segunda-feira, 7 de maio de 2012

A palavra de Emmanuel e o movimento espírita


A palavra de
 Emmanuel
 e o movimento espírita
           
            O espírito Emmanuel[1], de quem todos temos recebido sábias orientações evangélicas, escreveu através do médium Francisco Cândido Xavier uma obra que, a rigor, nenhum espírita deve deixar de ler.

            Ela nasceu de uma sugestão dada por um amigo espiritual, na reunião de 31 de outubro de 1939, no Grupo Espírita Luiz Gonzaga, de Pedro Leopoldo, a fim de que os companheiros encarnados formulassem perguntas ao lúcido guia do Chico, objetivando a ampliação dos seus conhecimentos. Emmanuel, consultado a respeito do assunto, estabeleceu um programa de trabalho e já em março do ano seguinte a tarefa estava concluída, com os originais de ‘O Consolador’ prontos para serem publicados pela Federação Espírita Brasileira.

            A feição de O Livro dos Espíritos, a obra apresenta respostas seguras para 441 perguntas que englobam problemas de Ciência, Filosofia e Religião e, atendendo -- como bem informa a Sinopse de Livros da FEB -- "ao conceito progressivo da Revelação, esparge novas luzes sobre inúmeras questões". É composta de três partes, cada uma com cinco capítulos, mas neste breve artigo iremos nos prender mais a algumas questões abordadas nas duas últimas, reservadas aos temas filosóficos e religiosos.

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            A abordagem de temas atualíssimos do movimento espírita é feita de maneira clara por Emmanuel, incluindo determinados assuntos que alguns, por desconhecimento, costumam rotular de "controvertidos" .

            Na hora em que certos grupos se agitam com o objetivo de arrebanhar número cada vez maior de prosélitos, é conveniente relembrar a advertência de O Consolador afirmando que, de modo algum, a propaganda, plena de estardalhaço, é necessária ao Espiritismo, cuja direção "pertence ao Cristo e seus prepostos, antes de qualquer esforço humano, precário e perecível". Assim sendo, "a necessidade imediata dos arraiais espiritistas é a do conhecimento e aplicação legítima do Evangelho, da parte de todos quantos militam nas suas fileiras, desejosos de luz e de evolução" (perg. 218).

            E não há justificativa para os espíritas correrem atrás dos intelectuais ou dos poderosos do mundo, pois, além de os "valores intelectuais do planeta, nos tempos modernos, sofrerem a humilhação de todas as forças corruptoras da decadência", a Doutrina "não necessita de determinados homens para consolar e instruir as criaturas" e "na sua feição de Cristianismo redivivo não deve nutrir a pretensão de disputar um lugar no banquete dos Estados do mundo, quando sabe muito bem que a sua missão divina há de cumprir-se junto das almas, nos legítimos fundamentos do Reino de Jesus" (pergs. 206, 210 e 361).

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            Emmanuel vai adiante. Ao responder à pergunta 110, afirma ele: "A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter. Os estabelecimentos de ensino, propriamente do mundo, podem instruir, mas só o instituto da família pode educar. É por essa razão que a universidade poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem."

            O lar como sublime escola do espírito, fonte da real educação!

            Tão clara a afirmativa e mais clara ainda se torna quando o mentor acrescenta que "na sua grandiosa tarefa de cristianização, essa é a profunda finalidade do Espiritismo evangélico, no sentido de iluminar a consciência da criatura, a fim de que o lar se refaça e novo ciclo de progresso espiritual se traduza, entre os homens, em lares cristãos, para a nova era da Humanidade" (perg. 110).

            Academias? Universidades? Cursos? Não! Apenas o lar.

            E é ao lar, e não às instituições do mundo, que os grupos espíritas devem se assemelhar, conforme nos indica o autor no item 363: "Os agrupamentos espiritistas necessitam entender que o seu aparelhamento não pode ser análogo ao das associações propriamente humanas. Um grêmio espírita-cristão deve ter, mais que tudo, a característica familiar, onde o amor e a simplicidade figurem na manifestação de todos os sentimentos."

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            Coisa muito comum nos dias de hoje é a ânsia de alguns confrades por atingirem posições destacadas no mundo, para, desse modo, levantarem o nome do Espiritismo e carrearem as benesses do poder temporal para o movimento doutrinário. A política apresenta vários casos desse tipo, mas, com relação ao problema, a obra de Emmanuel nos adverte que o discípulo sincero de Jesus "não deve provocar uma situação de evidência para si mesmo nas administrações transitórias do mundo. E, quando convocado a tais situações pela força das circunstâncias, deve aceitá-Ias não como galardão para a doutrina que professa, mas
como provação imperiosa e árdua, onde todo êxito é sempre difícil" (perg. 60).

            Também o atalho por onde muitos enveredaram, pela interpretação apressada do lema "fora da caridade não há salvação", é abordado.

            Por quê?

            Porque "as obras da caridade material somente alcançam a sua feição divina quando colimam a espiritualização do homem, renovando-lhe os valores íntimos, porque, reformada a criatura humana em Jesus-Cristo, teremos na Terra uma sociedade transformada, onde o lar genuinamente cristão será naturalmente o asilo de todos os que sofrem" (perg. 255).

