domingo, 30 de junho de 2013

23. Revelação dos Papas - Xisto II


23

‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918


Xisto II, papa

O médium vê um homem claro, de feições regulares,
cabelos brancos e olhos azuis, vestindo hábito roxo e circundado de luz brilhante.
_____________
         

          Saúdo-vos daqui, pedindo vênia para vos dirigir algumas palavras de amizade e simpatia.

          Quem está presente é um dos papas mais culpados de falta de fé e perseverança no caminho da verdadeira religião de Jesus Cristo.

          Quem vos fala agora é um daqueles em quem faltou sempre a verdadeiro espírito cristão. É o mais impiedoso dos papas, o único, talvez, que se deixou dominar por falsos sentimentos de grandeza, orgulho e vaidade e que mais afastado viveu de Deus e da humanidade.

          Na hora presente sinto-me bastante feliz e experimento verdadeira alegria ao comunicar-me com os homens, para cujo atraso e heresia concorria com a minha conduta papal. Conduzi mal o espírito religioso do meu tempo, não me compenetrando das responsabilidades que tomara sobre meus ombros ao sentar-me na cadeira pontificada.

          Abandonei os conselhos e as lições sublimes de Jesus e orientei-me pelos meus instintos baixos, pelas minhas tendências perversas, pelas minhas ambições de mando e domínio.

          Esqueci-me completamente que - “Os últimos serão os primeiros”. - Os que se humilham serão exaltados e os que se exaltarem serão humilhados” — como disse Jesus.

          Eu vos dou provas da justeza e verdade destas duas sentenças que acabo de citar, no que vou relatar para mostrar-vos que muito mal procede todo aquele que se afasta dos ensinamentos do Mestre.

          Como papa, fui um impenitente gozador dos bens e prazeres terrenos, pelos quais esqueci sempre os meus deveres, desprezei o que era moral e útil à fé aos homens e a mim. Engolfei-me na vida material, na qual encontrava doçuras e encantos que, erradamente, supus não existisse outros que os pudessem igualar; pensava, convictamente, que os bens, as felicidades e os gozos do céu eram apenas promessa vã, meio de que se servira Jesus para conter a intemperança e a fúria dos homens; não compreendia pudesse existir alguma coisa de positivo e absolutamente verdadeiro nessas promessas, que julguei não passarem de egoísmo, quimera com que Jesus, os santos e os profetas acenavam aos homens, tendo apena em mira desviá-los dos prazeres da Terra, conte-los nos excessos a que se entregavam quando o grande Rabino da Galileia, percorria os campos e as cidades.

          Tive a presunção de conhecer a verdade toda inteira no que diz respeito a gozos e bens terrenos, à felicidade, galardões e prêmios celestes.

          Imaginava que fora do mundo, a alma se entregasse a uma vida puramente benéfica, contemplativa, vivendo num êxtase eterno, do qual jamais seria despertada; não admitindo pudesse existir na eternidade uma vida ativa, cheia de sensações e emoções tão vivas e fortes variando até o infinito, atingindo a um grau de intensidade a que as impressões da vida terrena não podem atingir.

          Julguei sempre nada mais poderia seduzir e encantar o espírito, uma vez despido dos órgãos pelos quais as sensações chegam à alma durante o tempo em que se acha ligada ao corpo.

          Não podia, pois, imaginar prazeres e gozos definidos, alegria e sensações mais intensas e mais deliciosas que as do mundo material e, por isso, deixava-me arrastar pelas seduções mundanas. Os prazeres da mesa, o encanto da beleza que se manifesta debaixo da forma feminina, a volúpia e as sensações produzidas pelo som e pela cor, perfumes e essências, que põem em atividades os sentidos externos do homem; tudo isso eu buscava gozar de uma maneira completa, requintando de gosto e sentimento, apurando cada vez mais os sentidos, tornando-os mais sensíveis às delicadas e sutis manifestações do mundo exterior. Não me preocupei com as consequências que porventura pudessem advir para o meu espírito após a morte do corpo. Ficava estupefato ao contemplar os grandes quadros dos mártires da fé, aplicando cilícios para dilacere lhes as carnes, cobrindo o corpo de chagas, jejuando, vivendo ao relento, expondo-se aos maiores perigos, entregando-se dia e noite a exercícios espirituais, com o fim de amortecer, suprimir a sensibilidade nervosa e assim, tornarem-se puros, castos e santos. Tudo isso me impressionava, causando horror, fazendo-me pensar na loucura desses entes, que desprezavam os verdadeiros prazeres, os gozos positivos e sedutores da carne pelas doçuras e encantos de um céu que não conheciam, e, portanto, não podiam compreender o que nele se passava e, muito menos, conceber os seus encantos e as suas delicias.

          Para mim semelhante gente não passava de uma legião de sonhadores, fanatizados pelos ensinos do Cristo e pelas leituras do Antigo Testamento. Não me conformava com essas orientações - isso desde a minha ordenação a simples padre, e, ao sentar-me na cadeira papal, tinha enraizadas no meu espírito ideias contrárias àquela maneira de ver. Entendia que a fé nada tinha que ver com os atos mundanos e que o homem podia e devia desforrar-se nesta vida, de modo que, ao entrar na eternidade, não mais o afligissem as saudades deste mundo, donde se retirara farto, satisfeito por ter gozado todas as delícias que ele proporciona àqueles que se identificam de corpo e alma com a vida material. Apesar de papa, não podia admitir abstenções, limitações, restrições e proibições do que, pensava eu, fora criado unicamente para aumentar o encanto da existência terrena e suavizar os tormentos e as dores que a vida humana inflige as criaturas.

         Imaginava eu que se devia gozar preocupação das consequências futuras, que não devíamos mortificar a carne tão apetecida, essa carne adorada que nos proporcionava gozos indizíveis, dando-nos sensações paradisíacas no mundo dos enganos e das ilusões.

          Foi pensando assim que me esqueci dos deveres que tinha que cumprir, abandonando-me aos prazeres materiais que não me deixaram tempo, calma e sossego para cuidar das coisas sagradas confiadas à minha guarda. Os negócios do Estado eu os encarava como coisas secundárias; abandonando-os, encaminhando-os mal. Conduzindo-os para o caminho falso dos conchavos em que presidia mais o espírito da cobiça, vaidade e orgulho que o interesse religioso, sincero, honesto e puro que devia caracterizar todos os atos do papa.

          As questões do Vaticano, aquelas cujas soluções deviam ser inspiradas no bem, na verdade, na justiça e na razão, eram resolvidas de afogadilho, às pressas, sem o estudo e a reflexão que requeriam essas altas questões, que diziam respeito à boa marcha dos interesses da fé cristã e tinham por fim cooperar para que cada vez mais se radicassem na alma dos povos os verdadeiros e puros sentimentos religiosos.

          A minha corte, exceção feita de alguns sacerdotes estudiosos, sinceros e dedicados às coisas da Igreja, era composta de nulos e gozadores que, como eu, procuravam apenas a satisfação das necessidades da vida material e conquistar títulos e honrarias, esquecidos sempre da sua nobre e santa missão de orientar e dirigir as almas.

