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Fenômenos
de Materialização
por Manoel Quintão
Livraria Editora da Federação
Espírita Brasileira
1942
Sursum Corda!
a/c
Não tendes
necessidade de que alguém vos ensine,
porque a unção que recebestes de Deus
permanece em vós e vos anima.
João 1ª Ep. 11, 27
De que servirá o
preço na mão do louco para comprar sabedoria,
pois não
não tem entendimento.
Salomão - Provérbios.
Confrades,
irmãos, amigos, aqui me tendes...
E
ao comparecer entre vós, ainda uma vez, não tenho em mira ensinar nem edificar,
mas comungar no santo propósito de atrair a este recinto os verdadeiros arautos
daquele Cristianismo que há vinte séculos se vem graduando no mundo e para o
mundo, através de vicissitudes e lutas que pareceriam irremissíveis, se, no
problema de sua remissão houvéramos de computar o fator Tempo, pela noção de
nossos calendários e não daqueles ciclos que entreabrem no ádito das consciências,
indefinível embora, a cortina da Eternidade.
Hoje,
de fato, vamos compreendendo, e mais - sentindo que o Mensageiro Divino, o Cristo de
Deus, em nome do qual eu vos saúdo, não falou nem exemplificou para um
"povo eleito" - qual o pretendera Pedro, com os judeus, nem apenas
para uma geração de gentios, como liberalmente quisera Paulo; mas para toda a
humanidade planetária e extra planetária, ad
vitam aeternam.
Na
casa ele meu Pai há muitas moradas (1) disse-o Ele, e mais: -
tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco (2).
(1) João XIV, 2
(2) João X, 16
Assim
considerando o Cristianismo do Cristo, mundial e gentílico, com Paulo, em
contradita a Pedro; e considerando que, ser cristão em Cristo é ser perfeito,
porque Ele também o disse: Sede, pois perfeitos como vosso pai celestial (3) - a sua doutrina não colimaria, apenas, frutos de uma existência
terrena, singular e única, para qualquer determinada geração, fixada no tempo e
no espaço.
(3) Mateus V, 48
Não,
confrades caros: o Cristianismo transcende, desde logo, nos seus primórdios, em
essência, a quaisquer convenções e restrições que lhe queira traçar a sempre
limitada inteligência humana.
Porque
o Cristianismo é luz, e a luz - como bem proclamou o grande vate Guerra
Junqueiro em magistral poema, (4) - não tem medida.
(4)
‘Funerais da Santa Sé’
A
que lhe atribuem os homens na contingência da própria evolução, é progressiva
no tempo e no espaço, tal como a conceitua Kardec na "Terceira
Revelação".
E
com isto, temos implícita e explicitamente firmados os postulados de
imortalidade e reencarnações sucessivas e progressivas, antevistos e rebuscados
por todas as pristinas Teogonias, por todas as escolas filosóficas, da mais
remota antiguidade histórica aos nossos dias, em que eles se reafirmam e
confirmam por fatos inconcussos e, de mais a mais, empolgantes.
Entretanto,
já que falamos em fatos, permitido nos seja dizer, em apoio de nossa tese, que
eles só por si não bastam para edificação na Fé, ou por outra: - que ela, a Fé,
por divina em essência, não nos chega através dos sentidos ditos corporais, nem
pela inteligência comum: - Tu viste, Tomé, e creste; felizes os que não viram e
creram (1).
João XX,
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Sim,
senhores, felizes dos que hoje, entre nós outros, já não precisam dos fenômenos
ostensivos da manifestação dos Espíritos para vê-los e senti-los dentro e fora
de si, vivos, ardentes, realíssimos e sublimados no mesmo hausto de eternidade,
em anseios de Amor, de Progresso e de Paz.
Sim,
porque esta era a verdadeira doutrina, a finalidade superior da "Santa
Eucaristia", que o Catolicismo cesareano deixou se corrompesse no
transcurso dos séculos, ao sabor de conveniências temporais, por implantar a
soberania calculada de um pontificado absoluto, infalível e inapelável!
Seria,
talvez, curioso traçar-vos aqui, sucintamente embora, o panegírico dessa luta
que se iniciou com Constantino, no ano 313 de nossa era, luta que ainda
perdura, sempre alterada na forma, porém, não desnaturada na essência; luta que
tem custado à humanidade Himalaias de sacrifícios em oblatas de sangue e lágrimas,
o que fez dizer a um sacerdote e doutor da Sorbonne (1) que a conversão do Imperador não converteu o Cesarismo mas perverteu o
Cristianismo.
(1) Pe Alta – Le Christianisme Cesaréen.
Evidentemente:
as adesões em massa diluvial à Igreja nascente, até a véspera arvorada em
escola de martírio, tal como se dá, hoje, entre os abissínios da politica
temporal, haveria de modificar, como modificou, toda a organização apostólica
em sua simplicidade e pureza originais, para transformá-la em instituição
mundana, substancialmente política e da pior politica, porque rebuçada da mais
ignóbil tirania: - a que pretende estrangular as consciências. Mas, seria com
tal penegírico desviar-nos do propósito aqui colimado, ainda porque, em
doutrina, ao método destrutivo, preferimos sempre o construtivo.
