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’Guia Prático
do Espírita’
por Miguel Vives y Vives
3ª Edição
Livraria Editora da Federação
Espírita Brasileira
1926
COMO DEVEM SER OS
CENTROS ESPIRITAS?
Os
Centros espiritas devem ser a cátedra do Espírito de Verdade, pois a não ter o
espírito de luz a sua cátedra, teria sua influência o espírito do erro, e
desgraçados daqueles espíritas que estão sob a influência do espírito das
trevas, porque pouco, muito pouco adiantarão na via do progresso. Por isso se tem
visto centros espiritas caírem em graves aberrações, porque, em consequência de sua falta de
exame, ou por não seguirem uma conduta adequada às circunstancias, tem sido
dominados por influências perversas e contraído tremendas responsabilidades, em
lugar de progredir e aperfeiçoar-se.
A
Igreja católica diz que o púlpito é a cátedra do Espírito Santo; mas nós
sabemos que não há santos no verdadeiro sentido da palavra,
e sim espíritos mais ou menos adiantados, mais ou menos perfeitos, mais ou
menos puros; sabemos também que o Espírito de Verdade pode, em circunstancias
dadas, inspirar a um político, a um sacerdote, a um homem de ciência, sejam quais
forem suas crenças, segundo a importância do assunto de que trate, que desenvolva, ou discuta, mas não por
privilégio algum, e sim porque é o meio de que a Providencia se serve para fazer com que a
humanidade progrida; é o meio que o AItíssimo emprega
para que se vá mudando o estado de coisas que se hão de regenerar; mas nunca se poderá a si mesma atribuir nenhuma escola,
nem religiosa, nem política, nem social,
a assistência exclusiva do Espirito de Verdade.
Penso,
entretanto, que os Centros espíritas devem ser cátedra do Espírito de Verdade, e digo-o, porque nos Centros espiritas se celebram
sessões; nestas, como o sabem todos os meus irmãos, se recebem comunicações; são
ditadas por espíritos, que inspiram ou dominam os médiuns; si esses espíritos
não são de verdade, até onde serão levados os que forem dirigidos por espíritos do erro?
Deve-se
ter em consideração que as comunicações são ouvidas com suma atenção, e que a maioria dos irmãos que concorrem às sessões
mediúnicas ligam muito mais importância e se conservam mais atentos à
comunicação dos espíritos que às exortações do espírita mais entendido; de sorte que, se essas
comunicações são inspiradas pelo Espirito de Verdade, justifica-se muito bem, e é de grande
proveito, essa atenção; mas se o espírito que se comunica é leviano ou espírito do erro, não
resta dúvida que a influência que exercerá sobre a maior parte dos presentes será perniciosa e
prejudicial. Por isso deve-se procurar a todo custo que nos Centros Espíritas seja o
espirito de verdade o que domine e exorte; e como não é o lugar nem a fórmula o
que atrai o Espirito de Luz, é necessário guardar certas regras para atrai-lo e
tornar-lhe agradável a permanência entre nós.
Entendo,
pois, que os Centros espíritas devem ser centros de amor, de caridade, de
indulgência, de perdão, de humildade, de abnegação, de virtude, de bondade, de
justiça, a fim de atrair os bons espíritos.
O
presidente ou diretor de um Centro espírita deve ser modelo em tudo, porque, se os demais irmãos que compõem o centro devem
procurar observar uma conduta modelo, tal procedimento incumbe ainda mais ao que dirige e
ensina; este deve ser em extremo paciente, nunca precipitado, não pode
deixar-se levar por influências particulares, e sim agir segundo o bem geral dos irmãos que dirige; se é
possível, deve estudar, no que a prudência indique, o caráter e tendências de cada um dos
irmãos que estão sob a sua direção, para encaminhar, instruir e dirigir a cada um, segundo
as necessidades de sua índole e sua maneira de ser; não deve olvidar que,
achando-se investido de um cargo, que embora nada valha entre os homens, é de muita importância ante Deus,
e que, se por desídia ou falta de previsão, que com cuidado possa ter, ou por
falta de amor e de caridade entre os seus, se permite deficiências ou maneiras
que possam prejudicar moralmente aos que dirige, serão altamente responsável.
Não
deve esquecer todo presidente ou diretor de um Centro espirita que tem na
direção de seus irmãos um depósito sagrado, que um dia lhe produzirá grandes
benefícios, se souber dirigi-los bem, mas lhe trará grandes
responsabilidades, se não proceder como deve. Por isso todo diretor ou
presidente deve estar sempre apercebido, tendo e conservando o seu pensamento
muito elevado; deve ser amante da oração mental; deve conhecer perfeitamente a lei
divina (Evangelho); deve recordar a abnegação, o sacrifício e o amor do Senhor
e Mestre, a fim de em todas as ocasiões de sua existência ter presente a
maneira de agir como espírita, para que possam admirá-los os que o seguem, e
nunca censurá-lo; porque em seu centro ele é a luz, é o encarregado da Providência
para dirigir os que o seguem, é o guia espiritual visível que tem os seus
irmãos, para direção, instrução e consolo na presente existência, é finalmente
o que pode evitar, aos que lhe são confiados, as quedas,
preocupações e trevas do mundo.
