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Ciência Religião Fanatismo
por Mínimus
(Antônio
Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938
Prefácio
Insigne honra é para o autor destas
linhas prefaciar um livro de MININUS, pseudônimo que encobre a personalidade de
um festejado escritor, cujas ideias claras e cujo estilo brilhante, tanto
contribuem para que seja ele admirado pelos que têm a fortuna de conhecer-lhe os
trabalhos.
Grande vantagem é para os operários
de nossa seara o não possuírem o espírito escravizado a preconceitos, a pontos
dogmáticos, a pontos de fé, a princípios irremovíveis. Necessário é havermos a
consciência livre para encarar de face todos Os assuntos, para aceitá-los ou
rejeitá-los, conforme no-lo impuser a lógica, o bom senso ou os fatos.
Imprescindível se torna que, nos
estudos psíquicos, estejamos prontos a lançar fora o lastro inútil e fiquemos
preparados para receber o que for certo, o que for curial, o que for provado,
ainda mesmo que as novas ideias venham contrariar aquilo que já tínhamos
encaixotado no cérebro como sendo a verdade absoluta. Devemos ir onde as provas
nos conduzirem e, força é confessar que estamos nos primeiros passos de uma
religião, de uma filosofia e de uma ciência que hão de se espalhar, com força
incoercível, por toda parte.
Não há que admirar caminhemos, por
enquanto, com tíbios passos, na senda dos fenômenos psíquicos. O mundo, ainda,
não é dos bons, dos justos. Ele se acha nas mãos dos tiranos, a quem os povos
vitoriam, aplaudem, endeusam. Quando um deles assoma a uma tribuna
e clama - quereis a paz ou a guerra? - a multidão, num entusiasmo desmedido e
estúpido, responde, a guerra!..
Quando o responsável pelo destino de
um país manda as suas ordens à imprensa, o que esta conclama é a necessidade da
guerra!
A guerra, sempre a guerra!..
A guerra é uma sucessão ininterrupta
e indescritível de desgraças, que só pode ser admitida ou impulsionada por uma
inteligência exuberantemente perversa, e, por isso, incapaz de compreender o
horror da luta armada.
O fato é que os pacifistas são pouco
e seus fracos protestos, desdenhados, sendo eles, na maioria das vezes,
acoimados até de covardes. Se o mundo fosse povoado de seres que raciocinassem,
os provocadores e preparadores de hecatombes não se sustentariam no poder,
meio minuto. Infelizmente, porém, o preparo bélico é que anima as massas
populares. E, mesmo as nações pacíficas, se veem obrigadas a armar-se até os
dentes, para não serem conquistadas pelas nações guerreiras, imperialistas e
avassaladoras.
Com um mundo assim atrasado, cheio
de indivíduos de cérebro e coração minguados, impossível é pleno
desenvolvimento das ciências psíquicas. Elas tem que marchar evolutiva e
paulatinamente, e aquele que se supuser um entendido, ou que acreditar haver
dito a última palavra, ou que pensar que é alguma coisa mais do - que um
simples estudante, e estudante bisonho, marcou desde logo a sua própria falência.
Estamos, por enquanto, desvendando o
cerraceiro (nevoeiro
espesso, cerração)
que nos encobre o entendimento e, no instante, apenas poderemos fazer ligeiras
afirmativas, que são o prelúdio da nova e incomensurável tríade cuja brilhante estrada
intencionamos palmilhar. De fato o Espiritismo
é composto de três grandes ramos da atividade humana - a religião, a filosofia
e a ciência. É a moral, o saber e a experiência que se dão as mãos, para
conduzir-nos ao reino da felicidade.
Mínimus encara o Espiritismo por um
desses grandes prismas, o da ciência.
É ele de grande relevo - À proporção
que as mentes se vão esclarecendo, elas exigirão provas e estas só nos podem
ser trazidas pelos processos científicos. Se as Academias afirmassem, em todos
os países, que o espirito sobrevive, que ele sofrerá as consequências dos seus
atos, que padecerá as penas que fizer os outros sofrerem, por certo que os déspotas
não
teriam coragem de levantar a espada para lançá-la contra as nações fracas,
indefesas e imbeles (que
não são belicosas),
ou mesmo contra as fortes, lembrando-se que iriam ter nos ouvidos, pelos tempos
em fora, o clamor, os suspiros e os soluços que fizeram derramar pela sua
prepotência, pela sua fereza, pela sua inconsciência.
Entretanto, já os primeiros surtos,
os primeiros clangores do Espiritismo se deixam ouvir, e eles, os tiranos, para
que vozes do Alto não lhes cheguem às oiças, proíbem-nas, declamam tragicamente
que, dentro do país, não serão toleradas, e pensam assim, escondendo a cabeça
debaixo da asa, afastar o tremendo castigo que os espera.
Felizes as regiões em que há a
liberdade de podermos dizer aos nossos concidadãos, repetindo as frases do
Evangelho - guardai a espada, que quem com ferro fere, com ferro será ferido.
Que o Senhor abençoe aqueles que
trazem a sua pequena pedra para o edifício da fraternidade, e assim possa esse
trabalho e o seu autor receberem a justa recompensa das mãos d'Aquele que, do
Alto, observa os que seguem seus mandamentos.
Carlos Imbassahy
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