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Fenômenos
de Materialização
por Manoel Quintão
Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
1942
Abecedário dos Médiuns
(Elaborado pelo autor, como delegado, e
adotado pela Comissão Organizadora aos
trabalhos do Conselho Federativo.)
Missões coletivas - Influência dos Guias na
evolução das nacionalidades. - Constituição das raças. - Papel do Brasil no
futuro do planeta, como centro irradiador do Evangelho: doutrina universal. - Exercício
da mediunidade.
Considerada
genericamente, a mediunidade não pode nem deve ser tida como patrimônio
exclusivo, ou seja um dom especial do individuo para entrar em comércio com os
Espíritos desencarnados.
Todo
homem, podemos dizer, é no mínimo, médium de seu Guia Espiritual, que o toma
desde o início de sua integração no reino da consciência individual, até à
plena posse do Universo e no conhecimento da Verdade, que é Deus.
Se
houvéssemos de admitir Adão na sua acepção etimológica, que não simbólica,
diríamos ter sido ele o primeiro médium desta nossa humanidade terrícola, na
verdade mirrado rebento da incalculável floração de vida sideral.
Na
luta aberta com os elementos cósmicos em constante ebulição, buscando a
anfractuosidade das rochas, ou idealizando abrigos flutuantes, o troglodita e o
lacustre não deixavam de refletir a intuição de seus Patronos, sabidamente
encarregados de propulsar o progresso planetário, por etapas ascendentes e
sucessivas e, neste sentido, foram médiuns.
Depois,
no curso evolutivo da História, no estudo de todas as Religiões, quantas provas
da intervenção, velada ou ostensiva, das entidades extracorpóreas, nos domínios
humanos!?
Sem
recuar na apreciação de elementos mais pristinos (antigo,
primeiro, primitivo, original), basta-nos evocar aqui a Bíblia
e a série de Profetas, médiuns todos altanados (altaneiro,
altivo. soberbo, orgulhoso), do melhor quilate.
E
os Apóstolos? E os próprios Doutores da Igreja em sua fase inicial?
Isto,
no campo religioso, que, no profano ou leigo, médiuns intuitivos poderíamos
considerar todos os grandes vultos da ciência, como das artes.
Não
é, porém, com essa amplitude que pretendemos versar a faculdade mediúnica,
neste escorço, e sim no estrito âmbito de sua aplicação e serventia
doutrinária.
Assim,
discriminaremos a mediunidade como elemento probatório, direto ou indireto,
ostensivo ou velado, da manifestação dos Espíritos desencarnados, a colimar a
ética da Revelação codificada e decorrente de sua praticagem comum.
Considerada
sob este aspecto, o Brasil se apresenta como, das províncias coletivas do
Globo, uma das melhor aquinhoadas pela Providência para o acionamento efetivo
das novas ideias que hão de transformar, regenerando-o, o nosso padrão moral.
De
fato, desde a primeira hora e quase simultaneamente, a eclosão mediúnica aqui
se verificou e, coisa notável, enquanto na Europa e na América do Norte o fenômeno
insólito se circunscrevia, sisudo e
grave, aos gabinetes de sábios perquiridores isolados, hieráticos, céticos,
contraditórios, aqui no Brasil ele se grupava em torno de homens poucos,
capazes de o estudar e definir teoricamente, de o divulgar também praticamente,
mas, sobretudo, dispostos a dar-lhes uma interpretação eficientemente regenerativa
de costumes, ou melhor dito - religiosa, no bom sentido da palavra.
Obra
de coração antes que de cérebro.
Essa
característica inconfundível, assinalada por toda parte - em que pesem discrepâncias
de prismas secundários meramente pessoais, que não atingem o cerne da Causa -
essa característica, por seus ascendentes, não é arbitrária nem aleatória,
antes reivindica alcance histórico extraordinário para a finalidade predita e
já esboçada, dos tempos vindouros, aqueles que deverão anteceder o Reinado de
Jesus em espirito e verdade.
