Quando da leitura recente de um artigo sobre Mediunidade escrito pelo
Indalício Mendes ainda em 1959, deparamo-nos com a afirmação dele que aquele
artigo fazia parte de uma série de artigos já publicados em Reformador (FEB) desde
o início de 1958, todos sobre o tema Mediunidade.
Afortunadamente, estão
à nossa disposição praticamente todos os exemplares do biênio 1958-59 de
Reformador - órgão maior de divulgação do Espiritismo no Brasil.
Assim sendo, aqui vão
15 artigos sobre Mediunidade escritos pelo saudoso Indalício Mendes. Não garantimos que conseguimos juntar todos
eles para o período abordado mas já é um bocado de material para nossa reflexão
e estudo.
Fraternalmente,
A Equipe do Blog.
PS
Ao final, a palavra do
professor Eurípedes e de outros luminares. Vocês vão gostar. Temos certeza.
01) A
tarefa mediúnica
no mundo em crise
por Indalício Mendes
Reformador
(FEB) Fevereiro 1958
São
bem árduos os tempos atuais, porque a Humanidade se encontra superexcitada pela
ameaça permanente de conflitos armados e entende que a melhor maneira de se
libertar das preocupações cotidianas está no recurso ao hedonismo, que
considera o prazer o fim da existência humana. E é justamente nessa corrida
louca para os prazeres que está a maior ameaça à felicidade humana.
Compreende-se, portanto, a importância excepcional que o exercício da
mediunidade assume contemporaneamente e, paralelamente ao trabalho mediúnico
metódico, a obra de esclarecimento espírita, fundamentada no Evangelho.
O
Espiritismo não estimula o misticismo mórbido, porém orienta, educa o
sentimento do homem e lhe ensina o caminho da reabilitação moral. De nada
adianta falar aos ouvidos humanos, sem que se atinja o coração das criaturas.
Nem os espíritas intentam falar na salvação da Humanidade, mostrando-lhes a
efígie trágica de Jesus crucificado, porque o Jesus que sofreu no Gólgota está vivo e nos fala pelas
páginas do Evangelho, conclamando-nos a todos para a luta incruenta pela redenção do
homem pelo próprio homem!
Devemos
considerar o Espiritismo evangélico, que é o Consolador prometido pelo Mestre,
como o instrumento da salvação humana. Todavia, preciso se torna compreender
que somos nós que temos de trabalhar por alcançar a redenção, corrigindo-nos,
mostrando-nos tolerantes e amigos, bem como pacientes e pertinazes na grande
batalha contra as inferioridades que nos retardam a evolução moral.
Que
papel pode desempenhar o médium, nesse caso? Fora de dúvida, um papel
importantíssimo, porque ele tem a faculdade de servir de intermediário aos
ensinamentos que nos chegam do mundo invisível e pode ajudar poderosamente a
levar a Humanidade para o caminho certo, desde que se desincumba dedicada e
lucidamente de seus misteres mediúnicos.
Há
necessidade de incrementar o trabalho de desenvolvimento dos médiuns
potenciais, como há necessidade de organizar suas tarefas, para que a
mediunidade não se faça estéril, não se perca em ambientes inadequados nem os
médiuns acabem por desinteressar-se de tão abençoadas obrigações.
Não
basta se fale em Evangelho. O essencial é que se viva o Evangelho, que se tenha o Evangelho nos atos e nas palavras, no
pensamento e na intimidade do coração. Todos precisamos adquirir o hábito da
conduta evangélica. Principalmente para aqueles que nos agravam é que precisamos
de usar a tolerância esclarecida. Não devemos ceder a doutrinas enganosas, que
procuram vicejar à sombra do Espiritismo, tentando enfraquecer-nos o esforço
doutrinário. Temos o dever de resistir evangelicamente, usando, em nossa defesa
e na defesa do Espiritismo, a Doutrina que nos foi dada pelo Alto, através da
Codificação realizada por Allan Kardec.
A
Federação Espírita Brasileira sempre foi uma Casa do Evangelho. Lembramo-nos
bem dos vultos que por ela têm passado, palmilhando a
senda do Espiritismo Cristão. Lembramo-nos, então, de figuras tradicionais dos
nossos meios, como Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Leopoldo Cirne,
Antônio Luiz Saião, Guillon Ribeiro, Manuel Quintão, Pedro Richard, Paiva
Júnior, além de outros que exaltavam a Doutrina e explanavam os Evangelhos,
oferecendo soberbas lições de exegese do Cristianismo segundo o Espiritismo.
*
Acha-se
o nosso mundo em aguda crise desde a última Grande Guerra, melindroso período
de transição que o materialismo torna torturante. A Humanidade é presa de uma
nevrose que a conduz rapidamente ao desespero. Como sempre acontece durante as
crises da Humanidade, surgem pobres irmãos atordoados por confuso misticismo,
aumentando a confusão reinante, ajudados pela ânsia indefinível de muitas
criaturas que têm olhos de ver e não veem que o que lhes é oferecido não possui
consistência nem lógica. Por isto, não são poucos os que se deixam iludir e se
põem a acompanhar visionários que estão fora da realidade espiritual. O
Espiritismo Cristão, de que a Federação Espírita Brasileira é um símbolo,
mostra ao homem o rumo que deve seguir, para que não seja como o navegante
perdido na imensidão do mar, sem a bússola retificadora de seu itinerário. No
Espiritismo, os homens são secundários, pouco representam, se não corporificam
a Doutrina Espírita, se não ilustram sua vida na exemplificação evangélica. Por
isto é que não seguimos homens: acompanhamos a Ideia, concretizada na Doutrina
codificada por Kardec e nos postulados do Espiritismo Cristão que Roustaing
apresentou ao mundo, reafirmando a ciclópica tarefa do Codificador. Precisamos
distinguir essa situação que se faz dúbia quando não se possui a compreensão
real da importância do Espiritismo na vida individual e coletiva dos homens.
