O Rei Midas e sua filha de ouro
Confissões
Negativas de Médiuns
Cristiano Agarido / (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Outubro 1958
De
tempos a tempos os adversários do Espiritismo fazem publicidade em torno da
confissão de um médium que teria dito ser fraude tudo que ele fez como médium.
Examinemos
um pouco mais profundamente o valor que têm tais confissões, sejam elas reais ou
imaginárias.
A
primeira, e também a mais sensacional, foi a de Margarida Fox, há quase um
século, confissão aliás posteriormente anulada por ela mesma.
Teria
dito aquela moça que os “raps” eram produzidos por fraude. Mas por meio
daquelas pancadas ou “raps” um Espírito contou sua história que ficou registada
na literatura do tempo e pode ser resumida assim:
Ele
havia sido um vendedor ambulante e fora assassinado na cabana de John Fox, anos
antes, quando lá residia o casal Bell. Seu cadáver e seu baú de mercadorias
teriam sido enterrados no porão daquele barracão, informava ele por meio de
pancadas.
Feitas
escavações no porão, não se encontrou o cadáver nem o baú.
Meio
século mais tarde, em 1904, naquele barracão abandonado e em ruínas desmoronou uma
parede falsa interna do porão, pondo à vista o esqueleto do antigo vendedor
ambulante e seu baú, lá escondidos uns sessenta anos antes.
As
Irmãs Fox já haviam desaparecido do cenário da vida física, mas a revelação
recebida por elas, quando mocinhas, ficou perfeitamente comprovada, contra toda
e qualquer confissão em contrário. Que valor teria tal confissão? Tal confissão
teria sido inteiramente falsa, em oposição a fatos reais e indestrutíveis.
Imaginemos
que um belo dia, lá pelo ano de 1990, o Sr. Francisco Cândido Xavier, já velho
e caduco, diante de um tribunal inquisitorial ou não, declarasse que toda a sua
obra mediúnica foi simulação, que ele era 100% materialista, etc. etc.
Quantas
pessoas, como o autor destas linhas, teriam o dever de negar qualquer valor a essa confissão e de demonstrar com
fatos que ela faltava com a verdade!
Contam-se
por milhares as criaturas que receberam mensagens particulares de parentes e amigos,
com nomes próprios de pessoas e lugares desconhecidos do médium, em estilo e
grafia que identificam esses mortos, dos quais não poderia o médium possuir
nenhuma informação.
Nos
conselhos recebidos desses parentes e amigos falecidos, por vezes há assuntos
totalmente desconhecidos do' mundo, absoluto segredo do Espírito comunicante.
Essa
documentação, formada por milhares de comunicações particulares, é
absolutamente indestrutível. Contra ela não há confissão que valha.
Os
livros por ele recebidos, e que formam uma biblioteca enciclopédica, revelam
conhecimentos perfeitos de Biologia, Anatomia, Filosofia, Religião, História,
Literatura, que reclamariam a colaboração de uma dezena de estudiosos.
Os
sacrifícios pessoais do Sr. Francisco Cândido Xavier, em favor de sofredores,
revelam uma convicção, uma fé religiosa inabalável, fundada em fatos de sua
própria observação; demonstram que o primeiro convertido pela sua mediunidade é
ele mesmo.
Seu
alto nível moral, seu absoluto desapego pelas coisas materiais, sua conduta
sempre irrepreensível, em perfeita harmonia com a doutrina recebida, revelam
que ele é um espírito superior, incapaz de enganar a quem quer que seja.
Se
um dia esse homem enlouquecesse e desdissesse a obra imensa e construtiva de
toda a sua vida, a demência ficaria evidentemente demonstrada, mas a obra
permaneceria inabalável como está hoje, produzindo sempre os melhores frutos.
Tais
confissões não têm valor algum no caso dos grandes médiuns espíritas e muito
menos quando partidas de verdadeiros irresponsáveis; destes, não valem
afirmações nem negações: a palavra deles, em qualquer sentido, não merece fé.
Mesmo
os mais cépticos experimentadores já não admitem há muito tempo a grosseira hipótese
de fraude universal a que nos levariam tais confissões negativas. A realidade
dos fenômenos está universalmente aceita por todos os estudiosos, e, se
discussões ainda existem, são sobre a interpretação dos fenômenos, mas não sobre
a sua realidade.
