sexta-feira, 22 de março de 2013

8. 'Ciência Religião Fanatismo'



8

Ciência    Religião   Fanatismo

por  Mínimus
(Antônio Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938


Palestra 2

ESPIRITISMO E CIÊNCIA

            Com os olhos espirituais voltados para o Alto, tangemos as cordas sensitivas da alma, na esperança de que as vibrações geradas possam transmitir ao Ser dos Seres o nosso reconhecimento, por permitir-nos nova oportunidade de palestrar convosco.

            Crede que sentimos admiração, vendo-vos novamente presentes à reunião de hoje, porquanto alguns jornais anunciaram que o orador seríamos nós. Antes, pois, de entrarmos no assunto das nossas cogitações, cumpre-nos apresentar-vos agradecimentos pelo conforto que nos trazeis, bem como cientificar-vos de que nos ufanamos dessa grande dose de benevolência, que, mais uma vez, verificamos caracterizar os espíritas.

            Como já percebestes, as nossas palestras giram em torno da obra luminosa que os Espíritos nos transmitiram, esforçando-nos por demonstrar que seus ensinamentos anteciparam o progresso da ciência humana, que, dia a dia, mais se aproxima das verdades, conhecidas por nós outros, há tantos anos, através do Livro dos Espíritos.

            Procuramos seguir a mesma orientação desse livro de Sabedoria, no qual é, aliás, observada a sequência geral a todas as religiões: Primeiro - Deus, depois a matéria e, finalmente, o Espírito.

            Todos os livros considerados sagrados obedecem a essa ordem, e a orientação dos Espíritos da Terceira Revelação não na alterou.

            Digressamos algumas vezes, desviando-nos do objeto da palestra, levado pelo entusiasmo do espírito diante da grandiosidade e perfeição da obra do Senhor, ou perante a doçura e pureza dos ensinamentos do seu Cristo, mas, espíritas que sois, deveis compreender que esses arrebatamentos nos são habituais.

            Aliás, não temos a pretensão de esgotar o assunto deste ou daquele ponto, nem a presunção de que isso nos seria possível. Desejamos, apenas, estimular os espíritas ao estudo e à meditação, e apresentar-lhes, entre os argumentos que já lhes são conhecidos, outros que reputamos úteis para conseguirem aproximações de criaturas ao Criador. 

            Na palestra anterior, demonstramos, racionalmente e de acordo com a ciência, que a matéria é una, como nos ensinaram os Espíritos. Falamos do bombardeamento de alguns corpos simples produzindo o hidrogênio, corpo, único que se encontra no período inicial da ação das nebulosas, e que, único no começo acaba por transformar-se, gerando os corpos simples encontrados em todos os planetas.

            Não falamos apenas dos movimentos dos elétrons, perfeitamente iguais aos dos planetas em redor do Sol, movimentos esses de translação em órbitas elípticas, mas referimos, também, os de rotação, que neles igualmente se verificam.

            Tudo isto vem corroborar os ensinos que do Alto nos estão vindo há oitenta anos, conhecimentos que têm sido renegados pelas Academias, onde, infelizmente, sempre predominou o materialismo ou a comodidade religiosa dos que preferem estar bem com os potentados. Ambos, materialistas e apáticos, pouco se preocupam com o que lhes não aumentam os prazeres materiais da existência. Muito mais fácil lhes é, enchendo-se de filáucias acadêmicas, classificarem de loucos os que lhes apresentam fatos novos, acima da sua capacidade de assimilação. Assim fizeram com o fonógrafo de Edison, assim procedem com mais fortes razões, com os fenômenos que se não produzem por máquinas nem pela vontade do homem.

            Uma força, todavia, muito maior, inspirando os verdadeiros cientistas, auxiliando-os em novas descobertas, vem derrubando o edifício dos filauciosos, tirando-lhes a fonte de suas concepções, o alicerce de suas teorias - a realidade da matéria, tal como a supunham.