Por
isso, com sua doçura, seu amor e sua palavra persuasiva, sempre mansa e
tolerante, deve corrigir todo aquele que possa ser causa ou motivo de que o espírito
das trevas possa encontrar meios para intrometer-se nos ensinos e exortações
que se recebam no centro; deve procurar que dentro do centro não se travem
conversações sobre coisas levianas, muito menos sobre assuntos que possam
redundar em crítica ou murmuração sobre irmãos ausentes; não deve esquecer que a caridade e o amor
ao próximo nos obrigam a não tratar do ausente quando não se fale bem dele. Se acaso a
necessidade obriga, proceda-se do mesmo modo como se fosse uma pessoa a quem se
ama muito, sofrendo-se quando ela se desvia. Deve procurar todo presidente ou diretor
que, ao abrir a sessão; os irmãos tenham consciência e estejam prevenidos do
ato que vão realizar, a fim de não só evitar que más influências se introduzam,
mas que se possa receber a influência e as instruções do Espírito de Verdade.
Por outro- lado, os irmãos que concorrem e
formam o centro devem ter obediência e respeito ao que Deus lhes deu para guia
e consolo; que grande coisa é, encontrar na Terra quem nos encaminhe para o Pai e nos indique os escolhos
da vida e nos afaste das quedas, que tão caras custam no futuro.
Essa
obediência, porém, esse respeito não devem ser nem fanáticos, nem obcecados, e
sim o resultado das obras, praticadas pelo que tanto se esforça em servir-lhes de
exemplo. O homem não deve, de forma alguma, abdicar da razão e do livre exame,
mas deve ser respeitador e tolerante com o que trabalha para seu adiantamento,
e não deve esquecer que ninguém pode atingir a infalibilidade; assim é que, se
chega a notar deficiências ou distração no que dirige, nunca deve recorrer à
murmuração, nem à critica, e sim à prudência, para saber o que há a relevar e o
que há a corrigir; e se se dá o caso de que se tenha de adotar a exortação ou o
aviso, é preciso não esquecer que, antes de praticá-lo, deve recorrer aos
irmãos de maior critério, prudência e caridade, em consulta de sua opinião; e se
resulta que a exortação se impõe, deve procurar-se ocasião e
modos para agir com o tato e prudência que o caso requer, não esquecendo os
serviços e trabalhos prestados pelo presidente ou diretor.
No
centro que assim agir, estou certo de que o Espírito de Verdade
influirá em suas sessões de Espiritismo, e aqueles irmãos
progredirão e prepararão para si um bom futuro. Tenho ouvido alguns irmãos dizerem: Que felicidade
ter conhecido o Espiritismo!
Por
minha parte observarei: verdadeiramente, é uma grande vantagem, para empregar bem o tempo em nossa existência; mas também o ter
conhecido o Espiritismo nos, traz grandes deveres a cumprir. Nós não podemos viver
como o comum dos demais homens; temos de combater nossos defeitos, temos de
adquirir virtudes, de viver preparados, de ser a luz e o exemplo, para que os homens admirem o Pai
e se convertam e entrem na via de depuração.
A
luz, a calma, o consolo e a segurança do futuro que nos dá o conhecimento do
Espiritismo são a parte doce e de bem-estar que nos dão tais conhecimentos; mas
a correção que devemos fazer em nós próprios (porque ninguém é
perfeito), o combater-se defeitos e afastar superfluidades e aperfeiçoar a virtude e a
humildade, tudo isto nos leva a uma observação e a um trabalho constantes;
porque, se nos extasiasse-mos a gozar das vantagens que nos traz o Espiritismo
e esquecêssemos a correção e a aquisição de virtudes, que seria de nós?
*
Prescrevi
regras e modos de conduta para os presidentes e diretores de Centros espíritas;
mas eu digo a mim mesmo: tu, que tantos anos tiveste para exortar e ensinar,
cumpriste essas regras? Foste tão tolerante, amoroso, caritativo e humilde como
devias ser? Foste calmo, discreto e abnegado como aconselhas? Duvido, todavia
não posso afirmar nem negar neste caso; meus irmãos, os que tantos anos me
observaram, os que tantos anos me seguiram, esses são os que podem julgar;
creio que não me terão faltado deficiências; sei que tive defeitos; sei que quase nunca estive à altura
de meu cargo; mas suplico a meus irmãos que me perdoem; suplico que, se alguma
coisa observaram que não fosse correta, não me sigam; suplico mais, suplico que
me observem, e se alguma coisa virem em mim que não seja bastante sã, correta e
caritativa, que se em minhas palavras e em minhas obras não houver a caridade,
a humildade e a justiça que deve haver, que me exortem, que me avisem; mas que
o façam com caridade, que não esqueçam, em tal caso, que os amo e que desejo
ser amado por eles; que me falem como fala uma mãe a seu filho, que eu farei o
mesmo; e se os não atender da primeira vez, o que poderá suceder, sendo tão mau
como sou, que não se cansem; farão verdadeira obra de caridade. Posso acaso
julgar-me a mim mesmo? Posso crer que tudo faço bem?
