quinta-feira, 15 de agosto de 2013

35. 'Rimas do Além Túmulo'



35
‘Rimas do Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
 Guerra Junqueiro

Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929

Casa Editora Guajarina

Conclusão

Preciso repousar, após esta labuta,
como o leal soldado, ao fim de uma batalha,
que, abandonando o campo árido da luta,
prefere a paz do lar ao ruído da metralha.
Preciso, sim, preciso ir procurar, distante
alento precioso, inspiração divina,
luz clara - que conduz o débil viandante
à Fonte que contêm a Água Cristalina
da Paz, benigno aroma, harmonioso canto
que unge de prazer eterno e virginal
a Alma, que, inundada em copioso pranto,
resgata do Passado a dívida fatal.
             
As lágrimas de dor, as perolas de Luz
que verte, no Espaço, o pobre arrependido,
são flores que entreabrem em torno de Jesus,
enchendo de Esperança o ente redimido.

O jornaleiro, ao dealbar do dia, o arado
busca, e vai a tarefa, alegre, começar;
mas, quando o Sol descamba, ao longe, esbraseado,
ele regressa a casa, afim de repousar.
E nessa hora em que já os cânticos da brisa
são salmos que enternecem trêmulas roseiras,
e quando, bem ao pé da fonte que desliza, 
às vezes vão trinar as aves feiticeiras... 

Bem como o viajor que, em meio da jornada,
implora sequioso um pouco de alimento,
coberto pelo pó que se espalha na estrada,
voando, estonteado, ao látego do vento,
- assim, eu vou rogar ao bem bondoso Mestre
o Pão que fortifica a todos os poetas,
um Pão bem semelhante àquele mel silvestre
que, outrora, alimentou os santos e os profetas.
Deixai que vá haurir, mísero precito,
coberto de labéus, injúrias, maldições;
também Jesus fitava as luzes do Infinito,
enquanto contra Ele rugiam multidões!

Deixai que o pobre pare ao longo do caminho
a fim de respirar um pouco, livremente,
também o rouxinol esconde-se no ninho;
quando, serena, desce a noite; lentamente...
Mas, quando surge, a rir, a estrela matutina
e há um novo canto em cada viração
e a voz do manancial recorda, na surdina,
de um pássaro noturno a singular canção,
lá se alevanta o meigo trovador alado,
e, abandonando o ninho, embebe-se no ar,
esplêndido, a trinar um hino ritmado,

em céleres arroubos de cantor sem par! 

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