27
‘Rimas do
Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
Guerra Junqueiro
Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929
Casa Editora Guajarina
Vendilhões
do Templo
Passas. Eu fico
contemplando
teu vulto alegre
pela estrada
por onde tu vais
semeando,
em vez do Bem, a
gargalhada.
Por ser vaidoso e
folgazão,
eu não te acuso,
meu amigo;
mas, se o vigário
em vendilhão
se torna, é crime,
e é perigo.
Uma porção de almas
pacatas,
quando tu passas,
levemente,
ficam dizendo
(pobres beatas!):
Eis um ministro
competente!
E tu, sereno e
imponente,
quando isso ouves,
meu burlão,
para enganar a
pobre gente,
baixas fingido
olhar ao chão...
(Deixa que conte a
esse povo,
muito baixinho,
quem tu és,
-na placidez de um
bardo novo
que não tem medo
das galés).
Mas é preciso que
te diga
que eu, poeta
sofredor,
não sinto mais a
gran fadiga
que tem um padre
confessor
quando, depois de
um bom almoço,
sem se poder quase
arrastar,
pensa, sem mínimo
alvoroço,
que inda lhe resta
um bom jantar...
Depois de achar-me
em liberdade,
sem as cadeias da
Matéria
bebendo o néctar da
VERDADE,
maravilhosa essência
etérea;
eu, como um pássaro
contente,
livre das peias da Prisão,
orei ao Pai
Onisciente
para implorar
Inspiração.
E, nesse instante
(oh! “heresia"!),
a Musa, a rir, me
veio dar
uns versos em que
transluzia
muita verdade a
transbordar...
Já livre da
Perturbação,
depois de ver o meu
passado,
logo chamou minha
atenção
um padre, a andar
todo apressado.
Ao VER bailar em
sua mente
ideias mil,
extravagantes,
eu resolvi,
serenamente,
seguir lhe os
passos saltitantes.
E fui andando, até
chegar
a uma igreja toda
ornada
de grandes santos
que, no altar,
tinham feição
amargurada.
Ah, se “ele” VISSE que eu estava
presenciando a sua
ação,
naturalmente se
assustava
e me chamava de - ladrão!
Ficou-se o “bom”
padre a escutar,
e, abrindo um cofre
a transbordar,
entrou, de rijo, na
labuta,
disposto a tudo
carregar...
Depois, olhando de
soslaio
para o lugar onde
EU ESTAVA,
tinha cintilações
de raio
o seu olhar, que
flamejava.
Pensou: agora estou
sozinho,
toca a roubar todo
o dinheiro
(com esta capa de
santinho,
vou enganando o
mundo inteiro)!
Enquanto a pobre
Humanidade,
a filha obscura de
Caim,
- para alcançar a Felicidade
nos enche a nós,
com ouro, assim;
nós, “pobres santos
missionários”,
com a algibeira a
transbordar,
vamos encher nossos
erários
e render Graça ao
pé do Altar!
A nossa vida é um
regalo;
por isso, a ideia
da Miséria
não nos produz
nenhum abalo:
sempre nos vale a
gente séria,
a gente boa, a
gente honrada,
que vem à igreja
pra comprar
a Salvação, dando a mesada
- para a Doutrina
prosperar..!
Embora os ímpios,
condenados,
gritem- anátemas a
nós,
seremos sempre
confortados,
e o mundo escuta a
nossa voz.
E quando algum
ladrão ousado
tenta roubar a
Santa Igreja,
é sem demora
aprisionado
pela Policia benfazeja.
Nós bem sabemos que
o bom vinho
não é o sangue de
Jesus;
mas ... a VERDADE é
um passarinho
que canta bem, mas
não seduz...
Sempre que vou hóstia
trincar,
eu penso, no
piedoso instante:
Vou cada vez mais
engordar,
isto é um bom
fortificante!
Nós temos coisas
pra iludir
(desde o altar
ornamentado);
o oficiozinho de
fingir
dá-nos um lucro.
avantajado...
E o “bom” do padre,
ao terminar
esse discurso,
brandamente
saiu e FOI ANUNCIAR
QUE UM VIL LADRÃO,
impenitente,
aproveitando a
escuridão
da rua, fria e
abandonada,
TINHA ROUBADO (oh,
que irrisão!)
A IGREJA, pela
madrugada!...
Mas a Policia, à cata
dos vis larápios
sem batina,
deve tornar-se mais
sensata,
e, obedecendo à
disciplina,
ir procurar, pelos
altares,
os verdadeiros
intrujões:
no meio dos
capitulares,
- o bando “honesto”
de histriões..!
E, quando algum propagandista
da sã Doutrina de
Jesus,
fingindo ser um “Otimista”
prejudicando a própria
Luz,
for
aos Domingos ouvir missa,
com as pessoas do
bom tom.
na tolerância mais
submissa,
servindo a Deus e a
Mamon,
LANÇAI-O FORA DA
FILEIRA
dos denodados pregadores,
pois, A DOUTRINA
VERDADEIRA
EXCLUI OS MISTIFICADORES!
4 de Abril de 1929
Lede a ‘Vala Comum’
(1).
(1) - Uma das
poesias do livro “A velhice do Padre Eterno”
Nenhum comentário:
Postar um comentário