          Com tais elementos, jamais se poderia esperar que eu fizesse um governo que preenchesse as exigências da época, correspondendo, aos mesmo tempo, as necessidades do momento que atravessava a Igreja Católica.

          Separei-me dos altos deveres cristãos, divorciei-me das sábias lições do Mestre, escusando-me ao cumprimento do dever, furtando-me à prática dos atos de piedade e clemência; exonerei-me de obrigações e encargos dos quais tinha o dever de desempenhar-me com honra e dignidade; lancei-me no caminho oposto à caridade, enveredando por atalhos que, longe de adiantarem a minha marcha para Deus, ao contrário, retardaram-na grandemente, de modo que, depois da morte, me achei na mais desoladora situação em que uma alma pode encontrar-se no mundo espiritual.

          Sofri ali duras provações, cruéis desilusões, insuportáveis vexames, tremendas humilhações, quando verifiquei serem inteiramente diversas todas as coisas que imaginara, constatando o absurdo das minhas reflexões e improcedência das afirmações feitas pela Igreja com relação aos bens e gozos celestes. Chorei amargamente ao ver que me enganara de modo absoluto, supondo serem os gozos e prazeres da vida espiritual mais efêmeros que os do mundo, nos quais me afundara e que por isso experimentava tão critica e aflitiva situações ao entrar na vida espiritual. Senti-me profundamente abatido perante os quadros que se desenrolavam aos meus olhos; fiquei perplexo, arrebatado, ao contemplar a majestade das coisas, cuja beleza e esplendor excediam de uma maneira infinitamente grande as concepções humanas relativas a essas coisas. Sofri durante muito tempo o horror das trevas, senti ali os apetites carnais me devorarem as entranhas, me correrem o espírito; experimentei as mesmas necessidades e desejos que me assaltaram durante a vida e que, para satisfazê-los, comprometi a minha alma, lançando-a nesse inferno em que se transformou a minha consciência logo após o desprendimento do espírito.

          Foram desesperadores os primeiros tempos da minha vida espiritual; horríveis essas horas que sucederam à morte do corpo.

          O meu despertar na eternidade foi tremendo, custou-me muitas dores, lágrimas, imprecações, gemidos, ânsias, desalentos, angustias; potentíssimos espinhos penetraram-me na alma, feriram o meu espírito; terríveis serpentes morderam-me a consciência, envenenaram-me a alma; monstros horríveis pareciam querer devorar-me, tragar o meu espírito! Foram horas, dias, anos, séculos de sofrimento e amargura!..

          Grandes, imensas, foram as responsabilidades que acarretei sobre mim, os compromissos que assumi perante Deus, que, não obstante as minhas grandes culpas, se mostrou para mim Pai misericordioso e infinitamente bom, pois, desde que o arrependimento sincero penetrou na minha alma, logo comecei a orar, a repudiar o que adorara em vida, Ele, o Pai Celestial, começou a perdoar-me, a dar-me alívio e sossego; e, quando formulei desejos de reparar o mal que praticara, a Sua misericórdia se derramou sobre mim, inundou-me a alma, lavou o meu espírito, libertou-o por completo das impurezas que nele ainda existiam, salvando-o, iluminando-o com a luz da sua graça infinita. Deus salvou-me, deu-me a paz, aliviou-me o espírito, mas eu me comprometi com Ele a apagar em sucessivas existências todo o mal feito, praticado duramente o tempo que tive nas mãos as rédeas do governo sagrado da cristandade. Já cumpri parte do que prometi ao Senhor, em existências sucessivas depois de haver sido papa. Cumpri dignamente a minha promessa, satisfiz o meu compromisso com brilho e honra, passando por provas e experiências amargas, cruéis, mais tive coragem para enfrentá-la, suportando lhes o peso.

          Venho completar o pagamento da dívida, dando esta prova de humildade perante o meu Pai Celestial e os homens que me escutam neste momento.

          Colaboro hoje na “Revelação dos Papas”, e termino esta mensagem rogando aos meus irmãos da Terra, outrora meus filhos espirituais, que me perdoem o mal que lhes fiz, o falso rumo por onde conduzi os cristãos, acarretando-lhes os desgostos e prejuízos que hoje sofrem aqui neste mundo; suplicando-lhes também a esmola de uma prece para o espírito do papa criminoso que nesta mensagem confessou os seus erros e a suas loucuras e que, ao terminar, faz votos pelo avanço e progresso da humanidade terrena. Tenho dito.
 
Xisto II
Setembro de 1915


Papado de Agosto de 257 a 6 de Agosto de 258.

Informações complementares

            Curto papado do grego de Atenas que se intitulou Xisto II.  À época, todos os chefes das igrejas  cristãs eram chamados papas reconhecida porém a relevância (não a autoridade) maior do chefe da igreja de Roma. Conflitos por distintas interpretações relativas à Trindade católica recrudesceram.  No período deste papado, os cristãos estiveram sob perseguição severa de parte do imperador Valeriano inclusive  Xisto II que foi preso e supliciado.
Fonte:  ‘Os Crimes dos Papas’ por Maurice Lachatre
2005    Ed. Madras SP SP

6. 'As relações do médium com o mundo invisível'


06) As relações do Médium
com o Mundo Invisível

por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Julho 1958

            O médium é valioso instrumento do Espiritismo, quando orientado pela Doutrina Espírita e esclarecido pelo Evangelho. Há médiuns espíritas e médiuns não-espíritas. Os médiuns espíritas seguem o roteiro traçado por Allan Kardec e procuram subordinar-se às determinações doutrinárias, a fim de seu trabalho ter plena concordância com os ensinamentos doutrinários. A condição de espírita é estabelecida pela obediência à Doutrina. O valor das manifestações, sejam elas de que natureza forem, é aferido pela identidade que tiverem com fatos verificados ou verificáveis, assim como pela essência moral que revelarem ou pelo conteúdo que possuírem. Pode um médium ser bem intencionado e servir de joguete a Espíritos de suposta superioridade moral e intelectual, que sejam, na verdade, diletantes, burlões e fantasistas, empenhados em pregar ideias extravagantes, teorias absurdas ou ideologias faltas de base. Há criaturas muito fáceis de crer em tudo que não compreendem ou compreendem mal. Permanecem na superfície e são incapazes de se aprofundar no exame atento do que veem, leem ou ouvem. Ao Espiritismo não agrada a fé cega, pois recomenda a fé esclarecida pela razão.

            Se o observador se mantém tranquilo em face das manifestações e comunicações mediúnicas cuja possível origem desconhece, e não tem conhecimento seguro da idoneidade do médium, estará menos arriscado a equivocar-se do que aquele que, deslumbrado, não se dá ao trabalho do discernimento. É imprescindível, contudo, não apresentar-se forrado de preconceitos refratários à inteligente compreensão dos fenômenos e saiba observar, não prejulgando o trabalho medianímico nem afogando o raciocínio em prevenções pueris. Se não alienarmos as faculdade de reflexão e análise, assistidas pela razão, e indispensáveis à possibilidade de obter conclusões definitivas e corretas acerca do fato mediúnico em observação, estaremos aptos a apreciar com justeza o trabalho do médium, sem nos deixarmos enganar por falsas aparências e sem incorrermos no erro de cometer injustiça com o médium. Na maioria dos casos, os médiuns são sinceros e seu trabalho exprime realmente a verdade do que ocorre na manifestação. Se o médium possui idoneidade moral e as manifestações, por sua natureza intrínseca e extrínseca, revelam o alto equilíbrio de sua mediunidade, nada há que recear ou duvidar. O que desejamos, com estas considerações, é deixar claro que a ninguém mais do que a nós interessa banir os casos de mistificação ou identificar as manifestações de puro animismo.

