quarta-feira, 11 de julho de 2012

Amor Enlutado


Amor Enlutado JUL 11


         Ao anoitecer, José de Arimatéia – que era discípulo de Jesus, porém às ocultas, com medo dos judeus – foi requerer permissão a Pilatos para tirar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu-o. Foi, pois, e tirou o corpo de Jesus. Apareceu também Nicodemos – que outrora visitara Jesus, de noite – e trouxe uma mistura de mirra e aloe, de quase cem libras. Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em lençóis de linho, juntamente com os aromas, segundo a maneira de sepultar usada entre os judeus. Havia no lugar onde Jesus foi crucificado um horto, e nesse horto um sepulcro novo, no qual ainda ninguém fora sepultado. Aí depositaram o corpo de Jesus, por ser dia de preparativos dos judeus; porque o sepulcro se achava a pouca distância. João  19,  38 ss



            José de Arimatéia, “ilustra senador”, e Nicodemos, “mestre em Israel”, não ousam professar-se abertamente discípulos do taumaturgo vivo – e proclamam com desassombro a sua adesão ao Nazareno morto como blasfemo e revolucionário...

            Do naufrágio da esperança e da fé saiu incólume, e ainda mais vigoroso, o amor.

            Amortalhadas em negra crepe jazem as suas esperanças no reino messiânico, a sua fé na divindade de Cristo – mas sobre as ruínas da fé e da esperança canta o amor a sua epopeia imortal...

            “O coração tem razões de que a razão nada sabe...”

            O ludibrio da sinagoga, a crueldade do pretório, as infâmias dos fariseus, o universal opróbrio, que desabou sobre o Crucificado, varreram, qual impetuoso vendaval, as cinzas da timidez e do respeito humano – e eis que deflagrou em poderosa labareda o amor latente da alma de Arimatéia e Nicodemos.

            O que não valera o Cristo taumaturgo valeu o Cristo vítima...  
        
        
Huberto Rohden
in “Em Espírito e Verdade”
Edição da Revista dos Tribunais, SP – 1941  



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