domingo, 9 de setembro de 2012

19. "Amor à Verdade"




19
“Amor à Verdade”
por Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927


Solidariedade dos mundos


            Sublime organização a das leis divinas, segundo as quais as boas obras, refletindo-se constantemente umas sobre as outras, em perene harmonia, conduzem ao supremo bem, à perfeição.

            Observar, perquirir com a calma e sincera preocupação da realidade, deitar à luz o fruto das suas laborações - eis a forma de ser útil à humanidade e a si mesmo, portanto.

            Se compreendêssemos o efeito de um bom pensamento, nota sonora nas sinfonias celestes e cuja repercussão determina a melhoria de multidões sofredoras, esforçar-nos-íamos, sequer uma vez na vida, por tanger a lira dos benefícios que, fazendo-nos crescer, se multiplicariam ao infinito, em sucessivas e intérminas bonanças. Não nos finaríamos em busca de ilusórias felicidades; que, de fato, ser feliz é sermos humildes, cumpridores de todos os nossos deveres, a começar pelo que nos adverte a não fazermos aos outros o que não queremos que se nos faça, até aquele que nos manda amar a Deus acima de tudo.

            Como quer que, hoje em dia, se vêm delinquir os homens menos por maldade que por cegueira - a secular cegueira! - feliz positivamente é quem, sobranceiro a quaisquer sacrifícios, trabalha de orientar o próximo, chamando-o, pelo conhecimento do universo e, dos nossos destinos, à prática do amor e da justiça. 

            Ouvidos agora a alguém que abnegadamente baixa a planeta menos adiantado, onde aumentar as grandezas, bafejar a cultura das virtudes, que, sós, poderão agasalhar-nos da dor. Assim diz:

            “Paz de Maria seja com o meu filho.

            “Estou satisfeita com os serviços realizados e venho trazer-te mais alguns subsídios para a tua educação.

            “O Pai sempre permitiu que Espíritos infelizes agissem sobre os encarnados com o duplo fim de servirem à prova e, ao cabo, se reconciliarem com inimigos que, de séculos, não raro se hostilizam.

            Acontece porém, que os encarnados, à falta de compreensão, se deixam levar por eles, aceitando as suas inspirações e retardando não só a sua conversão deles como o completo resgate da culpa própria.

            “Sempre que se depara ensejo de aproveitar um bom pensamento, os mensageiros divinos acodem a fecundá-la. Para logo, porém, a influência se perde, se más lembranças sobrevierem a quebrar a consonância espiritual.

            “Os diferentes mundos habitados seguem, sem descontinuar, a estrada do progresso; e se a um se dá certo impulso, os outros recebem disso o reflexo.

            “No serviço que ora se intensifica na Terra para que seja ela melhorada, muito concorre a boa inspiração de planetas mais elevados, donde partem postilhões no afano de auxiliar o que entra em dado período de evolução.. Nada se passa sem que um movimento continuo se opere, em consequência do primeiro ímpeto.           

            “Se dos orbes superiores baixam Espíritos de mais saber e encontram, no inferior, elementos similares, com os quais combinem as suas vibrações, procuram, por todos os meios possíveis, dentro do livre arbítrio e em proveito das coletividades, transmitir o que sabem.

            “Ora, o Pai paga a todo trabalhador na razão de cem por um; daí o prêmio alcançado pelo que ensinou e contribuiu para o adiantamento de seres menores. Ganhando em luz, elevam também o seu próprio planeta, já por sua vez favorecido de outros maiores. Assim tudo evolve, tudo ascende para a Perfeição.            

            “Melhor compreendê-lo-ás tomando, como não pode deixar de ser, por ponto de referência a Terra e os atuais serviços de regeneração.

            “Entre as esferas habitadas, há-as melhores do que a Terra; mas muitas no infinito rodopiam também, onde só predomina o instinto, a animalidade...

            “No entanto, vão efetuando o seu progresso, lento, gradual, porém constante.

            “Os trabalhos cada vez maiores que, há mais de um decênio, vimos fazendo para que todos sejam banhados da luz, trabalhos a que te tens prestado, com outros, dedicadamente, fornecendo os fluidos, formam poderoso elo entre planetas de diversos graus.

            “Espíritos orgulhosos, de má índole vivem no espaço em permanente oposição a todos os princípios de moral cristã, não oferecendo jamais oportunidade de serem inspirados a nobres resoluções e ao culto sublime da verdade. O Pai, porém, para que no concerto mundial não haja dissonância alguma, respeitando ainda aí o livre arbítrio, fa-Ias encarnar entre gente culta e de bons sentimentos, onde, por um lado, servem de instrumento de prova para quantos em seu seio os recebem, como filhos ou irmãos, e por outro, ante a educação e o exemplo destes, melhoram sempre um bocado, vindo a colocar-se em condições de receberem a doutrinação superior. Às vezes, o modelo, a dedicação, o carinho dos seus parentes e compatriotas, logram encaminhá-Los; noutras, são baldados todos os esforços e eles perseveram maus, constituindo os degenerados, apesar das famílias boas e honradas. Para o que, até hoje, não souberam filósofos encontrar a justificativa, aliás bem transparente.

            “Não tendo assim obtido resultado e sendo o progresso uma das leis capitais, é remédio deportá-los para um globo inferior, onde, ou se regeneram pela dor e regressam ao paraíso perdido, ou, revoltando-se, dilatam o degredo, sendo então aproveitados como elementos de aperfeiçoamento daquele globo, para eles atrasadíssimo.

            “Lá permanecem desencarnados, pregam os seus conhecimentos e, quando têm já, por esse motivo o seu mérito, voltam. Então, aconselhados e carinhosamente trabalhados, avivando-se-lhes sempre a lembrança do que amargaram, iniciam o desenvolvimento das virtudes.

            “Outros existem que passam por maiores provas e são forçados a encarnar naqueles mundos, expiando flagícios, é certo, mas infundindo pelos seus conhecimentos relativos algum progresso, do que lhes advém galardões e certo bem estar no meio em que foram habitar.

            “Assim, a obra de regeneração num planeta dá lugar a que outros mundos, onde só há choro e ranger de dentes, também recebam influxo, pois, por gratidão a Deus, muitos Espíritos, depois de convertidos, para lá guiam e, suportando, por amor do Pai e do próximo, os horrores duma atmosfera pesadíssima, inspiram e aconselham, consoante fazemos nós com os que viveis aqui.

            “Agora, meu amado filho, estás habilitado a compreender uma pequeníssima parte das harmonias divinas e dos sacrifícios que certos Espíritos arrostam vindo à Terra para esclarecer os seus habitantes.

            “Tudo é relativo; e para que possa um Luminar descer até vós, necessário se torna preparar-se, aproveitar lugares e ocasiões, a fim de atenuar as incompatibilidades do meio, cujas vibrações tornam o ambiente mais que ingrato, penoso ao Instrutor. Contudo, se todos somos filhos de Deus, nenhum sofrimento é lamentado senão quando aquele que
recebe imita o infiel depositário dos talentos.

            “Sim, a natureza das radiações humanas obriga-nos a buscar pontos, ou momentos, favoráveis à nossa aproximação.  Após uma boa chuva, ou à margem das superfícies líquidas, é que mais toleráveis se nos mostram aqui os elementos, mercê da ação dissolvente que a água exerce sobre os fluidos, conforme chamam à matéria em seus últimos graus de pureza e rarefação.”



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