quinta-feira, 19 de setembro de 2013

'A Hora Crucial do Testemunho'



A Hora Crucial
 do Testemunho

             É muito fácil e agradável viver teoricamente o Espiritismo, usufruir as alegrias do contato intermitente nos Centros Espíritas e nas reuniões determinadas para ouvir oradores vibrantes e ardentes, cujo talento e imaginação são postos a serviço da difusão do Espiritismo. É muito interessante ler artigos bem arquitetados, em estilo primoroso e farto de frases ricas de conteúdo e belas em sua forma. É uma festa para o coração a oportunidade de encontrar correligionários e amigos, externando o encanto da fraternidade tão recomendada pelos Evangelhos, ainda que isso ocorra ocasionalmente. Tudo muito fácil, quando se repetem os ensinamentos de Jesus e as recomendações de Allan Kardec; as belezas das sentenças evangélicas comentadas por J. B. Roustaing, as maravilhas contidas nos conceitos de Emmanuel, de André Luiz, Irmão X, etc. É muito estimulante ler e relembrar os grandes escritores do Espiritismo, como Léon Denis, Gabriel Delanne, além das obras devidas à mediunidade de Chico Xavier, Divaldo Franco, Yvonne Pereira, Zilda Gama, etc.

            Tudo isso nos faz bem à alma, enriquece a nossa cultura espírita e alegra os nossos dias. Entretanto, todo esse acervo de conhecimentos, toda essa gama de contatos amigos, a imensa colheita de afetos que se nos oferece em cada oportunidade, representam uma responsabilidade enorme para o nosso espírito, pela obrigação que nos impõem ao testemunho sério e inevitável nos dias futuros, no amanhã inexorável que nos espera.

            Se não tivermos aproveitado todos esses momentos para fortalecermos o espírito com a aquisição sincera e sólida da fraternidade, do amor que a amizade representa, de nada vale a bagagem que consciente ou inconscientemente tenhamos preparado. Há um determinado dia, à espera de cada um de nós, no qual teremos de demonstrar o valor da carga que trouxemos. Se ela representa apenas o resultado de uma vida de relação meramente convencional, ou se, pelo contrário, está valorizada pelo sentimento afetivo que deve realmente marcar as relações entre os profitentes do Espiritismo, mais comprometidos com Jesus do que pensam. Por isso, recordamos esta passagem de II Coríntios, 13:5: "Examinei-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos." - Paulo.

            Foram considerações dessa ordem que nos assaltaram a alma, quando estivemos em face de provações que nos pareceram perto da fronteira. Reexaminamos o nosso comportamento no passado, rememoramos erros cometidos e posteriormente evitados, tanto quanto nos permite o nível espiritual apagado em que nos achamos. Fizemos uma "autópsia" das ideias que nos têm ocorrido no curso da existência e experimentamos um contentamento sadio, ao nos aproximarmos da época em que fomos trazidos ao Espiritismo. Recordamos a mão que nos estendeu Ignácio Bittencourt, por seu exemplo abnegado; revivemos a ajuda que nos deram amigos, hoje do outro lado da Vida, honestamente empenhados de nos ver na estrada que conduzia ao Cristo; ressentimos a mão de Wantuil de Freitas e a palavra de Manuel Quintão, a nos oferecerem posição estável na senda espírita, contribuindo, assim, para consolidar a opção que havíamos feito.

            Estávamos quase defrontando a hora crucial do testemunho, embora ela ainda não chegasse, como supúnhamos. A advertência de André Luiz nos aflorou à mente: "Nos cometimentos, identificar a Vontade Superior, promovendo em toda parte a segurança e a felicidade das criaturas. Cada coração humano é uma peça de luz potencial e Jesus é o Sublime Artífice." Não esquecemos que Ele é a Luz do Mundo e que "o acatamento é prece silenciosa", frase também de André Luiz.

            A hora crucial do testemunho, se soubermos aproveitá-la, muito nos aliviará e provará a Deus o que somos na verdade, o que na verdade aprendemos e o que verdadeiramente poderemos fazer no momento decisivo. Que sejamos dignos do Espiritismo, para que possamos honrar as bênçãos que sempre são dadas por misericórdia do Alto. A nada mais aspiramos.

Indalício Mendes

Reformador (FEB) Abril 1978

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