Milagres
e
curas mediúnicas
por Orlando Romero
Reformador
(FEB) Dezembro 1947
A
mediunidade é uma faculdade, isto é, um dom próprio do homem, podendo variar de
indivíduo a indivíduo, e ser mesmo ausente em muitas pessoas. Como sabemos, são
múltiplas as modalidades dessa faculdade, e é nosso desejo
falar, sucintamente, sobre a mediunidade curadora, não só pela magnificência
com que ela se reveste, como também pelo sensacionalismo que tais fatos
provocam.
Tanto
a História como os livros fundamentais de todas as religiões antigas, estão
refertos de fatos referentes a curas mediúnicas, sem embargo venham rotulados
com o nome de "milagres". A Doutrina dos Espíritos nos ensina, mui logicamente,
que não existe o tal milagre na acepção geral do termo, pois o milagre seria a
derrogação das leis naturais, leis imutáveis e absolutamente sábias; seria um
feito extraordinário em oposição à Lei Divina. Ora, tal concepção é por demais
errônea, profundamente incoerente, e não merece o mais superficial exame
filosófico. Portanto, temos que apelar para as próprias leis da Natureza. É
isso que o Espiritismo nos mostra à luz meridiana, sem rodeios e sem o
comodismo dos dogmas humanos. Sabemos, hoje, que existe em torno de nós, ao
derredor de todas as coisas, o Fluido Universal, também chamado Fluido
Elementar ou Primitivo, sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de
divisão. Segundo os Espíritos "esse
fluido é suscetível de inúmeras combinações e o que chamamos fluido elétrico,
fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente
falando, senão uma matéria mais perfeita, mais sutil, e que se pode considerar
independente". Pois bem, os Espíritos Superiores, os nossos Mentores
do Espaço, se utilizam do fluido universal com muito bem lhes apraz, manipulando-os, a fim de ministrarem os seus
efeitos curativos aos enfermos, quer encarnados, quer desencarnados. As curas
mediúnicas, os casos de taumaturgia, requerem o auxílio, o concurso de um
médium. "Médium é o ser, é o
indivíduo que serve de traço de união aos Espíritos, para que estes possam
comunicar-se facilmente com os homens: Espíritos encarnados. Por conseguinte,
sem médium, não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de
qualquer Natureza que seja". É' sabido que os seres semelhantes atuam
com seus semelhantes e como seus semelhantes, e nós, espíritos encarnados,
somos semelhantes aos espíritos, embora desencarnados. Os médiuns têm, pois,
uma faculdade toda especial em seu perispírito que lhes permite entrar em
estreita comunicação, maior ou menor afinidade, com os espíritos, suprimindo a
refratariedade natural e estabelecendo uma corrente, uma verdadeira fusão
perispiritual. Quanto mais perfeita a fusão, mais inconsciente o médium, mais notáveis as comunicações obtidas, maiores
êxitos alcançam os fenômenos.
Qualquer
indivíduo pode, pois, possuir mais ou menos o privilégio desta ou daquela
mediunidade, e para tal não são exigidos os preconceitos de casta, nem de cor,
e muito menos é levada em consideração a crença religiosa que ele professa. O
imprescindível é o desejo de curar, de praticar a Caridade, é a vontade de
amenizar os males do próximo, tanto por parte do sensitivo quanto do médico
espiritual; e em consequência desse contubérnio fraternal, dessa aliança em
prol do Bem, há como que a formação de um jato fluídico, contendo em sua
composição ingredientes hauridos do fluido universal, e que é diretamente
aplicado sobre a região carecente do enfermo. É oportuno dizer que o estado, em
que se encontra o paciente, também contribui para o maior ou menor êxito da
operação: aumenta ou diminui a força vibratória dos fluidos. Daí o valor da
Prece, da Fé, da confiança em Deus.
A
propósito, encontramos em Kardec o seguinte: "O poder da fé se demonstra; de modo direto e especial, na ação
magnética; por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal,
modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível.
Daí decorre que aquele que, a um grande poder fluídico normal, junta ardente
fé, pode, só pela força de sua vontade
dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros, tidos
antigamente por prodígios, mas que não passam de efeitos de uma lei natural.
Tal o motivo por que Jesus disse a seus discípulos (no caso da cura do menino
lunático): se não o curastes, foi porque não 'tendes fé".
*
As
curas mediúnicas sempre ocorreram. Não só o Cristo curava os enfermos (aliás,
convém notar, o Cristo não necessitava de auxílio direto de qualquer médium;
tanto lhe era possível colher fluidos magnéticos do meio ambiente, ou dos
próprios apóstolos, como ele, o Mestre dos Mestres, não ignorava outras fontes
ricas de fluidos indispensáveis, graças à sua grande superioridade espiritual),
como os seus discípulos também o faziam, e os homens o fizeram em todas as
épocas e o fazem nos dias atuais, apesar dos pesares, apesar das proibições e
da incredulidade da medicina oficial, materialista; apesar do repúdio da Igreja
Romana, que tem o dislate de exorcizar tudo aquilo que não se processe dentro
de seus bastidores, e de imputar ao Diabo as inumeráveis curas de obsidiados,
de loucuras progressivas, de paralisias, de tumores malignos,
de operações cirúrgicas, de afecções várias, etc., etc., operadas, em todos os
recantos, por intermédio do Espiritismo. Diante disso, se é que Satã resolveu
praticar o bem, sem olhar a quem, e sem nenhuma vantagem financeira, é que ele
se regenerou, desistiu de persistir no crime e no erro para se transformar em
anjo benfazejo. Daí vemos que a evolução se processa ininterrupta, e tudo, no
Universo, caminha para o bem... até o Demônio! Só a Igreja de Roma permanece
estacionária, surda aos toques das Trombetas celestes, refratária às
influências do Bem e da Verdade!
*
Felizmente,
os casos de taumaturgia se repetem, indistintamente, em todas as camadas sociais. Todos conhecemos de perto os recentes casos
ocorridos em plena cidade do Recife, os casos de Madame Jael de Carvalho; sabemos dos
escândalos provocados pelos padres e pelos médicos, a ponto de proibirem aquela senhora de
praticar o bem, de sarar as dores do próximo, de lenir os sofrimentos daqueles
que reconheceram a impotência da medicina oficial; entretanto, logo em seguida,
surge o caso de um padre, no Estado de Minas Gerais, operando as mesmas curas
de Madame Jael. Se aquela "água benta", tão proclamada pela imprensa
e pelas estações radiofônicas, possui, efetivamente, propriedades terapêuticas,
é porque ela nada mais é que a água fluidificada que todos os espíritas
conhecem e utilizam. Como se trata de um padre da Igreja Católica todos se
calam, todos, acham que ele tem direito, que não é medicina ilegal, nem
charlatanismo, e a propaganda assume proporções verdadeiramente fantásticas!
A
verdade, porém, é que a faculdade é a mesma.
O
padre é um médium curador. As condições de mediunidade são absolutamente
iguais, e o êxito depende do mérito dos Espíritos comunicantes, da fé que o
paciente nutre em seu coração e do valor moral do médium, que não passa de
simples intermediário, de aparelho utilizado pelos médicos espirituais para a
efetivação de curas mediúnicas, erroneamente chamadas "milagres".
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