25a
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Paulo II
O médium vê um homem
moreno, pálido, de olhos grandes, rosto redondo, altura regular,
corpo cheio, cabelos
compridos e grisalhos. Está cabisbaixo. Veste habito escuro,
tendo no pescoço uma
pala branca ou colarinho, e traz na cabeça a tiara. Circunda-o belíssima luz
roxa.
_________________
Tendes na vossa presença o espírito
de Paulo II, que vos vem trazer notícias suas e narrar tudo quanto se passou
com ele na vida espiritual. Vem à vossa presença o espírito de Paulo II para
dizer-vos que muito sofreu após a morte, grandes foram as dores, cruéis os seus
sofrimentos no mundo da verdade. Está perante vós o espírito de Paulo II para
vos dar uma lição de moral de grande e sabido valor, narrando fielmente a sua
vida pontifical e também a sua vida de espírito desencarnado.
Sou de todos os papas o que menos se
conformou com os ensinamentos de Jesus, o que mais se afastou da moral ensinada
pelo Mestre, e maiores provas de fraqueza e falta de fé demonstrou durante o
seu pontificado.
Fui um papa desobediente às leis da
Igreja, infiel aos princípios da sagrada doutrina de Jesus, que desrespeitou e
falseou, desonrou e profanou, cometendo ações pouco dignas de serem praticadas
por um sacerdote incumbido de guiar e conduzir a cristandade para o caminho da
felicidade espiritual. Sou o espírito de um papa intolerante, orgulhoso,
prepotente e insubmisso à lei de Deus e que não teve escrúpulos em adulterar a
doutrina cristã, para saciar a sua volúpia de ouro, a sua sede de domínio e
desmedida ambição de gozar a vida material, cujos encantos o seduziam sempre,
fascinando-o até o delírio. Sou a alma de um sacerdote sem a mais
insignificante parcela de critério moral, de senso comum e de espírito de
justiça e caridade.
Sou o espírito de um impulsivo,
voluntarioso, que obedecia mais aos instintos egoísticos, venais e grosseiros,
que é voz da consciência e as aspirações da Infinita Sabedoria, do bem, da
justiça e do amor!
Tendes diante de vós o mais completo
tipo de criminoso, o mais acabado perfil de tirano e déspota, perverso e
covarde! Ides julgar um dos mais indignos chefes que tem tido a Igreja
Católica.
Não podeis avaliar a soma de
responsabilidades que pesa sobre o pontificado de Paulo II, os crimes cometidos
pelo papa que ora se comunica convosco!
Não podeis mentir nem conceber o grau
de desmoralização a que atingiu a religião de Jesus Cristo no tempo em que
pontificou entre vós Paulo II.
Eu vos contarei, não detalhadamente
como desejaria faze-lo, mas largamente, em grandes e vigorosos traços; pintarei
de maneira sugestiva, uma série de quadros que vos darão a impressão exata da
situação em que se achavam a doutrina de Jesus Cristo e a cristandade terrena
durante o governo pontifício de Paulo II, aqui presente, para dar, perante
Deus, que o escuta, e os cristãos que o leem, a maior prova de humildade que um
espírito pode oferecer perante o mundo onde viveu, onde praticou os erros e as
faltas que o fizeram sofrer na eternidade!
Deus, que invocarei sem cessar no
correr desta comunicação, é testemunha do que venho declarar à face do mundo; Deus
será o fiador desta revelação que venho fazer perante a cristandade; Ele me
dará força e coragem para que não desfaleça em meio do caminho, ao narrar vos
as minhas misérias e fraquezas, os meus abusos e delitos.
Jesus que invoco neste instante, será
também o meu protetor, o meu guia nesta explanação que venho fazer diante dos
meus irmãos da Terra, para mostrar-lhes a verdade, desvendando-lhes o mistério
que envolve as coisas d’além tumulo, e ao mesmo tempo, fazer lhes sentir que já
é tempo de se emancipar dessas crenças funestas que nada lhes adianta na vida
terrena, criando para eles, na eterna vida, dias sombrios e amargurados. Direi
hoje aos meus irmãos a verdade que não tive coragem para sustentar e defender
outrora.
25b
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Paulo II
Sentei-me na cadeira papal à custa de
esforços que fiz para colocar sobre a minha cabeça a tiara, com a qual sonhara
desde o início da minha carreira sacerdotal, cheia esta de episódios
dramáticos, cenas trágicas em que figurei sempre como principal protagonista,
representando os mais indignos papéis.
Subi ao trono pontifício por um golpe
de astucia, ato criminoso praticado por mim e por aqueles que tinham interesses
em colocar-me no alto, para que, uma vez lá em cima, lhes desse a mão, os
guindasse também às culminâncias, onde, à farta, pudessem saciar a gula, os
apetites vorazes, satisfazendo as ambições criminosas que vinham alimentando
nas suas almas danadas, nas suas entranhas de verdadeiras bestas humanas.
