Causa de Ismael
Alberto
Nogueira Gama
1
Reformador
(FEB) Janeiro 1964
Depois daquele solene momento em que o Cristo de Deus entregou ao Anjo
do Senhor a flâmula olímpica de Sua Alma, na qual Ismael gravou a inspirada e
sublime divisa - "Deus, Cristo e Caridade" - muita coisa aconteceu no
dobar dos anos, dentro da marcha incessante do Tempo.
Disse-lhe
o Mestre de Nazaré, naquela memorável oportunidade:
"- Ismael, manda o meu coração que doravante
sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro.
Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi
no coração, obedecendo a sagradas inspirações do nosso Pai. Reúne as
incansáveis falanges do Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de minha
doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento. Para
aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua
abnegação e com o teu sublimado heroísmo: Ela será a doce paisagem dilatada do
Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina. Guarda
este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua coragem e
do teu propósito de bem servir à causa de Deus e, sobretudo, lembra-te sempre
de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres, com os quais abrirás
para a Humanidade dos séculos futuros um caminho novo, mediante a sagrada
revivescência do Cristianismo."
Daí
por diante muita coisa sucedeu (e são todos os fatos que abrem e formam
capítulos na História do Brasil), até que um acontecimento, de funda
repercussão espiritual, ocorresse na sequência das horas que assinalam os
episódios marcantes de um povo, de uma nacionalidade: a Proclamação da
República. O Brasil atingia sua maioridade coletiva.
Nos
planos mais altos da Espiritualidade, congrega o Senhor as falanges de Ismael e
dos seus dedicados colaboradores e, ante o Infinito povoado de miríades de
luzes tremeluzentes, proclama:
"- Consolidareis o templo de Ismael, para
que do seu núcleo possam expandir-se, por toda a extensão territorial da pátria
brasileira, as claridades consoladoras da minha doutrina de redenção, de
piedade e de misericórdia. Ensinareis aos meus novos discípulos encarnados a
paciência e a serenidade, a humildade e o amor, a paz e a resignação, para que
a luta seja vencida pela luz e pela verdade.
Abrireis
para a caravana do Evangelho, que marcha ao longo dos caminhos da sombra, a
estrada da revolução interior, cujo objetivo único é a reforma de cada um, sob
o fardo das provas, sem o recurso à indisciplina perante as leis estatuídas ao mundo
e sem o auxílio das armas homicidas."
A
mudança da forma de governo tumultuou algum tanto a situação, redundando,
inicialmente, em certos embaraços e transtornos, cujos reflexos se faziam
sentir sobre a marcha do Espiritismo no Brasil. Tornava-se imperiosa a união
dos espiritistas, sob pena de terem que assistir, impassíveis e indefesos, a um
calamitoso esfacelamento de suas mais cariciosas esperanças de cultivadores da
Doutrina nascente.
Ismael
ora ao Senhor Jesus, que, compassivo, lhe acorre aos rogos e a ele transmite a
inspiração mais adequada às circunstâncias:
- Ismael - disse-lhe o Senhor -, concentraremos
agora todos os nossos esforços a fim de que se unifiquem os meus discípulos
encarnados, para a organização da obra impessoal e comum que iniciaste na
Terra. Na pátria dos meus ensinamentos, o Espiritismo será o Cristianismo
revivido na sua primitiva pureza, e faz-se mister coordenar todos os elementos
da causa generosa da Verdade e da Luz, para os triunfos do Evangelho. Procurarás,
entre todas as agremiações da doutrina, aquela que possa reunir no seu seio
todos os agrupamentos; colocarás aí a tua célula, a fim de que todas as
mentalidades postas na direção dos trabalhos evangélicos estejam afinadas pelo
diapasão da tua serenidade e do teu devotamento à minha seara. E como as
atividades humanas constituem, em todos os tempos, um oceano de inquietudes, a
caridade pura deverá ser a âncora da tua obra, ligada para sempre ao fundo dos
corações, no mar imenso das instabilidades humanas. A caridade valerá mais que
todas as ciências e filosofias, no transcurso das eras, e será com ela que
conseguirás consolidar a tua Casa e a tua obra."