            Os trabalhos mediúnicos escrupulosamente controlados e superiormente orientados estão acima de dúvidas, embora os adversários do Espiritismo, notadamente a alta clerezia, estejam sempre empenhados em ver embustes e fraudes em tudo, ainda que não logrem comprovar honestamente suas mal-intencionadas suspeitas... Sabemos que a nossa condição de espíritas não nos tira o dever de imparcialidade na apreciação do mediunismo. E por isto, porque temos a certeza inabalável da veracidade da Doutrina e dos fenômenos espíritas, não admitimos venha nossa crença a ser posta em xeque por falsos médiuns ou por médiuns desatentos, pouco escrupulosos ou, embora de boa-fé, vítimas inconscientes do animismo. O estudo da notável obra de Aksakof – “Animismo e Espiritismo” - impõe-se também àqueles que desejarem colocar-se numa posição mais sólida dentro da Terceira Revelação. 

            O médium familiarizado com a Doutrina Espírita é o primeiro a querer evitar dúvidas quanto à honestidade do seu trabalho mediúnico. Graças a Deus, contam-se em maior número os médiuns com tal sólido critério, pois não ignoram que os escolhos da mediunidade somente poderão ser contornados com as luzes da Doutrina e do Evangelho. Eis porque não podem esquecer-se, em nenhum instante, de que se encontram na vanguarda do contato com o mundo invisível.

*

            Todos fazem uso do livre arbítrio: nós, Espíritos encarnados, e os Espíritos libertos do corpo somático. A ação do livre arbítrio permanece respeitada; quer no mundo físico, quer no mundo espiritual. Tanto podem os Espíritos exercer influência sobre as criaturas humanas, como podem estas influenciar também, dentro de um limite compreensível e em certas circunstâncias, os Espíritos. Se o médium possui qualidades morais fortes, estará resguardado da ação negativa de Espíritos inferiores. A moralidade do médium é, por conseguinte, fator importante na sua vida e no seu trabalho mediúnico. Graças a ela é que podem firmar-se as relações do médium com os Espíritos, pois atrairá as entidades do Além que a ele se mostrarem mais afins.

            Como complemento da educação doutrinária que os livros de Allan Kardec proporcionam, o médium deve também estudar o importante subsídio que “Os Quatro Evangelhos” de J. B. Roustaing fornece à consolidação da cultura espírita, porque nessa obra está exposta com admirável clareza “o Espiritismo Cristão”. Kardec e Roustaing formam um elo poderoso na contextura moral e doutrinária do Espiritismo.

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            Relativamente às relações dos médiuns com o mundo invisível, recordamos as seguintes palavras do Codificador, em “O Livro dos Médiuns”, 25ª edição, pág. 246: “Nem sempre basta que uma assembleia seja séria, para receber comunicações de ordem elevada. Há pessoas que nunca riem e cujo coração, nem por isso, é puro. Ora, o coração, sobretudo, é que atrai os bons Espíritos. Nenhuma condição moral exclui as comunicações espíritas; os que, porém, estão em más condições, esses se comunicam com os que lhes são semelhantes, os quais não deixam de enganar e de lisonjear os preconceitos. Por aí se vê a influência enorme que o meio exerce sobre a natureza das manifestações inteligentes. Essa influência, entretanto, não se exerce como o pretenderam algumas pessoas, quando ainda se não conhecia o mundo dos Espíritos, qual se conhece hoje, e antes que experiências mais concludentes houvessem esclarecido as dúvidas. Quando as comunicações concordam com a opinião dos assistentes, não é que essa opinião se reflita no espírito ao médium, como num espelho; é que com os assistentes estão Espíritos que lhes são simpáticos, para o bem, tanto quanto para o mal, e que abundam nos seus modos de ver. Prova-o o fato de que, se tiverdes a força de atrair outros Espíritos, que não os que vos cercam, o mesmo médium usará de linguagem absolutamente diversa e dirá coisas muito distanciadas das vossas ideias e das vossas convicções. Em resumo: as condições do meio serão tanto melhores, quanto mais homogeneidade houver para o bem, mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de instrução, sem ideias preconcebidas."

*

            Está evidenciado, pois, que o médium pode sofrer a influência do meio. Suas relações humanas, os hábitos que cultiva, os ambientes que se apraz de frequentar, as conversações que alimenta, a linguagem que usa no meio profano, tudo isto pode ajudá-lo a subir ou a descer, conforme o caso. Quanto mais simples e puro for o ambiente em que gosta de estar, maiores serão as probabilidades de convergirem sobre a sua força mediúnica benéficas influências. Do mesmo modo, se não vive em ambiente salutar, as influências poderão ser negativas, deprimentes, más, perigosas. Torna-se oportuno frisar que o médium está sempre mais vigiado de perto do que aquele que não tem o dom da mediunidade. Os Espíritos sabem quais são as criaturas que lhes podem servir de instrumento no mundo físico e sempre as acompanham, uns, no justo e nobre anseio de prestar serviços à causa do bem; outros, animados de desejos impuros, tendentes para o mal. Por isto, o médium tem de precatar-se e defender-se. E a melhor defesa está em permanecer fiel à Doutrina Espírita e ao Evangelho. É de boa prática dedicar diariamente, depois da leitura atenta de um trecho de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, pelo menos meia hora de cuidadosa e profunda meditação. Pensar no Bem, afastar quaisquer pensamentos profanos, mentalizar a figura excelsa de Jesus, nunca pregado na cruz, mas gloriosamente vivo, sereno e firme, os olhos voltados para o infinito, como símbolo de todas as mais dignificantes virtudes que a Humanidade conhece e reverencia. O médium, principalmente, tem necessidade da meditação. Todavia, deve aprender a meditar sem se entregar à concentração que propicia manifestações mediúnicas. A meditação nada tem com o “transe”. Deve exercer-se com o sentido de banhar o espírito com as luzes evangélicas, através das quais se põe em contato com os fluidos de Entidades empenhadas em conduzir a Humanidade a destinos melhores. Durante os minutos da meditação, deve esquecer tudo quanto se relaciona com a vida física, mantendo o pensamento dirigido para o Alto, em busca da caridade do Mestre. Fugir ao misticismo, mas adquirir o hábito da meditação cotidiana, esta a regra. No começo, a tarefa será dificílima, quase irrealizável, porque os pensamentos mais confusos e contraditórios surgirão para impedir a meditação. Não importam as dificuldades. Deve insistir, lutar pela consecução desse objetivo. Dentro em pouco, o pensamento estará disciplinado e o espírito se sentirá feliz em esquecer um pouco as coisas terrenas, beneficiando-se com uma paz tonificante, que lhe dará maior ânimo para as lutas da vida material.