Não
foi por acaso - disse-o Bittencourt
Sampaio - um dos pioneiros da primeira hora -. que o navegador Português,
ao avistar a terra maravilhosa, em arroubos de inspiração denominou-a da Vera Cruz!
Terra
do Evangelho - dizem-no ainda outros Espíritos - fadada a caldear descrenças,
taras e preconceitos de velhas raças, apropinquando-as (acercando; achegando; aproximando; avizinhando) ao Amor Universal, que será o lema inelutável de todas as conquistas
coletivas do amanhã.
Sim!
queiram ou não acredita-lo os que desconhecem o tamis (peneira) da nossa evolução ética e a sua renovação
constante, pelo afluxo de gentes de todos os quadrantes, a verdade já
comprovada por fatos isolados, mas em aumento progressivo, é que um terço, pelo
menos, do nosso proselitismo é composto de estrangeiros aqui vindos para
receberem o batismo da nova crença, os quais se mostram perfeitamente
emancipados de sua bagagem psíquica ancestral, graças à influência de um
ambiente que jamais lograriam em seus países de origem.
E
porque o liame espiritual é o mais forte e o mais lídimo dos parentescos, bem
se deixa ver que essa comunhão, essa afinidade de ideias e de emoções vão
transformar-se nas premissas da fraternidade verdadeira, quando houverem todos,
no Espaço, de eleger a pátria contingente do amanhã.
Porque,
neste caso, já não é a atração dos interesses materiais aqui improvisados, e
mantidos, que exercerá influência sobre esses irmãos nossos, mas o próprio
estado de consciência que eles se preparam e lhes vai diluindo, desde já, em
novo cenário de novas atividades, ideias e preconceitos, estratificados e
transportados de gerações a gerações.
Interessante
atentar para o que chamamos humoristicamente a propaganda de torna-viagem,
constituída de grupos espíritas formados na Espanha, na Itália, em Portugal,
por confrades vindos desses países e que, depois de mourejarem aqui, para lá
regressam convertidos ao novo credo, orientados na Doutrina Espirita, como
jamais o seriam se de lá jamais saíssem.
Mas...
dir-se-á: precisa Deus destes movimentos migratórios para transformar as
criaturas, para lhes acelerar o ritmo do progresso? Absolutamente. O que se diz
e pode, dizer-se, é que a lei é de atividade e permuta e, dentro dessa lei,
cada individuo, como cada povo ou unidade de indivíduos, tem a sua missão de influências
reciprocas, de ação e reação.
A
missão do Brasil é originariamente pacifista, di-lo a sua história, afirma-o de
seu povo a índole, que deve constituir por sem dúvida, um reflexo da aura de
seus Guias Espirituais.
Formação
político-social extreme de lutas de conquista, como de preconceitos de raça e
de casta, de solo vastíssimo quão fértil, nosso país pode e deve presumir-se o
grande laboratório de todas as atividades espirituais sadias, em o qual se
elaborem os destinos grandiosos da humanidade póstera, já entrevistos e
assinalados iterativamente pelos vexilários (porta-estandarte)
do Cristo de
Deus.
Mas,
nesse movimento renovador, cujos limites no tempo nos escapam a previsões
quaisquer, a mediunidade copiosa, difusa, constitui, como de princípio assinalamos,
a melhor das premissas.
Dentre
as faculdades, avulta, incontestavelmente e com características inconfundíveis,
a curadora ou receitista, a que não é lícito negar o principal, se não único
fator de eficiência na propaganda.
Não
há hoje, por assim dizer, cidade ou vilarejo onde se estude o Espiritismo, que
não tenha um médium receitista ou curador, a registar fatos dignos de nota e a
produzir conversões.
Aos
médiuns de passes, chamamos também curadores.