Dentre
as muitas coisas que aconteceram, desde aquela memorável hora da augusta
presença de Jesus e Seus Emissários no "coração geográfico do orbe",
destacamos estas que mostram de maneira inequívoca e iniludível o empenho do
próprio Mestre em sagrar o Brasil como celeiro espiritual do Mundo e a
Federação Espírita Brasileira como fonte de abastecimento dos seus valores
eternos, radicada na Alta Espiritualidade.
Não
sendo nosso intuito fazer um histórico da Casa de Ismael, que é extenso e
intenso, cingir-nos-emos apenas à apresentação das principais realizações que justificam
à evidência a realidade dos transcendentais ascendentes de natureza divina que
lhe determinaram o aparecimento entre os homens.
Fundação
Precedida
do Grupo "Confúcio"; da Sociedade de Estudos Espíritas "Deus,
Cristo e Caridade"; da Sociedade Acadêmica "Deus, Cristo e
Caridade"; do Grupo Espírita "Fraternidade"; do "Grupo dos
Humildes", também conhecido pelo nome "Grupo do Sayão",
posteriormente "Grupo Ismael", que mais tarde veio a pertencer-lhe, a
1 de Janeiro de 1884 é concretizada a ideia de fundação da Federação
Espírita Brasileira, depois das providências preliminares tomadas na reunião de
27 de Dezembro de 1883, especialmente convocada para esse fim. Foram doze,
número bastante simbólico, os espíritas que fundaram a Federação, sendo de
notar que as sessões se realizaram na rua da Carioca nº 120, sobrado,
residência e local de trabalho de Elias
da Silva, um dos principais incentivadores daquele projeto.
No
dia 2 de Janeiro, procedeu-se à eleição da primeira diretoria da FEB, cujos componentes
merecem ser aqui lembrados: presidente, Francisco
Raimundo Ewerton Quadros; vice-presidente, Manuel Fernandes Figueira; secretário, João Francisco da Silveira Pinto; tesoureiro, Augusto Elias da Silva; arquivista, Francisco Antônio Xavier Pinheiro.
“Reformador”
Nesse
mesmo dia e ano, foi transferido à novel entidade o direito de propriedade de
"Reformador", por proposta do seu fundador, o abnegado seareiro Augusto Elias da Silva, que .o havia
lançado à circulação e o mantinha a expensas próprias desde 21 de Janeiro de
1883. A folha doutrinária trazia a qualificação - "órgão evolucionista".
Primeiros
livros
Integrado
na nova Instituição, o "Grupo dos Humildes", silencioso e só,
desenvolvia fecundo trabalho em sua intimidade, dando à publicidade os livros
"Trabalhos Espíritas" e
"Estudos Evangélicos",
ambos de autoria de Sayão, este último reeditado depois com o título "Elucidações Evangélicas". Não
tardou muito e outras novidades editoriais vinham a lume: "A Casa de Deus", de Júlio César Leal (a biblioteca do Blog tem este livro. Um dia postaremos...); "Revelações de Além-Túmulo", do Dr. Antão de Vascancellos (idem); "A Divina Epopeia", de Bittencourt
Sampaio; "Diálogos Espíritas", de Augusto José da Silva; o primeiro
volume de uma série de três, de "O Espiritismo -... Estudos
Filosóficos", de Max (Bezerra de Menezes); "Jesus perante a
Cristandade", do Espírito de Bittencourt Sampaio; etc. Não arrolamos aqui
as obras de Kardec e várias outras de procedência estrangeira, traduzidas e
publicadas sob os auspícios da Federação nos primórdios de sua existência.
Essa foi a primeira
safra de uma seara que se tornaria exuberante e dadivosa pelos tempos afora.
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