*

            Tenhamos, pois, a maior simpatia com os médiuns, mas não os estraguemos com excessos de elogios, porque, afinal, eles não são santos, mas criaturas como nós, que trouxeram, ao encarnarem, deveres que precisam de ser respeitados e compromissos que devem ser totalmente cumpridos. Tratemos a todos como amigos e irmãos, sem incensá-los, porque, em tal caso, estaremos concorrendo para prejudicá-los e não daremos ao Espiritismo a solidariedade e a ajuda que ele espera de quantos o aceitaram espontaneamente.



22. 'Revelação dos Papas' - Gabriel, o enviado



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‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918


Gabriel, o arcanjo

O espírito apresenta-se à vidente cercado de grande irradiação
 de luz prateada, fachos verdes, grandes e luminosos.
O aspecto do espírito é soberbo!

_______________________

       
            Luz divina que ilumina a minha descida a este mundo, onde estou para cumprir as tuas ordens, dá-me palavras, dá-me clareza, alento e lucidez de espírito, para que eu possa falar aos meus irmãos em teu nome e sem me confundir nem me perturbar, neste planeta onde o mal, o crime e o erro campeiam por toda parte, assediando as almas aqui lançadas para cumprir as suas provações!

          Oh! Luz sublime! Oh! Foco eterno! Faze baixar sobre este humilde enviado os doces clarões da tua infinita sabedoria, faze descer sobre o teu humilde representante na Terra os esplendores dessas sublimes verdades que ele vem semear entre os homens!

          Glória a ti, Luz eterna, Fonte de amor! Glória a ti, Sol que jamais se apaga, dia que jamais finda, manhã eterna de eterno dia, cujo sol jamais se deita no acaso!

          Eu te invoco daqui, porque sei nada se pode alcançar sem a tua valiosíssima assistência; clamo por ti, solto o meu brado por esse infinito além, para que não te esqueças de mim nesta hora, em que, pousado na Terra, falo em nome de Jesus - o Mestre amado, o Guia e supremo Diretor desse planeta!

          Glória a ti também, meu Jesus! Glória a ti, Salvador do mundo, Glória a ti, Mártir dos mártires, Luz das luzes, Bondade e Amor incomparáveis! Glória a ti, meu querido e idolatrado Mestre! Glória a ti, meus Jesus.

          Dá-me também os raios da tua graça, transpassa a minha razão com as luzes benditas da tua misericórdia e sabedoria inconfundíveis!

          Concede-me aqui, na presença dos meus irmãos, o dom da palavra, a força da razão, a clareza do raciocínio, a luz da verdade, as doçuras da humildade, as carícias do teu imenso amor; põe nas minhas palavras o brilho e o esmalte da santidade, o fulgor da inocência, as ternas suavidades da candura e da virtude!

          Acompanha-me, Senhor, nesta divagação que venho fazer em presença dos homens, diante do teu Pai e também na tua augusta e santa presença!

          Acode-me, Jesus, com a tua inconfundível lógica, com o teu estro divino, para que eu possa derramar nos corações aflitos dos homens todas as doçuras do teu imenso amor!

          Fala, Senhor, pela minha boca, guia a minha palavra, ilustra o meu verbo, conduz-me o meu espírito na explanação que vou fazer acerca da situação em que se acham as almas que habitam este mundo de misérias e de lágrimas, de sombras, crimes e erros, este abismo, onde baixo em nome do teu Pai e por amor dos meus pobres irmãos que aí se acham afundados.

          Dá Senhor que as minhas palavras possam abalar os corações, tocar as consciências, penetrar o fundo das almas, descer aos íntimos e profundos recessos do coração humano!

          Ajuda-me, meu querido Jesus, nesta tarefa regeneradora, na luta em prol da verdade eterna, que o teu Pai e tu mandaram anunciar aqui entre os homens!

          Vou falar, Senhor, vou pedir, vou anunciar, vou proclamar, vou prometer, vou perdoar em nome do teu Pai e também no teu!

          Meus irmãos, o espírito que vos está falando, neste momento da vossa vida planetária, vem de muito longe até aqui para vos pedir um favor, uma esmola, apelar para os vossos corações e neles implantar a fé e a esperança em Deus e em Jesus.

          Venho do muito além do vosso planeta, resido muito longe daqui, em região cuja distância vos seria difícil calcular, e, para chegar até aqui, foi-me preciso atravessar grande parte do Universo, romper por entre infinitos turbilhões de mundos, de corpos celestes que gravitam na imensidade que vos rodeia. Não podeis imaginar o esforço que acabo de fazer, quão penosa foi a minha trajetória para chegar até vós, para falar-vos, dizer-vos alguma coisa que vos interesse e adiante.

          Vede bem, pois, que não foi para zombar, mentir, brincar convosco que empreendi essa viagem, que vim fazendo por tais regiões, onde o meu espírito teve que empregar esforços inauditos para prosseguir. Vede bem, que só a clemência do Pai, o amor de Jesus em benefício da vossa felicidade e salvação pelo conhecimento da verdade, seriam capazes de arrancar o vosso irmão Gabriel do lugar onde vive, das zonas em que exerce a sua cção e vai, com a graça divina e ajuda de Jesus, cumprindo a sua tarefa, procurando aperfeiçoar-se e adiantar-se.    

Deveis compreender, portanto, que só motivos de alta relevância podiam nos aproximar neste momento.

- Não venho, como vedes, divertir-me convosco nem tampouco gracejar, tomando o tempo que para vos muito precioso é; por isso, não venho ao vosso encontro somente pelo prazer de visita-vos, passando alguns Instantes em vossa companhia.

Venho desempenhar-me de uma santa tarefa, em missão de caridade e amor, tendo em vista a vossa felicidade o vosso progresso, o vosso adiantamento e salvação; ouvi-me, pois, com atenção, meditai bem sobre as palavras que vou proferir. .

Meus irmãos, a hora que atravessa o vosso mundo é de tal importância, que não vos deveis descuidar um só instante, um minuto sequer, do vosso progresso espiritual.

Viveis num momento tão crítico, que vos não posso dar ideia da gravidade da hora que o vosso mundo atravessa, cheia de apreensões, sustos, surpresas, lágrimas, dores e desgraças terríveis, que se desencadeiam sobre o vosso planeta.

Não venho aterrorizar-vos, porque isso seria faltar à missão de que estou incumbido, que é apaziguar, consolar e animar, em tudo quanto precisais; mas para, nós a verdade é a primeira e a principal coisa, por isso devemos proclama-la, ainda mesmo quando seja de natureza a sobressaltar as consciências dos homens e por em aflição as suas almas.

É preciso que não estejais iludidos com a situação do mundo, onde as desgraças, que nele ocorrem, atribuis  ora a uma, ora a outra causa, mas sempre procurando iludir a vós  mesmos, buscando desculpas para os vossos crimes e erros, fingindo não compreenderdes o que se passa aos vossos olhos e que não é mais nem menos do que o desabar de tudo quanto tendes feito sem vos inspirardes nos ensinamentos de Jesus, a quem voltastes as costas, afastados das leis, que repudiastes, proclamando a inutilidade da Intervenção da Infinita sabedoria nos destinos do vosso mundo, que dizeis governado exclusivamente por vós outros.