Esses
não prescrevem remédios quaisquer, limitando-se a orar e a estabelecer com os
enfermos afinidades magnéticas por contato. Em regra, são homens simples, de
rudimentar cultura mesmo, mas, em compensação, de moral ilibada, a evocarem os
tempos e processos apostólicos.
Os
receitistas, esses prescrevem comum ente a Homeopatia, tendo, com raras
exceções, no seu ativo, curas por vezes averbadas de miraculosas, com grande
repercussão no conceito público - circunstância
que a mais de um tem conduzido à barra dos tribunais.
Seja,
porém, dito em abono da nossa legislação libérrima, que, em todos os processos
a condenação tem falhado à falta de provas, não das curas, mas de interesse
profissional, visto que nenhum desses abnegados serventuários da Doutrina
mercadeja as suas faculdades, antes procuram todos dar de graça o que de graça
recebem, segundo o preceito evangélico.
Esta
orientação é típica e diz bem da superioridade de vistas dos que planearam a diretriz
da Revelação Espirita em nosso país, dela fazendo um verdadeiro apostolado
evangélico.
E
de que nele, no Evangelho, se condensam os pródromos da Verdade Divina, o alvo
superior dos Espíritos prepostos à execução da lei de regeneração e progresso universais,
se pode inferir a existência desta entidade coletiva (1), íntegra de quase meio século, a consolidar-se progressivamente,
enquanto outras agremiações, de caráter meramente teórico-especulativo, se
improvisam e se dissolvem sem deixar vestígios na consciência das massas.
(1) A
Federação Espírita Brasileira.
Nem
são, já, adesões convencionais a esse programa, que fortalecem a nossa
convicção; mas verdadeiros brados de alerta que chegam do Além, à revelia
nossa, suscitando espontâneas incorporações de atividades em torno do mesmo
ideal...
A
prática estabelecida e tradicionalmente consagrada é de simplicidade tocante, a
dispensar quaisquer improvisações de hora, lugar e meio.
Um
médium receitista conhecemos, dos mais felizes na sua atividade mediúnica (1), que tanto receitava picograficamente, em casa ou na repartição, como o
fazia verbalmente, na rua, no trem ou no bonde.
(1)
Domingos de Lima Figueiras.
Outro
(2), proprietário de uma farmácia (mas não farmacêutico),
fazia-o naturalmente, conversando à porta do estabelecimento e sempre com acerto
e felicidade notáveis.
(1) Francisco
Nascimento.
De
uma feita, conta-se, entre amigos discreteando prazenteiro, dele acerca-se alguém
que lhe estende um papel contendo nome e residência de um enfermo grave...
Sem
pestanejar, a sorrir, com a maior naturalidade deste mundo, o nosso médium
sentenceia: Este enfermo acaba de
falecer às tantas horas e o senhor pode, a caminho, passar pela Santa Casa e
contratar o enterro. Era a verdade!
Em
diagnósticos era também admirável este médium, que os dava bastas vezes em
contradita a médicos abalizados, e sempre adstritos à mais rigorosa técnica.
A
Federação Espirita Brasileira, desde sua fundação, teve médiuns receitistas ao
seu serviço, mas só há poucos anos (e cremos ser isto fato singular na história
da propaganda espiritista em todo o mundo) estabeleceu oficial e publicamente
esse trabalho, aliás daí por diante mantido sem intercadências, a despeito de
maiores ou menores hostilidades do misoneismo (repulsa a
tudo o que é novo ou contém novidade) oficial.
Os
médiuns que aí se tem sucedido e permanecem, nenhum título, nenhuma credencial
possuem, que os recomende, além do seu devotamento à causa da verdade espírita,
por bem do próximo.
Não
se cogita ali, de fato, da classe, cor ou credo do recorrente e, se preferências
e distinções se, concebessem em tal ministério, elas haveriam de recair nos
mais necessitados e humildes de condição. E os médiuns são, de ordinário,
modestos funcionários ou artistas, que sacrificam lazeres e repouso em prol do
simples alívio ou da cura dos seus semelhantes.
