quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

12. 'Fenômenos de Materialização'




12
Fenômenos de Materialização
por Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942


            Muita gente lastima que estes fenômenos deveras transcendentes não se multipliquem, não se vulgarizem, no pressuposto de que eles convenceriam a todo o mundo. Entretanto, bem outra é a ilação a tirar: diante das provas mais categóricas, há os irredutíveis de boa e de má fé. Há os que negam "a priori", por comodismo, por inércia intelectual - espíritos levianos para os quais o problema da vida é uma equação fisiológica - e há os que combatem por interesse sistemático. Defendendo prerrogativas e regalias de casta, coisa alguma os levaria a capitular. Empalados, embiocados no - impossível - constituem a grande categoria dos que o vulgo chama - os piores cegos - os que não querem ver.

            Mas, senhores, um dos grandes ensinamentos da filosofia espírita é o de que tudo vem a seu tempo e providencialmente. Se o nosso cardeal se lembrasse de reproduzir hoje, ali na Urca ou em S. Bento, o auto de fé realizado em Barcelona em 1861, o feito não passaria de um anacronismo pueril e ridículo, como ridículos e pueris são os apodos que, dos seus púlpitos adamascados, lançam à doutrina e aos seus adeptos, sacerdotes mais ou menos solertes e almiscarados.

            Mas, admitindo que as materializações se generalizassem, que estes fenômenos supranormais se intensificassem, que sucederia? Por um lado, incidiriam na vulgaridade balofa das mesas falantes, a breve trecho no indiferentismo; e, por outro lado, se adaptariam - o que é pior - ao fetichismo inconsequente.
           
            Não, mil vezes não. A Providência é um fato e se a nós compete, principalmente, nos colocarmos em condições de bem aproveitar as esmolas que do alto nos chegam, aos nossos Guias, aos Espíritos superiores é que compete encaminhar a evolução da humanidade. Ora, em tese falando, o que se evidencia é que a nossa humanidade não está preparada para a messe opima que a seara fecunda do Espiritismo lhe oferta. A prova, tende-la em que, se tais fenômenos hão constituído elementos de convicção a uma plêiade de sábios ilustres, não preconcebidos de orgulho e prejuízos de escola, para outros não passam os mesmos
fenômenos de farsa ou de ilusão. Demais, fenômenos supranormais, transcendentes, eles dependem de um médium e só se podem verificar com eficiência dentro de leis que só moralmente se justificam - o intuito de saber, mas saber para repartir, amando e progredindo. Fora disso, não.

            E justo é que assim seja, e natural, também, porque uma ciência não o é tal pela só observação dos fenômenos que oferece aos sentidos corporais. Ela o é, precisamente, quando da observação dos fatos conjuga, relaciona, determina as leis que regem os fatos. Não é observando céus estrelados que se faz ciência astronômica; não é agrupando números a esmo que se pratica a matemática.

            Pois bem, senhores, nos fenômenos espiritas, é preciso que haja da parte dos observadores o "criterium" superior, que corresponde aos desígnios da Providencia, à Lei Moral absoluta, no dizer dos espíritos elevados. Porque, o Espiritismo é a ciência da vida, não no que ela tem de transitório e perecível, mas de eterno e imutável.

            Ser espírita, portanto, não é crer na imortalidade da alma, somente; não é, tão pouco, ver, tocar, sentir e falar com os Espíritos, pois tudo isto é velho quanto o mundo que habitamos.

            Ser espírita é assimilar, dos ensinamentos doutrinários compendiados, como destes fatos hoje concludentes, inconcussos, o cabedal intelectual e moral necessária á reforma desta humanidade que se dissolve e aniquila das próprias paixões, do seu materialismo estrábico, da sua impenitência no erro.

            Ser espírita é começar desde logo a reforma de si mesmo, é renunciar, na frase do Cristo, ao "homem velho" e segui-lo a Ele o Cristo, como quem diz - "o meu reino não é deste mundo".

            Ser espírita é constituir elemento novo para a sociedade de amanhã e então, não tendo já por fanal efêmero os interesses de uma classe, de uma sociedade, de um país ou de uma raça, saber, mas saber em consciência, absolutamente, que é um elemento indestrutível, inteligente, volitivo e progressivamente autônomo para promover a sua integração no seio de Deus, isto é, conhecendo a verdadeira ciência, a ciência divina, universal em Deus.

            É para isso, e tão somente para isso, que o Espiritismo baixa à Terra em modalidades novas, revelando, ou antes, suscitando aos homens verdades velhas, e ampliando outras que o divino Mestre definiu naquele "Consolador", naquele "Espírito de Verdade", que ensinaria todas as coisas e ficaria eternamente conosco.

            Eternamente conosco! Senhores, acolhamos o convite que nos chega clangorosa (estridente) ou harmoniosamente, a toques de reunir para o "Dia do Julgamento", que é o exame da consciência para o surto incoercível da reparação.

            Lázaros da Fé, paralíticos da Razão, ovelhas tresmalhadas do aprisco de Jesus, que é Caminho, Verdade e Vida, façamos desse convite a preocupação máxima da nossa existência, certos de que ela não se vai finar amanhã no crepúsculo de um túmulo, mas vai alcandorar-se no infinito, prefulgir, irradiar no seio eterno de Deus.

            Nem de outro modo pensando eu vos falaria aqui, neste templo, que o é, e tabernáculo de muitas graças hauridas na compreensão do lema insculpido em sua fachada – Deus, Cristo e Caridade! 


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