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‘Rimas do
Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
Guerra Junqueiro
Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929
Casa Editora Guajarina
No
Mar da Vida
No oceano da Vida,
os pobres navegantes
naufragam muita vez
por serem vacilantes,
por vagarem sem
rumo e sem orientação,
de cego olhar, sem
verem no Céu o clarão
fulgores derramando
pra os encaminhar.
Lance-se frágil
barco sobre ondas do mar,
sem vela e sem
governo, e vejamos se faz
a longa travessia
em êxito capaz
de merecer louvor
... Eis vem o temporal,
caindo em fúria, inesperada,
qual
monstro gigante, e
arrasta para o atro fundo
do abismo
tenebroso, aterrador, profundo,
o destemido que
tenta, audaciosamente,
arrostar o perigo
num barco indolente!
E vede que
desastre, ao fim de uma jornada:
destroços da barquinha
que foi mal guiada,
entre as inquietas
ondas a boiar silente...
Como é triste
avistar, no leito da corrente,
uma esperança
morta, uma ilusão fagueira
que passou tão
sutil, tão meiga e tão ligeira!
Nas ondas da existência,
irmãos, tende cuidado,
não ide perecer
também no mundo irado;
por isso, o
navegante deve armar o braço,
com a lança da
Virtude, arrebentar o laço
que a serpente do
Mal atira-lhes sombria,
com ímpeto feroz de
uma rajada fria.
Porém, batalhadores,
ide para a frente.
O mar é revoltoso,
agita-se a corrente
em grossos
vagalhões, sempre a rugir furiosa?
No meio dos
espinhos entreabre a rosa;
nada se alcança sem
as dores e martírios;
as mágoas mais
agudas são formosos lírios...
Nos olhos
lacrimosos do vil esfarrapado,
que a um canto da
rua, chora abandonado,
se mostra, muita
vez, um mar de sofrimento;
mas ai, que ninguém
olha esse mudo tormento.
Mas, se da Caridade
abrisse a meiga flor,
no seio dos
humanos, plena de dulçor,
reinava sobre a
Terra a paz perpétua, amena,
como a paz do luar
na concha azul, serena.
Porém, a Humanidade
há de prestar-se um dia,
e diante a placidez
sutil da calmaria,
chorar,
reconhecida, engrinaldar de flores
os vultos imortais
dos Bons Trabalhadores
que, depois do
labor insano terminado,
tiveram já, de
Deus, o prêmio conquistado.
Assim como Jesus,
tiveram seu martírio,
dominaram o lodo
vil, fitando o Empírio;
é justo, pois, que
tenham glória dos heróis
que são astros de
Luz no meio de outros sóis.
E os náufragos da
Fé, aqueles que não têm
um desejo sequer de
praticar o Bem,
um dia hão de
chegar ao Porto Salvador
e contemplar, com
um indefinido Amor,
o mar- calmo e tranquilo
- ao sol de uma doutrina,
que, espargindo do
Alto a sua luz divina,
redime e faz baixar
as ondas mais furiosas
das paixões que
amesquinham almas descuidosas
Para que o oceano
role calmamente,
o oceano da Vida,
ao sopro da aura olente
de esclarecida Fé
que nutre o coração
- àqueles que, ansiosos,
buscam Salvação
- é mister que,
formando os homens sã corrente
de ideias reunidas,
expulsem do ambiente
da Terra esses pestíferos
germens, mesquinho
que, em turbilhão,
se espalham pelos seus caminhos;
do planeta ceifando
o formigueiro vil
dos erros e
mentiras, hipocrisias mil.
Destarte, a
Humanidade inteira, oceano brando
contrita, entoará
um hino (soluçando
de alegria) que as
liras vibrantes dos felizes
arcanjos ornarão
com límpidos matizes
de 'harmonia sonora
e dulcificadora!
E, então,
despontará a Aurora Redentora...
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