2c. "Regressão de Memória"
por Hermínio C. Miranda
in Reformador (FEB) Julho 1972
Em Louise (caso nº 5) descobre uma encarnação anterior na
qual a paciente havia sido sacerdote católico. Ao morrer, muito idoso, sente-se
mergulhado numa atmosfera cinzenta que não compreende, pois achava que deveria
estar no céu, ou pelo menos no purgatório, mas nada vê que justifique suas
crenças.
A certa altura, a paciente toma a cabeça entre as mãos e
se põe a chorar copiosamente, explicando que se sente infeliz porque ensinou
aos outros coisas inexatas. De Rochas lhe responde que não se aflija, pois foi
bem melhor falar do céu e do inferno aos seus paroquianos do que deixá-los crer
que nada existe depois da morte.
- Sim, é verdade - diz o paciente -, mas infelizmente
eles não creem mais no inferno e se estivessem convencidos
de que há uma série de existências, nas quais expiamos as faltas cometidas nas
vidas precedentes, eles se conduziriam muito melhor.
- Você deseja, então, se reencarnar?
- Sim, para poder me instruir bastante e difundir a
verdade entre os homens, ao cuidar deles.
- Diga-me, é preciso encarnar-se numa família rica que
lhe proporcionará instrução?
- Não. É preciso, ao contrário, que eu nasça na miséria
para conhecê-la.
***
2d. "Regressão de Memória"
por Hermínio C. Miranda
in Reformador (FEB) Julho 1972
Com a Senhorita Mayo o relato das experiências toma 55
páginas. É impraticável reproduzi-lo resumidamente sem sacrificar pormenores
preciosos. Nesta paciente ressalta, de maneira incisiva, uma qualidade que em
outros se manifesta sempre, mas algo atenuada: a resistência deliberada e
irredutível a certas ordens do magnetizador, o que vem uma vez mais provar que
a vontade do paciente não fica à mercê do experimentador. Quando a regressão ou
progressão são muito rápidas, ela reclama do seu magnetizador, repetidas vezes,
queixando-se de que não pode ir tão depressa. Mergulhada nas recordações de uma
dama antiga da corte, chamada Madeleine Saint-Marc, resiste tenazmente à ordem
de despertar. É preciso uma verdadeira "cena" para isso.
Não há, nesses casos, contradições nem desmentidos. As
histórias são sempre as mesmas, tal como as datas, os nomes, os lugares, em
todas as existências percorridas. O Espírito se acha diante de sua própria
consciência e se analisa friamente, ou apaixonadamente, segundo sua capacidade
de julgamento e estado evolutivo. Com Madame J., em 1905, onze existências são
evocadas. Na décima, o Espírito se acha no
século terceiro da nossa
era.
***
2e. "Regressão de Memória"
por Hermínio C. Miranda
in Reformador (FEB) Julho 1972
Na terceira parte do livro, o autor se ocupa dos
"fenômenos análogos". É uma coletânea de fatos, narrativas e
observações de grande interesse, retirados de depoimentos diversos em primeira
mão, ou relatados em livros e memoriais. Na quarta parte, são narradas ainda
algumas experiências do próprio coronel De Rochas e o caso famoso de
Mademoiselle Smith. Seguem-se as observações finais do autor e suas conclusões.
Um capítulo nos merece consideração especial. Chama-se
"Excursão nos domínios do Espiritismo" (pág. 457). "Contrariamente ao que pensa muita gente
- escreve o autor -, jamais me ocupei de
espiritismo. Assisti a algumas sessões para saber como as coisas se passavam;
mantive-me atualizado acerca do que se escrevia sobre o assunto que diz
respeito tão de perto ao problema da sobrevivência, mas reservei meu tempo e
meus esforços aos estudos mais conformes à minha educação científica."
Achava ele que já havia muita gente interessada nas
comunicações mediúnicas, experiências essas que - na sua opinião - "não
exigiam nenhuma aptidão especial", o que não é verdadeiro. Foi uma pena
que assim pensasse, pois teria feito trabalho ainda mais proveitoso, dado que,
mesmo no decorrer de suas experiências, via-se às vezes diante do problema da
mediunidade. Ele próprio o diz, ao declarar que "malgré moi", ou seja, a despeito de si mesmo, frequentemente
se viu envolvido com manifestações espíritas ou com a teoria da comunicação com
os que chama "defuntos". Não é, pois, espírita. Quanto à doutrina da
reencarnação, no entanto, não há como fugir dela. Suas experiências, nesse ponto, são conclusivas e
dificilmente outra hipótese as explicaria com lógica e segurança. No entanto, inclui no
capítulo final do livro intitulado "La Religion de I'Avenir", página
490 e seguintes, um notável
resumo tirado, segundo ele, de um livro de autoria do general Fix sob o título
de "Étude Philosophique", publicado em Paris, em 1899. Essa obra,
conforme observação do próprio De Rochas, em rodapé, "é uma exposição sobre o estado atual da filosofia que decorre das
pesquisas experimentais de espiritualistas independentes".
