Florbela Espanca
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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
A Prece
Muitos são os que oram; poucos os
que o sabem fazer. Orar é elevar bem alto o pensamento para que a alma possa
haurir, nas fontes fecundas, o amor para vencer e a envergadura para lutar.
A prece, para produzir efeito, é
necessário suba do coração, sentindo-a realmente aquele que ora.
Quando, em fervente oração,
dirigimos o pensamento a Deus, nossa alma alcandora-se e, por uma distensão do
perispírito, atinge as altas regiões, habitadas pelos Maiores, que,
reconhecendo nossa intenção, nos ajudam e dirigem convenientemente.
Os videntes esclarecidos, quando
concentrados, percebem partir dos que exoram com fé, colunas mais ou menos
grossas de fluidos e, ao terminar, caírem, como flocos de neve brilhante, sobre
quem rogou, os salutares eflúvios.
Ora, a humanidade tem sobre si densa
camada de fluidos; para rompe-la e estabelecer comunicação com os Espíritos
felizes, mister se faz empenho e esforço não pequeno. Também para que a prece
chegue até ao Pai.
Pessoas há que recitam inumerável número
delas, sem que logrem varar a referida barreira fluidica, por falta dos
requisitos indispensáveis.
Não cessam os nossos Amigos - amigos
e protetores de toda a família humana - de nos solicitar especial cuidado para
a prece, dizendo sempre que só a prece partida do coração, a prece Improvisada,
filha do sentimento, pode ser ouvida, vibrando com as harmonias celestes.
Contou-nos certo Amigo que, entre
muitas pessoas que rezavam (e esta palavra é outra forma de recitar),
chamou-lhe à atenção um preto que, não conhecendo ou desprezando as fórmulas,
cifrou nesta frase o seu voto: Meu Deus,
seu negro está aqui. “Foi
a melhor prece concluiu nosso visitante, de quantas ali ouvi: testemunho por
igual de submissão e confiança em Deus.”
Muitos escusam de orar, pretextando
que o pedido não tem valor e nada adianta, uma vez que os desígnios do Criador
têm de cumprir-se. Engano! Porque, orar é pedir um auxilio, um favor, para si e
para outrem; é também agradecer e, sobretudo; elevar-se reconhecendo a misericórdia
divina, chamando os seus mensageiros, que, sempre solícitos, aí
se acham para atenderem dentro do limite do possível.
Os que se queixam da ineficácia da
prece, tendo por inúteis as suas rogativas, não compreendem, muita vez, que o
que lhes parece um bem, e por isso desejam, não é, para sua real felicidade,
senão um mal. Ignaros do porquê e do para quê da vida, fazemos não raro como as
criancinhas que se agastam com o ‘papá’, que lhes negou um doce por sabê-lo
inconveniente, prejudicial mesmo à saúde do filhinho muito amado. Avisado,
pois, muito avisado, aquele preto, que, sem saber o que pedir, de corpo e alma
se entregou à divina vontade.
Como se verá, tem cabida aqui o
seguinte ditado de Pedro II:
“A
luz do Pai celestial seja com o meu filho.
“Vim porque me senti satisfeito contigo.
Que de bonanças recebemos com os teus desejos ardentes de bem servir à causa da
regeneração.
“O
esforço empregado muito nos tem valido; haja vista a ampliação dos serviços em
prol da libertação do meio onde importa ajudares, com a doutrinação metódica, o
desenvolvimento da fé.
“Ora
sempre; não sem primeiro pensar um pouco nas coisas celestiais, pois a prece,
como sabes, cumpre ser feita com recolhimento, isto é, com o pensamento livre
das preocupações terrenas.
“A
prece, meu filho, tem uma grande utilidade; mas, assim como em ciência e literatura
quer-se muita concordância, assim precisa havê-la em nossas súplicas.
“Mais
pura é a prece dita com o coração, impulsionada pela vontade e aquecida pela
fé. Como vês, não podemos compreender
essas qualidades na prece quando ainda persistem no cérebro lembranças vivas
das preocupações diárias.
“Não quero com isso dizer que não se
deva orar sempre que as circunstâncias o aconselharem, pois que, sincera, a
prece é sempre ouvida; mas a prece pura não só ouvida como ainda constitui um contracanto
na sinfonia universal.
“0
serviço que temos feito, a luta que temos sofrido, a luz que temos disseminado
sobre os nossos infelizes irmãos, tem-nos feito avançar; e a evolução nos leva
a conhecer a lei das harmonias, que muito longe se acha ainda da compreensão
dos habitantes da terra.
“Entre
os, mais elevados na hierarquia espiritual, acha-se um ente querido nosso, como
Guia de séculos, cheio de amor por nós e pela humanidade; ele me transmite,
neste momento, estes conselhos para tua educação, e tão alto se acha que, a
comparar as distancias, direi que está no lado oposto do planeta; no entanto, a
sua vontade é tão firme, o seu pensamento tão elevado e puro que daqui o ouço e
vejo, como se juntos estivéssemos. Porque? Por que entre nós nenhum obstáculo
se encontra, o oceano fluídico é sempre límpido
e homogêneo, contribuindo às harmonias celestiais para a perfeita comunicação entre
nós.
“Os conselhos de hoje servirão a ti
e aos nossos irmãos.
“Grandes são os ensinamentos que
tens recebido no espaço, quando em repouso teu corpo; porém é preciso recebê-los
parte em vigília, porque a carne obceca e a camada pesadíssima de fluidos que
envolve os mortais, tira quase por completo a reminiscência do que se aprende
no alto.
“Este conhecimento é o prêmio
espiritual concedido aos trabalhadores, como salário que nunca será tirado,
porque passa a ser parte integrante da alma.
“As almas boas são acolhidas no
plano supra físico segundo os predicados que possuem, quer tenham sido um
ignorante como encarnado, quer um sábio, pois muitos dos que andam apontados
como sumidades muita vez são menores, em conhecimentos, do que os seus criados.
“As leis divinas encerram um
conjunto de grandezas que na terra não podem ser compreendidas nem mesmo por um
grande espírito, que em missão viesse ensinar e ajudar a humanidade. O seu ofício
seria executado, porque assim teria de ser; porém, para que o seja, necessário
é que Elementos de grandes luzes o assistam, com intuições, a desobrigar-se
do compromisso assumido”.
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