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Ciência Religião Fanatismo
por Mínimus
(Antônio Wantuil
de Freitas)
Ed. FEB
c.1938
Palestra
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ESPIRITISMO
E CIÊNCIA
Com os olhos espirituais voltados
para o Alto, tangemos as cordas sensitivas da alma, na
esperança de que as vibrações geradas possam transmitir ao Ser dos Seres o
nosso reconhecimento, por permitir-nos nova oportunidade de palestrar convosco.
Crede que sentimos admiração,
vendo-vos novamente presentes à reunião de hoje, porquanto alguns jornais
anunciaram que o orador seríamos nós. Antes, pois, de entrarmos no
assunto das nossas cogitações, cumpre-nos apresentar-vos agradecimentos pelo
conforto que
nos trazeis, bem como cientificar-vos de que nos ufanamos dessa grande dose de
benevolência, que, mais uma vez, verificamos caracterizar os espíritas.
Como já percebestes, as nossas
palestras giram em torno da obra luminosa que os Espíritos nos transmitiram,
esforçando-nos por demonstrar que seus ensinamentos anteciparam o progresso da
ciência humana, que, dia a dia, mais se aproxima das verdades, conhecidas por
nós outros, há tantos anos, através do Livro dos Espíritos.
Procuramos seguir a mesma orientação
desse livro de Sabedoria, no qual é, aliás, observada a sequência geral a todas
as religiões: Primeiro - Deus, depois a matéria e, finalmente, o Espírito.
Todos os livros considerados
sagrados obedecem a essa ordem, e a orientação dos Espíritos da Terceira
Revelação não na alterou.
Digressamos algumas vezes,
desviando-nos do objeto da palestra, levado pelo entusiasmo do espírito diante
da grandiosidade e perfeição da obra do Senhor, ou perante a doçura e pureza
dos ensinamentos do seu Cristo, mas, espíritas que sois, deveis compreender que
esses arrebatamentos nos são habituais.
Aliás, não temos a pretensão de
esgotar o assunto deste ou daquele ponto, nem a presunção de que isso nos seria
possível. Desejamos, apenas, estimular os espíritas ao estudo e à meditação, e
apresentar-lhes, entre os argumentos que já lhes são conhecidos, outros que reputamos
úteis para conseguirem aproximações de criaturas ao Criador.
Na palestra anterior, demonstramos,
racionalmente e de acordo com a ciência, que a matéria
é una, como nos ensinaram os Espíritos. Falamos do bombardeamento de alguns corpos
simples produzindo o hidrogênio, corpo, único que se encontra no período
inicial da ação
das nebulosas, e que, único no começo acaba por transformar-se, gerando os corpos simples
encontrados em todos os planetas.
Não falamos apenas dos movimentos
dos elétrons, perfeitamente iguais aos dos planetas em redor do Sol, movimentos
esses de translação em órbitas elípticas, mas referimos, também, os de rotação,
que neles igualmente se verificam.
Tudo isto vem corroborar os ensinos
que do Alto nos estão vindo há oitenta anos, conhecimentos que têm sido
renegados pelas Academias, onde, infelizmente, sempre predominou o materialismo
ou a comodidade religiosa dos que preferem estar bem com os potentados. Ambos,
materialistas e apáticos, pouco se preocupam com o que lhes não aumentam os
prazeres materiais da existência. Muito mais fácil lhes é, enchendo-se de
filáucias acadêmicas, classificarem de loucos os que lhes apresentam fatos
novos, acima da sua capacidade de assimilação. Assim fizeram com o fonógrafo de
Edison, assim procedem com mais fortes razões, com os fenômenos que se não
produzem por máquinas nem pela vontade do homem.
Uma força, todavia, muito maior,
inspirando os verdadeiros cientistas, auxiliando-os em
novas descobertas, vem derrubando o edifício dos filauciosos, tirando-lhes a
fonte de suas
concepções, o alicerce de suas teorias - a realidade da matéria, tal como a
supunham.
E esses homens, guindados a posições
de destaque como orientadores da cultura da humanidade, são, entretanto,
empecilhos ao desenvolvimento rápido da ciência, constituindo obstáculos
aos que desejam ir além do que eles conseguiram armazenar, porque seus cérebros
estacionaram após a conquista dos títulos acadêmicos.
