quarta-feira, 20 de junho de 2012

Perturbação Espiritual



Perturbação
 Espiritual
- A alma tem consciência de si mesma imediatamente após deixar o corpo?

- Imediatamente não é bem o termo.  A alma passa algum tempo em estado de perturbação:

(Questão n" 163 de "O Livro dos Espíritos")


             Só pelo estudo criterioso da Doutrina dos Espíritos, através do ângulo filosófico, é que podemos, na verdade, compreender alguns curiosos acontecimentos relacionados com o Mundo Espiritual. A pergunta formulada por Kardec aos Espíritos Reveladores, por isso, é de suma importância, uma vez que, sobre o assunto, são múltiplas as interpretações.

            A resposta dada, embora das mais simples, esclarece sobejamente, explicando o que acontece ao Espírito, ao ensejo da desencarnação, momento em que se defronta com o problema chamado “perturbação espiritual”.

            Meditando na solução dada à questão nº 163 e às que se seguem, somos levados a admitir a existência de três fases distintas no desdobramento do trabalho de elucidação do Espírito recém-desencarnado:

           1ª fase - Busca da Identidade - A primeira preocupação reside no ingente esforço de reavivar a memória, traumatizada com o acelerar víbratórío decorrente da ausência do corpo. Esse trabalho é de variável tempo de duração, tudo dependendo da maior ou menor condição de desmaterialização do Espírito. O tempo pode ser de horas ou de anos. Em se tratando de Espírito que tenha vivido como um homem de bem e que já tenha alcançado apreciável índice de progresso espiritual, o estado de perturbação é passageiro, permitindo a lembrança de sua identidade sem maiores delongas.

            Nas reuniões de intercâmbio frequentemente nos defrontamos com Espíritos aflitos, totalmente desprovidos de memória, que não se recordam, sequer, dos seus próprios nomes. São aqueles que conduzem as consciências repletas de inquietações e remorsos, não dispondo, consequentemente, da necessária serenidade para a reflexão.

           2ª fase - Reconhecimento do Local - Os que estão presos às tradicionais interpretações religiosas esperam, com a “morte”, o acesso às esferas das bem-aventuranças ou às torturas sem fim, onde há “fogo que não consome”.

            Aos seus olhos tudo se esboça de maneira diversa. Encontra vida movimentada, atuante, febril, com atividade intensa e continuada, e isso os surpreende. Com o tempo e o esforço de adaptação, entretanto, os Espíritos vão-se convencendo de que Céu e Inferno, efetivamente, não passam de estados de consciência, jamais existindo como regiões específicas. No Espaço, portanto, ou melhor dizendo, na erraticidade, é que vão efetivando o esforço de aperfeiçoamento intelectual e moral, preparatório para futuras encarnações, observadas as leis de Afinidade e de Causa e Efeito.

            3ª fase - Providências Necessárias- Quando seja possível aos Espíritos vencerem as duas primeiras fases, isto é, lograrem sua identidade e reconhecerem o local em que se encontram, é que poderão atacar a terceira etapa, ou seja, aquela relacionada com as medidas indispensáveis para o prosseguimento da caminhada evolutiva.

           É nessa hora que vão prevalecer todas as elucidações doutrinárias obtidas através do estudo metódico e criterioso das obras básicas de Kardec, nas quais a Doutrina dos Espíritos é profundamente analisada pelos ângulos moral, filosófico e científico.

            Cada Espírito reconhecerá, então, encontrar-se no Espaço ilimitado, onde prosseguirá no trabalho corajoso de emancipação do erro, através da assimilação dos ensinos superiores de ordem moral e intelectual. E saberá, decorrentemente, que o trabalho profícuo e o desinteresse integral pelas coisas materiais serão as poderosas armas a adotar para o combate às milenárias imperfeições que o classificam em baixo nível de progresso espiritual.

            Reconhecendo tais imperativos, cabe-nos proceder com as maiores cautelas, enquanto estamos na carne, colocando-nos sempre como candidatos potenciais para a vida no mundo etéreo, habilitando-nos para essa transição, de modo a que a fase normal de perturbação não seja cruel para conosco, mas que, isso sim, em razão de nossos conhecimentos doutrinários e de nossa conduta evangélica, possamos amenizar as inquietações e os sustos dessa hora difícil.

           

por Arthur da Silva Araújo 

in ‘Brasil Espírita’ (FEB) Jan 1971




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