            E esses homens, guindados a posições de destaque como orientadores da cultura da humanidade, são, entretanto, empecilhos ao desenvolvimento rápido da ciência, constituindo obstáculos aos que desejam ir além do que eles conseguiram armazenar, porque seus cérebros estacionaram após a conquista dos títulos acadêmicos.

            Parece desarrazoada essa nossa afirmativa mas não o é. Os maiores inimigos do progresso espiritual da humanidade, tirante os padres, sempre foram esses pretensos cientistas de literatura, como se esse arremedo polimático, que os elevou a falazes glórias, pudesse merecer nome de ciência, quando, na realidade, cientistas só o são os físicos, os químicos e os astrônomos, e, ainda assim, cada qual dentro da sua esfera, sem passar além das chinelas de Apeles - "Ne, sutor, ultra crepidam". (‘sapateiro, não vá além do calçado’. O pintor Apeles assim responde ao sapateiro que, depois de criticar a sandália, pretendia analisar o resto do quadro.)

            Aos fenômenos espíritas, chamam-lhes surdos e impossíveis; a nós taxam-nos de loucos e até de velhacos; esquecem-se de que vultos geniais da ciência verificaram esses fenômenos; negam-se a estudá-los e, nessa ignorância absoluta, afirmam que tudo é mentira, fraude ou ilusão, estribados tão somente no orgulho néscio, exatamente como o analfabeto que dissesse louco o homem, a quem surpreendera somando letras do alfabeto na resolução de um problema algébrico.

            Discutir sobre um assunto que se não conhece, é o mesmo que criticar a Ilíada de Homero, sem nunca ter, sequer, folheado a Mitologia.

            Como podem saber que os fenômenos não existem, se os não estudaram. Como desejam merecer o nosso respeito, ambicionando que neles vejamos cientistas e sábios, se concluem, opiniaticamente, sem exame e, sobretudo, sem nada provar! : - "Sapiens nihil affirmat quod non placet.(o homem sábio nada afirma sem provas)

            Olvidam que Richet, o gênio da Medicina do Século, levou quarenta anos examinando os fenômenos espíritas; que Crookes, a quem devem dúzias de descobertas científicas, afirma a sua realidade; que centenas de outros gênios os observaram durante longos anos em laboratórios para esse fim escolhidos; esquecem-se de tudo, e continuam falando parvamente, como se a humanidade hodierna fosse a mesma que esperou cem anos, para que eles confirmassem o movimento da Terra.

            Felizmente, porém, a base, sobre a qual lhes assentam as convicções materialistas, a matéria - já os começa a desorientar, já lhes está fugindo, porquanto a química, tendo provado o poder de difração dos elétrons, colocou a matéria em posição embaraçosa, visto que este predicado não lhe era admitido, só o sendo para as ondulações dela desprovidas.

            De outro lado, ainda a Física e a Química, com o aparecimento dos elementos radioativos, descobrindo lhes variedades de raios que podem ser fotografados, raios que têm influência sobre a célula viva, ora auxiliando ou paralisando o desenvolvimento dos tecidos, ora destruindo-os, obrigam os materialistas a meditar sobre o nada, a que sempre se agarraram.

            Não conhecem a formação, a estrutura e as transformações do que chamam matéria, e querem que aceitemos teorias criadas sobre alicerces que eles próprios ignoram, no desejo de, com elas, nos provarem a não existência do Espírito, quando tais teorias, formadas com magia plástica de palavras, não satisfazem aos homens do século XX, que só aceitam estilo de ideias, de compreensão, de intelectualidade, de raciocínio.

            Vai fazer setenta anos, senhores, e portanto muito antes das descobertas dos raios X e da teoria moderna da constituição dos átomos, que Kardec nos dizia ser a solidificação da matéria um estado transitório do fluido universal, podendo mesmo voltar a esse estado primitivo.