A
sua clientela, que se pode aferir por dezenas ou centenas de milhar,
anualmente, como provam as estatísticas, é composta, na sua grande maioria, de
proletários e gente da pequena burguesia, que ali acorre anônima e cheia de
esperanças, recebendo talvez maiormente, e só por isso, o melhor quinhão dos
benefícios.
Um
acontecimento de grande repercussão na Capital e em todo o Brasil, foi,
certamente, o da pandemia de gripe - pitorescamente batizada "a
espanhola" - que assolou o mundo em 1918.
Nessa
eventualidade apavorante, quando a metrópole populosa de 1.300.000 almas
apresentava ao observador atônito e contristado o aspecto de vasta necrópole,
com dezenas de milhar de casas fechadas; com o seu movimento paralisado e as
ruas por vezes transformadas em depósito de cadáveres, a nossa Federação
manteve suas portas abertas e atendeu a multidões que se sucediam, distribuindo-lhes,
com os remédios do corpo e a dieta aos mais carecidos, a verdadeira esmola do
conforto moral - que essa, sim, se chama Caridade.
Em
compensação, as graças choveram do alto, ostensivas e copiosas, a ponto de,
esgotadas as últimas reservas de medicamentos, produzirem-se as curas com
simples copos d'água magnetizada e pela só imposição das mãos, ou ainda
mediante singelas preces, acompanhadas de exortações.
Era
de ver-se, então, como doentes combalidos, de olhar esgazeado, vítreo, no delírio
da febre presto se calmavam e, aliviados e restabelecidos exclamavam: Ah! bem
me diziam que viesse até aqui para ficar bom... Bom... Mas... eu estou bom,
sinto-me curado, graças a Deus!
Sugestão?
Fluidos? Sim, uma e outra coisa a discutir, mas, certa, inegável, a misericórdia divina.
Pois
o que aí se fez "grosso-modo", nesse período de sofrimento agudo e
generalizado por toda uma população, continua a fazer-se parcialmente, dosadamente,
todos os dias.
No
fato de serem os recorrentes humildes os mais agraciados, há um ensinamento
precioso decorrente da palavra messiânica - o de que o Cristo, ontem como hoje,
veio para os mais humildes.
Não
é com isto dizer que membros qualificados da sociedade não tenham sido nem
possam ser partícipes da opima dádiva.
A
verdade é que, com eles, ela, a dádiva, se dá presumidamente "in-extremis",
isto é: quando já desenganados da ciência oficial se propiciam a recebe-la, não
já como meio, mas como fim de conversão, morte de ceticismo, elemento de fé.
Há
quem increpe de místico, devoto, sectarista, anticientífico, este Espiritismo
de fundo religioso, evidentemente, mas não há quem possa, de boa fé, contestar
os fatos e a sua eficiência moral e social, como regenerador de costumes, públicos
e privados.
Os
que vivem a gritar que o Espiritismo é uma ciência, abraçados a Kardec, deviam
considerar que Kardec o codificou como sendo "o Consolador prometido"
por Jesus e não consta que Ele, o Cristo de Deus, houvesse jamais frequentado
Areópagos.
E
os que arengam e conclamam que a Doutrina não tem dogmas? Pretenderão que a ciência
os não tenha? Mas, nesse caso, deveriam começar por definir a matéria em si, a
energia, a força, a vida e a fonte primária - Deus!
De
resto, como a provar que a diretriz da causa não pertence aos homens, mas aos
Espíritos, suscitam estes, espontaneamente, inesperadamente, os casos mais
estupendos, nos meios mais refratários.
Dentre
mil que pudéramos relatar, destacamos estes três, de antecedentes e
consequentes capazes de infirmar as mais sólidas convenções e teorias
científicas:
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