Diante do grande número de cartas
que recebemos, pedindo-nos transcrever mais alguns trechos do livro - Deus - da
autoria do rev. Padre Huberto Rohden, atualmente professor de uma universidade
católica mantida pelos jesuítas na América do Norte, abaixo satisfazemos o
desejo dos nossos leitores:
"Por
ora, é o dogma e a liturgia que dominam nas religiões e igrejas - dia virá em
que a ética e a mística
proclamarão o seu reinado dentro do homem e da sociedade. Prevalecerá o simbolizado sobre
o símbolo, esse símbolo que, por ora, escraviza e quase que elimina o
simbolizado. "
"Os
símbolos desunem, geram antagonismos, organizam sanguinolentas cruzadas de
"fiéis" contra "infiéis", acendem autos-de-fé para queimar
"hereges"; fulminam anátemas e excomunhões contra os dissidentes da
ortodoxia oficial - tudo isto é efeito natural e inevitável da prepotência dos
símbolos divergentes, tudo isto é inerente à imperfeita e imatura
espiritualidade humana, tudo isto é a vitória do símbolo sobre o simbolizado.
Mas, quando despontar a grande alvorada espiritual, a maturidade espiritual do
gênero humano; quando o simbolizado prevalecer plenamente sobre os símbolos,
então convergirão todas as linhas divergentes da grande pirâmide para um e o
mesmo vértice."
"Não
estatuiu o Nazareno como alma do seu Evangelho a verdade, mas, sim, a caridade porque esta une, e
aquela desune. A verdade, embora una em si, é vária nos homens que a contemplam. O
homem não enxerga a verdade, só enxerga verdades - e cada uma dessas verdades tem a cor
e o feitio de quem as contempla. A caridade, porém, é neutra, incolor, universal,
essencialmente panorâmica e impessoal."
"O
que o chamado ateu nega é o deus da sua filosofia e do seu ambiente religioso.
Esse deus cruel, mesquinho,
vingativo, fraco, antropomorfo, choroso, amargurado, sem sorte nas suas obras,
derrotado por seu inimigo, como inúmeras vezes aparece nas páginas da nossa
literatura religiosa - esse deus não pode, naturalmente, ser afirmado nem amado
por um sincero cultor da divindade, porque esse deus nem existe no mundo real,
senão na imaginação doentia dos seus infelizes autores... E bom é que não
exista, esse pseudo deus... Se existisse, devia todo homem sincero ser
ateu..."
Aí têm os nossos amigos mais alguns
conceitos filosóficos do famoso padre jesuíta. Lamentamos que o pouco espaço de
que dispomos não nos permita fazer mais algumas transcrições.
assina I. Pequeno"
(Antônio Wantuil de Freitas)
in ‘Reformador’
(FEB) Janeiro 1946
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