Bilhetes
por G. Mirim (Antônio Wantuil)
Reformador
(FEB) Setembro 1946
Num
dos Concílios da Igreja, como os homens não pudessem compreender o Cristo, porquanto
não achavam explicação possível, na época, para os "milagres" por ele
realizados, decretaram como dogma que o Enviado era o próprio
Deus, então dividido em três pessoas, tal como os deuses de antigas religiões.
Com
Buda, os fatos se passaram mais ou menos de forma semelhante. É a tendência
natural dos homens. Entretanto, todos nos rimos da ingenuidade dos índios, por
se terem curvado ao deus Caramuru.
Assim
têm sempre procedido os homens apesar de os iniciadores dos movimentos religiosos
deixarem bem claramente explicado que eles não eram deuses, mas criaturas
falíveis como nós o somos.
Dessa
maneira, com tais interpretações, a Humanidade se tem dividido ou conservado em
verdadeiro estado de fanatismo religioso, estacionando o que veio para ser
evolutivo. Swedenborg aí está, trancado nos livros que deixou, formando uma
seita à parte.
Com
o Espiritismo já se vai também caminhando para esse estacionamento. Kardec foi muito grande e, daí, por não o compreenderem,
aliás, por não assimilarem a Doutrina que ele recebeu através de médiuns, codificando-a, já
existe uma tendência para as subdivisões e por conseguinte, para o enfraquecimento do meio e
consequente vantagem para o sacerdotismo semi oficializado de outras igrejas.
É
necessário, portanto, que não confundamos a pessoa de Kardec com a obra por ele recebida do Alto. Não ponhamos em plano igual as
obras que lhe foram ditadas e os trabalhos outros de sua própria pena. Nas primeiras estão
as leis; nas segundas, as opiniões pessoais de um homem que, apesar da sua alta e ímpar posição
no meio espírita, não pode ser considerado em igualdade com os Espíritos que
lhe transmitiram aquelas leis, e tanto é justo esse nosso raciocínio, que ele
próprio, agindo com a precaução dos sábios, em várias ocasiões repetiu essa
mesma afirmativa de que estava sujeito a erros e, por isso mesmo, muitas vezes
não afirmava, mas apresentava apenas hipóteses.
Tenhamos
por Allan Kardec o respeito e o amor de que se fez merecedor, mas não nos
subdividamos por caprichos ou por vaidades exibicionistas que existam dentro de
nós. Esforcemo-nos, antes, por reunir todos os meios espíritas, conseguindo
convencer, até mesmo os anglo-saxões, de que "O Livro dos Espíritos"
é a ligação de todos nós.
Se
continuarmos como vamos, entregando-se cada um ao primeiro inimigo invisível
que se lhe apresente, em breve teremos centenas de pequenos agrupamentos: os
que só aceitam os fenômenos; os que repelem a reencarnação; os que rejeitam a
teoria de Darwin; os que não toleram preces; os que não admitem a evocação de
Espíritos, etc., etc., cada um com a sua denominação especial.
Como
vemos, todos aqueles que trabalham pela subdivisão da Doutrina e que procuram combater e criticar, sem construir, são criaturas
que se vêm prestando para a obra dos inimigos invisíveis.
Paulo
foi considerado como o maior dos pregadores e o verdadeiro propagador do
Cristianismo; porque procurou reunir todas as correntes, indo até mesmo à procura
dos gentios, classe desprezível para os fanáticos do Judaísmo, então dominante,
e para os que receberam; no berço, a educação dessa poderosa organização político-religiosa dos primeiros tempos.
Dividir,
criticar, condenar, acusar não é obra digna de um espírita, porque a Doutrina
nos ensina a trabalhar para a união, para a tolerância, para o amor.
Trabalhemos,
pois, pela união e nunca para a desunião.
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