Galguei a elevada posição de Pontifice Maximus à custa do sangue de
um adversário que me podia vencer com o seu prestigio e o seu valor, cardeal
possuidor de raro mérito e brilhantes e invejáveis virtudes, inteligência
culta, coração generoso, repleto dos mais puros e sinceros sentimentos de fé,
caridade, justiça e amor à doutrina de Jesus.
Presto-lhe aqui todas as minhas
homenagens, hoje, depois de haver recebido desse extraordinário e bondoso
espírito a grande prova de amor que acaba de dar-me, perdoando-me, intercedendo
por mim junto a Deus e a Jesus.
Eu o proclamo daqui santo e puro,
espírito eleito, digno e glorioso servo do Senhor! Deus lhe concedeu a luz e a
glória supremas de viver ao lado dos grandes, mas, na sua imensa bondade, ele
abandona constantemente o mundo da bem-aventurança para vir ombrear com os
humildes e os pequenos, os pobres da luz divina, para ajudá-los, confortá-los
nas suas provações.
Esse foi um dos meus maiores crimes;
outros cometi ainda durante o meu pontificado. Direi vós - mas todos esses
crimes são ignorados na Terra! Eu vos responderei - nada sabeis, meus irmãos,
do que se passa dentro desse palácio sinistro a que chamais - Vaticano; nada
conheceis da vida íntima dessa gente que na Terra se inculca santa e imaculada!
Felizmente para eles e para todos vós, soou já a hora em que a verdade vai
brilhar com todo o esplendor da sua pureza! Não poderão mais enganar-vos;
passou o período das ilusões e das falsidades e mentiras, raiou a aurora
sublime do Espiritismo, que há de restabelecer a verdade em toda parte e sobre
todas as coisas. Ouvi, portanto, o que vos diziam os espíritos dos papas nesta
“Revelação”.
Sentei-me na cadeira chamada de S.
Pedro à custa do sacrifício de uma vida preciosíssima; revesti-me dos
ornamentos pontificais com as mãos tintas do sangue de um companheiro, amigo e
irmãos; empunhei o cetro de rei da cristandade, tendo os pés sobre o túmulo de
um sacerdote merecedor de todas as honras e distinções, de todos os respeitos,
de toda a estima e de todo o amor.
Pontifiquei após um ato abjeto,
infame miserável e covarde! Não parou aí a minha fraqueza e miséria; fui além,
muito além!
Persegui os amigos daqueles que eu
sacrificara à minha ambição e à minha inveja, ao meu ódio e ao meu egoísmo.
Sacrifiquei ainda outras vidas; fiz calar as vozes que se fizeram ouvir protestando
contra os meus atos desumanos e covardes!
Não perdoei os que diziam ser eu um
verdadeiro criminoso celerado, indigno de sentar-me na cadeira da verdade!
Fui além, muito além, sacrifiquei
ainda os que não quiseram pactuar com as minhas infâmias; roubei a vida aos que
procuravam punir-me pelos atentados que cometera. O veneno foi sempre a minha
arma, o meu instrumento de vingança. Os meus auxiliares nessas empresas
funestas foram contemplados, cumulados de honras, prêmios e galardões, tendo
alguns desses assassinos chegado a vergar a púrpura cardinalícia.
Os meus amigos tiveram a mais
completa satisfação de todas as suas ambições e viram realizados todos os seus
sonhos por mais absurdos que fossem. Nada lhes faltou, nada lhes neguei; tudo
lhes concedi, tudo lhes dei; somente não lhes pude dar a paz e a tranquilidade
de consciência na vida espiritual, onde, ao meu lado, padeceram cruéis
tormentos, participando das minhas dores e das minhas lágrimas.
Dei-lhes tudo em minha vida,
dispensando-lhes todos os favores e atenções; não lhes pude dar, entretanto,
depois da morte, a felicidade e o perdão quando ao meu lado os imploraram,
apelando para o meu prestígio pontifical, pedindo-me fizessem cessar a sua
tortura, mitigasse as suas dores, fizesse terminar o seu martírio.
Conquistei tudo quanto desejei em
vida, realizando quanto sonhara na Terra, ainda mesmo à custa do sacrifício do
meu semelhante; mas na vida eterna nada consegui, nada alcancei que não fosse à
custa dos maiores sacrifícios e horríveis tormentos, e, se não fosse a
intervenção das minhas próprias vítimas, principalmente dessa de quem há pouco
vos falei exaltando lhe as virtudes, a estas horas estaria eu ainda suportando
os horrores das trevas, gemendo, chorando, padecendo no inferno que eu mesmo
abri na minha própria consciência.
Outros crimes pratiquei ainda e Deus
também nos perdoou. Outras crueldades cometi também contra inocentes criaturas
que sacrifiquei ao meu capricho e a minha gula sensual!
Não respeitei o pudor das virgens
confiadas à guarda da Igreja que eu chefiava, não me preocupando com as
consequências dos meus atos voluptuosos, da minha concupiscência desmedida, que
me levou a prática das reprovadas e criminosas ações. Tudo isso que confesso
aqui, diante de Deus e na vossa presença, foi praticado por aqueles que se
dizia representante de Cristo na Terra, pelo grande pastor, chefe supremo da
doutrina de amor pela qual o Divino Mestre se deixou imolar para nos dar
exemplos de caridade, abnegação, humildade, amor e justiça. Foram esses os atos
de impiedade cometidos por Paulo II que se dizia pai e pastor dos rebanhos de
Jesus; foram essas atrocidades praticadas por aquele que devia ser a
personificação da pureza, da inocência, da virtude, da caridade e do amor!