Parece desarrazoada essa nossa
afirmativa mas não o é. Os maiores inimigos do progresso espiritual da humanidade,
tirante os padres, sempre foram esses pretensos cientistas de literatura, como
se esse arremedo polimático, que os elevou a falazes glórias, pudesse merecer
nome de ciência, quando, na realidade, cientistas só o são os físicos, os químicos
e os astrônomos, e, ainda assim, cada qual dentro da sua esfera, sem passar
além das chinelas de Apeles - "Ne,
sutor, ultra crepidam". (‘sapateiro, não vá além do calçado’. O
pintor Apeles assim responde ao sapateiro que, depois de criticar a sandália,
pretendia analisar o resto do quadro.)
Aos fenômenos espíritas, chamam-lhes
surdos e impossíveis; a nós taxam-nos de loucos
e até de velhacos; esquecem-se de que vultos geniais da ciência verificaram esses
fenômenos; negam-se a estudá-los e, nessa ignorância absoluta, afirmam que tudo
é mentira, fraude
ou ilusão, estribados tão somente no orgulho néscio, exatamente como o
analfabeto que
dissesse louco o homem, a quem surpreendera somando letras do alfabeto na
resolução de
um problema algébrico.
Discutir sobre um assunto que se não
conhece, é o mesmo que criticar a Ilíada de Homero, sem nunca ter, sequer,
folheado a Mitologia.
Como podem saber que os fenômenos
não existem, se os não estudaram. Como desejam merecer o nosso respeito,
ambicionando que neles vejamos cientistas e sábios, se concluem, opiniaticamente,
sem exame e, sobretudo, sem nada provar! : - "Sapiens nihil affirmat quod non placet.” (o homem sábio nada
afirma sem provas)
Olvidam que Richet, o gênio da
Medicina do Século, levou quarenta anos examinando os
fenômenos espíritas; que Crookes, a quem devem dúzias de descobertas
científicas, afirma a sua realidade; que centenas de outros gênios os
observaram durante longos anos em laboratórios para esse fim escolhidos;
esquecem-se de tudo, e continuam falando parvamente, como se a humanidade
hodierna fosse a mesma que esperou cem anos, para que eles confirmassem o
movimento da Terra.
Felizmente, porém, a base, sobre a
qual lhes assentam as convicções materialistas, a matéria
- já os começa a desorientar, já lhes está fugindo, porquanto a química, tendo
provado o poder de difração dos elétrons, colocou a matéria em posição
embaraçosa, visto que
este predicado não lhe era admitido, só o sendo para as ondulações dela
desprovidas.
De outro lado, ainda a Física e a
Química, com o aparecimento dos elementos radioativos, descobrindo lhes
variedades de raios que podem ser fotografados, raios que têm influência sobre
a célula viva, ora auxiliando ou paralisando o desenvolvimento dos tecidos, ora
destruindo-os, obrigam os materialistas a meditar sobre o nada, a que sempre se
agarraram.
Não conhecem a formação, a estrutura
e as transformações do que chamam matéria, e querem
que aceitemos teorias criadas sobre alicerces que eles próprios ignoram, no
desejo de, com elas, nos provarem a não existência do Espírito, quando tais
teorias, formadas com magia
plástica de palavras, não satisfazem aos homens do século XX, que só aceitam
estilo de ideias,
de compreensão, de intelectualidade, de raciocínio.
Vai fazer setenta anos, senhores, e
portanto muito antes das descobertas dos raios X e da
teoria moderna da constituição dos átomos, que Kardec nos dizia ser a
solidificação da matéria
um estado transitório do fluido universal, podendo mesmo voltar a esse estado
primitivo.
