quinta-feira, 27 de junho de 2013

01) A tarefa mediúnica no mundo em crise


              Quando da leitura recente de um artigo sobre Mediunidade escrito pelo Indalício Mendes ainda em 1959, deparamo-nos com a afirmação dele que aquele artigo fazia parte de uma série de artigos já publicados em Reformador (FEB) desde o início de 1958, todos sobre o tema Mediunidade.
            Afortunadamente, estão à nossa disposição praticamente todos os exemplares do biênio 1958-59 de Reformador - órgão maior de divulgação do Espiritismo no Brasil.
            Assim sendo, aqui vão 15 artigos sobre Mediunidade escritos pelo saudoso Indalício Mendes.  Não garantimos que conseguimos juntar todos eles para o período abordado mas já é um bocado de material para nossa reflexão e estudo.       
            Fraternalmente,
            A Equipe do Blog.
            PS
            Ao final, a palavra do professor Eurípedes e de outros luminares. Vocês vão gostar. Temos certeza.


01) A tarefa mediúnica
 no mundo em crise

por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Fevereiro 1958

            São bem árduos os tempos atuais, porque a Humanidade se encontra superexcitada pela ameaça permanente de conflitos armados e entende que a melhor maneira de se libertar das preocupações cotidianas está no recurso ao hedonismo, que considera o prazer o fim da existência humana. E é justamente nessa corrida louca para os prazeres que está a maior ameaça à felicidade humana. Compreende-se, portanto, a importância excepcional que o exercício da mediunidade assume contemporaneamente e, paralelamente ao trabalho mediúnico metódico, a obra de esclarecimento espírita, fundamentada no Evangelho.

            O Espiritismo não estimula o misticismo mórbido, porém orienta, educa o sentimento do homem e lhe ensina o caminho da reabilitação moral. De nada adianta falar aos ouvidos humanos, sem que se atinja o coração das criaturas. Nem os espíritas intentam falar na salvação da Humanidade, mostrando-lhes a efígie trágica de Jesus crucificado, porque o Jesus que sofreu no Gólgota está vivo e nos fala pelas páginas do Evangelho, conclamando-nos a todos para a luta incruenta pela redenção do homem pelo próprio homem!

            Devemos considerar o Espiritismo evangélico, que é o Consolador prometido pelo Mestre, como o instrumento da salvação humana. Todavia, preciso se torna compreender que somos nós que temos de trabalhar por alcançar a redenção, corrigindo-nos, mostrando-nos tolerantes e amigos, bem como pacientes e pertinazes na grande batalha contra as inferioridades que nos retardam a evolução moral.

            Que papel pode desempenhar o médium, nesse caso? Fora de dúvida, um papel importantíssimo, porque ele tem a faculdade de servir de intermediário aos ensinamentos que nos chegam do mundo invisível e pode ajudar poderosamente a levar a Humanidade para o caminho certo, desde que se desincumba dedicada e lucidamente de seus misteres mediúnicos.

            Há necessidade de incrementar o trabalho de desenvolvimento dos médiuns potenciais, como há necessidade de organizar suas tarefas, para que a mediunidade não se faça estéril, não se perca em ambientes inadequados nem os médiuns acabem por desinteressar-se de tão abençoadas obrigações.

            Não basta se fale em Evangelho. O essencial é que se viva o Evangelho, que se tenha o Evangelho nos atos e nas palavras, no pensamento e na intimidade do coração. Todos precisamos adquirir o hábito da conduta evangélica. Principalmente para aqueles que nos agravam é que precisamos de usar a tolerância esclarecida. Não devemos ceder a doutrinas enganosas, que procuram vicejar à sombra do Espiritismo, tentando enfraquecer-nos o esforço doutrinário. Temos o dever de resistir evangelicamente, usando, em nossa defesa e na defesa do Espiritismo, a Doutrina que nos foi dada pelo Alto, através da Codificação realizada por Allan Kardec.

            A Federação Espírita Brasileira sempre foi uma Casa do Evangelho. Lembramo-nos bem dos vultos que por ela têm passado, palmilhando a senda do Espiritismo Cristão. Lembramo-nos, então, de figuras tradicionais dos nossos meios, como Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Leopoldo Cirne, Antônio Luiz Saião, Guillon Ribeiro, Manuel Quintão, Pedro Richard, Paiva Júnior, além de outros que exaltavam a Doutrina e explanavam os Evangelhos, oferecendo soberbas lições de exegese do Cristianismo segundo o Espiritismo.

*

            Acha-se o nosso mundo em aguda crise desde a última Grande Guerra, melindroso período de transição que o materialismo torna torturante. A Humanidade é presa de uma nevrose que a conduz rapidamente ao desespero. Como sempre acontece durante as crises da Humanidade, surgem pobres irmãos atordoados por confuso misticismo, aumentando a confusão reinante, ajudados pela ânsia indefinível de muitas criaturas que têm olhos de ver e não veem que o que lhes é oferecido não possui consistência nem lógica. Por isto, não são poucos os que se deixam iludir e se põem a acompanhar visionários que estão fora da realidade espiritual. O Espiritismo Cristão, de que a Federação Espírita Brasileira é um símbolo, mostra ao homem o rumo que deve seguir, para que não seja como o navegante perdido na imensidão do mar, sem a bússola retificadora de seu itinerário. No Espiritismo, os homens são secundários, pouco representam, se não corporificam a Doutrina Espírita, se não ilustram sua vida na exemplificação evangélica. Por isto é que não seguimos homens: acompanhamos a Ideia, concretizada na Doutrina codificada por Kardec e nos postulados do Espiritismo Cristão que Roustaing apresentou ao mundo, reafirmando a ciclópica tarefa do Codificador. Precisamos distinguir essa situação que se faz dúbia quando não se possui a compreensão real da importância do Espiritismo na vida individual e coletiva dos homens.