Paulo II foi, pois, um bárbaro,
criminoso vulgar, réprobo, covarde e feroz assassino.
Cometeu Paulo II essas torpezas seguro
de que todos os seus crimes ficariam impunes, que Deus não os levaria em conta,
por terem sido praticados pelo papa, pelo representante de Cristo da Terra.
Assim também pensavam muitos
antecessores meus, que se transviaram do caminho do dever, certos de que nada
lhes aconteceria na vida eterna, onde, supunham, continuariam a gozar os
privilégios e prerrogativas que desfrutaram na Terra. Ilusão! Ilusão! Deus é
justo e sábio e, por isso, a Sua justiça atinge igualmente a todos sem
distinção de classe, sem olhar a posição hierárquica a que pertenceu o espírito
quando no mundo.
Deus, na Sua infinita sabedoria, quer
apenas ver as causas que nos levaram à prática dos delitos, dos atos criminosos
pelos quais respondemos na Sua presença.
Ilusão! Ilusão! Nada se apaga do bem
ou do mal que praticamos na vida terrena; tudo fica gravado no infinito, onde
os nossos atos repercutem e deixam vestígios, clichês das nossas ações dignas
ou reprovadas, e um dia, quando chegarmos ao mundo dos espíritos, vamos nós
mesmos ler o que está escrito em caracteres luminosos e inapagáveis, os nossos
erros, as culpas que recaem sobre os nossos espíritos, o perdão ou a condenação
que merecemos pela miséria porque nos conduzimos na vida.
Ilusão! Ilusão! Vos disse já e
repito: Ilusão! Tudo quanto pratiquei foi por mim mesmo lido no infinito, em
presença dos espíritos incumbidos de distribuir a justiça, perante os juízos
que examinam as nossas consciências quando abandonados o corpo material para
entrar na vida eterna e imortal.
Padeci pois, e muito, após a morte,
e ainda hoje esses recordações atormentam o meu espírito e perturbam a minha
alma.
Deus me deu o meio de expurgar as
minhas faltas; por isso me encarnei na Terra nove vezes, depois de ter sido
papa. Suportei nessas existências as maiores provações e, graças a elas, hoje,
gozo de alguma felicidade e posso, em nome de Deus e de Jesus, que me ouvem
nesta confissão, dizer-vos: Meus amigos, abandonai as ilusões, não vos deixei
enganar pelos falsos ensinamentos; buscai a verdade onde ela existe de fato;
não vos deixeis iludir por essas crenças que nada tem de legítimas, que devem
ser para vós outros suspeitas, duvidosas, por emanarem de fonte também suspeita
e duvidosa.
A verdade está no Espiritismo, que
deveis cultivar e estudar e cujos ensinos deveis aceitar, para poderdes um dia
encontrar a felicidade e a paz eternas.
Só esta doutrina poderá elucidar o
vosso espírito, iluminar as vossas consciências, esclarecer a vossa razão,
dar-vos a certeza e a segurança da verdade, dessa verdade que eu proclamo daqui
como a única e confiável, completa, indestrutível e absoluta.
Antes de me retirar direi: não
mateis, jamais sacrifiquei vidas, jamais procureis abater o vosso semelhante
para satisfação dos vossos interesses, jamais busqueis subir na escala social à
custa do sacrifício de quem quer que seja.
Não procureis alcançar a glória
sacrificando interesses alheios, humilhando os vossos irmãos, calcando aos pés
os princípios sagrados da justiça e do amor ao vosso semelhante, cuja vida e
interesses deveis respeitar sempre e sempre!
Não vos desvieis dos ensinamentos de
Jesus, jamais vos afasteis da verdade espírita, a única que existe e que poderá
livrar-vos dos sofrimentos e torturas por que passou o espírito de Paulo II que
se retira satisfeito por ter dito aqui toda a verdade, diante de Deus e em face
do mundo cristão, humilhando-se perante os seus irmãos da Terra, para os quais
invoca neste momento a Misericórdia Infinita e a proteção e amparo de Jesus
Cristo - o nosso Redentor.
Adeus, e cumpri o que vos peço, para
poderdes, um dia, ser felizes na eternidade, onde vos espero para
felicitar-vos, em nome de Jesus, por haverdes cumprido o que hoje vos
recomendo.
Paulo II
Novembro de 1915
Informações
Complementares
Nome civil:
Pietro Barbo. Duração do papado: De 30 de Agosto de 1464 até 26 de Julho de
1471. Concorreu com Torquemada – o famigerado inquisidor – no conclave que o
elegeu. Foi eleito também porque representou o ressurgimento do poder dos
italianos contra os espanhóis e franceses que ambicionavam o cargo para seus pares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário