Acenda a
tua lanterna
por José Brígido
(Indalício
Mendes)
Reformador
(FEB)
Nov 1946
Pega teu arado, ó homem, e lavra o
campo adusto que te espera, solícito. Fecunda o seio da terra com a semente da
iniciativa própria e ela te recompensará o esforço com uma colheita farta.
Rasga o solo generoso, fere-o com a enxada do trabalho honesto e a terra, em
vez de permanecer indiferente, transformará em frutos sazonados as dores que
lhe causares na santa faina da lavoura. Nós somos filhos da terra e ela, mãe
generosa, nos dá tudo de que necessitamos para viver. Não se importa com a
nossa ingratidão, porque é mãe, e quando a nossa vida carnal se extingue, é ela
que nos guarda os despojos, como num amplexo de piedosa ternura. Terra bendita,
mãe desvelada, que os homens, filhos desnaturados, não sabem prezar como devem!
És também o campo de experiências em que se adestram os Espíritos para jornadas
futuras! Tudo nos dás sem pedir contas, mas, na conformidade das leis que regem
as coisas, tudo retoma naturalmente às tuas entranhas para que no-lo devolvas
em outras oportunidades!..
*
Ó companheiro! Abandona essa atitude
egoística que te faz olhar a vida às avessas. Se não o fizeres, dentro em pouco
estarás palmilhando a senda escura dos desiludidos. A vida acabará por perder
para ti o colorido. E o teu coração, em vez de se fortalecer com os impulsos
sadios da fraternidade, se petrificará num individualismo doentio. Pensas
demasiadamente nos teus interesses e não te lembras nunca de que o mundo não é
só teu e que
não estás sozinho no mundo. Cada criatura é como que um elo de imensa cadeia.
Todos nós nos achamos mais presos uns aos outros do que imaginas. Os
preconceitos humanos não têm força para alterar ou sustar as leis universais.
Muitas vezes, um pária se acha mais unido a um potentado do que parece...
Portanto, companheiro, para um instante, um instante apenas. Olha para os
outros homens com serenidade, sem rancores nem prevenções, porque os
sentimentos inferiores são deletérios. Olha para a vida sem indiferença e sem
ódio, porque a vida só é má quando os homens querem que ela se abastarde ao
contato com a maldade que
eles praticam ...
*
Não adianta procurares a felicidade.
Ela somente poderá aproximar-se de ti através do trabalho, do amor, da
caridade, do perdão e da renúncia. Todos somos viajores demandando um ponto
único. De nós dependerá o destino que nos espera, porque somos nós que o
construímos, com os nossos pensamentos e os nossos atos. Cada um de nós forja,
segundo a segundo, minuto a minuto, hora a hora, dia a dia, o seu destino. A
Humanidade é uma caravana que segue para o Desconhecido: uns vão mais depressa,
outros mais devagar, outros se atrasam no caminho... Mas todos chegarão um dia
ao fim da jornada. Por conseguinte, companheiro, atenta bem para o que fizeres
hoje, a fim de que o amanhã te seja benéfico.
*
Diz um provérbio árabe: "Quem
não sabe que não sabe, é tolo. Foge dele. Quem não sabe e sabe que não sabe, é humilde.
Ensina-o. Quem sabe e não sabe que sabe está dormindo. Acorda-o. Quem sabe e sabe que sabe, é sábio. Segue-o." Mas, por Maomé,
como poderemos fugir dos tolos, se seu número é infinito?!
*
Deve-se a Marco Aurélio esta
sentença lapidar: "Não há refúgio
mais tranquilo do que aquele que o homem encontra na sua própria alma".
Essa tranquilidade, porém, depende das condições morais da alma. Faze o bem,
cumpre teu dever, cultiva com carinho o sentimento de fraternidade cristã, e tu
alma será esse refúgio de que falou Marco Aurélio. Se, no entanto, deixares que
te envolvam sentimentos inferiores, tua alma, em vez de se tornar um abrigo, te
parecerá uma Geena presa de chamas eternas... Busca desde hoje a paz,
construindo-a com o
que há de melhor dentro de ti. Não esqueças do que ensina Alexis Carrel: "Quer a inteligência, quer o senso
moral se atrofiam, como os músculos, por falta de exercício".
*
Fazendo somente a ti todo o bem, não
serás feliz. Se, entretanto, o fizeres a outrem, esquecido de ti e sem
aguardares reconhecimento, a vida se desvendará aos teus olhos e compreenderás
onde se encontra verdadeiramente a felicidade.
*
Acende a tua lanterna e põe-te a
caminho. A jornada é longa, o caminho áspero e a carga pesada. Mas começa desde
agora a caminhada, evitando os atalhos. Neles se esconde o perigo.
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