            Quando se fala em Doutrina, quando se alude ao Espiritismo Cristão, a mediunidade ressurge naturalmente, como elemento prodigioso de trabalho, como instrumento magnífico de amor ao próximo, no desempenho da caridade em suas múltiplas formas. O que fica da vida de cada ser humano é o que ele pensa e efetua em função do bem. Quando vemos o esforço quase miraculoso da Assistência aos Necessitados da FEB, compreendemos o enorme prestígio da caridade prática, da caridade objetiva e subjetiva, da caridade em espírito e verdade. O trabalho mediúnico realizado segundo a Doutrina Espírita é sempre um trabalho de caridade, principalmente se assente na orientação evangélica. É preciso, no entanto, que se compreenda perfeitamente a ilimitada extensão do conceito de caridade, que não se resume só em dar pão aos que têm fome e água a quem tem sede. A assistência à matéria não dispensa a assistência ao espírito. Nem tão pouco a caridade se limita a conselhos evangélicos, sem o auxílio material oportuno. Por isto é que no Espiritismo compreendemos a razão impressionante do lema: “Fora da caridade não há salvação.”

            Não se suponha estejamos a dar presumidamente lições aos confrades. Nem se pense estarmos dizendo estas coisas apenas para a meditação dos que nos leem. Dizemo-las principalmente a nós mesmos, porque somos dos mais necessitados de luz e evangelização. Vivemos em tentativas diárias para acertar o passo, mas nunca tivemos em mira, quando escrevemos, ministrar ensinamentos a quem quer que seja, porque, na verdade, estamos na categoria de ínfimos aprendizes, que precisam insistir no estudo e principalmente na exemplificação, para assimilarem um mínimo de tão proveitosas lições de Kardec e Roustaing. O que transmitimos está nas obras assinadas pelo Codificador e em “Os Quatro Evangelhos”. À força de repeti-las, pode ser que o nosso Espírito se beneficie no aprendizado permanente. Cultivar a humildade digna é um propósito que não desejamos esquecer, muito embora nem sempre saibamos dar o testemunho indispensável e falhemos quando mais urgente se torna a demonstração de que efetivamente perseguimos esse intento. Na série de artigos que vimos escrevendo sobre a mediunidade e os médiuns, recolhendo das obras básicas do Espiritismo os argumentos expendidos, temos apenas o objetivo de cooperar de algum modo para ajudar o esforço dos espíritas bem esclarecidos. Sentíamos a necessidade desta afirmativa, porque vemos sempre em nossa lembrança os exemplos magníficos de homens que tanto valorizaram o Espiritismo no Brasil, com o testemunho da humildade e com a humildade do testemunho. A figura tradicional de Pedro Richard, por exemplo, jamais foi esquecida, como não deixa nunca de viver na nossa memória a grandeza moral de Guillon Ribeiro, que sabia esconder sua grande cultura humanística, sua sabedoria, no manto alvo e inconsútil da humildade.

*

            Saibam os médiuns, portanto, que seus compromissos com o presente e o futuro são gigantescos e estão intimamente ligados a compromissos sérios com o passado. Quanto mais se devotarem ao cultivo da Doutrina e do Evangelho segundo o Espiritismo, mais penetrarão no foco de luz que assinala a progressão espiritual. O Espiritismo não teme que o combatam e o neguem, porque confia na sua própria força, oriunda do Alto. E sabe que poderá contar com os médiuns na difusão de seus princípios de paz, amor e compreensão da vida humana em correlação com a vida espiritual. Todos, pobres e ricos, grandes e pequenos, fortes e fracos, indistintamente, terão de tomar o mesmo caminho, porque só há um itinerário para a felicidade humana, que é o Cristo em Espírito e Verdade. Ninguém foge à Lei de Causa e Efeito, porque ninguém escapa à Lei do Progresso, condicionada às reencarnações purificadoras.

            Quanto mais sofre o mundo, mais importante se torna o trabalho dos médiuns. É imprescindível que eles compreendam a magnitude de sua atividade mediúnica e que a exerçam com dedicação crescente e perfeita noção dos deveres determinados na Doutrina Espírita. Para isso, aí está o Espiritismo Cristão, que eleva diante de nós Jesus-Espírito, Jesus-Vivo, Jesus radiante de bondade e amor, fora da cruz, livre da coroa de espinhos! Cumpre aos médiuns, tanto quanto aos doutrinadores, a difusão do Espiritismo, que é o Cristianismo do Cristo, tal como ao tempo da peregrinação visível do Mestre pela Terra!


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