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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
Oposições
As passagens comuns da vida
preparam-nos, após meticuloso exame, para o conhecimento das dificuldades que
encontramos em nossos tentames.
Sempre que, na Terra, um homem se
faz notar por suas boas práticas e pelas virtudes que diligencia desenvolver,
começa por levar os olhos curiosos da turbamulta e não raro se vê transformado
em ponto de convergência de mil oposições, maiores ou menores, segundo os
interesses que, ao cego entender, parecem profundamente feridos e prejudicados.
Na política, na religião, nas ciências
mesmas, são frequentes arremetidas tais, e nem sempre interpretadas com acerto.
O despeito, a inveja, o orgulho,
filhos todos da escuridão, levantam grossa muralha a todo o raio de luz.
Pois é o que também fazem os que
morreram ignorantes da lei, orgulhosos e egoístas. Não tendo produzido senão
frutos maus, não podem compreender os ensinos e desaceitam tudo quanto sai da
trilha habitual e abala os seus inveterados preconceitos. É o egoísmo da
opinião.
Negando a realidade do progresso,
imaginam que nada os preleva e excede; assim oferecem luta a todos que, «a
peito aberto e fé lavada», se votam à pesquisa da verdade e à sua divulgação.
Quando estudiosos e observadores,
são os espíritas os mais visados pela coorte de revoltados da erraticidade, que
se esforçam por dominá-los, como a outros já fizeram, os quais, acolhendo as
suas sugestões, lhes servem de instrumento contra os primeiros. Mas, se assim
é, releva não desanimar; antes, revestir-se de confiança e firmeza, desbravar o
terreno
donde brotará farta ceifa.
É de nosso Guia o estudo que segue.
“Paz
de Maria seja com o meu filho.
“Vamos estudar o como se efetivam as
obras do engrandecimento.
“Sempre que se nos oferece ocasião
para chamarmos à luz da verdade qualquer filho de Deus, empregamos o processo
usado nas provas, isto é, deixamo-lo agir.
“Todo
homem que abre caminho novo em qualquer terreno, torna-se alvo da curiosidade
natural despertada em seu próximo.
“Ora, o que se dá com os homens,
também ocorre com os invisíveis, que vivem em seu meio, aplaudindo ou
reprovando os seus atos.
“Quando alguém, por amor do
progresso,
chega a sacrificar-se em favor de um
ideal, muita vez incompreendido, no momento, pelas multidões obcecadas e
presumidas, alvoroçam-se os povoadores do espaço. Então, na maioria dos casos,
pelo não poderem imitar, despropositam criando embaraços de toda a sorte; em
guerra incessante lutam até vencerem ou serem vencidos.
“Repare-se,
com a necessária independência, na alegria, no tripudio dos irreflexos, quando
podem contrapor obstáculos àqueles que, saindo fora do vulgar, por amor do próximo
se submetem abnegadamente às leis imutáveis e harmônicas. A condição de
destaque, ou, por outra, a grandeza de sentimentos não pode ainda ser compreendida;
e a curiosidade faz com
que sempre se aglomerem despeitadas sombras em torno do que assim procede, com
o fito de o baldarem.
“Assim
não devera ser, pensarão: porque o
instrumento de progresso convém rodeado de todos os cuidados, de maneira que
não lhe falte nada e a sua obra resulte perfeita. Perfeita, sim, sê-lo-á, eu vos
afirmo; e exatamente por isso que encontra esses mesmos obstáculos
- ensejo de mais ampla colheita.
“Assim
como nas grandes empresas da Terra se
ocupam centenas de operários, que sem trabalho estavam, para que ganhem no
labor o pão de cada dia, assim e por igual teor sucede com as empreitadas
divinas, onde os invisíveis curiosos e desocupados serão esclarecidos e
ganharão também, por sua vez, o pão espiritual.
“Obreiros
do Senhor são os que serenamente enfrentam todos os perigos e todos os prélios (combates),
sabendo que deles promanam seguramente enormes benefícios de feição moral.
“Os que se julgam prejudicados com
os trabalhos desta ordem, dão cerrados combates aos seus encarregados; e estes,
para que sejam verdadeiros elementos de progresso, não reclamam nem se
perturbam: ao invés, seguem calmos o caminho traçado; porque, tendo fé do
tamanho de um grão de mostarda, nada os deterá em sua marcha, e por onde passarem
deixarão vestígios de seu amor e dedicação.
“Do
exposto se colhe que todos os espíritas são laboradores (trabalhadores) da vinha, e que encontrarão, em seus planos e
fainas de aperfeiçoamento, dificuldades e peguilhos (embaraços) de toda a casta, avultando entre eles, como o
mais percário (arriscado), a hipocrisia - origem de negra selva de males.
“Se,
por exemplo, a propaganda doutrinaria que encetaste e já sofre, como tens
visto, - ainda bem! - fecunda oposição, juntares qualquer outro trabalho que
possa ser útil a teu próximo, mais e mais investidas terás. Porque, se a obra
põe o viso (aspecto, aparência) em beneficiar um povo, deve impressionar primeiro os
retardatários do espaço, para que, convertidos, graças ao choque, deem passo à
luz que baixará sobre a humanidade. Assim, aliviados com o norteio dos
defuntos, melhor podem os encarnados ouvir intuitivamente os seus Guias, que só
lhes inspirarão o que for útil e vantajoso à sua evolução.
“Bem-aventurados
os que sofrem ... assim se diz: porque os que sofrem por amor do progresso,
receberão o consolo de haverem esclarecido outros que também serão felizes; o
Pai, que tudo vê e paga a cem por um a todos os seus servidores, aceitará tal
ato como reparação das faltas praticadas em pretéritas existências.
“As leis divinas tudo prevêm, de
modo que tudo se aproveita para o concerto universal.
“Os
espíritas devem estar sempre vigilantes, porque, enquanto trabalham, tem em
derredor infelizes cuja conversão lhes cumpre facilitar, para que não estacionem
dominados por falanges tredas (falsas,
traiçoeiras).”
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