terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A Palavra de um bom Espírito

Pedro


A palavra de
 um bom Espírito (*)

in Reformador (FEB) Dezembro 1972        

            Efetuava a Federação, em seu edifício recém-inaugurado, a primeira sessão ordinária de estudo dos Evangelhos, na terça-feira, 12 de dezembro, quando, terminado o estudo, foi recebida psicograficamente a seguinte "comunicação final", que, a nosso ver, constitui magnífico e incomparável fecho para esta resenha das festas inaugurais do edifício.
           
            Subscreve-a um nome que nos é caro como o de um excelente irmão, que foi, quando na Terra, um dos mais ilustres colaboradores do "Reformador" - o Dr. Fernando de Alencar - e os conceitos que encerra, de esclarecida e oportuna edificação, merecem bem ser por todos meditados.

            É a seguinte:

            "Paz. Irmãos em Cristo, sinto-me perfeitamente à vontade neste recinto, apesar de Espírito liberto das peias da carne; sinto-me perfeitamente à vontade, porque vejo com satisfação as paredes desnudas em sua humilde simplicidade, o que me faz recordar os tempos idos, em que os primitivos cristãos, embora já organizados, ainda não tinham encaminhado os seus passos para a idolatria, com a criação de imagens que nada significam, com a ostentação de pompas que distraem os sentidos, concorrendo para que o homem se apegue cada vez mais às coisas terrenas, em vez de desprender o voo para os páramos celestes. Eis-vos no vosso templo, que me agrada pela sua singeleza, simplicidade humilde e pela nudez de suas paredes, embelezadas em vossas reuniões pelas auréolas fulgentes de vossos guias que nelas refletem o seu brilho.

            Congratulo-me também convosco, não pela casa edificada, mas por saber que no seu interior se aloja a caridade, que faz constantes sortidas para conforto de todos os nossos irmãos que a imploram, para receber a luz bendita da nova revelação. Meus irmãos, pressinto que a vossa Federação vai ter grande incremento, - se jamais vos afastardes do caminho até agora seguido -  pautando os vossos atos pelo desinteresse e tendo por norma simplicidade em tudo; imitando Jesus, que é rei e se faz o servo de todos. Jamais abandoneis esta senda:
caminhar para o Cristo, e um dia comungareis com ele na paz eterna do céu, como prêmio merecido pelos vossos labores bem cumpridos na Terra. Deus vos ajude e abençoe."

            Fernando de Alencar

(Extraído do livro "Esboço Histórico da Federação Espírita Brasileira", página 93, editado pela FEB, em 1912, para comemorar a inauguração de seu edifício sede, ocorrida em 10-12-1911.)

            (*) Em nosso editorial de julho último, abordamos o mesmo tema desta mensagem.
Reproduzimo-Ia, aqui, para que o leitor observe não ser de hoje a preocupação do Alto quanto aos perigos duma idolatria perniciosa que, de tempos em tempos, ameaça ressurgir. Convém reler aquele editorial e manter precavido o espírito, a fim de evitar "a criação de imagens que nada significam, com a ostentação de pompas que distraem os sentidos, concorrendo para que o homem se apegue cada vez mais às coisas terrenas, em vez de desprender o voo para os páramos celestes".



REFORMADOR (FEB)   Julho, 1972



Idolatria

            Ao recordar os fastos da história religiosa da humanidade, em particular aqueles que antecederam o advento do Cristianismo, alguns há que causam, hoje, verdadeiros arrepios, tal a crueza com que retratam o grau de infidelidade e de embrutecimento dos homens diante do Criador.

             Moisés, que vinha conduzindo o “povo de Israel” no rumo da Terra Prometida, sustentava-o na penosa marcha mediante as mais exuberantes demonstrações do desvelo e da proteção de Jeová, conseguindo, com isso, manter aquelas criaturas coesas em torno da fé em um Deus único e transcendente.
           
            Um dia, aquele condutor seguro e severo teve de abandonar, por algum tempo, o comando imediato de sua gente, a fim de atender ao chamado de seu Senhor, para, no alto do Sinai, receber as tábuas da Lei.
           
            Bastou que demorasse mais do que se esperava para que o povo, concentrado na planície, perdesse breve a noção do amparo celestial que o bafejava, descendo célere para as mais primitivas e grosseiras formas de idolatria. O bezerro de ouro foii erigido como objeto de adoração e reverência, ocupando nos corações e nas mentes o lugar reservado ao Pai e Criador.

            A energia com que Moisés destruiu o ídolo e objurgou o povo afigura-se, hoje, até pequena diante da enormidade do sacrilégio cometido. Mas, tal entendimento só é possível, agora, graças às noções espíritas, que tornaram inadmissível a aberrante transferência dos atributos da Divindade para objetos fabricados pelo próprio homem.

            Contudo, nem todos conseguem banir da mente a inclinação para a idolatria. Já não se adoram objetos, é verdade, mas não faltam os que se entregam, insensivelmente, ao culto de personalidades. Mesmo nos arraiais do Espiritismo, onde são recebidas enxurradas de lições convocando o adepto à adoração exclusiva do Pai, há sempre quem dê guarida a devoções particulares, que já ameaçam transformar os vultos visados em disfarçados “santos”.

            Um exame isento de quaisquer entraves mostrará que bem poucas instituições não se afanam a “comemorar” as datas referentes à reencarnação e desencarnação de algumas figuras preeminentes da Doutrina. Nada falta para que passem a constar dum calendário litúrgico. Bezerra de Menezes, por exemplo, já é alvo de uma devoção muito disseminada. Em qualquer recanto se encontram fotografias ou efígies do grande trabalhador, entronizadas e veneradas com requintes ritualísticos. A admiração a ele tributada vai assumindo o caráter de um “bezerrismo” destoante dos princípios da Doutrina Espírita. Não tenhamos dúvida de que ele é o primeiro a incomodar-se com a coisa...

            Alguns Centros já se condicionaram ao cúmulo de florirem o retrato de seus patronos. Há quem vá mais longe, colocando uma luzinha embaixo e, até, lamparina em azeite. Ora, o Espiritismo veio exatamente para refugar essas frivolidades que, sem serem denunciadas a tempo, transformarão a Terceira Revelação em mais uma religião formal e exterior. E era esse, aliás, o maior temor de Kardec. Impõe-se, pois, redobrado cuidado.

            O Bezerro de ouro é um fantasma que a história guarda à guisa de advertência permanente. Faça-se, portanto, a cirurgia inadiável, antes que o mal infeste todo o organismo. Para os espíritas, seguindo os exemplos de Kardec e Bezerra, somente um deve ser reverenciado e, mesmo assim, exclusivamente em sentido espiritual: Jesus, o Mestre. 



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