quarta-feira, 8 de agosto de 2012

5. 'Amor à Verdade'

Florbela Espanca


5
“Amor à Verdade”
por Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927



A Prece


            Muitos são os que oram; poucos os que o sabem fazer. Orar é elevar bem alto o pensamento para que a alma possa haurir, nas fontes fecundas, o amor para vencer e a envergadura para lutar.

            A prece, para produzir efeito, é necessário suba do coração, sentindo-a realmente aquele que ora.

            Quando, em fervente oração, dirigimos o pensamento a Deus, nossa alma alcandora-se e, por uma distensão do perispírito, atinge as altas regiões, habitadas pelos Maiores, que, reconhecendo nossa intenção, nos ajudam e dirigem convenientemente.

            Os videntes esclarecidos, quando concentrados, percebem partir dos que exoram com fé, colunas mais ou menos grossas de fluidos e, ao terminar, caírem, como flocos de neve brilhante, sobre quem rogou, os salutares eflúvios.

            Ora, a humanidade tem sobre si densa camada de fluidos; para rompe-la e estabelecer comunicação com os Espíritos felizes, mister se faz empenho e esforço não pequeno. Também para que a prece chegue até ao Pai.

            Pessoas há que recitam inumerável número delas, sem que logrem varar a referida barreira fluidica, por falta dos requisitos indispensáveis.

            Não cessam os nossos Amigos - amigos e protetores de toda a família humana - de nos solicitar especial cuidado para a prece, dizendo sempre que só a prece partida do coração, a prece Improvisada, filha do sentimento, pode ser ouvida, vibrando com as harmonias celestes.

            Contou-nos certo Amigo que, entre muitas pessoas que rezavam (e esta palavra é outra forma de recitar), chamou-lhe à atenção um preto que, não conhecendo ou desprezando as fórmulas, cifrou nesta frase o seu voto: Meu Deus, seu negro está aqui“Foi a melhor prece concluiu nosso visitante, de quantas ali ouvi: testemunho por igual de submissão e confiança em Deus.”

            Muitos escusam de orar, pretextando que o pedido não tem valor e nada adianta, uma vez que os desígnios do Criador têm de cumprir-se. Engano! Porque, orar é pedir um auxilio, um favor, para si e para outrem; é também agradecer e, sobretudo; elevar-se reconhecendo a misericórdia divina, chamando os seus mensageiros, que, sempre solícitos, aí se acham para atenderem dentro do limite do possível.

            Os que se queixam da ineficácia da prece, tendo por inúteis as suas rogativas, não compreendem, muita vez, que o que lhes parece um bem, e por isso desejam, não é, para sua real felicidade, senão um mal. Ignaros do porquê e do para quê da vida, fazemos não raro como as criancinhas que se agastam com o ‘papá’, que lhes negou um doce por sabê-lo inconveniente, prejudicial mesmo à saúde do filhinho muito amado. Avisado, pois, muito avisado, aquele preto, que, sem saber o que pedir, de corpo e alma se entregou à divina vontade.

            Como se verá, tem cabida aqui o seguinte ditado de Pedro II:

            “A luz do Pai celestial seja com o meu filho.

            “Vim porque me senti satisfeito contigo. Que de bonanças recebemos com os teus desejos ardentes de bem servir à causa da regeneração.

            “O esforço empregado muito nos tem valido; haja vista a ampliação dos serviços em prol da libertação do meio onde importa ajudares, com a doutrinação metódica, o desenvolvimento da fé.              

            “Ora sempre; não sem primeiro pensar um pouco nas coisas celestiais, pois a prece, como sabes, cumpre ser feita com recolhimento, isto é, com o pensamento livre das preocupações terrenas.

            “A prece, meu filho, tem uma grande utilidade; mas, assim como em ciência e literatura quer-se muita concordância, assim precisa havê-la em nossas súplicas.

            “Mais pura é a prece dita com o coração, impulsionada pela vontade e aquecida pela fé. Como  vês, não podemos compreender essas qualidades na prece quando ainda persistem no cérebro lembranças vivas das preocupações diárias.

            “Não quero com isso dizer que não se deva orar sempre que as circunstâncias o aconselharem, pois que, sincera, a prece é sempre ouvida; mas a prece pura não só ouvida como ainda constitui um contracanto na sinfonia universal.

            “0 serviço que temos feito, a luta que temos sofrido, a luz que temos disseminado sobre os nossos infelizes irmãos, tem-nos feito avançar; e a evolução nos leva a conhecer a lei das harmonias, que muito longe se acha ainda da compreensão dos habitantes da terra.

            “Entre os, mais elevados na hierarquia espiritual, acha-se um ente querido nosso, como Guia de séculos, cheio de amor por nós e pela humanidade; ele me transmite, neste momento, estes conselhos para tua educação, e tão alto se acha que, a comparar as distancias, direi que está no lado oposto do planeta; no entanto, a sua vontade é tão firme, o seu pensamento tão elevado e puro que daqui o ouço e vejo, como se juntos estivéssemos. Porque? Por que entre nós nenhum obstáculo se encontra, o oceano fluídico é sempre límpido e homogêneo, contribuindo às harmonias celestiais para a perfeita comunicação entre nós.

            “Os conselhos de hoje servirão a ti e aos nossos irmãos.

            “Grandes são os ensinamentos que tens recebido no espaço, quando em repouso teu corpo; porém é preciso recebê-los parte em vigília, porque a carne obceca e a camada pesadíssima de fluidos que envolve os mortais, tira quase por completo a reminiscência do que se aprende no alto.

            “Este conhecimento é o prêmio espiritual concedido aos trabalhadores, como salário que nunca será tirado, porque passa a ser parte integrante da alma.

            “As almas boas são acolhidas no plano supra físico segundo os predicados que possuem, quer tenham sido um ignorante como encarnado, quer um sábio, pois muitos dos que andam apontados como sumidades muita vez são menores, em conhecimentos, do que os seus criados.

            “As leis divinas encerram um conjunto de grandezas que na terra não podem ser compreendidas nem mesmo por um grande espírito, que em missão viesse ensinar e ajudar a humanidade. O seu ofício seria executado, porque assim teria de ser; porém, para que o seja, necessário é que Elementos de grandes luzes o assistam, com intuições, a desobrigar-se do compromisso assumido”.



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