sábado, 29 de junho de 2013

04. 'A Humildade do Médium'



04) A Humildade do Médium

por Indalício Mendes


Reformador (FEB) Maio 1958


            Uma das preocupações do médium verdadeiramente ciente de sua função na vida terrena deve ser a do serviço dedicado e desinteressado ao próximo. Tem ele diante de si enormes possibilidades para realizar integralmente grandes e produtivas tarefas, desde que se mostre dócil aos ensinamentos de Mais Alto e devotado à exemplificação sincera da Doutrina Espírita. Quer no trato mediúnico, quer fora dele, o médium está envolto em crescentes responsabilidades e tem de dar de si, sem querer nada para si. Exemplifica o mais que pode os princípios doutrinários do Espiritismo, tendo em mente estas palavras do Codificador: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para dominar suas inclinações más.” São ainda de Allan Kardec estas palavras, insertas em “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.”

            Uma das mais belas evidências de compreensão espírita é a que dão os médiuns que jamais mercantilizaram sua mediunidade. Por mais modestos e humildes que sejam, possuem a alta dignidade de preservar seus recursos mediúnicos das nódoas da profissionalização. E, sendo paupérrimos de pecúnia, são milhardários de virtude, porque realizam seus trabalhos com a maior dedicação, aceitando os sacrifícios muitas vezes pesados dos encargos com construtiva resignação, Desse modo, realizam soberba e emocionante exemplificação evangélica.

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            Para muitas pessoas pouco atentas ou superficiais, ser humilde é o mesmo que ser passivo e abúlico, incapaz de uma reação salutar contra o mal, contra os abusos multiformes, contra quaisquer excessos danosos. Semelhante maneira de pensar demonstra apenas incompreensão quanto à legítima definição da humildade, dentro da conceituação espírita. Ser humilde é ser brando, pacífico, paciente, discreto, comedido, ponderado. A humildade não recusa a energia oportuna, porque é possível ser enérgico sem transpor as limitações evangélicas. Ser humilde é revelar esclarecida tolerância, não fechar os olhos ao mal para parecer bom. A energia bem empregada pode estimular o faltoso a corrigir-se e recuperar-se moralmente. Se a humildade permanecesse rastejante ou se embrenhasse nas matas da adulação, seria servilismo. Convém não confundir uma com o outro.  O espírita não deverá jamais ser servil, do contrário não será realmente espírita. Todavia, deverá ser humilde e compreensivo. Nem a tolerância importa na concordância com o mal nem na desculpa sistemática aos contumazes no erro e no vício, Se assim fora, a tolerância se transformaria em conivência, embora involuntária.

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            A humildade, tal como a compreendemos, é tudo isto: bondade, compreensão, indulgência, misericórdia, paciência, solidariedade, discrição, caridade e amor; capacidade de esclarecer, possibilidade de orientar, disposição para perdoar, deliberação para servir e amparar, sobrepondo-se a preconceitos ridículos e a susceptibilidades tolas; preparação para salvar, se possível. Essa, a nosso ver, é a humildade, que se desdobra e se desenvolve em todos esses nobres atributos do caráter humano. Um espírita sem humildade será como um corpo sem alma. Convém, no entanto, distinguir bem o conceito espírita da humildade com o conceito vulgar, que anda por aí. O humilde não é um fraco, mas um forte. Só os fortes de espírito podem ser brandos, pacientes e serenos. Não é fácil ser humilde. Mas fácil é aparentar humildade. Basta, porém, algo sério para destruir essa simulada humildade. A característica dos fracos de espírito é a incapacidade de ser humilde, Então, a violência, a intolerância frequente, a altivez arrogante, que mascara o orgulho, e a revolta, que marca o caráter da vaidade insatisfeita, revelam a verdadeira personalidade do indivíduo que se julga forte, embora, na realidade, seja fraco. A verdadeira humildade desconhece a insolência, porque é sempre pacífica. Em vez de recorrer à violência, emprega, quando necessário, a energia sã que só os brandos de coração podem possuir. No próprio Evangelho, deixou Jesus a demonstração impressionantemente convincente do seu dinamismo e da sua coragem, da sua brandura inigualável e da sua coragem sem par, da sua energia espantosa e da sua bondade ilimitada. Foi um fraco? Em absoluto. Sua força tem sido tanta que, atravessando séculos e séculos, continuará a se projetar pela eternidade do mundo. Não há nada que impeça o espírita de reagir contra o mal. O que se estabelece é que o espírita saiba dirigir essa reação: Em vez de se dar muita atenção à letra, é mister atentar mais para o espírito, “porquanto a letra mata e o espírito vivifica”. “Não é possível que Jesus haja proibido se profligue o mal, uma vez que ele próprio nos deu o exemplo, tendo-o feito; até, em termos enérgicos. O que quis significar é que a autoridade para censurar está na razão direta da autoridade moral daquele que censura. Tornar-se alguém culpado daquilo que condena em outro é abdicar dessa autoridade, é privar-se do direito de repressão. A consciência íntima, ao demais, nega respeito e submissão voluntária àquele que, investido de um poder qualquer, viola as leis e os princípios de cuja aplicação lhe cabe o encargo. Aos olhos de Deus, uma única autoridade legítima existe: a que se apoia no exemplo que dá do bem. É o que, igualmente, ressalta das palavras de Jesus.” (“O Evangelho segundo o Espiritismo”, pág. 147) Se o médium segue a trilha evangélica, está mais perto da realidade espiritual do que aquele que se mantém indiferente ao Evangelho e apenas observa os fatos interessantes do fenomenismo. E um dos sinais mais evidentes da criatura evangelizada é a humildade digna, a humildade que se transmuda na renúncia pela satisfação de ser útil e bom. Nem outra é a função do médium consciente do seu papel no mundo terreno, senão servir, revelando sempre brandura de sentimentos, boa vontade e interesse em suavizar as dores alheias, como se fossem as próprias. Sem vaidade nem excessivos melindres, o médium se tornará mais forte para a execução de suas tarefas, recordando sempre que sua função primordial é servir de instrumento para que os Espíritos tragam ao mundo os bálsamos de que tanto necessita a Humanidade para curar-se dos males que muito a afligem, males que são muito mais sérios quando afetam o espírito do que quando se denunciam na carne.


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