            Claude Bernard, o grande fisiologista, já afirmava, nos fins do século XIX, que a matéria é privada de espontaneidade, que nada gera, e é movida pela força que a criou. E, referindo-se à matéria cerebral, confessava que ela não tem noção do pensamento que se manifesta, e que a Medicina, da qual era ele expoente, não sabe porque pesa a matéria, nem como a substância nervosa, que também é matéria, tem a faculdade de pensar

            Se os nossos capitosos homens de ciência procurassem ao menos ler o que se passa no mundo científico do Espiritismo, ficariam mais bem informados; e talvez se resolvessem a repetir a velha frase: "Sei que nada sei"; não nos mais livelando, então, aos seus amigos - os vendedores de lugares no Céu - nem se aliando a estes em cerimônias teatrais, cultos faustosos e exteriorizações ridículas - recursos políticos mui distanciados dos princípios do Cristianismo,

            Sabem que dois corpos se combinam para formar um terceiro, completamente diverso dos corpos originários, entretanto nada entendem da essência desses corpos e muito menos da força que os faz reagir; sabem a matéria, que dizem inerte, ser difrativa e movimentada, mas nada conhecem além disto; sabem que um grão de trigo germina milhares de anos depois de colhido, mas ignoram porque conserva ele essa vitalidade; no entanto, a nós, que compreendemos todos esses fenômenos, pretendem dar-nos lições de sabedoria, chamando-nos ignorantes.

            Ainda agora, os jornais franceses noticiam que vários cientistas se preocupam com certas radiações emitidas pelo solo, radiações a que atribuem uma infinidade de efeitos, desde o desenvolvimento de vegetais, até a causa de moléstias várias, inclusive os cânceres. Esses estudos têm á frente o sábio, astrônomo francês, Henri Deslandes, membro do Instituto. É bem possível que, amplificando suas experiências, melhor venham explicar essas radiações, as quais devem existir, não só em virtude da eletricidade da Terra, senão por se conciliarem com as descobertas de Curie, que puseram em evidência a formação de corpos radioativos novos, sob a influência de substâncias radioativas já existentes, e, ainda, por se acordarem com a nossa teoria do Fluido Universal.

            Os Espíritos sempre disseram encontrar dificuldades para apresentar-nos certas questões de ciência, visto que a nossa pobreza de linguagem os impossibilita de se explicarem mais claramente; contudo, com o progresso da ciência da Terra, já se vão descortinando aos poucos os ensinamentos que eles desejaram e tentaram dar, e os quais, só agora, se tornam mais compreensíveis.

            Sem querermos plagiar a Trindade dos católicos, teoria só admissível nos meios panteístas e nos do paganismo, podemos dizer que existe uma Tríade que alimenta o Universo - Deus, Espírito e Fluido. A primeira Pessoa é a criadora das outras duas, e estas as executoras dos desejos d'Aquela.

            Do Fluido Universal tanto provêm os fluidos magnéticos e elétricos, como os diversos estados da matéria e a força mecânica dos seres inanimados.

            Do Espírito vem a vitalidade, e, com esta, uma longa escala, desde as inteligências rudimentares até as inteligências elevadas.

            O perispírito, espécie de roupagem do espírito, é formado desse fluido, levemente materializado, ou seja matéria quintessenciada. E tanto isso é real, que ele se deixa fotografar quando auxiliado com a reunião da matéria mais densa do médium, podendo mesmo tornar-se visível, palpável e até readquirir, por alguns momentos, todas as faculdades peculiares aos encarnados, ao ponto de turvar com a respiração a água de sal e de se deixar auscultar, por médicos.

            Como matéria, que não deixa de ser, ele se modifica de planeta a planeta, assim como toma as aparências permitidas pelo grau de adiantamento do Espírito.

            Incorpóreo, traspassa qualquer matéria, e disto não pode haver dúvida, por isso que inúmeros gases, de matéria muitíssimo mais densa, atravessam as paredes de recipientes, aos nossos olhos intransponíveis. O perispírito é, pois, matéria, mas tão diferente da que conhecemos, como o vapor em relação à água.

            Vemos, portanto, existir a matéria visível e ponderável, e uma infinidade de estados diferentes de sua apresentação; daí classificá-la como energia estável e energia instável, incluindo-se nesta última a luz, o magnetismo, a eletricidade, etc.


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