Proclamastes a doutrina criminosa e repugnante da matéria como fator e causa primordial de tudo quanto palpita aos vossos olhos, declarastes que só a matéria é suficiente para fornecer a chave de todos os mistérios que desafiam a vossa razão e zombam do vosso raciocínio; confessastes a vossa fraqueza no que respeita à metafísica e descambastes para o terreno que chamais positivo pelo qual chegaste às mais absurdas conclusões sobre origem e das coisas que vos cercam, atribuindo-as a  causas puramente mecânicas, a que denominais princípios das coisas  e com as quais substituístes Deus.

Tendes feito os maiores esforços para apagar o nome do vosso Criador em todas as manifestações do saber humano, expulsando-o de todas as vossas conclusões científicas.

Uma vez banido Deus, eliminado o princípio inteligente, criador e mantenedor de todas as coisas, entregaste vos cegamente à obra demolidora de tudo que na Terra é reflexo, projeção da vontade do Divino Ser, e fostes, de queda em queda, de desatino em desatino, de injustiça em injustiça, de desordem em desordem, de miséria em miséria, levados até á beira desse medonho precipício onde vos achais agora; e, apesar do formidável perigo que vos ameaça, ainda não vos convencestes de que foram os abusos, os erros e as violações das leis divinas, o repúdio dos princípios da moral cristã, que vos conduziram à desgraça, e à ruína em que vos achais agora, desgraça e ruína que tocarão ao infinito se não recuardes a tempo, se não vos convencerdes de que sois culpados por terdes desprezado o vosso Deus, repudiado os ensinos que seu Filho foi incumbido de trazer ao mundo quando ele baixou para salvar os homens.

Não vos apercebestes de que tendes os pés sobre uma colossal fogueira, que, se não tomardes o devido cuidado, carbonizará o vosso corpo, reduzindo-vos a cinza, ao pó, ao nada que realmente sois!

Tendes esperança de concertar endireitando o que viestes destruindo com as vossas próprias mãos através dos tempos e dos séculos!

Desenganai-vos diz aquele que de muito distante veio falar a verdade – desenganai-vos porque jamais conseguireis a paz, a tranquilidade, a concórdia e o amor na Terra, sem primeiro penitenciardes de todos os crimes praticados contra a lei de Deus e os ensinamentos de Jesus; e convencei-vos do que diz  aquele que atravessou o Universo para vir proclamar estas verdades em nome de Deus.

Nada mais conseguireis senão iludir-vos a vós mesmos, enganar os vossos corações, ludibriar as vossas próprias consciências com os sonhos vãos de paz e fraternidade, de aproximação de povos, de alianças entre raças, de união entre as gentes que habitam o planeta.

A paz, a fraternidade, a justiça e o amor são predicados do Criador, e quem lhe voltou as costas jamais poderá apelar para tais coisas, que emanam diretamente d'Ele.  

Não tereis paz, porque só vive em paz quem está com Deus; não tereis fraternidade, porque não pode possuir sentimentos fraternais quem não traz Jesus no coração.

          Apague o sol que vos alumia, ou colocai entre vós e o grande astro uma colossal muralha que intercepte os seus benéficos raios, e haveis de ver que, enquanto não demolir o obstáculo que impede que a luz chegue até vós, haveis de viver sempre mergulhados nas trevas, debatendo-vos no meio do horror das sombras.

          Pois bem, Deus é o sol que guia o vosso mundo e colocastes entre vós e Ele a muralha do materialismo e do orgulho de saber; não podereis, portanto, gozar dos benefícios que emanam de Deus, enquanto não destruirdes o obstáculo que vós mesmos, com as vossas próprias mãos, erguestes para separar-vos da Infinita Misericórdia e o Infinito Amor!

          Tendes pressa de ver o vosso mundo em paz, trilhando o caminho glorioso do progresso e da perfeição, mas - não vos iludais - o que estais vendo a cada passo, se desenrolar aos vossos olhos são apenas os pródomos da grande desgraça que virá abater o vosso orgulho a vossa vaidade!

          Não acrediteis consigam os homens, sem o auxílio da Divina Providência, obter o que tanto almejais neste momento e tanto pedis nessa hora aflitiva para as vossas almas, de desassossego e sobressalto para os vossos corações - a paz, a tranquilidade, a justiça, a fraternidade e o amor; porquanto as grandes responsabilidades nas calamidades que assolam o vosso mundo e que tanto vos afligem, é tudo obra vossa, produto dos vossos esforços, que deram resultados negativos e funestos, por terdes caminhado sem Deus, sem a luz divina, sem o luzeiro eterno que enche de encantos e alegrias todo o Universo - Deus.

          Eis aí porque Gabriel atravessou grande parte do Universo para chegar até vós; eis aí porque Deus enviou este humilde e obscuro mensageiro à superfície do vosso mundo: - para anunciar tudo quanto acabou de proclamar e também para dizer-vos que a Infinita Sabedoria, apesar da vossa ingratidão para com Ela, não vos abandonará no meio das aflições; Ela vos socorrerá com o auxílio da Sua divina graça e do Seu infinito amor, ajudando-vos, encorajando, animando as vossas almas, derramando sobre os vossos espíritos o conforto da Sua misericórdia e as consolações da Sua Infinita bondade, justiça e amor!

          Deus - anuncio-vos - vai remodelar este mundo; o Senhor vai dar uma nova orientação aos destinos da humanidade terrena, vai colocar este planeta no pé em que já deveria estar há muito tempo, se não fossem a vossa incúria, o orgulho, a vaidade e a desobediência aos princípios da moral ensinada por Jesus.

          A Terra vai, assim, caminhando para a salvação e resgate; a humanidade atual, composta de incréus, orgulhosos, impudicos, depravados, sem moral, sem justiça, sem luz e sem Deus, vai sendo substituída por espíritos adiantados, evoluídos, que estão se encarnando na Terra, onde vem trabalhar pelo avanço e engrandecimento do infeliz planeta.

          Os que morrem nas hecatombes cedem o lugar a nova geração de brilhantes espíritos que virá habitar a Terra e aí se esforçam para levantar o nome de Deus, recolocar Jesus no coração do homem terreno, estabelecendo definitivamente a doutrina do Cristo, em espírito e verdade - O Espiritismo.

          Aí está a verdade pura, como pura é a luz do sol que vos alumia e vos conduz no infinito.

          Ouvi, pois, a palavra dos espíritos, escutai estes conselhos, estas singelas frases, estes ensinamentos que vos estão sendo dados pelos que de longe e a custa de sacrifícios, atravessam o espaço infinito para vir anunciar-vos estas verdades.

          Voltai-vos para Deus e Jesus, arrependei-vos dos vossos erros, crimes, reconciliai-vos com o vosso Pai, aproximai-vos do vosso querido Mestre - Nosso Senhor Jesus Cristo - que, dentro em breve estará entre vós para dirigir, em pessoa, a transformação do planeta, que entrará na ordem dos mundos de provações e missões superiores.

