domingo, 10 de março de 2013

1. Ciência Religião Fanatismo



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Ciência    Religião   Fanatismo

por Mínimus
 (Antônio Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938

Prefácio


            Insigne honra é para o autor destas linhas prefaciar um livro de MININUS, pseudônimo que encobre a personalidade de um festejado escritor, cujas ideias claras e cujo estilo brilhante, tanto contribuem para que seja ele admirado pelos que têm a fortuna de conhecer-lhe os trabalhos.

            Grande vantagem é para os operários de nossa seara o não possuírem o espírito escravizado a preconceitos, a pontos dogmáticos, a pontos de fé, a princípios irremovíveis. Necessário é havermos a consciência livre para encarar de face todos Os assuntos, para aceitá-los ou rejeitá-los, conforme no-lo impuser a lógica, o bom senso ou os fatos.

            Imprescindível se torna que, nos estudos psíquicos, estejamos prontos a lançar fora o lastro inútil e fiquemos preparados para receber o que for certo, o que for curial, o que for provado, ainda mesmo que as novas ideias venham contrariar aquilo que já tínhamos encaixotado no cérebro como sendo a verdade absoluta. Devemos ir onde as provas nos conduzirem e, força é confessar que estamos nos primeiros passos de uma religião, de uma filosofia e de uma ciência que hão de se espalhar, com força incoercível, por toda parte.

            Não há que admirar caminhemos, por enquanto, com tíbios passos, na senda dos fenômenos psíquicos. O mundo, ainda, não é dos bons, dos justos. Ele se acha nas mãos dos tiranos, a quem os povos vitoriam, aplaudem, endeusam. Quando um deles assoma a uma tribuna e clama - quereis a paz ou a guerra? - a multidão, num entusiasmo desmedido e estúpido, responde, a guerra!..

            Quando o responsável pelo destino de um país manda as suas ordens à imprensa, o que esta conclama é a necessidade da guerra!

            A guerra, sempre a guerra!..

            A guerra é uma sucessão ininterrupta e indescritível de desgraças, que só pode ser admitida ou impulsionada por uma inteligência exuberantemente perversa, e, por isso, incapaz de compreender o horror da luta armada.

            O fato é que os pacifistas são pouco e seus fracos protestos, desdenhados, sendo eles, na maioria das vezes, acoimados até de covardes. Se o mundo fosse povoado de seres que raciocinassem, os provocadores e preparadores de hecatombes não se sustentariam no poder, meio minuto. Infelizmente, porém, o preparo bélico é que anima as massas populares. E, mesmo as nações pacíficas, se veem obrigadas a armar-se até os dentes, para não serem conquistadas pelas nações guerreiras, imperialistas e avassaladoras.

            Com um mundo assim atrasado, cheio de indivíduos de cérebro e coração minguados, impossível é pleno desenvolvimento das ciências psíquicas. Elas tem que marchar evolutiva e paulatinamente, e aquele que se supuser um entendido, ou que acreditar haver dito a última palavra, ou que pensar que é alguma coisa mais do - que um simples estudante, e estudante bisonho, marcou desde logo a sua própria falência.

            Estamos, por enquanto, desvendando o cerraceiro (nevoeiro espesso, cerração) que nos encobre o entendimento e, no instante, apenas poderemos fazer ligeiras afirmativas, que são o prelúdio da nova e incomensurável tríade cuja brilhante estrada intencionamos palmilhar. De fato o Espiritismo é composto de três grandes ramos da atividade humana - a religião, a filosofia e a ciência. É a moral, o saber e a experiência que se dão as mãos, para conduzir-nos ao reino da felicidade.

            Mínimus encara o Espiritismo por um desses grandes prismas, o da ciência.

            É ele de grande relevo - À proporção que as mentes se vão esclarecendo, elas exigirão provas e estas só nos podem ser trazidas pelos processos científicos. Se as Academias afirmassem, em todos os países, que o espirito sobrevive, que ele sofrerá as consequências dos seus atos, que padecerá as penas que fizer os outros sofrerem, por certo que os déspotas
não teriam coragem de levantar a espada para lançá-la contra as nações fracas, indefesas e imbeles (que não são belicosas), ou mesmo contra as fortes, lembrando-se que iriam ter nos ouvidos, pelos tempos em fora, o clamor, os suspiros e os soluços que fizeram derramar pela sua prepotência, pela sua fereza, pela sua inconsciência.

            Entretanto, já os primeiros surtos, os primeiros clangores do Espiritismo se deixam ouvir, e eles, os tiranos, para que vozes do Alto não lhes cheguem às oiças, proíbem-nas, declamam tragicamente que, dentro do país, não serão toleradas, e pensam assim, escondendo a cabeça debaixo da asa, afastar o tremendo castigo que os espera.

            Felizes as regiões em que há a liberdade de podermos dizer aos nossos concidadãos, repetindo as frases do Evangelho - guardai a espada, que quem com ferro fere, com ferro será ferido.

            Que o Senhor abençoe aqueles que trazem a sua pequena pedra para o edifício da fraternidade, e assim possa esse trabalho e o seu autor receberem a justa recompensa das mãos d'Aquele que, do Alto, observa os que seguem seus mandamentos.

Carlos Imbassahy


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