Onicência e Onipotência
O bem e o mal
contribuem para a evolução do homem.
Os Espíritos bons
tanto quanto os maus agem concomitantemente no sentido de a soberana vontade de
Deus ser cumprida e executada.
As trevas atuam
prestigiando a luz. As forças do Hades jamais prevalecerão contra as potências do bem, antes contribuirão para a completa vitória
destas, em tempo oportuno.
Os tentadores,
aos quais denominamos diabo, satanás, belzebu, demônio, etc., cooperam com o
seu contingente, aliás valioso, para a obra de redenção. Ninguém pode travar ou
mesmo embaraçar a marcha evolutiva que rege os mundos e os seres. Todas as
tentativas, esforços e realizações, seja no sentido do bem, seja na esfera do
mal, colaboram para a consecução do plano e do programa traçados pela mão da Onipotência,
de vez que essa mão é dirigida pela onisciência. Se assim não fora, deixaria de
haver ordem, ritmo e equilíbrio nas forças cósmicas, arrastando o Universo ao
caos, o que de modo nenhum se verifica, antes, o contrário é o que se acha
patente àqueles que tiverem olhos de ver.
A tentação a que
estamos sujeitos é um mal do qual resulta um grande bem. Por isso, o Mestre ensina que peçamos a Deus que nos "livre do
mal", e não "da tentação". Esse mal não está propriamente na tentação nem nos tentadores, mas em nos
deixarmos vencer, sucumbindo aos ardis da sedução. Nada obstante, cada vez que nos
erguemos das quedas, trazemos conosco mais possibilidades de vencer
futuramente. Da queda vem a experiência e da experiência o conhecimento.
Satanás nos abate para, em seguida, nós nos exaltarmos à custa das derrotas por
que passamos. Ele nos presta inestimável serviço pondo em relevo nossas
imperfeições e fraquezas, ensinando-nos praticamente o segredo da célebre
sentença socrática: Conhece-te a ti mesmo.
Aqueles, pois,
que consideramos como inimigos nos auxiliam mais que os nossos amigos no setor tão importante do autoconhecimento.
Cumpre ainda
considerar que o fito do demônio não é perder-nos nem atirar-nos às mas morras do inferno consoante o caduco dogma do Romanismo. Os
Espíritos atrasados, ignorantes ou viciosos, querem atrair comparsas. Aproximam-se
daqueles que correspondem aos seus objetivos e com eles se sintonizam. É pela lei
de afinidade que estabelecem sua conjugação com os encarnados. Tratando-se de
viciados instigam os vícios de sua predileção a fim de prelibarem reflexamente
as sensações que dos mesmos resultam; se alcoólatras durante a existência
terrena, acirram a sede de beber; se concupiscentes, a concupiscência; se
comilão, a glutonaria, e assim por diante. Quando escravizados pelas paixões do
orgulho, do ódio e da ambição, agem da mesma forma com relação àqueles que os
atraem porque vítimas das mesmas servidões. Por vezes, atuam impelidos pelo desejo
de vingança contra os que os prejudicaram ou ofenderam em épocas passadas. Comumente,
porém, procedem como vândalos ou vagabundos nos quais ainda não despertou o senso
de responsabilidade.
Em suma, os
Espíritos procedem como os encarnados, por isso que a sociedade destes é o reflexo da sociedade daqueles. De lá, eles vêm para cá, e de cá
retornam para lá através das metamorfoses que se sucedem com o nascimento e a morte.
Concluindo: os
destinos traçados pela onipotência e onisciência divinas a serviço do infinito
Amor, cumprem-se em toda a linha.
Nenhum til da Lei
deixa de executar-se; sejamos, portanto, otimistas. Louvemos e admiremos a Deus
nas alturas e auxiliemo-nos mutuamente no capítulo da nossa redenção, evoluindo,
do reino animal - que é o da morte - para o reino do Espírito, que é o da vida eterna, encarnado pelo Profeta de Nazaré.
Pedro de Camargo,
o Vinícius
‘Reformador’ (FEB) Abril 1950
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