          Escutai a voz de Gabriel, que de tão longe vem trazer-vos estas notícias; fazei que ele não perca o seu tempo, vendo as suas palavras entregues ao vento, que as perderá no infinito.

          Sim, meus amigos, sim, ouvi o meu apelo; abandonai a incredulidade!

          Deus existe, Deus governa o mundo, dirige o Universo, é Pai de infinita bondade e infinito amor. Confiai nele, volvei os olhos para o alto, erguei os braços para o Infinito, suplicando a misericórdia de Deus e o Seu perdão para as vossas culpas, pedindo a Jesus interceda por vós outros junto ao seu Pai.

         Sim, meus irmãos, escutai-me, ouvi-me, guardai na alma as minhas palavras, que são neste momento as de Deus e o pensamento de Jesus.

          Glória a ti, Luz Divina, que me enviaste a Terra para falar aos homens! Glória a ti, Suprema Justiça, Verdade Infinita, Vontade Suprema, Infinita Misericórdia e Infinito Amor! Glória a ti, Jesus! Luz e Esperança dos meus queridos irmãos!

          Adeus aos meus queridos irmãos, a quem peço a esmola de guardarem no fundo da alma este punhado de palavras, que Gabriel deposita hoje nos seus corações.


Gabriel, o enviado

Dezembro de 1916

Informações complementares

            É o nome de um anjo que foi mandado ao profeta Daniel para lhe explicar as suas visões; e igualmente, visitou Zacarias, anunciando-lhe o futuro nascimento de João Batista. Seis meses depois apareceu à Virgem Maria, de Nazaré, com a sua mensagem sobre o nascimento de Jesus. (Daniel 8-16; 9-21, e Lucas 1 :19-26).

página 40 do livro ‘Emissários da Luz e da Verdade’

1ª Edição 1959    Ed. Divino Mestre - R  RJ

sábado, 29 de junho de 2013

05. 'Mediunidade e Charlatanice'



05) Mediunidade e Charlatanice

por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Junho 1958


            Neste mundo de preconceitos agressivos, o Espiritismo tem pago pesado tributo à ignorância e à má fé. Não obstante a hostilidade que sofre, da parte de religiões fanadas e apenas sustentadas por conveniências políticas, e da parte de cientistas e pseudocientistas que se arreceiam de ser descidos do pedestal de prestígio a que foram guindados, se contrariarem os cânones religiosos e científicos, o Espiritismo caminha e se agiganta. 

            Homens de cultura científica, humanística e cultura geral, portadores de irreprochável autoridade moral, que ousaram reconhecer e testemunhar a verdade espírita, foram achincalhados por seus pares e acicatados pelo alto clero, que considera de seu privilégio a verdade e não admite que outros credos, livres de prejuízos seculares, demonstrem, por uma imposição de processos evolutivos, que o homem não ultimou suas conquistas no ramo da ciência e que sua religião terá de ser a religião racional, que não se apoia em dogmas absurdos nem se alimenta de restrições à liberdade de pensamento e de opinião. 

            Os médiuns devem estar sempre muito atentos, a fim de que sejam os maiores zeladores da pureza do Espiritismo. Em vez de se mostrarem excessivamente suscetíveis, devem permanecer vigilantes, para impedirem que seus trabalhos possam ser acoimados de charlatanice, de mistificação, de embuste, por aqueles que, cegos pelo fanatismo, preferem mentir a si mesmos, a confessar a verdade que teimam em não aceitar. Como em todas as atividades humanas, também no Espiritismo têm aparecido casos de mistificação voluntária e involuntária. Neste último caso, por exemplo, podemos incluir as manifestações de animismo, que podem ser decorrentes, em alguns casos, do insuficiente desenvolvimento mediúnico do indivíduo, que, sem o saber, engana a si mesmo, convencido de estar em contato com o Além. Ora, em casos tais, que deveriam fazer aqueles que, sendo cientistas, tinham a obrigação de evitar a negação apriorística? Estudar o caso, examiná-lo de todos os ângulos possíveis e oferecer, finalmente, uma conclusão imparcial, porque, em vez de estar prestando um serviço isolado ao Espiritismo, estaria servindo à Ciência e à Humanidade. Hoje, felizmente, já não são poucos os que separam os casos de mediunismo dos casos de animismo. Para nós, o animismo pode ser perfeitamente contornado, mediante um trabalho persistente e bem orientado de desenvolvimento mediúnico. Uma vez que o médium se encontre desenvolvido e em condições de pôr suas energias mediúnicas a serviço do Além, o animismo se reflui e pode desaparecer, em virtude da educação do espírito do médium. O animismo pode ser considerado, em determinadas circunstâncias, como a energia potencial de um médium ainda não capacitado para usá-la no trato com o mundo invisível. Em tal caso, admite-se que essa energia se expanda, favorecida por um fenômeno de auto sugestão, dando a seu portador a impressão de que está sendo intermediário de uma personalidade do mundo invisível, quando é seu próprio espírito que se manifesta. Daí não se pode inferir que o indivíduo em questão seja um farsante, um mistificador, porque bem pode suceder que ele próprio ignore o que se esteja passando. Caberá, então, ao diretor dos trabalhos observá-lo e esforçar-se para corrigi-lo. Ninguém tem mais interesse de destruir a mistificação e a charlatanaria no Espiritismo do que os espíritas. Desejamos com toda a sinceridade que os trabalhos espíritas sejam examinados e criticados com absoluta boa-fé. Atacar-se o Espiritismo e os espíritas porque os seus detratores supõem ter havido mistificação da parte de um médium, ou comprovado a charlatanice de médium sem escrúpulos, não é sensato.

            “Antes de imputar a uma doutrina a culpa de incitar a um ato condenável qualquer, a razão e a equidade exigem que se examine se essa doutrina contém máximas que justifiquem semelhante ato. Para conhecer-se a parte de responsabilidade que, em dada circunstância, caiba ao Espiritismo, há um meio muito simples: proceder de boa-fé a uma perquirição, não entre os adversários, mas na própria fonte, do que ele aprova e do que condena. Isso é tanto mais fácil, quanto ele não tem segredos; seus ensinos são patentes e quem quer que seja pode verifica-los. Assim, se os livros da Doutrina Espírita condenam explícita e formalmente um ato justamente reprovável; se, ao contrário, só encerram instruções de natureza a orientar para o bem, segue-se que não foi neles que um indivíduo culpado de malefícios se inspirou, ainda mesmo que os possua.

            “O Espiritismo não é solidário com aqueles a quem apraza dizerem-se, espíritas, do mesmo que a Medicina não o é com os que a exploram, nem a sã religião com os abusos que se cometam em seu nome. Ele não reconhece como seus adeptos senão os que lhe praticam os ensinos, isto é, que trabalham por melhorar-se moralmente, esforçando-se por vencer os maus pendores, por ser menos egoístas e menos orgulhosos, mais brandos, mais humildes, mais caridosos para com o próximo, mais moderados em tudo, porque é essa a característica do verdadeiro espirita.” (Kardec - "Obras Póstumas", págs. 232/3, 11ª edição.)

