04) A Humildade
do Médium
por Indalício
Mendes
Reformador
(FEB) Maio 1958
Uma
das preocupações do médium verdadeiramente ciente de sua função na vida terrena
deve ser a do serviço dedicado e desinteressado ao próximo. Tem ele diante de
si enormes possibilidades para realizar integralmente grandes e produtivas
tarefas, desde que se mostre dócil aos ensinamentos de Mais Alto e devotado à
exemplificação sincera da Doutrina Espírita. Quer no trato mediúnico, quer fora
dele, o médium está envolto em crescentes responsabilidades e tem de dar de si,
sem querer nada para si. Exemplifica o mais que pode os princípios doutrinários
do Espiritismo, tendo em mente estas palavras do Codificador: “Reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para dominar suas inclinações más.” São ainda de Allan Kardec estas palavras,
insertas em “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “O Espiritismo não institui
nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do
Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam.”
Uma
das mais belas evidências de compreensão espírita é a que dão os médiuns que
jamais mercantilizaram sua mediunidade. Por mais modestos e humildes que sejam,
possuem a alta dignidade de preservar seus recursos mediúnicos das nódoas da
profissionalização. E, sendo paupérrimos de pecúnia, são milhardários de
virtude, porque realizam seus trabalhos com a maior dedicação, aceitando os
sacrifícios muitas vezes pesados dos encargos com construtiva resignação, Desse
modo, realizam soberba e emocionante exemplificação evangélica.
*
Para
muitas pessoas pouco atentas ou superficiais, ser humilde é o mesmo que ser
passivo e abúlico, incapaz de uma reação salutar contra o mal, contra os abusos
multiformes, contra quaisquer excessos danosos. Semelhante
maneira de pensar demonstra apenas incompreensão quanto à legítima definição da
humildade, dentro da conceituação espírita. Ser humilde é ser brando, pacífico,
paciente, discreto, comedido, ponderado. A humildade não recusa a energia
oportuna, porque é possível ser enérgico sem transpor as limitações
evangélicas. Ser humilde é revelar esclarecida tolerância, não fechar os olhos
ao mal para parecer bom. A energia bem empregada pode estimular o faltoso a
corrigir-se e recuperar-se moralmente. Se a humildade permanecesse rastejante
ou se embrenhasse nas matas da adulação, seria servilismo. Convém não confundir
uma com o outro. O espírita não deverá
jamais ser servil, do contrário não será realmente espírita. Todavia, deverá
ser humilde e compreensivo. Nem a tolerância importa na concordância com o mal
nem na desculpa sistemática aos contumazes no erro e no vício, Se assim fora, a
tolerância se transformaria em conivência, embora involuntária.
*
A
humildade, tal como a compreendemos, é tudo isto: bondade, compreensão,
indulgência, misericórdia, paciência, solidariedade, discrição, caridade e
amor; capacidade de esclarecer, possibilidade de orientar, disposição para
perdoar, deliberação para servir e amparar, sobrepondo-se a preconceitos
ridículos e a susceptibilidades tolas; preparação para salvar, se possível.
Essa, a nosso ver, é a humildade, que se desdobra e se desenvolve em todos
esses nobres atributos do caráter humano. Um espírita sem humildade será como
um corpo sem alma. Convém, no entanto, distinguir bem o conceito espírita da
humildade com o conceito vulgar, que anda por aí. O humilde não é um fraco, mas
um forte. Só os fortes de espírito podem ser brandos, pacientes e serenos. Não é
fácil ser humilde. Mas fácil é aparentar humildade. Basta, porém, algo sério
para destruir essa simulada humildade. A característica dos fracos de espírito é a
incapacidade de ser humilde, Então, a violência, a intolerância frequente, a altivez arrogante, que
mascara o orgulho, e a revolta, que marca o caráter da vaidade insatisfeita, revelam a
verdadeira personalidade do indivíduo que se julga forte, embora, na realidade, seja fraco. A
verdadeira humildade desconhece a insolência, porque é sempre pacífica. Em vez
de recorrer à violência, emprega, quando necessário, a energia sã que só os
brandos de coração podem possuir. No próprio Evangelho, deixou Jesus a
demonstração impressionantemente convincente do seu dinamismo e da sua coragem,
da sua brandura inigualável e da sua coragem sem par, da sua energia espantosa
e da sua bondade ilimitada. Foi um fraco? Em absoluto. Sua força tem sido tanta
que, atravessando séculos e séculos, continuará a se projetar pela eternidade
do mundo. Não há nada que impeça o espírita de reagir contra o mal. O que se
estabelece é que o espírita saiba dirigir essa reação: Em vez de se dar muita
atenção à letra, é mister atentar mais para o espírito, “porquanto a letra mata
e o espírito vivifica”. “Não é possível que Jesus haja proibido se profligue o
mal, uma vez que ele próprio nos deu o exemplo, tendo-o feito; até, em termos
enérgicos. O que quis significar é que a autoridade para censurar está na razão
direta da autoridade moral daquele que censura. Tornar-se alguém culpado daquilo
que condena em outro é abdicar dessa autoridade, é privar-se do direito de
repressão. A consciência íntima, ao demais, nega respeito e submissão
voluntária àquele que, investido de um poder qualquer, viola as leis e os
princípios de cuja aplicação lhe cabe o encargo. Aos olhos de Deus, uma única
autoridade legítima existe: a que se apoia no exemplo que dá do bem. É o que,
igualmente, ressalta das palavras de Jesus.” (“O Evangelho segundo o
Espiritismo”, pág. 147) Se o médium segue a trilha evangélica, está mais perto
da realidade espiritual do que aquele que se mantém indiferente ao Evangelho e
apenas observa os fatos interessantes do fenomenismo. E um dos sinais mais
evidentes da criatura evangelizada é a humildade digna, a humildade que se
transmuda na renúncia pela satisfação de ser útil e bom. Nem outra é a função
do médium consciente do seu papel no mundo terreno, senão servir, revelando
sempre brandura de sentimentos, boa vontade e interesse em suavizar as dores
alheias, como se fossem as próprias. Sem vaidade nem excessivos melindres, o
médium se tornará mais forte para a execução de suas tarefas, recordando sempre
que sua função primordial é servir de instrumento para que os Espíritos tragam
ao mundo os bálsamos de que tanto necessita a Humanidade para curar-se dos
males que muito a afligem, males que são muito mais sérios quando afetam o
espírito do que quando se denunciam na carne.
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