            Não que Emmanuel seja contrário à caridade material, "que faz do Espiritismo evangélico um pouso de consolação para todos os infortunados". Em boa hora, contudo, ele lembra que as religiões sectárias "também organizaram as edificações materiais para a caridade do mundo, sem olvidar os templos, asilos, orfanatos e monumentos. Todavia, quase todas as suas obras se desvirtuaram, em vista do esquecimento da iluminação dos Espíritos encarnados". Ora, daí se depreende que "o serviço de cristianização sincera das consciências constitui a edificação definitiva, para a qual os espiritistas devem voltar os olhos, antes de tudo, entendendo a vastidão e a complexidade da obra educativa que lhes compete efetuar, junto de qualquer realização humana, nas lutas de cada dia, na tarefa do amor e da verdade".

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            Outros, muitos outros assuntos, motivos de debates no movimento espírita, são analisados pelo guia de Chico Xavier, nessa obra, de modo incontestável e com profunda elevação espiritual. Questões referentes ao Evangelho, Velho Testamento, Mediunidade, Evolução, Trabalho, Sentimento, Cultura, Arte, Física, Química, Biologia, Psicologia, Sociologia, etc.

            Entretanto, não queremos encerrar esta nossa colaboração sem lembrar duas sábias respostas encontradas em O Consolador.

            A primeira diz respeito aos Espíritos que passaram pela Terra. Se todos tiveram as mesmas características evolutivas, no que se refere ao problema da dor.

            Eis a resposta: "Todas as entidades espirituais encarnadas no orbe terrestre são Espíritos que se resgatam ou aprendem nas experiências humanas, após as quedas do passado, com exceção de Jesus--Cristo, fundamento de toda a verdade neste mundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus, e em cujas mãos angélicas repousa o governo espiritual do planeta, desde os seus primórdios" (perg. 243). "O Eleito, porém, é aquele que se elevou para Deus em linha reta, sem as quedas que nos são comuns, sendo justo afirmar que o orbe terrestre só viu um eleito, que é Jesus-Cristo" (perg. 277).

            É só abrir Os Quatro Evangelhos, de J.-B. Roustaing, para saber, detalhadamente, como se dá essa evolução em linha reta, nas esferas fluídicas, sem necessidade da dor punitiva nos mundos materiais.

            Já a segunda resposta está relacionada com o sacrifício do Gólgota. Teria sido ou não completo esse ato sem o máximo de dor material para o Divino Mestre?

            Emmanuel rebate, afirmando: "A dor material é um fenômeno como o dos fogos de artifício, em face dos legítimos valores espirituais. Homens do mundo, que morreram por uma ideia, muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu ideal. Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira e chegareis a contemplá-Ia na imensidão da sua dor espiritual, augusta e indefinível, para a nossa apreciação restrita e singela."

            Mas o mentor não se detém aí e continua:

            "De modo algum poderíamos fazer um estudo psicológico de Jesus, estabelecendo dados comparativos entre o Senhor e o homem. Em sua exemplificação divina, faz-se mister considerar, antes de tudo, o seu amor, a sua humildade, a sua renúncia por toda a Humanidade. Examinados esses fatores, a dor material teria significação especial para que a obra cristã ficasse consagrada? A dor espiritual, grande demais para ser compreendida, não constituiu o ponto essencial da sua perfeita renúncia pelos homens? Nesse particular, contudo, as criaturas humanas prosseguirão discutindo, como as crianças que somente admitem as realidades da vida de um adulto quando se lhes fornece o conhecimento tomando para imagens o cabedal imediato dos seus brinquedos."

            Mais uma vez é só abrir Os Quatro Evangelhos para um estudo sobre o corpo fluídico de Jesus. Antes tendo o cuidado de dar uma olhada na escala espírita de O Livro dos Espíritos, para lembrar que Espírito puro não reencarna ...

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            Vale a pena ler - ou reler - O Consolador para aprender muito com Emmanuel. Principalmente os que ainda não conseguiram compreender o abençoado programa doutrinário da Federação Espírita Brasileira, já a caminho do primeiro centenário.

            Folheando, com isenção de ânimo e sem ideias preconcebidas, as páginas dessa obra psicografada por Francisco Cândido Xavier, encontramos, em diversos trechos, a defesa explícita da posição assumida pela Casa de Ismael ante as tendências demonstradas pelo movimento espírita, além de uma sublime complementação da obra granítica de Allan Kardec, "atendendo ao conceito progressivo da Revelação".

            E aos que, infelizmente, ainda estejam batalhando por um Espiritismo mundano, ao sabor das vaidades e das paixões, só nos resta lembrar, com Emmanuel: "A missão do Consolador tem que se verificar junto das almas e não ao lado das gloríolas efêmeras dos triunfos materiais. Esclarecendo o erro religioso, onde quer que se encontre, e revelando a verdadeira luz, pelos atos e pelos ensinamentos, o espiritista sincero, enriquecendo os valores da fé, representa o operário de regeneração do Templo do Senhor, onde os homens se agrupam em vários departamentos, ante altares diversos, mas onde existe um só Mestre, que é Jesus-Cristo."

por Fomar José  Costa Morais 

inReformador’ (FEB) Junho 1974



[1] Os destaques em negrito foram colocados pelo Blog.


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