ele ou seus mensageiros poderão libertar a criatura
do jugo do erro ou da subjugação do mal.
Mas, se somos espíritas, procedamos
bem.
“Se despertamos do sono, a salvação está mais perto de nós.”
Todavia, o reino de Deus só se conquista com
luta, coragem e virtudes. Somos sacerdotes de nós mesmos. A batalha maior é
contra nossas próprias imperfeições. Lembremo-nos de que o Pai Celestial vê
nossos atos, examina nossos corações, compreende e abençoa nosso esforço em
prol da salvação.
Portanto, acerquemo-nos dos
ensinamentos do Divino Mestre, que é “o caminho, a verdade e a vida”. Bebamos
da água pura de sua doutrina, ora interpretada em espírito e verdade, porque
ela mata toda a sede. Quando tivermos dúvidas, sejamos bons. É
a
bondade o traço característico do cristão. E usemos de bondade também para
conosco mesmos, sendo arrependidos, regenerados, e tendo confiança em Deus, que
a ninguém desampara!
E ouçamos a Paulo, um dos apóstolos
queridos de Nosso Senhor, “vaso escolhido” de seu amor, o qual, como o Cordeiro
Imaculado, deu sua vida pela Humanidade, para ressurgir nos céus, puro e
redimido, deixando-nos em suas epístolas o roteiro sublime da salvação.
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