quinta-feira, 18 de julho de 2013

22. 'Rimas do Além Túmulo"



22
‘Rimas do Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
 Guerra Junqueiro

Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929

Casa Editora Guajarina

No Mar da Vida

No oceano da Vida, os pobres navegantes
naufragam muita vez por serem vacilantes,
por vagarem sem rumo e sem orientação,
de cego olhar, sem verem no Céu o clarão
fulgores derramando pra os encaminhar.
Lance-se frágil barco sobre ondas do mar,
sem vela e sem governo, e vejamos se faz
a longa travessia em êxito capaz
de merecer louvor ... Eis vem o temporal,
caindo em fúria, inesperada, qual
monstro gigante, e arrasta para o atro fundo
do abismo tenebroso, aterrador, profundo,
o destemido que tenta, audaciosamente,
arrostar o perigo num barco indolente!
E vede que desastre, ao fim de uma jornada:
destroços da barquinha que foi mal guiada,
entre as inquietas ondas a boiar silente...
Como é triste avistar, no leito da corrente,
uma esperança morta, uma ilusão fagueira
que passou tão sutil, tão meiga e tão ligeira!
Nas ondas da existência, irmãos, tende cuidado,
não ide perecer também no mundo irado;
por isso, o navegante deve armar o braço,
com a lança da Virtude, arrebentar o laço
que a serpente do Mal atira-lhes sombria,
com ímpeto feroz de uma rajada fria.
Porém, batalhadores, ide para a frente.
O mar é revoltoso, agita-se a corrente
em grossos vagalhões, sempre a rugir furiosa?
No meio dos espinhos entreabre a rosa;
nada se alcança sem as dores e martírios;
as mágoas mais agudas são formosos lírios...
Nos olhos lacrimosos do vil esfarrapado,
que a um canto da rua, chora abandonado,
se mostra, muita vez, um mar de sofrimento;
mas ai, que ninguém olha esse mudo tormento.
Mas, se da Caridade abrisse a meiga flor,
no seio dos humanos, plena de dulçor,
reinava sobre a Terra a paz perpétua, amena,
como a paz do luar na concha azul, serena.
Porém, a Humanidade há de prestar-se um dia,
e diante a placidez sutil da calmaria,
chorar, reconhecida, engrinaldar de flores
os vultos imortais dos Bons Trabalhadores
que, depois do labor insano terminado,
tiveram já, de Deus, o prêmio conquistado.
Assim como Jesus, tiveram seu martírio,
dominaram o lodo vil, fitando o Empírio;
é justo, pois, que tenham glória dos heróis
que são astros de Luz no meio de outros sóis.
E os náufragos da Fé, aqueles que não têm
um desejo sequer de praticar o Bem,
um dia hão de chegar ao Porto Salvador
e contemplar, com um indefinido Amor,
o mar- calmo e tranquilo - ao sol de uma doutrina,
que, espargindo do Alto a sua luz divina,
redime e faz baixar as ondas mais furiosas
das paixões que amesquinham almas descuidosas
Para que o oceano role calmamente,
o oceano da Vida, ao sopro da aura olente
de esclarecida Fé que nutre o coração
- àqueles que, ansiosos, buscam Salvação
- é mister que, formando os homens sã corrente
de ideias reunidas, expulsem do ambiente
da Terra esses pestíferos germens, mesquinho
que, em turbilhão, se espalham pelos seus caminhos;
do planeta ceifando o formigueiro vil
dos erros e mentiras, hipocrisias mil.
Destarte, a Humanidade inteira, oceano brando
contrita, entoará um hino (soluçando
de alegria) que as liras vibrantes dos felizes
arcanjos ornarão com límpidos matizes
de 'harmonia sonora e dulcificadora!

E, então, despontará a Aurora Redentora...




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