            Temos de ser muito mais rigorosos com os trabalhos espíritas do que os nossos adversários. Importa-nos menos a opinião daqueles que nos combatem, fugindo dos princípios éticos normais, do que a necessidade de preservar o Espiritismo de elementos capazes de comprometê-lo.

            "Entre os antagonistas do Espiritismo, muitos atribuem aqueles efeitos (efeitos físicos e efeitos inteligentes das manifestações), ao embuste, pela razão de que alguns puderam ser imitados. Segundo tal suposição, todos os espíritas seriam indivíduos embaídos e todos os médiuns seriam embaidores, de nada valendo a posição, o caráter, o saber e a honradez das pessoas. Se isto merecesse resposta, diríamos que alguns fenômenos da Física também são imitados pelos prestidigitadores, o que nada prova contra a verdadeira ciência. Demais, pessoas há cujo caráter afasta toda suspeita de fraude e preciso é não saber absolutamente viver e carecer de toda a urbanidade, para que alguém ouse vir dizer-lhe na face que são cúmplices de charlatanismo:" (Kardec - "O Livro dos Médiuns", págs. 43 – 25ª edição.)

            Não nos fazem mossa as hostilidades de certos credos religiosos contra o Espiritismo. Adotam a atitude natural dos que lutam pela sobrevivência, absolutamente certos de que o de perecimento é uma fatalidade inexorável. Questão de tempo, apenas. Não nos intimidam as restrições e acusações da ciência, porque temos a certeza de que um dia ela chegará até nós, à medida que se for evoluindo e, consequentemente, se libertando de preconceitos que a impedem de ter uma visão mais clara das verdades espíritas. Se os cientistas costumam ser combatidos pelos cientistas... Basta que surja um fato novo, capaz de destruir um tabu da ciência oficial, para que esta se insurja contra os "iconoclastas" e procure defender de todas as maneiras possíveis os pontos de vista vencidos pelo progresso. São tantos os exemplos que a história nos dá, que não vale a pena perder tempo em repisá-los... O Espiritismo também tem sido vítima de espertalhões e jamais se esquivou a qualquer prova, por mais rigorosa que fosse, para estabelecer a verdade. Médiuns de ambos os sexos foram submetidos a exames e “tests" muitas vezes vexatórios, para que os cientistas não pudessem alegar, depois, que haviam encontrado dificuldades para realizar as mais audaciosas investigações, em busca da fraude. Na maioria dos casos, porém, não encontrando a fraude, não podendo afirmar a existência de embuste, de charlatanice, procuraram os pesquisadores explicações novas, confusas, inconcludentes, apenas para não estenderem a mão à palmatória e confessarem, nobre e lealmente, o que sua consciência não podia deixar de reconhecer. É evidente que tem havido abuso no Espiritismo, não por culpa dos espíritas, mas em virtude de especuladores, que, intitulando-se espíritas, procedem de maneira contrária ao que determina nossa Doutrina. 

            “De tudo se abusa, até das coisas mais santas. Porque não abusariam do Espiritismo? Porém, o mau uso que de uma coisa se faça não autoriza que ela seja prejulgada desfavoravelmente" - comenta o Codificador em "O Livro dos Médiuns", pág. 43.

            Quando insistimos em que se estude cada vez mais a Doutrina Espírita; é porque esse estudo é extraordinário meio de defesa dos médiuns, levando-os, uma vez esclarecidos, a serem defensores naturais do Espiritismo. Os que frequentemente maldizem o Espiritismo, sem o conhecer, sem haver lido sequer o essencial para emitirem uma opinião, em lugar de fazerem mal aos espíritas, fazem-no a si mesmos. Nós não temos pressa em convencer o mundo... Saberemos esperar que o mundo se convença por si mesmo. É o que tem acontecido. Sem campanha de proselitismo, o Espiritismo cresce por toda a parte. Desenvolve-se e encontra cada vez maior número de adeptos. Porquê? Evidentemente, porque a Humanidade tem sofrido muito, espicaçada, de um lado, pelo materialismo, que estimula o egoísmo e divide os homens, e, de outro lado, por credos obsoletos, que lutam furiosamente pela sua sobrevivência e procuram anular a capacidade de raciocínio das criaturas, impondo-lhes dogmas que têm de ser aceitos com passividade, por não admitirem se conciliem a fé e a razão. Como a Humanidade tende a iluminar-se progressivamente, renunciando a prejuízos e superstições, sua atenção se volta, sem esforço algum, para a religião simples e objetiva, que não lhe promete milagres, mas lhe aponta o caminho da reeducação da criatura humana, ensinando-a principalmente a ser pessoa de bem, porque isto é o que poderá contribuir eficazmente para a felicidade humana.

            Não tem o Espiritismo necessidade de iludir o homem, para ser apoiado. E não o faz. É a própria vida terrena que se incumbe de tocar os espíritos mais esclarecidos para que eles, por si mesmos, abandonem crenças antigas, arcaicas, ingressando no Espiritismo, que lhes não promete absolvições nem vida paradisíaca, a troco de fórmulas insensatas. O que o Espiritismo promete ao homem é a felicidade, se ele seguir as leis morais a que está subordinada a Doutrina Espírita, baseada nas lições evangélicas, interpretadas em espírito e verdade, livre de fantasias dogmáticas. É preciso compreender que “a doutrina dos Espíritos não é de concepção humana. Foi ditada pelas próprias inteligências que se manifestaram,  quando ninguém disso cogitava, quando até a opinião geral a repelia. Ora, perguntamos, onde foram os médiuns beber uma doutrina que não passava pelo pensamento de ninguém na Terra? Perguntamos ainda mais: por que estranha coincidência milhares de médiuns espalhados por todos os pontos do globo terráqueo, e que jamais se viram, acordaram em dizer a mesma coisa?” (Introdução - "O Livro dos Espíritos".)

            Aos médiuns bem orientados cabe importante papel no futuro da Humanidade. É imprescindível, no entanto, que se capacitem das enormes responsabilidades que lhes pesam sobre os ombros. Para que possam cumprir com exatidão seus deveres mediúnicos, devem porfiar em seguir o mais rigorosamente possível os ditames da Doutrina e do Evangelho segundo o Espiritismo, familiarizando-se também com "Os Quatro Evangelhos", de Roustaing, onde está explicado e bem desenvolvido o Espiritismo Cristão. O conhecimento da Doutrina Espírita e sua difusão, pela palavra, pela escrita, nas reuniões, no rádio, nos jornais, onde quer que seja necessário expandir suas luzes, é obra de benemerência, obra humanitária. Não nos preocupemos com os ataques dirigidos ao Espiritismo. Nossa resposta deve estar em nossos atos, em nossa palavra, no comportamento fielmente pautado pela Doutrina. Como até aqui, devemos continuar o nosso trabalho, empolgados por ele, dando-lhe o máximo da nossa inteligência e de nossa energia. Se surgem, de quando em quando, em nossas fileiras, falsos apóstolos, embusteiros, charlatães, mistificadores, não esperemos que os nossos adversários os apontem, confundindo-os com aqueles que estão acima de quaisquer restrições de ordem moral. Sejamos os primeiros a identificá-los e a impedir que comprometam nossa obra. E continuemos a faze-lo com segurança e energia, mas sem perdermos de vista os princípios, doutrinários e evangélicos, que nos esclarecem sobre a maneira de agir sem incorrermos na pecha de truculentos e dogmáticos, que não o somos nem o seremos enquanto permanecermos adstritos a esses belos e edificantes princípios.

