Não
há milagres
no Espiritismo
Túlio
Tupinambá (Indalício Mendes)
Certo
cidadão da nossa política escreveu, há tempos, um artiguete, explicando as
razões pelas quais não acreditava nos fenômenos espíritas. Perdera um filho na
guerra e um amigo lhe havia informado que, segundo certa comunicação do Além, o
rapaz estava ainda encarnado e bem de saúde. Efetivamente, era uma contradição.
Semelhante fato, porém, não serve de argumento contra o Espiritismo. Se no
mundo físico estamos sujeitos a ser enganados por pessoas brincalhonas ou
mentirosas, o mesmo sucede no mundo espiritual, porque o fato de um Espírito
deixar o invólucro carnal não lhe confere uma moralidade que ele não possuía
antes, assim como também não lhe altera a personalidade. Lá, como cá, o
Espírito está sujeito à educação, que pode dar resultados dentro de pouco ou de
muito tempo. Tudo depende, evidentemente, do caráter em jogo.
O
referido político, que é médico e já fez muitas vezes profissão de fé ateísta,
não poderia mesmo aceitar o Espiritismo, como não aceita nenhuma outra doutrina
religiosa. Portanto, o seu cepticismo já está encruado.
Há
muita gente que vai para o Espiritismo à procura do maravilhoso. Quer
"milagres", esquecida de que o privilégio milagreiro está com a
Igreja. Está ou esteve, porque, hoje, com o progresso, com o avanço da Ciência,
com a rapidez das comunicações, a indústria milagreira perdeu sua força e está
desaparecida. Antigamente, qualquer coisa servia para embair a ingenuidade
popular. Até um cometa que aparecia no céu era explorado pelos industriais do
milagre. Hoje, entretanto, as coisas estão mudando. A Igreja, dotada de
extraordinária faculdade mimética, vai-se adaptando depressa a situações que,
antes, justificavam enérgicas reprimendas dos piedosos bonzos da Inquisição.
Mesmo
dentro da seara espírita, o trabalho educativo é cada vez mais necessário.
Todos os dias o Espiritismo recebe novos adeptos e a maioria vem do
Catolicismo, decepcionada porque a Igreja só lhes oferece quimeras, preocupando-se
com o número dos que frequentam os templos e comparecem a certas
exteriorizações festivas. Alguns chegam ao Espiritismo imbuídos das ideias adquiridas
no credo que abandonaram. E intentam fazer reformas nas práticas espíritas.
Querem santos, como se nós adotássemos ídolos em nossa crença. Procuram adaptar
ritos que não são aceitos no Espiritismo. Daí o fato de certos confrades pouco
esclarecidos pretenderem realizar "batismos", "casamentos",
etc., como se o Espiritismo pudesse ser confundido com certas religiões que,
para sobreviverem, tiveram de condescender com o paganismo, adotando-lhe
métodos e sistemas.
Por
isso, é importante que a Doutrina seja cada vez mais disseminada, não só pela
palavra escrita como pela palavra falada. Doutrina, Doutrina, Doutrina e
Doutrina.
Os
que assim procedem, da maneira a que nos referimos, merecem nossa paciência, mas
não podemos com eles concordar, porque, se o fizermos estaremos concorrendo
para a deturpação dos princípios e postulados divulgados por Allan Kardec.
Não
é a assiduidade a sessões fenomênicas que define o espírita, mas o seu
conhecimento da Doutrina e o esforço que realiza por exemplificá-la em cada
vinte e quatro horas de sua vida. Não nos interessam ritos, imagens, cânticos e
demonstrações materiais de poder temporal, de pompa e vaidade. O que realmente
nos interessa, e a quantos queiram permanecer fiéis à Doutrina Espírita, é a
reforma íntima de cada um, a melhoria do homem, o apuramento moral, o estabelecimento
da paz interior e exterior, o culto do bem, o combate ao mal pelo exercício da
bondade, da caridade e do amor, porque isto, em última análise, é Cristianismo
puro.
O
espírita verdadeiro não estimula desarmonias, não dá curso à maledicência, não
cede a impulsos egoístas, não dá mostras de intolerância, mas é firme em suas
convicções, fiel à Doutrina e dotado de sólida determinação no cumprimento de
seus deveres para com o Espiritismo.
Estudemos
as lições doutrinárias, diariamente, porque encontraremos sempre novos pontos de
esclarecimento e de orientação. E, sobretudo, guiemos os novos, aqueles que
estão começando a sua jornada espírita, fazendo que se esqueçam totalmente das
fantasias que religiões falidas ou em vias de decomposição lhes inculcaram na alma.
Uma das grandes tarefas do Espiritismo é reformar o homem, preparando-o para o
Terceiro Milênio, já às nossas portas.
Reformador
(FEB) Maio 1959
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