Dai a Deus
o que é de Deus (II)
o que é de Deus (II)
Quis Jesus, com essas palavras, lembrar os
deveres espirituais do homem.
Dever de educar-se convenientemente
para a vida do espírito, dirigindo o pensamento para o Criador; dever de
"amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo" .
Esse mandamento, que, aliás, segundo
Jesus, resume a Lei e os Profetas, foi por ele desenvolvido no belo poema do
Sermão da Montanha - poema que poderá ser condensado num só termo: Amor.
"Dai a Deus o que é de
Deus".
Quis Jesus, com essas palavras,
mostrar ao homem que ele não é apenas matéria, mas que possui a parte
espiritual, mais digna de atenção, porque é imperecível;
Quis que o homem pudesse compreender
que a sua vida material nada mais é que veículo de elevação de espírito e que,
para elevar-se, é necessário cumprir as leis que regulam a vida espiritual;
Quis fixar a sua atenção nos bens
espirituais que recebemos do Criador e que ao Criador deveremos
devolver.
As frases de Jesus, aparentemente
simples, ingênuas até, encerram sempre maravilhosos poemas espirituais. São
doces, puras, e, às vezes, tão elevadas que escapam à nossa percepção.
É verdade que certos trechos do
Evangelho nos parecem confusos à primeira vista, mas é preciso compreender que Jesus
não poderia falar claramente, porque não seria entendido pelos rudes povos da
época.
O judeu intransigente, preso à
estrela de David, recitando mandamentos ao pé da letra e, ao pé da letra,
exemplificando-os, não poderia aceitar a reforma suave trazida por Jesus.
O perdão integral não poderia ser
por ele compreendido e a caridade moral era desconhecida.
Na frase em estudo: "Dai a Deus
o que é de Deus" é elástico o sentido. Todo o mundo espiritual
nela está contido e dificilmente poderá o homem material explicá-la
convenientemente.
É preciso sentir Deus, na plenitude
dos seus poderes, para compreende-la com acerto e, dentro do estreito círculo
do nosso raciocínio, apenas de pequena parcela de compreensão do Infinito
poderemos dispor, mais que insuficiente, portanto, para sentir Deus.
Assim, não quero nem posso tentar
explicar realmente a frase em questão, mas apenas lembrar ao homem que os bens
materiais são parcelas ínfimas e não podem interessar ao Todo; lembrar que
eterna é a essência do espírito (única à semelhança de Deus) e,
consequentemente, única que interessa ao Criador.
Todas as coisas que existem
materialmente, são apenas efeitos de transformações e, fatalmente, serão
destruídas por novas transformações. Só a parte espiritual permanecerá, porque
pertence à essência divina.
Caminhemos, pois, "com o
coração cerrado para o ódio e, de par em par aberto para o Amor",
como disse um poeta -sul-americano .
Caminhemos com os olhos fitos no
Alto, tendo escritos nos lábios e no coração os versículos dos Evangelhos de
Jesus:
Caminhemos exemplificando os
conselhos do Mestre, pois será certo o dia em que - "Daremos a Deus o que
é de Deus, dando ao próximo o que é do próximo".
Alves de Farias Filho
Reformador (FEB) Abril 1950
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