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Fenômenos
de Materialização
por Manoel Quintão
Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
1942
Muita
gente lastima que estes fenômenos deveras transcendentes não se multipliquem,
não se vulgarizem, no pressuposto de que eles convenceriam a todo o mundo.
Entretanto, bem outra é a ilação a tirar: diante das provas mais categóricas, há
os irredutíveis de boa e de má fé. Há os que negam "a priori", por
comodismo, por inércia intelectual - espíritos levianos para os quais o
problema da vida é uma equação fisiológica - e há os que combatem por interesse
sistemático. Defendendo prerrogativas e regalias de casta, coisa alguma os
levaria a capitular. Empalados, embiocados no - impossível - constituem a grande categoria dos que o vulgo chama - os piores cegos - os que não querem
ver.
Mas,
senhores, um dos grandes ensinamentos da filosofia espírita é o de que tudo vem
a seu tempo e providencialmente. Se o nosso cardeal se lembrasse de reproduzir
hoje, ali na Urca ou em S. Bento, o auto de fé realizado em Barcelona em 1861,
o feito não passaria de um anacronismo pueril e ridículo, como ridículos e
pueris são os apodos que, dos seus púlpitos adamascados, lançam à doutrina e
aos seus adeptos, sacerdotes mais ou menos solertes e almiscarados.
Mas,
admitindo que as materializações se generalizassem, que estes fenômenos
supranormais se intensificassem, que sucederia? Por um lado, incidiriam na
vulgaridade balofa das mesas falantes, a breve trecho no indiferentismo; e, por
outro lado, se adaptariam - o que é pior - ao fetichismo inconsequente.
Não,
mil vezes não. A Providência é um fato e se a nós compete, principalmente, nos
colocarmos em condições de bem aproveitar as esmolas que do alto nos chegam,
aos nossos Guias, aos Espíritos superiores é que compete encaminhar a evolução
da humanidade. Ora, em tese falando, o que se evidencia é que a nossa
humanidade não está preparada para a messe opima que a seara fecunda do
Espiritismo lhe oferta. A prova, tende-la em que, se tais fenômenos hão
constituído elementos de convicção a uma plêiade de sábios ilustres, não preconcebidos
de orgulho e prejuízos de escola, para outros não passam os mesmos
fenômenos de farsa ou de ilusão. Demais, fenômenos
supranormais, transcendentes, eles dependem de um médium e só se podem
verificar com eficiência dentro de leis que só moralmente se justificam - o
intuito de saber, mas saber para repartir, amando e progredindo. Fora disso,
não.
E
justo é que assim seja, e natural, também, porque uma ciência não o é tal pela
só observação dos fenômenos que oferece aos sentidos corporais. Ela o é,
precisamente, quando da observação dos fatos conjuga, relaciona, determina as
leis que regem os fatos. Não é observando céus estrelados que se faz ciência
astronômica; não é agrupando números a esmo que se pratica a matemática.
Pois
bem, senhores, nos fenômenos espiritas, é preciso que haja da parte dos
observadores o "criterium"
superior, que corresponde aos desígnios da Providencia, à Lei Moral absoluta,
no dizer dos espíritos elevados. Porque, o Espiritismo é a ciência da vida, não
no que ela tem de transitório e perecível, mas de eterno e imutável.
Ser
espírita, portanto, não é crer na imortalidade da alma, somente; não é, tão
pouco, ver, tocar, sentir e falar com os Espíritos, pois tudo isto é velho
quanto o mundo que habitamos.
Ser
espírita é assimilar, dos ensinamentos doutrinários compendiados, como destes fatos
hoje concludentes, inconcussos, o cabedal intelectual e moral necessária á
reforma desta humanidade que se dissolve e aniquila das próprias paixões, do
seu materialismo estrábico, da sua impenitência no erro.
Ser
espírita é começar desde logo a reforma de si mesmo, é renunciar, na frase do
Cristo, ao "homem velho" e segui-lo a Ele o Cristo, como quem diz -
"o meu reino não é deste mundo".
Ser
espírita é constituir elemento novo para a sociedade de amanhã e então, não
tendo já por fanal efêmero os interesses de uma classe, de uma sociedade, de um
país ou de uma raça, saber, mas saber em consciência, absolutamente, que é um
elemento indestrutível, inteligente, volitivo e progressivamente autônomo para
promover a sua integração no seio de Deus, isto é, conhecendo a verdadeira ciência,
a ciência divina, universal em Deus.
É
para isso, e tão somente para isso, que o Espiritismo baixa à Terra em
modalidades novas, revelando, ou antes, suscitando aos homens verdades velhas,
e ampliando outras que o divino Mestre definiu naquele "Consolador",
naquele "Espírito de Verdade", que ensinaria todas as coisas e
ficaria eternamente conosco.
Eternamente
conosco! Senhores, acolhamos o convite que nos chega clangorosa (estridente) ou harmoniosamente, a toques de reunir para o
"Dia do Julgamento", que é o exame da consciência para o surto
incoercível da reparação.
Lázaros
da Fé, paralíticos da Razão, ovelhas tresmalhadas do aprisco de Jesus, que é
Caminho, Verdade e Vida, façamos desse convite a preocupação máxima da nossa
existência, certos de que ela não se vai finar amanhã no crepúsculo de um túmulo,
mas vai alcandorar-se no infinito, prefulgir, irradiar no seio eterno de Deus.
Nem
de outro modo pensando eu vos falaria aqui, neste templo, que o é, e tabernáculo
de muitas graças hauridas na compreensão do lema insculpido em sua fachada –
Deus, Cristo e Caridade!
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