Quando
se fala em Doutrina, quando se alude ao Espiritismo Cristão, a mediunidade
ressurge naturalmente, como elemento prodigioso de trabalho, como instrumento
magnífico de amor ao próximo, no desempenho da caridade em suas múltiplas
formas. O que fica da vida de cada ser humano é o que ele pensa e efetua em
função do bem. Quando vemos o esforço quase miraculoso da Assistência aos
Necessitados da FEB, compreendemos o enorme prestígio da caridade prática, da
caridade objetiva e subjetiva, da caridade em espírito e verdade. O trabalho
mediúnico realizado segundo a Doutrina Espírita é sempre um trabalho de
caridade, principalmente se assente na orientação evangélica. É preciso, no
entanto, que se compreenda perfeitamente a ilimitada extensão do conceito de
caridade, que não se resume só em dar pão aos que têm fome e água a quem tem
sede. A assistência à matéria não dispensa a assistência ao espírito. Nem tão pouco
a caridade se limita a conselhos evangélicos, sem o auxílio material oportuno.
Por isto é que no Espiritismo compreendemos a razão impressionante do lema: “Fora
da caridade não há salvação.”
Não
se suponha estejamos a dar presumidamente lições aos confrades. Nem se pense estarmos dizendo estas coisas apenas para a
meditação dos que nos leem. Dizemo-las principalmente a nós mesmos, porque
somos dos mais necessitados de luz e evangelização. Vivemos em tentativas
diárias para acertar o passo, mas nunca tivemos em mira, quando escrevemos,
ministrar ensinamentos a quem quer que seja, porque, na verdade, estamos na categoria
de ínfimos aprendizes, que precisam insistir no estudo e principalmente na
exemplificação, para assimilarem um mínimo de tão proveitosas lições de Kardec
e Roustaing. O que transmitimos está nas obras assinadas pelo Codificador e em “Os
Quatro Evangelhos”. À força de repeti-las, pode ser que o nosso Espírito se
beneficie no aprendizado permanente. Cultivar a humildade digna é um propósito
que não desejamos esquecer, muito embora nem sempre saibamos dar o testemunho
indispensável e falhemos quando mais urgente se torna a demonstração de que
efetivamente perseguimos esse intento. Na série de artigos que vimos escrevendo
sobre a mediunidade e os médiuns, recolhendo das obras básicas do Espiritismo
os argumentos expendidos, temos apenas o objetivo de cooperar de algum modo
para ajudar o esforço dos espíritas bem esclarecidos. Sentíamos a necessidade
desta afirmativa, porque vemos sempre em nossa lembrança os exemplos magníficos
de homens que tanto valorizaram o Espiritismo no Brasil, com o testemunho da humildade
e com a humildade do testemunho. A figura tradicional de Pedro Richard, por
exemplo, jamais foi esquecida, como não deixa nunca de viver na nossa memória a
grandeza moral de Guillon Ribeiro, que sabia esconder sua grande cultura
humanística, sua sabedoria, no manto alvo e inconsútil da humildade.
*
Saibam
os médiuns, portanto, que seus compromissos com o presente e o futuro são
gigantescos e estão intimamente ligados a compromissos sérios com o passado.
Quanto mais se devotarem ao cultivo da Doutrina e do
Evangelho segundo o Espiritismo, mais penetrarão no foco de luz que assinala a progressão
espiritual. O Espiritismo não teme que o combatam e o neguem, porque confia na sua própria força,
oriunda do Alto. E sabe que poderá contar com os médiuns na difusão de seus
princípios de paz, amor e compreensão da vida humana em correlação com a vida
espiritual. Todos, pobres e ricos, grandes e pequenos, fortes e fracos,
indistintamente, terão de tomar o mesmo caminho, porque só há um itinerário
para a felicidade humana, que é o Cristo em Espírito e Verdade. Ninguém foge à
Lei de Causa e Efeito, porque ninguém escapa à Lei do Progresso, condicionada
às reencarnações purificadoras.
Quanto
mais sofre o mundo, mais importante se torna o trabalho dos médiuns. É
imprescindível que eles compreendam a magnitude de sua atividade mediúnica e
que a exerçam com dedicação crescente e perfeita noção dos deveres determinados
na Doutrina Espírita. Para isso, aí está o Espiritismo Cristão, que eleva
diante de nós Jesus-Espírito, Jesus-Vivo, Jesus radiante de bondade e amor,
fora da cruz, livre da coroa de espinhos! Cumpre aos médiuns, tanto quanto aos
doutrinadores, a difusão do Espiritismo, que é o Cristianismo do Cristo, tal
como ao tempo da peregrinação visível do Mestre pela Terra!
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