Não se pode deixar de resumir o texto, porque ainda hoje
os espíritas poderiam tranquilamente subscrevê-lo:
1) Uma inteligência suprema rege os mundos.
2) Toda a criação
se desenvolve segundo uma cadeia sempre ascendente, ininterrupta, do reino
mineral ao homem, sem que se note uma linha demarcatória nítida.
3) A alma se elabora no seio de
organismos rudimentares e evolui através dos reinos da natureza, de um estado
inconsciente à consciência total (teoria, aliás, de Geley).
4) A evolução da alma é infinita e cada existência é a folha
de um livro eterno.
5) A alma progride tanto na carne como no estado de liberdade.
6) No intervalo das existências corporais, a alma vive a
existência espiritual que não tem duração determinada. O
estado feliz ou infeliz da alma decorre do seu grau de perfeição.
7) Uma vez adquirida a experiência que um mundo pode
proporcionar, ela o deixa, para encarnar-se em outro mundo mais adiantado.
8) A alma possui um corpo fluídico (perispírito) de
substância retirada do fluido universal ou cósmico, que a forma e alimenta. O
perispírito é mais etéreo ou menos etéreo segundo os mundos que habita e o grau
de depuração da alma. O perispírito é o plano sobre o qual a alma forma o corpo
físico, sendo o intermediário entre a alma e o corpo. É o órgão de transmissão
de todas as sensações e liga-se ao corpo pela força vital. O perispírito não
fica contido dentro do corpo como se estivesse numa caixa: ele se irradia por
fora e forma em torno do corpo uma atmosfera.
Ao finalizar o livro, o autor diz que suas experiências
levam a duas sortes de conclusões, umas certas e outras simplesmente
problemáticas:
1. Que, por
meio de passes magnéticos, a alma se desprende do corpo dos sensitivos e
alcança regiões do espaço e do tempo usualmente inacessíveis nos estados
normais de vigília.
2. Que se
pode conduzir o paciente a épocas anteriores à vida presente, fazendo-o reviver
e não apenas recordar fatos relacionados com essas épocas.
3. Que é
possível, também, obter alucinações em alguns pacientes.
4. Que por
meio de passes transversais pode-se projetar o paciente no futuro, fazendo-o viver cenas e
acontecimentos que ainda estão por acontecer.
Passa o autor, em seguida, a discutir algumas hipóteses
formuladas com a intenção de explicar o fenômeno sem a aceitação literal do que
dizem os sensitivos, ou seja, fora da doutrina da reencarnação. A primeira
hipótese seria a de que o espírito do sensitivo criaria os estados que relata
com base em ideias que as novas faculdades lhe permitem perceber. A segunda
hipótese seria a da intervenção dos Espíritos desencarnados. A terceira seria a
de que os sensitivos captariam a ideia das vidas sucessivas do próprio cérebro
do magnetizador. De Rochas não critica as hipóteses. Seja porque as achou
evidentemente sem substância, seja porque desejou deixar a decisão final com o
leitor. Inclino-me pela primeira alternativa,
dado que sua aceitação das vidas sucessivas é inegável. Além do mais, sem ter aderido ao
Espiritismo, como informa no final do seu livro, diz também que, ao relatar
suas experiências, deseja unicamente "fornecer
novos documentos ao processo que se desenrola diante da opinião pública e não
para condenar de modo genérico a teoria espírita, que me parece apoiada em
bases sólidas e que é, em todos os casos, a melhor hipótese de estudo dentre as
que têm sido formuladas".
O depoimento do coronel Albert De Rochas é, como dizia de
início, insuspeito e constitui precioso acervo de observações para instrução do
processo de conhecimento dos mecanismos do Espírito. Sua contribuição é
valiosa. Por ela, vemos, experimentalmente, que o ser preexiste, sobrevive e se
reencarna. Dos seus diálogos com os Espíritos desprendidos ressaltam,
evidentes, princípios consagrados na doutrina ordenada por Allan Kardec,
provando mais uma vez que, sob determinadas condições, o Espírito vai
inapelavelmente ao Espiritismo, qualquer que seja sua posição filosófica. A
dominante das suas pesquisas é a multimilenar ideia da reencarnação.
Quantos séculos consumimos para que a doutrina das vidas
sucessivas se incorporasse, afinal, ao nosso patrimônio espiritual de seres
encarnados? Vamos e voltamos entre este mundo e o outro, e sempre que aqui
aportamos, mergulhados num corpo de carne, novamente nos esquecemos de que
somos Espíritos imortais em trânsito para Deus. Sem isto, de que nos servirá a
multidão de outros conhecimentos? Que desta vez nos fique gravada,
indelevelmente na memória espiritual, a lição abençoada das vidas sucessivas,
para que não aconteça, um dia, nos perguntem em nome do Cristo: Então, és
mestre e ignoras isso?
***
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