Allan
Kardec - figura modelar do bom senso - que é, como sabeis, estalão de
consolidada evolução e madureza espiritual - prescreve para a obra de
reconstrução racional da humanidade, que se não deve deslocar uma pedra sem
haver a mão outra que a substitua, sob pena de comprometimento de todo o
arcabouço arquitetônico.
E
também Jesus disse que não vinha destruir a Lei, mas dar-lhe cumprimento.
Que
a pedra fundamental da Verdade assenta na Fé, antes que no conhecimento e na inteligência...
Homens
de talento, homens ditos de ciência, são, em regra, os que mais céticos se nos
deparam, julgando-se emancipados de misticismo pela só observação dos fenômenos
exteriores tais como incidem nos seus aparelhos, por sua vez condicionados ao
relativismo das próprias faculdades, e esquecidos de que, fora do alcance de
sua objetivação concreta, há todo um infinito de forças que lhes escapa ao
conhecimento, mas não à razão.
Comum
é dizer-se que a ciência é o conhecimento exato da lei ou das leis que regem um fenômeno.
Nós,
do nosso ponto de vista, proporíamos outra definição, menos preciosa, sem
dúvida, porém mais razoável, qual a de observação e definição dos fenômenos,
tais como se nos apresentam, para lhes atribuir uma lei de causalidade imanente
e essencialmente incognitiva, sempre.
Assim,
quando estudamos a formação de um cristal podemos, até certo ponto, induzir a
existência de uma força de coesão, simétrica e constante, das suas moléculas,
para conhecer e determinar a forma de tais ou quais formações cristaloides.
O
que não podemos, jamais, é ponderar e definir a natureza dessa força.
Dinamismo
superior, denominou-a o Dr. Gustave Geley. (1)
(1) De
L’Inconscient au conscient
Questão de palavras... Não importa.
Se,
em vez de um fragmento de quartzo ou de sílica considerarmos uma semente
vegetal, poderemos presumir da sua decomposição e germinação no seio da terra;
poderemos computar os elementos físico-orgânicos que lhe promovem o
crescimento, a floração, a frutificação; poderemos decompor esses elementos e
fazer, em suma, a fisiologia e a anatomia da planta.
O
que não poderemos, jamais, é conhecer a força íntima desses elementos, nem
elabora-los ou sequer combina-los para a síntese viva de uma planta.
Destarte,
sabemos por indução e dedução, que na mais ínfima semente reside o potencial da
vida de uma arvore, ou de uma floresta; mas não conhecemos senão extrínseca,
empírica ou supositiciamente, a trama de energias convergentes e concorrentes à
individualização dessa planta.
Em
toda essa elaboração vital, em toda essa objetivação calculável e mensurável
aos nossos sentidos, permanece ou remanesce, da semente à flor, da raiz ao
fruto, todo um mistério.
E,
se do chamado reino vegetal passarmos ao animal?
Se
considerarmos a embriogenia em toda a sua multiformidade, do vibrião e do óvulo
á cítula, até ao ser autónomo, laboratório, por sua vez, de outras células, de
outros germens, de outras vidas?
Mistério,
pois, e sempre mistério! Mistério no micro, mistério no macrocosmo!
Mistério
do infusório e mistério de um mundo ou de um sistema de mundos - infusórios do
Infinito que não abrangemos, que não conhecemos, mas, que, - ainda por mistério
- sentimos dentro e fora de nós!
Oh!
Majestade divina! oh! Divino mistério!
Como
penetrar-Te, como a Ti ascender senão pela Fé, que também não definimos, porém
sentimos?
Sim,
irmãos pela Fé, pelo milagre da Fé ...
Sobrenatural?
Decerto. A Natureza é sobrenatural, como bem o afirmou o sabio Izoulet (1).
(1) Les forces
inconnues - Jules Bois, prefácio.
Mas,
a Natureza não é sobrenatural a si mesma, e revelando-nos intrínseca e
extrinsecamente a sua imanência, em determinismos inteligentes, deixa entrever
a perenidade do seu e nosso destino.
Não
têm razão os que negam a realidade do Invisível e do Intangível, porque ninguém
vê normalmente uma onda sonora, um fluido elétrico, como ninguém toca a
emanação de um perfume.
A
vida está por toda parte, e, se pesquisas oceanográficas a recolheram a
milhares de metros na profundeza abismal de mares congelados, ela pode, ela
deve abrolhar, igualmente, na profundeza abismal dos firmamentos estelares.
Ainda
há pouco, Picard remontava a estratosfera terrena, por estudar os raios cósmicos. Amanhã, - quem sabe - familiarizados com os ambientes
interplanetários, poderemos, graças a instrumentos ainda hoje inconcebíveis,
comunicar com os nossos irmãos Marcianos.
Marconi,
do seu iate ancorado em Gênova, iluminou a Exposição de Sydney, na Austrália! O
invisível e o intangível de hoje, serão o visível e tangível de amanhã. As
maravilhas do nosso século são oceanos de esperanças, são lenços brancos do
Infinito, agitados para nós, bojando realidades inéditas.
Esperemos;
mas, como esperar sem Fé?
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