Para
convencer-me, pois, necessito de vosso julgamento, conhecer vossa opinião; mas
suplico que sejais amáveis e benévolos comigo, como eu o tenho sido convosco,
que esta é a verdadeira caridade.
Deus
meu! Deus meu! Terei cumprido fielmente minha missão? Terei sido para meus
irmãos o que devia ser? Terei sido bastante agradecido aos benefícios que vós,
meu Pai, me tendes feito? Quando me lembro dos dias de minha
incredulidade, quando me lembro daquelas noites passadas entre o sofrimento e a
solidão, perdida toda a esperança, perdidos todos os seres caros, e comparo os dias de
esperança, cercado de verdades e consolos, prodigalizados por aqueles mesmos
que eu supunha perdidos; quando comparo os bens imensos, consoladores,
adquiridos graças ao Espiritismo, meu amor se eleva a vós, meu Pai, e compreendo que todos os sacrifícios e todos os
trabalhos realizados em beneficio de meus irmãos são mui pouca coisa ao lado dos bens que
recebi de vós. Por isso, com toda a minha alma vos peço perdão de minhas deficiências,
das faltas que, sem dúvida, terei cometido, da falta de abnegação que terei
tido, de minha pouca humildade e caridade com meus irmãos, e vos peço luz, para
que no pouco tempo que me resta a ficar na Terra, possa reparar e corrigir-me
no que haja em mim de erros, de imperfeições, para que em minha insignificante
missão vos possa ter demonstrado o meu reconhecimento e o meu amor; e, nos dias
aziagos que tenham de vir, fazei, Pai meu, Bem meu, Grandeza minha, que me
lembre do grande exemplo do Mestre divino, do Senhor dos senhores, do Puro, do
Imaculado Jesus.
Ah!
quão ditoso serei, se nos dias de prova souber recordar-vos e amar-vos; quão
ditoso serei, se nos dias de angústia vos souber contemplar, quando coroado de
espinhos subis a encosta do Calvário com a cruz; quão ditoso serei
Senhor meu, se nos transes de dor souber praticar como vós, sofrendo sem fazer sofrer a ninguém e demonstrando serenidade e calma, como vós demonstrastes em vossa crucifixão. Dai-me,
Senhor, a verdadeira consciência da importância que tem para meu progresso o saber
sofrer bem; dai-me, Senhor meu, amor de minha alma, a verdadeira consciência, o
verdadeiro conhecimento do que significa o exemplo que nos legastes para nosso
bem, para alívio de nossas aflições; dai-me a verdadeira convicção do que poderei alcançar, se for paciente,
submisso, abnegado, caritativo, não para alcançar méritos, e sim para chegar à tranquilidade
de meu espírito, que deseja o que não acho na Terra, sinto que o não encontro aqui; meu
espirito deseja amor - verdade, fraternidade- verdade, indulgência-verdade, e
compreendo que, para achar o que anhela meu espírito, não o posso encontrar na Terra
e sim em outras moradas; por isso, Senhor de minha alma, vos peço luz, amor,
paciência, virtude, para que, quando chegar a hora de partir da Terra, possa
habitar entre os que se amam, se toleram, se afagam e seguem pelo caminho que
vós nos traçastes, caminho que no fim nos levará às moradas de felicidade.
Irmãos
todos, - os que dirigis e os que escutais e aprendeis, os que tendes a missão de exortar e os que seguis segundo as instruções
dos do espaço e dos da Terra, amai-vos muito, tolerai-vos e corrigi-vos com indulgência;
fixai todas as vossas esperanças na vida que há de vir; sede abnegados e
caritativos, moral e materialmente, até onde cheguem vossas forças, e não
duvideis de que, acrescentando a tudo isso um grande respeito e admiração ao Pai,
até onde possa chegar a vossa admiração, o Espírito de Verdade terá a sua cátedra
em vossos centros e vos ensinará a seguir praticamente o que Deus nos enviou
como modelo, e que, segundo as suas próprias palavras, é o caminho, a verdade e
a vida; ele vos ensinará a fazer dos centros espíritas um éden de felicidade,
onde reinará a paz dos justos, e sentiremos, já entre nós, o prelúdio da paz
que há de vir; a nossa missão deslizará tranquila na Terra, comunicaremos a
nossa paz e a nossa esperança a muitos, e seremos a luz do mundo, inspirados e
educados pelo Espírito de Verdade.
FIM
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