            Finalmente, aos médiuns está reservado importantíssimo papel no futuro do Espiritismo. Seja qual for a especialidade mediúnica, pois todas são respeitáveis, devem os médiuns ter em mente que a melhor maneira de realizarem suas tarefas, nesta encarnação, está em adotar atitudes de digna humildade, de franca solidariedade humana, de ampla disposição para servir ao próximo. O Espiritismo não é nem uma aventura nem um divertimento: é um compromisso sério e sagrado que tomamos com o Alto, interessando, não apenas à vida presente, mas às futuras encarnações.


04. 'A Humildade do Médium'



04) A Humildade do Médium

por Indalício Mendes


Reformador (FEB) Maio 1958


            Uma das preocupações do médium verdadeiramente ciente de sua função na vida terrena deve ser a do serviço dedicado e desinteressado ao próximo. Tem ele diante de si enormes possibilidades para realizar integralmente grandes e produtivas tarefas, desde que se mostre dócil aos ensinamentos de Mais Alto e devotado à exemplificação sincera da Doutrina Espírita. Quer no trato mediúnico, quer fora dele, o médium está envolto em crescentes responsabilidades e tem de dar de si, sem querer nada para si. Exemplifica o mais que pode os princípios doutrinários do Espiritismo, tendo em mente estas palavras do Codificador: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para dominar suas inclinações más.” São ainda de Allan Kardec estas palavras, insertas em “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.”

            Uma das mais belas evidências de compreensão espírita é a que dão os médiuns que jamais mercantilizaram sua mediunidade. Por mais modestos e humildes que sejam, possuem a alta dignidade de preservar seus recursos mediúnicos das nódoas da profissionalização. E, sendo paupérrimos de pecúnia, são milhardários de virtude, porque realizam seus trabalhos com a maior dedicação, aceitando os sacrifícios muitas vezes pesados dos encargos com construtiva resignação, Desse modo, realizam soberba e emocionante exemplificação evangélica.

*

            Para muitas pessoas pouco atentas ou superficiais, ser humilde é o mesmo que ser passivo e abúlico, incapaz de uma reação salutar contra o mal, contra os abusos multiformes, contra quaisquer excessos danosos. Semelhante maneira de pensar demonstra apenas incompreensão quanto à legítima definição da humildade, dentro da conceituação espírita. Ser humilde é ser brando, pacífico, paciente, discreto, comedido, ponderado. A humildade não recusa a energia oportuna, porque é possível ser enérgico sem transpor as limitações evangélicas. Ser humilde é revelar esclarecida tolerância, não fechar os olhos ao mal para parecer bom. A energia bem empregada pode estimular o faltoso a corrigir-se e recuperar-se moralmente. Se a humildade permanecesse rastejante ou se embrenhasse nas matas da adulação, seria servilismo. Convém não confundir uma com o outro.  O espírita não deverá jamais ser servil, do contrário não será realmente espírita. Todavia, deverá ser humilde e compreensivo. Nem a tolerância importa na concordância com o mal nem na desculpa sistemática aos contumazes no erro e no vício, Se assim fora, a tolerância se transformaria em conivência, embora involuntária.

*

            A humildade, tal como a compreendemos, é tudo isto: bondade, compreensão, indulgência, misericórdia, paciência, solidariedade, discrição, caridade e amor; capacidade de esclarecer, possibilidade de orientar, disposição para perdoar, deliberação para servir e amparar, sobrepondo-se a preconceitos ridículos e a susceptibilidades tolas; preparação para salvar, se possível. Essa, a nosso ver, é a humildade, que se desdobra e se desenvolve em todos esses nobres atributos do caráter humano. Um espírita sem humildade será como um corpo sem alma. Convém, no entanto, distinguir bem o conceito espírita da humildade com o conceito vulgar, que anda por aí. O humilde não é um fraco, mas um forte. Só os fortes de espírito podem ser brandos, pacientes e serenos. Não é fácil ser humilde. Mas fácil é aparentar humildade. Basta, porém, algo sério para destruir essa simulada humildade. A característica dos fracos de espírito é a incapacidade de ser humilde, Então, a violência, a intolerância frequente, a altivez arrogante, que mascara o orgulho, e a revolta, que marca o caráter da vaidade insatisfeita, revelam a verdadeira personalidade do indivíduo que se julga forte, embora, na realidade, seja fraco. A verdadeira humildade desconhece a insolência, porque é sempre pacífica. Em vez de recorrer à violência, emprega, quando necessário, a energia sã que só os brandos de coração podem possuir. No próprio Evangelho, deixou Jesus a demonstração impressionantemente convincente do seu dinamismo e da sua coragem, da sua brandura inigualável e da sua coragem sem par, da sua energia espantosa e da sua bondade ilimitada. Foi um fraco? Em absoluto. Sua força tem sido tanta que, atravessando séculos e séculos, continuará a se projetar pela eternidade do mundo. Não há nada que impeça o espírita de reagir contra o mal. O que se estabelece é que o espírita saiba dirigir essa reação: Em vez de se dar muita atenção à letra, é mister atentar mais para o espírito, “porquanto a letra mata e o espírito vivifica”. “Não é possível que Jesus haja proibido se profligue o mal, uma vez que ele próprio nos deu o exemplo, tendo-o feito; até, em termos enérgicos. O que quis significar é que a autoridade para censurar está na razão direta da autoridade moral daquele que censura. Tornar-se alguém culpado daquilo que condena em outro é abdicar dessa autoridade, é privar-se do direito de repressão. A consciência íntima, ao demais, nega respeito e submissão voluntária àquele que, investido de um poder qualquer, viola as leis e os princípios de cuja aplicação lhe cabe o encargo. Aos olhos de Deus, uma única autoridade legítima existe: a que se apoia no exemplo que dá do bem. É o que, igualmente, ressalta das palavras de Jesus.” (“O Evangelho segundo o Espiritismo”, pág. 147) Se o médium segue a trilha evangélica, está mais perto da realidade espiritual do que aquele que se mantém indiferente ao Evangelho e apenas observa os fatos interessantes do fenomenismo. E um dos sinais mais evidentes da criatura evangelizada é a humildade digna, a humildade que se transmuda na renúncia pela satisfação de ser útil e bom. Nem outra é a função do médium consciente do seu papel no mundo terreno, senão servir, revelando sempre brandura de sentimentos, boa vontade e interesse em suavizar as dores alheias, como se fossem as próprias. Sem vaidade nem excessivos melindres, o médium se tornará mais forte para a execução de suas tarefas, recordando sempre que sua função primordial é servir de instrumento para que os Espíritos tragam ao mundo os bálsamos de que tanto necessita a Humanidade para curar-se dos males que muito a afligem, males que são muito mais sérios quando afetam o espírito do que quando se denunciam na carne.