Claude Bernard, o grande
fisiologista, já afirmava, nos fins do século XIX, que a matéria é privada de
espontaneidade, que nada gera, e é movida pela força que a criou. E,
referindo-se à matéria cerebral, confessava que ela não tem noção do pensamento
que se manifesta, e que a Medicina, da qual era ele expoente, não sabe porque
pesa a matéria, nem como a substância nervosa, que também é matéria, tem a
faculdade de pensar
Se os nossos capitosos homens de
ciência procurassem ao menos ler o que se passa no mundo
científico do Espiritismo, ficariam mais bem informados; e talvez se
resolvessem a repetir
a velha frase: "Sei que nada sei"; não nos mais livelando, então, aos
seus amigos - os
vendedores de lugares no Céu - nem se aliando a estes em cerimônias teatrais,
cultos faustosos
e exteriorizações ridículas - recursos políticos mui distanciados dos
princípios do Cristianismo,
Sabem que dois corpos se combinam
para formar um terceiro, completamente diverso dos corpos originários,
entretanto nada entendem da essência desses corpos e muito menos da força que
os faz reagir; sabem a matéria, que dizem inerte, ser difrativa e movimentada,
mas nada conhecem além disto; sabem que um grão de trigo germina milhares de
anos depois de colhido, mas ignoram porque conserva ele essa vitalidade; no
entanto, a nós, que compreendemos todos esses fenômenos, pretendem dar-nos
lições de sabedoria, chamando-nos ignorantes.
Ainda agora, os jornais franceses
noticiam que vários cientistas se preocupam com certas
radiações emitidas pelo solo, radiações a que atribuem uma infinidade de
efeitos, desde o desenvolvimento de vegetais, até a causa de moléstias várias,
inclusive os cânceres. Esses estudos têm á frente o sábio, astrônomo francês,
Henri Deslandes, membro do Instituto. É bem possível que, amplificando suas
experiências, melhor venham explicar essas radiações, as quais devem existir,
não só em virtude da eletricidade da Terra, senão por se conciliarem com as
descobertas de Curie, que puseram em evidência a formação de corpos radioativos
novos, sob a influência de substâncias radioativas já existentes, e, ainda, por
se acordarem com a nossa teoria do Fluido Universal.
Os Espíritos sempre disseram
encontrar dificuldades para apresentar-nos certas questões de ciência, visto
que a nossa pobreza de linguagem os impossibilita de se explicarem mais
claramente; contudo, com o progresso da ciência da Terra, já se vão
descortinando aos poucos
os ensinamentos que eles desejaram e tentaram dar, e os quais, só agora, se
tornam mais
compreensíveis.
Sem querermos plagiar a Trindade dos
católicos, teoria só admissível nos meios panteístas e nos do paganismo,
podemos dizer que existe uma Tríade que alimenta o Universo - Deus, Espírito e
Fluido. A primeira Pessoa é a criadora das outras duas, e estas as executoras
dos desejos d'Aquela.
Do Fluido Universal tanto provêm os
fluidos magnéticos e elétricos, como os diversos estados da matéria e a força
mecânica dos seres inanimados.
Do Espírito vem a vitalidade, e, com
esta, uma longa escala, desde as inteligências rudimentares até as
inteligências elevadas.
O perispírito, espécie de roupagem
do espírito, é formado desse fluido, levemente materializado, ou seja matéria
quintessenciada. E tanto isso é real, que ele se deixa fotografar quando
auxiliado com a reunião da matéria mais densa do médium, podendo mesmo tornar-se
visível, palpável e até readquirir, por alguns momentos, todas as faculdades
peculiares aos encarnados,
ao ponto de turvar com a respiração a água de sal e de se deixar auscultar, por médicos.
Como matéria, que não deixa de ser, ele
se modifica de planeta a planeta, assim como toma as aparências permitidas pelo
grau de adiantamento do Espírito.
Incorpóreo, traspassa qualquer matéria,
e disto não pode haver dúvida, por isso que inúmeros gases, de matéria
muitíssimo mais densa, atravessam as paredes de recipientes, aos nossos
olhos intransponíveis. O perispírito é, pois, matéria, mas tão diferente da que
conhecemos, como o vapor em relação à água.
Vemos, portanto, existir a matéria
visível e ponderável, e uma infinidade de estados diferentes de sua
apresentação; daí classificá-la como energia estável e energia instável,
incluindo-se nesta última a luz, o magnetismo, a eletricidade, etc.
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