Qual
o futuro do homem
para lá do túmulo?
Rodolfo
Calligaris
Malgrado
todos os espiritualistas cristãos (considerados como tais os que concebem a
alma como um ser moral distinto do corpo físico, ao qual sobrevive) apontem as
Escrituras Sagradas como base dos princípios fundamentais de sua fé, várias e
contraditórias são as suas teorias acerca dessa magna questão.
Na opinião de uns, a
sorte das almas decide-se no próprio instante da morte. As "eleitas" vão imediatamente para o céu, e as "rejeitadas", para o
inferno. Isso até o dia do juízo universal, ocasião em que voltarão a unir-se a
seus corpos ressurretos, sem os quais (dizem) nem aquelas conseguem ser
completamente felizes, nem estas podem ser convenientemente castigadas.
Segundo outra
concepção, além do céu e do inferno, existiria uma estância intermediária: o purgatório, lugar de expiação para as almas que, não estando
inteiramente livres do pecado, tenham algumas penas a descontar antes de serem recebidas no céu.
Também para os partidários desta crença, haverá, no juízo universal, uma
religação das almas a seus antigos corpos para que, juntos, recebam sua
sentença de glória ou de condenação.
No entender de
outros, ocorrendo a morte, as almas trespassadas perdem a consciência de tudo e ficam como que em sono profundo, até o evento do juízo. Somente
nesse dia é que os justos ressuscitarão para a vida eterna, sendo que os considerados maus
ou serão destruídos ou descerão para as regiões onde há choro e ranger de dentes.
Há ainda quem afirme
que o céu já está lotado por um número certo de almas santificadas, não havendo lá mais vaga para ninguém. No final dos tempos, os que
merecerem a graça da salvação, terão seu futuro "habitat" aqui mesmo na Terra,
que, devidamente expurgada, transformar-se-á em delicioso paraíso.
Essas doutrinas só se
põem inteiramente de acordo em um ponto. É quando dogmatizam que o homem vive apenas uma vez (ainda que, em certos casos, por
apenas alguns minutos), depois do que sua boa ou má sorte será definitivamente selada, sem que
lhe seja possível, além sepultura, arrepender-se e emendar-se.
Ora, o que se vê
neste mundo é que, do selvagem ao civilizado, os dons se evidenciam assaz desproporcionados, o mesmo acontecendo com o nível de
moralidade. Nem mesmo ao nas cerem, as criaturas se apresentam igualmente dotadas. Assim, se o
futuro de cada ser, na eternidade, dependesse realmente de uma só vida corpórea,
então Deus devera ensejar a todos as mesmas aptidões e oportunidades de
instruir-se, assim como igualar a duração da existência humana, porquanto
premiar uns com deleites infinitos e condenar outros a torturas atrozes para todo o sempre, sem lhes haver assegurado uniformidade de condições
para merecerem este ou aquele destino, constituiria a mais tremenda injustiça.
Outrossim, se os
mortos não pudessem, mesmo, arrepender-se de seus erros, nem tomar novas
resoluções, qual a utilidade da pregação do Evangelho feita a eles pelo próprio
Cristo, como se lê em I S. Pedro, 4:6?
A Doutrina Espírita
responde à indagação que serve de título a estas linhas dizendo que, como filhos de Deus, criados à Sua imagem e semelhança, todos os
homens se destinam à perfeição, o que vale dizer, à felicidade.
Através das vidas
sucessivas, todos hão de assenhorear-se da Verdade e, de progresso em progresso, vir a "amar o próximo como a si mesmos",
conquistando destarte o "reino do céu", que é um estado (retidão de consciência) e não propriamente um lugar.
Com tal destinação, a
alma deve caminhar sempre para a frente e para o alto, crescendo em ciência e em virtude, rumo à Razão Infinita e ao Supremo Bem.
Cada uma das
existências terrestres ou nos milhares de mundos que pontilham o Universo, não é senão um episódio da grande vida imortal. Em cada uma delas,
vencemos um pouco da ignorância e do egoísmo que há em nós, depuramo-nos,
fortalecemo-nos intelectual e moralmente, até que, por merecimento próprio,
adquiramos o acesso aos planos superiores da espiritualidade, moradas de eterna
beleza, sabedoria e amor!
Leitor amigo: não é
esta a doutrina que melhor se coaduna com a majestade e os excelsos atributos do Criador?
Reformador (FEB) Março 1964
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