Examinando
essas discussões que ocorrem entre materialistas, vemos que se baseiam sempre
sobre observação incompleta, parcial, dos fatos. O conjunto de todos os fatos
já bem verificados conduz inevitavelmente ao Espiritismo.
Convém
lembrar sempre que o total dos fenômenos abrange sonambulismo, clarividência, clariaudiência,
voz direta, escrita direta, incorporação, psicografia, materializações e
desmaterializações, fotografias de extras, sonhos premonitórios, levitação,
telecinesia, aparições fantasmáticas, moldagens em parafina, tiptologia, diversas
manifestações a moribundos, correspondência cruzada, bem como muitos fenômenos
anímicos da natureza da telepatia, fantasmas de vivos, reencarnações
verificadas, etc..
Esse
conjunto todo, imponente, eterno, universal, prova o Espiritismo e esmaga todas
as hipóteses parciais e todas as teorias negativistas.
Os
livros mediúnicos se divulgam rapidamente pelo seu valor literário e pelos
ensinos que encerram. Em cada uma de suas
páginas há revelações interessantes e, acima de tudo, as mais belas regras de
conduta, a mais elevada moral evangélica que já foi ensinada aos homens.
Lendo
essa literatura, o homem se transforma: a mente se esclarece, o coração se
enche de ardores novos pelos grandes ideais da Humanidade: a vida eterna se
torna uma realidade concreta, palpável, encantadora; os interesses materiais
passageiros perdem sua obsessora importância; o homem renasce para uma nova
vida mais alta, mais digna; sente uma segurança perfeita quanto ao porvir; sabe
que para todos os males há remédio infalível; a morte perde seu aspecto de
pavor e se revela uma entrada em vida melhor, é libertação do encarcerado da matéria.
Essa
leitura edifica. Essa literatura é a descoberta da pérola preciosa da parábola
evangélica: quem a encontra despreza todos os bens menores e passageiros só
para possuí-la; é o tesouro enterrado num campo: quem o descobre, vende tudo
que possui para comprar aquele campo.
Diante
de tanta beleza, de revelação tão majestosa, que valor têm as estultas teorias
negativas que falam de pastichos, de imitação de estilos, de fraude e
desonestidade imaginária que os desonestos veem em si, em tudo e em todos?
Que
valem as tais confissões, reais ou fantásticas, de médiuns ou de
pseudo-médiuns?
Podem
os negadores de todos os tempos, os mesmos que deram cicuta a Sócrates, que
crucificaram a Jesus, que queimaram a Joana d'Arc, desfazer a obra espírita que
se edifica nos corações e depois se materializa por toda a parte em construções
de pedra e cal, em favor dos que sofrem, das crianças abandonadas, dos velhos sem
abrigo, dos enfermos e dementes, dos desajustados e infelizes?
Como
é fraca e inepta toda a argumentação contra o Espiritismo!
Em
cem anos de lutas renhidas das maiorias “onipotentes” contra minorias
insignificantes, não conseguiram impedir um único passo na marcha ascendente da Terceira Revelação.
Repete-se o episódio dos primeiros séculos do Cristianismo, combatido pela “onipotência”
do Império Romano.
Não houve calúnia demasiado
grosseira de que não lançassem mão contra os primeiros cristãos: diziam que
eles matavam as crianças, envenenavam os poços e as fontes, praticavam a devassidão,
assaltavam os lares, rebelavam os escravos, eram os maiores monstros de todos os
tempos. Não houve violência que se não praticasse contra eles: o circo das
feras, decapitações, a luta de extermínio, tudo foi inutilmente praticado. Mas
aquelas forças da cruel reação eram apenas materiais. O Paganismo, religião
oficial de Roma, estava
completamente podre por dentro: ninguém mais cria nos seus deuses, nos seus sacerdotes e
tudo ruiu como um castelo de cartas.
O mesmo vai ocorrendo de novo com o
Catolicismo: seus bolorentos dogmas e o antigo sacerdócio perderam a força
espiritual e passaram a ser força apenas política e econômica.
Duas formas de materialismo econômico
lutam entre si pela conquista do mundo, sem calcular, nenhuma delas, com as
forças espirituais, como se estas não existissem, porque realmente as negam em
nome da ciência materialista e das igrejas igualmente materialistas; mas essas
forças espirituais são invencíveis e o Espiritismo se revela de novo, como a
vida mesma que enche o Universo.
O triunfo final do Espiritismo é
fato tão certo como o triunfo da luz do dia após as trevas da noite.
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